Idealismo e Hegelianismo na Inglaterra

Pe. Leonel Franca – Noções de Filosofia.

ARTIGO IV

IDEALISMO ANGLO-SÁXÔNICO

200. Em meados do século XIX, sob o nome de hegelianismo inglês iniciou-se em Oxford um poderoso movimento de renovação filosófica, sob o signo do idealismo. Kant e Hegel foram os seus primeiros inspiradores; a sua finalidade, uma restauração dos grandes valores espirituais contra as atitudes negativas do positivismo e do naturalismo, representados pelos nomes de St. Mill, Bain e Spencer.

Stirling e Green aparecem como precursores do movimento. J. H. Stirling (1820-1909) publicou em 1865 The Secret of Hegel, primeiro manifesto do idealismo transcendental na Inglaterra. Em 1889, com as suas lições sobre Philosophy and Theohgy inaugurou as Gifford Lectures, instituição de conferências filosófico-religiosas, fundada por Lord Gifford e destinadas a uma existência longa e proveitosa.

Tomas Hill Green (1836-1882) parte de Kant. Como o fundador do criticismo, e contra o empirismo associacionista modelo Hume que pulveriza os estados de consciência, proclama a necessidade de um princípio capaz de dar às sensações uma unidade orgânica. A exigência deste princípio estável e construtor do objeto para explicar a vida de conhecimento, basta, outrossim, para evidenciar a existência de Deus e fundar a ordem moral, refutando, com o empirismo, também o ateísmo e o hedonismo. A influência de Green em Oxford cresceu rapidamente chegando a suplantar a de St. Mill.

Delineia-se, por esta época, o chamado segundo movimento de Oxford (para distinguir do primeiro, chefiado por Pusey e Newman). Β. Jowett (1817-1893), seu iniciador, é um platonizante notável, mas que muito contribuiu para chamar a atenção sobre a filosofia de Hegel. Ao estudo da religião aplicou-se principalmente E. Cairo (1835-1908). Nas suas obras mais importantes, The evolution of Religion (1893) e The Evolution of Theology in the Greek Philosophers (1904) distingue três fases no desenvolvimento da religião: a da religião objetiva, ou dos povos selvagens que fazem de Deus um objeto entre os outros objetos; a da religião subjetiva, ou dos budistas, judeus e estóicos, que encontram Deus na própria alma, mas em oposição ao mundo; finalmente a da religião absoluta, em que Deus transcendente, se manifesta no mundo, mas dele se distingue. O cristianismo é a expressão perfeita desta religião absoluta em que se depura o conceito da divindade e se define melhor a comunhão dos homens com o Absoluto.

Também a desenvolver a filosofia religiosa do hegelianismo dedicou-se João Caird (1820-1898), irmão mais velho do precedente. (An Introduction to the Philosophy of Religion, 1880; The fundamental Ideas of Christianity, 1899). Nesta corrente de idéias deve colocar-se também Wallace (1843-1897), que se esforça mais que os precedentes por determinar (Lectures and Essays on natural Theology and Ethics, 1898) as relações entre a teologia natural e’a revelada.

Com F. H. Bradley (1846-1924) entra o idealismo inglês na sua corrente mais original e importante (The Principles of Logic, 1883, 1922; Appearance and Reality, 1893, 1930; Essays on Truth and Reality, 1914). A realidade define-se pela experiência absoluta, universal, de que a consciência humana, experiência finita, é -simples participação. A nossa experiência só atinge os fenômenos e está condicionada pelas categorias de espaço, tempo, substância, causa etc. que envolvem contradição e são insuficientes para definir a realidade absoluta, só atingível pelo contato direto. Nela se resolvem todas as antinomias do mundo das aparências, simples fragmentos de uma totalidade abraçada pela experiência integral. Nesta atmosfera impregnada de idealismo movem-se ainda B. Bosanquet (1848-1923), professor em St. Andrews (Logic, 1888; Value and Destiny of the Individual, 1913; What Religion is, 1920); Mc Taggart (1866-1925) professor em Cambridge, que tenta conciliar o pluralismo com as exigências monistas da dialética hegeliana (The Nature of existence, 1921-1927) ; A. Seth Pringle Pattison (1856-1931) (Hegelianism and Personnality, 1887; The Idea of God, 1917; The Idea of Immortality, 1922; Studies in the Philosophy of Religions, 1930) professor em St. Andrews (1891-1919).

Nos Estados Unidos, para onde também irradiou o movimento, o seu principal representante é Josiah Royce (1855-1916) que, sob a influência da mentalidade americana, tenta conciliar a mística do social com a autonomia inalienável dos indivíduos, monismo idealista e pluralismo experimental. (The Spirit of modern Philosophy, 1896; The Conception of God, 1897; The World and the Individual, 1900-1902).

 

201. Conclusão — O idealismo, como se acaba de ver, constitui uma das manifestações mais poderosas do pensamento contemporâneo. Surgiu, como uma reação, sob muitos aspectos salutar contra as filosofias negativas do meado do século XIX. Materialismo, empirismo, positivismo e agnosticismo não passam hoje, nas altas es feras do pensamento, de anacronismos sem valor (248). A afirma ção do primado do espírito, a restauração da metafísica, uma concep ção elevada da dignidade humana, a estima cada vez mais crescent das questões morais e estéticas, sociais e religiosas, apresentam-s como conquista parcial da reação idealista. Infelizmente, como sol ção integral do problema filosófico o idealismo é inaceitável. A variedade de formas de que se vai revestindo já é um indício da dif’ culdade visceral de reduzir todo o ser ao puro pensamento. A mu tiplicidade das consciências individuais e o realismo da ciência m nifestado pelo choque da experiência que resiste à espontaneida pura do espírito são objeções invencíveis, contra as quais, umas ap outras, se vão quebrando todas as tentativas de identificação ent pensamento e realidade na imanência absoluta da atividade cognoscitiva.

BIBLIOGRAFIA

H. Haldar, Neo-Hegelianism, London, 1927; — N. Abbagnano, II nuovo idealismo inglese e americano, Napoli, 1927; — J. H. Muirhead, The Platonic tradition in anglo-saxon philosophy, London, 1931; — M. Nédoncelle, La Philosophie Religieuse en Grande-Bretagne, de 1850 à nos jours, Paris, 1934; além da obra fundamental, já citada, de R. Metz, t. I, 217-442.

(248) "Nous sommes par surcroît débarrassés des systèmes du monde pré dûment scientifiques — demi-science de vulgarisateurs et demi-philosophie de faux losophes — à la manière de Haeckel par exemple. Le matérialisme ou le mond ambigu s’écroulent, ou ne comptent plus comme doctrines sérieuses". D. Parodi, Philosophie contemporaine en France*, Paris, Alcan, 1920, p. 462.

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