Ilíada de Homero para download- Canto IV

Ílíada de Homero
Resumo e apresentação da Ilíada
Prefácio a Ilíada de Homero
Canto I
Canto II
Canto III
Canto IV
Canto V
Canto VI
Canto VII
Canto VIII
Canto IX
Canto X
Canto XI
Canto XII
Canto III
Canto XIV
Canto XV
Canto XVI
Canto XVII
Canto XVIII
Canto XIX
Canto XX
Canto XXI
Canto XXII
Canto XXIII
Canto XIV
Canto XV
Canto XVI
Canto XVII
Canto XVIII
Canto XIX
Canto XX
Canto XXI
Canto XXII
Canto XXIII
Canto XXIV

Ilíada de Homero para download e visualização no navegador

Tradução de Odorico Mendes
Fonte: Clássicos Jackson

Resumo e apresentação da Ilíada de Homero

 

Argumento do Livro IV



Os
deuses reúnem-se no Olimpo. — Júpiter propõe restahelecer-se

a
paz entre os dois povos. — Indignação de Juno. — Resposta de

Júpiter
que entrega Tróia à sua cólera com a condição dele poder

destruir
a capricho qualquer cidade fosse ou não estimada por Juno. —

A
deusa combina, e, a seu pedido, Júpiter envia Minerva às fileiras

troianas
para o fim de os fazer violar os tratados. — Chega-se ao

Troiano
Pândaro, em figura de Laodoco, filho de Antenor, e lhe

persuade
de atirar uma flecha contra Menelau. O filho de Atreu pro-

tegido
por Minerva apenas foi ligeiramente ferido. — Dor e discursos

de
Agamémnon a vista do sangue de seu irmão. — Menelau o tran-

quiliza
c entrega-se aos cuidados do sábio Macaon. — Entretanto o

exército
dos Troianos move-se, e não respira senão guerra. — Aga-

mémnon
longe de perturbar-se, prepara-se para o combate; percorre

as
fileiras dos Gregos, felicitando os bravos, e exprobrando os cobardes.


Aspecto dos dois exércitos. — Descrição da peleja. — Gritos

triunfantes
dos Gregos. — Apolo reanima os Troianos, lembrando-lhes

o
repouso de Aquiles. — Os mortos espalhados no campo atestam a

coragem
dos combatentes.

Canto IV



Em
consulta com Jove recostados,

Néctar
Hebe louçã tempera aos deuses

Na
régia de áureo solho, e de áureas taças

Mutuam
brindes a atentar em Tróia.

Eis,
com mordaz cotejo, a irmã Satúrnio

Remoça: "A Menelau protegem duas,

Juno
Argiva e Minerva Alalcoménea,

Que
de olhá-lo tranquilas se comprazem;

De
Paris guarda assídua, a mãe dos risos

Da
Parca o subtraiu, tem-no em seguro.

Ao
bravo Menelau coube a vitória.

Deliberemos
se é melhor de novo

Encarniçar
a guerra, ou congraçá-los.

A
ser a paz jucunda às partes ambas,

Habite-se
de Príamo a cidade,

O
Atrida reconduza a Grega Helena."



Contíguas,
gemem comprimindo os lábios

Juno
e Minerva, e dano aos Teucros urdem.

Cala
e a seu pai Minerva oculta a raiva;

Mas
Juno estoura: "Atroz Satúrnio,
como!

Corcéis
tenho estafado cm colher tropas

Contra
Príamo e os seus; e frustrar queres

Meu
suor, meu trabalho? Embora o faças;

Nunca
os deuses porém to aprovaremos."



O
anuviador se indigna:
"Endiabrada,

Em
que Príamo c os filhos te pecaram,

Para
afanares sempre arrasar Tróia?


fartarás esse ódio quando, as portas

E
os muros conquistados, cru devores

Príamo
e os Priamidas c o seu povo.

Bem;
não seja entre nós de briga acerba

Este
o motivo. Mas na mente o grava:

Se
extirpar me aprouver cidade que ames,

Não
me embargues a cólera; que à tua,

A
meu pesar, entrego Ilio sagrada;

Que
eu, sob o pólo c o sol, nenhuma honrava

Tanto
como essa, nem terrestres homens

Como
ao bélico Príamo e os Troianos:

Recendiam-mc
sempre as aras pingues,

Nunca
a nós outros libações faltavam."



