Antero do Quental

ANTERO TARQUINIO DO QUENTAL (Ponta Delgada, Açores,
1842-1891) era um pensador original e profundo, em cujo espírito se mes-
clavam ansiosas aspirações de verdade e doridos desânimos que, produto
ou causa de incurável neurastenia, finalmente o conduziram ao abismo do
suicídio

Obras em verso: Odes Modernas, 1865; e Sonetos (1890), além de
outras composições só publicadas depois da morte do poeta. Em prosa:
os opúsculos de combate na famosa questão coimbrã, isto é, Bom Senso
e Bom Gosto
(carta a A. F. de Castilho) e Dignidade das Letras e Lite-
raturas Oficiais:
várias cartas políticas, entre as quais uma ao Marquês
de Ávila e Bolama,
que promoveu a queda do gabinete presidido por esse
estadista; de maior vulto são as Causas da Decadência dos Povos Penin-
sulares nos Séculos 17." e 18."
e as Considerações sobre a Filosofia
Literária Portuguesa.

Alma extinta

Estava a Morte ali, em pé, diante,
Sim, diante de mim, como serpente
Que dormisse na estrada, e de repente
Se erguesse sob os pés do caminhante.

Era de ver a fúnebre bacante!
Que tôrvo olhar! que gesto de demente!
E eu disse-lhe: "Que buscas, impudente
Loba faminta, pelo mundo errante?

— Não temas, respondeu (e uma ironia
Sinistramente estranha, atroz e calma,
Lhe torceu cruelmente a boca fria)

Eu não busco o teu corpo… Era um troféu
Glorioso demais. Busco a tua alma".
Respondi-lhe: "A minha alma já morreu"!

(Os Sonetos Completos, edição de
1890, p. 82)

Visão

Num sonho todo feito de incerteza,
De noturna e indizível ansiedade,
fí que eu vi teu olhar de piedade
Ei mais que piedade, de tristeza.

Nao era o vulgar brilho da beleza,
Nem o ardor banal da mocidade,
Era outra luz, era outra suavidade,
Que até nem sei se as há na natureza. ..

Um místico sofrer… uma ventura

Feita só do perdão, só da ternura

E da paz da nossa hora derradeira. ..

O’ visão! visão triste e piedosa!
Fita-me assim calada, assim chorosa,
E deixa-me sonhar a vida inteira!

(Ibid. p. 88)

Na Mão de Deus

Na mão de Deus, na sua mão direita,
Descansou afinal meu coração.
Do palácio encantado da Ilusão
Desci a passo e passo a escada estreita.

Como as flores mortais, com que se enfeita
A ignorância infantil, despojo vão,
Depus do Ideal e da Paixão
A forma transitória e imperfeita.

Como criança, em lôbrega jornada,
Que a mãe leva no colo agasalhada
E atravessa, sorrindo vagamente,

Selvas, mares, areias do deserto,
— Dorme teu sono, coração liberto,
Dorme na mão de Deus eternamente!

(Ibid. p. 121)


Seleção e Notas de Fausto Barreto e Carlos de Laet. Fonte: Antologia nacional, Livraria Francisco Alves.

 

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