HEMPEL E O CRITÉRIO EMPIRISTA DE SIGNIFICADO

HEMPEL E O CRÍTERIO EMPIRISTA DE SIGNIFICADO

por Josailton Fernandes de Mendonça

Universidade do Estado do Rio Grande do Norte –
UERN         

1) O problema da significação na
linguagem cientifica

            Um
dos fatos importantes da linguagem e mais especificamente da linguagem
científica é o de que é possível construir
sentenças gramaticalmente corretas mas, não inteligíveis.
Um exemplo é a sentença “Meu sonho foi três vezes
maior que o teu”, ou “O sábado está na cama”.

            Este
tipo de sentenças chamou a atenção dos filósofos os
quais a partir de então passaram a investigar a linguagem na busca de
critérios que permitissem a formação de enunciados
inteligíveis.

            E
nestas investigações perceberam que muitos problemas que a
tradição considerou como legitimamente
filosóficos-científicos eram na verdade graves problemas de
linguagem. Esta desconfiança levou a questionar a inteligibilidade dos
enunciados de metafísica. Enunciados como “O ser é o
não ser não é” ou “As propriedades tem um modo
de existência que é independente de sua
realização”, pareciam padecer da mesma carência de
inteligibilidade que enunciados com “ O sábado está na cama”. 

            Mas
se no tipo de reflexão filosófica este problema já
é muito grave, dando origem a dificuldades para legitimar o pensamento
filosófico como racional e lógico, o problema ganha  proporções maiores ou
talvez mais visíveis na ciência.

            Com
efeito, o discurso científico normalmente se apresenta como aquele que
mais de perto trata de exorcizar os enigmas da realidade. Assim seu compromisso
com verdade ou a falsidade a faz mais diretamente ligada ao modo de ser das
coisas do mundo. Daí que os seus enunciados devem acima de tudo estar
isentos dessa falta de inteligibilidade, sob pena do discurso científico
não se diferenciar muito da ficção.

            A
preocupação então dos filósofos recaem sobre a
linguagem científica. Principalmente porque esta, muito embora ciente de
seu rigor e comprometimento com a verdade ou falsidade das coisas, era repleta
de conceitos os quais tornavam suas sentenças muito próximas da
metafísica.

            Daí
que o critério de inteligibilidade ou significatividade dos enunciados
científicos deveria se pautar por uma exigência a qual garantisse
a característica marcante do conhecimento científico,  qual seja, a de ser um saber
sintético a priori. O critério então deveria ser
empirista.

2. O Critério Empirista de Significado: A
Testabilidade

            Como
é sabido para o empirismo somente a experiência pode ser a fonte
do conhecimento e, portanto, só no domínio da experiência
perceptiva é que as sentenças têm valor científico.
É neste contexto que Hempel (1970) informa que se as sentenças
científicas fazem asserções cognitivamente significativas
é porque tais asserções são verdadeiras ou falsas,
o que as definiriam como analíticas ou contraditórias ou passíveis
de serem submetidas, pelo menos potencialmente, a evidencia experimental.

            E
ainda segundo Hempel, essa exigência de poder ser submetida a teste ou
evidência experimental se constitui numa característica marcante
das asserções cognitivamente significativas, segundo o
critério empirista.

            Este
critério então estabelece a testabilidade como parâmetro
para a significatividade das sentenças. Isto quer dizer que uma
sentença que faz asserção empírica deve ser capaz
de ser conflitada com fenômenos diretamente observáveis e esses
fenômenos são descritos por uma classe de sentenças
chamadas de sentenças de observação. Logo o que se pode
denominar de Principio da Testabilidade, irá exigir que as sentenças
ditas científicas, se relacionem com uma classe de sentenças de
observação. Obviamente trata-se aqui de relações
lógicas (HEMPEL, 1970).