E
a de olhos majestosa: "Três
cidades

Às
mais prefiro, Esparta, Argos, Micenas

De
amplas ruas: soverte-as, se as odeias,

Que
não to levo a mal: c, se o levasse,

Que
lucrava cm me opor, se és mais potente?

Convém
não malograres meus desígnios,

Nasci
também do perspicaz Saturno,

E
às deidades precedo, irmã e esposa

Do
rei dos imortais: guardemos ambos

Mútuo

respeito para exemplo deles.

Manda
já Palas excitar a pugna;

Trace
o como Trojúgenas infrinjam,

Não
triunfantes Gregos, a aliança."



Concorda
o pai supremo, e volto a Palas:

"Já,
passa aos dois exércitos, sem mora

Traça
o como Trojúgenas infrinjam,

Não
triunfantes Gregos, aliança."



Propensa
a deusa, incontinenti voa


do empinado Olimpo. Qual estrela,

Se,
ao nauta e às hostes portentosa, a envia

O
alto Satúrnio, fulgurante brilha;

Tal
desliza na arena e ali se ostende.

Pasmam
da aparição e entre si rosnam

Grevados
Gregos, picadores Teucros:

"Quer
o árbitro da guerra a paz firmar-nos,

Ou
da matança renovar as cenas."



Ei-la,
entre a chusma Teucra simulada

No
Antenórida impávido Laódoco,

Pós
o robusto Pândaro deiforme,

Que
em meio estava das do rio Esepo

Tropas
abroqueladas que o seguiram.

Chega
e de golpe: "Queres-me um
conselho,

ínclito
Licaónio? Expedir ousas

Ligeira
seta a Menelau ? Ganharas

Honra
e o Teucro louvor, e o régio Paris

De
bens te enriquecera, ao ver domado

Por
ti, na triste pira, o márcio Atrida.

Eia,
abaixa-lhe o entono; ao de arco exímio

Lício
Apolo hecatombe de cordeiros

Primogénitos
vota que lhe imoles,

Teu
palácio ao rever na santa Zélia."



Néscio
desta arte o suadiu Minerva,

E
ele o seu arco destojou brunido.

Espreitando
a lascivo agreste capro

Ao
pular de um rochedo, roto o peito,

O
estirava supino: artífice hábil

De
palmos dezesseis lhe engenha os cornos,

E
lhos alisa e de ouro os encastoa.

Apoia
em terra este arco, e o tende e ajusta;

Escudam-se
os intrépidos consócios,

Temendo
o assaltem marciais Aquivos,

Primeiro
que seu rei ferido seja.

Destapando
o carcás, tira empenada

Intacta
frecha, de atras dores fonte,

Que
ao nervo adapta; e a Febo arcipotente

Cem
anhos primogénitos promete,

Para
quando voltar a santa Zélia.

Puxa
o extremo chanfrado e a táurea corda;

A
corda à mama encosta e o ferro ao arco;

O
arco arredonda-se e desarma o estalo;

O
estalo zune, e voa a seta aguda,

De
abrevar-se no sangue impaciente.

Houve
o Céu, Menelau, de ti cuidado:

Palas
depredadora ocorre e a frecha

Desvia-te
empezada, qual de leve

A
mosca enxota a mãe da criancinha

Sopita
em meigo sono; a ponta mesma

Dirige
aonde fechos de ouro atacam

Talim
que ao peitoral duplica a força.

Pelos
dedáleos cinturão e coira,

Ela
perfura a malha tão provada,

Reparo
derradeiro, e a pele esflora:

Cruor
escuro da ferida mana.

Quando
o marfim mulher Meónia ou Caria

Para
caibas equinas purpureia,

Na
casa exposto, o invejam cavaleiros;

Mas
tem só de arreiar ginete régio:

Tal,
Menelau, tingiram-se-te as rijas

Coixas,
pernas, luzidos tornozelos.



Ao
roxear do sangue, o rei dos homens

Horrorizou-se,
e Menelau com ele;

Mas,
fora vendo a seta e o nervo c as barbas,

Alento
cobra o generoso peito.

