FRANCISCO DE SÁ DE MIRANDA – Poesia Portuguesa

FRANCISCO DE SÁ DE MIRANDA (Coimbra, 1495-1558) dou-tourou-se na Universidade de Lisboa, e, depois de viajar cinco anos, viveu ora nesta capital ora na cidade do seu nascimento. Obtendo a comenda das duas Igrejas no Alto Minho, retirou-se da vida cortesã, ;ios quarenta anos de idade.

Escreveu em português e em espanhol; e das suas viagens pela Itália lomou o gosto do verso decassílabo e das combinações em sonetos e iiTcêtos. Obras: poesias várias, éclogas, cartas, elogios, canções etc; e duas comédias — Vilhalpandos e Estrangeiros.

de Miranda, como diz D. Francisco Manuel de Melo, é tão vernáculo em seu estilo, tão cerrado português que nenhum estrangeiro pode entendê-lo. (Hosp. das Letras, p. 313).

Misteres das Diversas Profissões

Dês que homem nasce té que morre, (468) não trata coisa de mor peso que a do seu casamento, que cada dia rematamos tão levemente. (469) Grande feito que se te vendem um rocim manco (470) ou üa mula maliciosa, logo i (471) são mil leis a te ajudar; e têm procuradores tanto que dizer e alegar; e na tua mulher, por quem deixamos os pais e as mães, ali se nos desampara tudo, e só a morte pode ser boa. Pelo qual estive tanto tempo solteiro, vim aqui, com sós as letras de que me a fortuna não pode roubar: com elas me remediei, que a esses nossos direitos não se lhes pode negar o senhorio de todas as outras ciências.

Os teólogos jazem por todos esses mosteiros mendicantes, como se eles chamam. (472) Filósofos já passaram mal vindos uns c’os outros, com suas barbas e gravidade. Poetas tudo põem em flores, pelo fruito (473) não espereis. Os oradores, nós os tiramos das suas vozes. Os astrólogos sempre tratam do porvir, de que eles nem ninguém sabe pouco, nem muito. Físicos ganham bem de comer, porém é co’ourinho na mão. Artistas debatem sempre sobre a lã da porca, e entre todos estes não há um homem de negócio: somente o jurisconsulto é que pode tratar e rematar dúvidas de substâncias. Todavia, frades entre-meter-se queriam, mas não têm asas com que voem, que a vontade não lhes falece. Só o jurista pode andar c’o peito alto c satisfeito de seu saber, quer seja para consertar as coisas desta vida, quer da outra. Isto é o que te releva, e crê-me que te não busca ninguém, senão o que te há mister.

  • (468) dês, apócope de desde que (de -f ex + de); té, aférese de até (de ad -f- *tenes por ad + tenus); formas are.: atém e alces.
  • (469) levemente = levianamente, facilmente, inconsideradamente. Cfr. Ltis., IX, 46.
  • (470) man-<•:’, do lat. mancus, privado de uma das mãos ou de um braço, maneia, mutilado, defeituoso, aleijado. Houve alteração no sentido: manco é comu-mente coxo. A idéia de privação de um braço ou da mão generalizou-se no ital. e no francês produzindo os verbos mancare e manquer, faltar.
  • (471) /’ — aí (do lat. hic ou ibi).
  • (472) como se eles chamam. Se apassivador, porque o verbo, pelo sentido, está empregado como transitivo, apassivado: como eles são chamados. Este v. chamar na significação de dar nome a algo, também se usa com objeto indireto; neste caso dir-se-ia, com o verbo no singular: — como se lhes chama, e o se seria apenas um símbolo da indeterminação do sujeito. No poema Camões mesclou as duas sintaxes, preferindo, todavia, chamar com complemento direto; deu-lhe objeto indireto em poucas estâncias (III, 110; IV, 95; VII, 22; X, 38). (473) fruito, forma evolutiva entre o lat. fruetu e o atual fruto; houve vocalização do c em i, como em enxuito (ex + sucia) dando enxuto; luita (lacta) dando luta.

( Os Estrangeiros, ato 3.°, cena l.a, vol. 2.°, p. 116).

 

 


Seleção e Notas de Fausto Barreto e Carlos de Laet. Fonte: Antologia nacional, Livraria Francisco Alves.

 

 

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