            Mas
o Princípio da Testabilidade somente estará garantido se
encontramos um critério exato de aplicabilidade, isto é, um modo
de proceder que seja na verdade a aplicabilidade do mencionado
princípio. Hempel apresenta então dois critérios, por
assim dizer, clássicos, a saber, a verificabilidade e a falseabilidade.

            A
verificabilidade irá dizer que uma sentença tem significado
empírico se e somente se não é analítica e dela
decorre logicamente uma classe finita e consistente de sentenças
observacionais, as quais, diga-se de passagem, não precisam ser
verdadeiras nem falsas, mas em principio testáveis (HEMPEL, 1970).

            A
falseabilidade por sua vez diz que uma sentença tem significado
empírico se e somente se sua negação não é
analítica e dela resulta uma classe logicamente consiste de
sentenças de observação.

            Um
exemplo esclarecerá a aplicação do princípio
segundo os dois critérios mencionados. Considere a sentença
“Samuel tem Sarampo”. Segundo o Principio da Testabilidade esta
sentença tem seu significado pelo fato de decorrer logicamente de uma
classe de sentenças de observação tais como “Samuel
tem febre”,  “Samuel tem
machas púrpuras no corpo”, “Samuel tem olhos
lagrimejantes”, “Samuel tem lesão de Koplic na
Bochecha”. Ora, segundo o critério da verificabilidade estas
sentenças de observação verificam ou constatam a verdade
do enunciado “Samuel tem sarampo”.

            Mas
a aplicação do mesmo princípio pode ocorrer ainda se, ao
invés de se utilizar as sentenças de observação
para verificar, usar para tentar falsear a sentença geral. Seria o caso
de uma classe de sentenças de observação negadoras, tais
como “Samuel não tem Febre”, “Samuel não tem
manchas púrpuras no corpo”, “Samuel não tem olhas
lagrimejantes”, “Samuel não tem lesão de Koplic na
bochecha”, logo “Samuel não tem sarampo”.  Tem-se assim o Principio da
Testabilidade aplicada segundo o critério da falseabilidade.

            Hempel
justifica a passagem do critério da verificabilidade para a
falseabilidade pelas dificuldades daquele. E a principal refere-se ao fato dos
enunciados científicos serem constituídas por sentenças
quantificadas universalmente ou existencialmente. Por exemplo “Todos os
homens tem Sarampo”, isto é, "x (Px É Sx). A sentença exige para sua verificação uma classe
infinita de sentenças de observação, isto é, Pa1, Pa2, …. Pao que contraria o princípio da testabilidade além de
ser humanamente impossível, face a exigência empirista e, assim
sendo,  não se pode
configurar esta sentença como significativa.

            Quanto
ao critério de falseabilidade, segundo Hempel (1970, p. 106), o mesmo
apresenta a mesma dificuldade. Não há um número conclusivo
de sentenças de observação negativas capazes de falsear
uma sentença quantificada universalmente.

            Hempel
(1970, p. 105-106), apresenta mais objeções aos critérios
da verificabilidade e falseabilidade os quais não expus aqui. De
qualquer forma quando Hempel apresenta tais críticas é para
mostrar as dificuldades de aplicabilidade do Princípio da Testabilidade
como parâmetro de significatividade para as sentenças
científicas, particularmente através dos critérios de
verificabilidade e falseamento.

  1. Análise
    dos Termos das Sentenças como critério de Significado

            O
critério de significação de uma sentença
através da análise de seus termos constituintes parece, segundo
Hempel, ser uma alternativa as dificuldades do Principio da Testabilidade
além de garantir o ponto de vista geral do empirismo.

            A
idéia básica então é a de que é
possível caracterizar uma sentença cognitivamente significante
por certas condições as quais seus termos constituintes têm
que satisfazer. Essas condições referem-se à
exigência de ter uma referência experimental e, portanto seu
significado deve ser capaz  de
explicação por referência exclusiva a
observações.