Com
mágoas dos consócios, Agamémnon

Tem-no
e grave suspira: "Irmão dest’alma,

Sagrei-te
à morte com selar por todos

Pugnasses
tu. Feriram-te e calcaram

Os
Troianos a fé; mas vãs não foram

Hóstias,
nem libações, nem dextras dadas:

Se
do Olimpo o senhor hoje os não pune,

Há-de
os punir; com suas vidas próprias,

De
esposas, filhos, pagarão de sobra.

Cuido
próximo o dia em que llio sacra

E
o rei beloso e o povo seu pereçam:


das alturas, da perfídia em ódio,

A
égide horrenda agitará Satúrnio;

Nem
fútil é seu ódio. Mas, se a Parca

Tronca-te
a vida, ó Menelau, que luto!

A
Argos sequiosa voltarei, de infame

Labéu
marcado; que, na pátria os Graíos


tendo a mente, a Príamo e aos Priâmeos

Deixaremos
a palma e Helena Argiva.

Podres
em Tróia jazerão teus ossos,

Sem
concluir-se a empresa; e um desses feros,

Do
claro Menelau sobre o sepulcro

Motejará:
— Sacie o rancor sempre

Deste
modo Agamémnon, que infinitas

Falanges
trouxe embalde às nossas plagas:

Abandonando
a Menelau valente,


vogou sem despojo ao doce ninho. —

Antes
que eu ouça tal, me engula a terra!"



O
herói flavo o assegura: "Nem te
assustes,

Nem
aterres o exército; que a seta

Letal
não foi: meu boldrié salvou-me,

E
o cinturão e a malha, obra de mestre."



E
inda Agamémnon: "Oxalá, dilecto;

Mas
adestrada mão tenteie o golpe,

Com
bálsamos te aplaque as tetras dores."

Nisto,
virando-se ao divino arauto:

"Já
já, Taltíbio, a Macaon procures,

Peritíssimo
filho de Esculápio;

Que
presto acuda a Menelau, que um Lido

Ou
Tróico archeiro de frechá-lo acaba,

Por
glória sua e pesadume nosso."



O
arauto logo, às lorigadas linhas

Lustrando,
o heróico Macaon procura:

No
meio estava de escudadas hostes,

Que
o seguiram de Trica em poldros fértil.

Aproxima-se,
e rápido: "Agamémnon

Chama-te,
Esculapíada; não tardes,

Acode,
acode a Menelau, que um Lício

Ou
Tróico archeiro de frechá-lo acaba,

Por
glória sua e pesadume nosso."



Sobressalta-se
o médico; atravessam

O
exército, e em redor acham do louro

Maioral
vulnerado os chefes Dânaos.

Extrai
da parte Macaon a seta,

E
no extrair as farpas reviraram:

Saca
o bálteo listado, a cinta, a malha

De
primor, e à ferida já patente

Chupa
o sangue, e lhe asperge os linimentos

Que
ensinara a seu pai Quiron amigo.



De
Menelau enquanto se ocupavam,

Rompe
arnesada e em forma a Teucra gente;

Lembra
aos Gregos a lide, as armas vestem.

Dormir,
tremer, não viras Agamémnon,

Ou
recusar peleja, sim o honroso

Conflito
apressurando. O eri-incrustado

Coche
e os cavalos anelantes larga:

Tem-nos
o auriga Eurímedon, rebento

De
Ptolomeu Piraide, a quem prescreve

Atrás
venha de passo, a fim que o tome,

Quando
o girar os membros lhe afadigue.

O
Atrida a pé de fila em fila ordena,

Os
mais zelosos eloquente inflama:

"Nada
afrouxeis, que Júpiter, Aquivos,

Traidores
não defende: os que infringiram

O
pacto e a fé, serão de abutres cevo;

ílio
assolada, filhos seus e esposas

Breve
em nossos baixéis transportaremos."

E
os que titubam repreende amargo:

"Valentões
de balhesta, oh! pejo e opróbrioI

Sois
corçozinhos tímidos, que lassos

De
correr a campina, esmorecidos

Param
sem ânimo? Aguardais que altivas

Popas
abordem na alva praia os Teucros,

Para
saber se a mão vos dá Satúrnio?"



Por
entre a chusma, em tudo pondo cobro,

Chega-se
aos Créssios, que na frente armados

O
militar Idomeneu já tinham,

Em
vigor javali; na retaguarda

Os
incitava Merion. De vê-los

Exulta
o rei dos reis, contente e afável:

"Nos
feitos, Créssio herói, prezo-te acima

Dos
crinitos varões, té quando à mesa

Misturam
na cratera o vinho de honra:

Bebem
regrado os mais; teu copo sempre,

Qual
o meu transbordando, a gosto empinas.

Vai
combater, e teu renome iguala."



Idomeneu
responde: "Camarada

Jurei
ser-te leal; não falto. Inspira

Denodo
aos outros, acelera a pugna:

Infractores
do pacto, a morte, o exício

Recairá
sobre infiéis Troianos."



Alegre
o Atrida progredindo, encontra

Os
dois Ajax de ponto em branco, e em torno

Um
negrume de espessa infantaria.

Do
oeste às vezes bruna pícea nuvem

Traz
pelas vagas túrbida procela;

O
pastor, que a divisa do penedo,

Freme
e à gruta recolhe a grei balante:

Assim
um e outro Ajax movia ao prélio

Aguerridas
intrépidas falanges,

De
enfuscados broquéis e horrentes piques.

Gostoso
o Atrida, rápido lhes fala:

"Ajax,
cabos de Argivos lorigados,

Fora
ultraje animar-vos; que vós mesmos

Forte
a bater-se estimulais o povo.

Oh! Jove, Palas, Febo, em todo peito

Soprassem
vosso ardor 1 Presto, às mãos nossas,

Desabaria
a Priameia Tróia."



Prossegue,
e topa o arguto orador Pílio,

Que
os seus alinha, férvido acorçoa

O
grande Pelagon, Alastor, Crómio,

E
Hémon e Bias príncipes das gentes;

Atrás
bastos peões, da guerra esteios,

E
na vanguarda os équites e os carros,

Entremete
os poltrões, que à força pugnem.

A
conter seus corcéis avisa os donos,

Por
que as alas não turbem:
"Confiado

No
manejo e valor, sôfregos Teucros

Ninguém
ataque só, nem retroceda;

Que
mais débeis sereis. Do próprio carro

Quando
alguém desça e a carro hostil afronte,

Enreste
a lança, que é melhor partido.

Assim
nossos avós, com força e manha,

Derrocavam
muralhas e castelos."



Tal
o decano táctico procede;

O
grã rei jubiloso o exalta e gaba:

"Conforme
o coração, robustos fossem

Teus
joelhos, teu corpo ! Inexorável

Te
consome a velhice: oh! se ela em outrem


carregasse, e remoçar pudesses!"



E
Nestor: "Não ser eu como antes
era,

Quando
Ereutalion matei famoso!

O
Céu nunca aos mortais confere tudo.

Moço
então, hoje a idade me acabrunha.

Mas,
tal qual sou, no prélio os
cavaleiros


Ajudarei
de alvitres e conselhos,

Dos
provectos ofício: os que eu mais ágeis

Dardem,
gladeiem, no verdor fiados."



Avante,
passa ao campeão Pelides,

A
quem Cecrópios adestrados cercam;

Sem
lhes dar inda o al’arma, o fino Ulisses

Perto
forma os não lerdos Cefalenses;

Pois,
começando apenas o alvoroto,

Aguardam
que remeta aos inimigos

Outra
falange Aquiva e estreie a pugna.

Olha-os
o rei dos reis acrimonioso:

"Menesteu
cujo pai Jove alentava,

E
tu poço de ardis e estratagemas,

Tardios
trepidais? Com ígnea força

Combater
vos cumpria antessignanos;

Que
sois nos meus convites os primeiros,

Quando
os chefes Aqueus se banqueteiam:

Regalai-vos
de assados saborosos,

E
dulcíssimos copos vos saciam;

E
ora esperais que em menear o bronze

Dez
Graios batalhões vos antecedam?"