            Neste
sentido esta abordagem exigirá que se tente especificar de
antemão o vocabulário que pode ser usado para formar as
sentenças. Os elementos deste vocabulário, segundo Hempel,
são constituídos por termos lógicos e termos de
significado empíricos. Estes últimos dizem respeito aqueles
termos definíveis ou explicáveis em função dos
termos de observação, os quais podem ser ou predicados de
observação (azul, quente, etc.) ou  nomes de objetos físicos (
água, vulcão, etc.).

            O
problema, no entanto aparece sob a exigência da conexão
lógica, a partir do qual se construirá um adequado
critério de significatividade, entre os termos empiricamente
significativos e os termos observacionais. Aqui Hempel apresenta as
soluções propostas por Carnap.

De fato para Carnap qualquer termo que tenha significado empírico
deve ser definível em função dos termos de
observação. Assim por exemplo na sentença “x
é solúvel na água” o termo
“solúvel” tem significado empírico se e somente se quando
x for colocado na água x se dissolva efetivamente. Mas  segundo Hempel esse esforço
é altamente restritivo  e
muitos termos importantes da linguagem científica não poderiam
ter explicitamente definidos.

            Como
é o caso dos construtos teóricos os quais são comuns nas
teorias científicas. Termos como quark, anti-matéria,
ribonucléico, e outros. Neste caso então Hempel afirma que ao se
considerar as teorias como sistemas dedutivos axiomatizados e, portanto com um
vocabulário constituído de termos básicos, termos
definidos e termos lógicos, com seus postulados, a teoria pode ser
desenvolvida formalmente sem qualquer consideração do significado
empírico dos seus termos extra-lógicos, que são os
construtos teóricos da teoria.

            Contudo
esse sistema formal somente se constituirá uma teoria científica
se se dispuser de uma interpretação empírica de certos
termos ou sentenças.

            Neste
caso Hempel apresenta e comenta dois critérios que tal sistema formal
deve satisfazer em nome de sua cientificidade: O primeiro deles é o de
que “um sistema teórico é cognitivamente significante se
somente se é parcialmente interpretado de modo que nenhuma de suas
sentenças primitivas (postulados) seja isolada. Lembrando que ele
denomina de sentenças isoladas aquelas que são perfeitamente
dispensáveis na dedução. Mas considerando as
limitações desta exigência, Hempel propõe um novo
critério de sentido: o critério de interpretação
parcial.

            Por
esse critério uma teoria T portadora de um vocabulário V (termos
descritivos da linguagem de T) e de um vocabulário W formado pelos
termos previamente conhecidos que se constituem numa base para as
observações relativas ao vocabulário V. Então um
sistema de interpretação para a teoria T consiste de um conjunto
de proposições compatíveis com T de tal modo que esse
conjunto não contenha nenhum termos descritivo além daqueles
fornecidos pelos vocabulários  de V e W, e ainda que os termos de V e W ocorra essencialmente em T.

            Com
efeito, num sistema como esse estabelece uma conexão entre os termos
teóricos e os termos empíricos sem precisar traduzir o primeiro
em função dos últimos e, portanto não permite que
se substitua uma proposição teórica por uma
proposição empírica nem tampouco substituir um termo
teórico por uma expressão de observação. Naturalmente,
lembra Hempel, que uma tal teoria não pode ter sentenças
isoladas, já que estas não contribuem nem para a
explicação nem a predição que a teoria quer
fornecer.

            A
idéia de Hempel, embora proveitosa em vários aspectos ainda
é insuficiente para vencer todos os problemas, mas já isto
é outra história.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA


LADRIÉRE,
J. Filosofia e Práxis Científica. Rio de Janeiro:
Francisco Alves, 1978.

ALSTON, W.  Filosofia Del Lenguaje. Madrid:
Alinza Editorial, 1974

HEMPEL, C.G. Empiricist Criteria of
Cognitive Significance: Problems and Changes. In: Aspects of Scientific
Explanation and Other Essays in the Philosophy of Science.

New York. The Free
Press, 1970, p. 101-122. 

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