Rude
Ulisses contesta: "Que te escapa

Do
encerro desses dentes? Nós remissos 1

Nós
que atroz morte aos picadores Teucros


movemos? Se o tens a peito e o
queres,

De
Telémaco o pai ante as bandeiras

Verás,
Atrida, e vãos discursos bastem."



O
rei sente-lhe o enfado, e a sorrir torna:

"Sublime
solertíssimo Laércio,

Não
te arguo excessivo. Sim, de acordo

Comigo
sempre vai tua alma grande.

Eia,
rompe a tardança: eu me retrato;

E
o Céu risque a lembrança desta ofensa."



Finda
a revista no pugnaz Tidides,

Que
entre os corcéis estava e unidos carros,

Mais
a de Capaneu briosa estirpe.

Tal
observa Agamémnon e o censura:

"Tremes,
Diomedes, o êxito receias?

Ah!
teu pai de tremer não se aprazia;

Sempre
entre os seus maior se abalizava:

Nunca
vi, mas o afirmam testemunhas.

A
Micenas contudo hóspede veio,

Quando,
com Polinice igual aos deuses,

De
Tebas sitiava os sacros muros,

E
ambos gente e socorro nos pediram.

Quisemo-lo
servir, porém vedou-nos

Dial
prodígio infausto; e na tornada,

Ao
juncoso arribaram verde Asopo.

De
Etéocles no paço, num convívio

Tideu,
como legado, imensos topa:

Sozinho
entre os Cadmeios, destemido

Muitos
então a duelo desafia,

E
de Palas por graça a todos vence.

De
emboscada, ao regresso, despeitosos

O
acometem cinquenta cavaleiros,

Com
chefes dois, Meon divo Hemonides,

O
inconcusso Antofónio Licofonte.

Ele
os castiga, e por celeste auspício

Poupa
a Meon, que núncio envia a Tebas.

Tal
foi Tideu Etólio, pai de um filho

Melhor
de língua e de valor somenos."



Sofre-o
Diomedes respeitoso e mudo,

E
Esténelo é quem fala: "Atrida, mentes;

Sabe
que de mais fortes blasonamos

Que
nossos pais: com Jove e o Céu propício,

Bem
poucos, derruindo-lhe as muralhas,

Tomámos
Tebas a de sete portas;

Eles,
ímpios e insanos, pereceram.

Nossos
avós conosco não compares."



Sério
o encarou Tidides: ”Cala c atende.

Fogoso
o grande rei não culpo, amigo,

De
grevados Aqueus urgir ao prélio:

Se
destrói ílio santa, a glória é sua,

E
ingente o luto, se nos falha a empresa.

No
ímpeto nosso intrepidez provemos."

Do
carro em armas salta; o bronze aos peitos

Do
furibundo campeão remuge,

Pondo
nos corações gelado medo.



Antes
que rolem na sonora praia,

No
alto encapela Zéfiro as maretas,

Que
na terra a fremir túmidas quebram,


que do promontório em cerco espumam:

Tais,
sob os cabos seus, vão-se adensando

Graias
falanges em fervor contínuo.

Tácito
ia o soldado e atento às ordens;

Creras
a turba toda emudecida:

Na
marcha o vário arnês lampeja e fulge.



Qual
a miúdo inúmeras ovelhas,

Ao
mugi-las do leite o rico dono,

Balam,
gemer ouvindo os cordeirinhos;

Assim
clamava o exército contrário:

Misto
confuso de nações remotas,

Não
tinha o mesmo grito, acento ou língua.



Uns
Gradivo, outros insta a gázea Palas,

Fuga,
Terror, Discórdia sitibunda,

Parenta
e amiga do sanguíneo Marte;

Que,
tímida ao princípio, aos Céus remonta,

No
chão caminha e a fronte enubla e esconde.

Esta,
ao passar, aqui e ali semeia

Raiva
homicida, mestos ais dobrando.

Juntos
os campos, já de escudos e hastas

E de
éreas malhas chocam-se
os guerreiros;

Os
copados broquéis do embate rugem;

Gloreia
o vencedor; soluça arcando

O
moribundo; o sangue alaga a terra.

Qual,
inchados jorrando estrepitosos

Do
monte ao vale, rios dois volteiam

Num
mesmo abismo, e longe o estrondo escuta

Espantado
o pastor: assim, por todos

Lavra
o susto, baralha-se o estampido.



Antíloco
encetou num da vanguarda,

No
Teucro Talisíada Ecepolo,

A
quem fura o morrião de basta coma,

E
brônzea cúspide o frontal penetra:

Enoita-se-lhe
a vista, e como torre

Baqueou. Por despi-lo, o Calcodôncio

Digno
rei dos Abantes, pretendendo

Isentar-se
dos tiros, debruçado

Agarrando-lhe
os pés, desvia a tarja:

Magnânimo
Agenor com énea ponta

Lhe
vulnera o vazio e os órgãos laxa;

A
alma o corpo deserta, e em acre pugna

Sobre
ele Argeus e Troas rosto a rosto,

Quais
lobos carniceiros, se abalroam.



Lanceia
o Telamónio a Simoésio,

Filho
de Antemion, solteiro e imberbe:

No
Ida, os gados a ver baixando às margens

Do
Símois com seus pais, a mãe o teve;

Donde
vinha-lhe o nome. Aos que o geraram

Em
frutos não pagou ternura
tanta,


Pelo
bronze de Ajax em flor cortado:

A
dextra mama atinge e lhe atravessa

O
ombro a lançada, que o rebolca e estende.

Ao
pé de húmido lago o choupo liso,

Que
a rama e o cimo exalta, o carpinteiro

Talha
a ferro aceirado, por que em rodas

Curve-o
de belo coche, e à beira o tronco

Jaz
do rio a secar; destarte o jovem,

A
quem despoja o herói, murchece e tomba.

A
Ajax, na chusma, o Priameio Antifo

De
arnês betado aponta: a Leuco, assecla

De
Ulisses, na virilha o dardo alcança;

E
Leuco, indo arrastando a Simoésio,

Larga-o
das mãos e dele a par descamba.



Raivoso
pelo amigo, em brilho aéneo,

Se
envia Ulisses às primeiras filas;

Tem-se,
os lumes rodeia, a lança brande.

Afastaram-se
os Teucros; mas o tiro

Não
se esgarrou, que a Democoonte fere,

De
Príamo bastardo, o qual de Abido

Frisões
ardegos trouxe: a letal choupa

As
fontes passa; a vista se lhe entreva,

Soam-lhe
com fragor na terra as armas.

A
vanguarda, Heitor mesmo é rechaçado.

Recolhendo
os cadáveres e em grita,

Com
mor ímpeto os Gregos acometem.



De
Pérgamo olha Febo e iroso brama:

"Constância,
forte gente, ânimo, Teucros.

Não
têm corpos de pedra ou ferro os Dânaos,

Que
brônzeo gume expilam; nem de Tétis

Crinipulcra
os protege agora o filho,

Que
mesto em seus baixéis recoze a bílis."



De
alto assim troa o deus; mas a Tritónia,

De
Jove augusta prole, de ala em ala,

Onde
os vê tíbios, acalora os Dânaos.



Diores
de Amarinceu do fado é preia:

Um
calhau de enche-mão, que joga o de Enos

Dos
Traces condutor Piso Imbrasides,

No
tornozelo dextro o aleija; o canto

Os
tendões ambos e ossos lhe esmigalha:

A
alma exalando, a bracejar aos Gregos,

De
costas cai; no embigo a lança Piso

Mete-lhe;
os intestinos se derramam,

Eterna
escuridão lhe cobre os olhos.



Toas
Etólio ao matador se atira.

Pela
mama ao pulmão lhe enterra o bronze;

Aproxima-se
dele, e a válida hasta

Lhe
extrai dos peitos, puxa logo a espada,

Que
lhe traspassa o ventre e a vida rouba.

Desarmá-lo
não pôde, que em redondo

Hastatos
sócios de topete hirsuto,

Beloso
embora, a Toas repeliram.



Assim,
dois capitães ali ficaram,

Um
Trácio, um dos Epeus eriarnesados,

E
outros bravos com eles pereceram.

Quem,
de golpes ileso ao longe e ao perto,

Guiando-o
Palas, pelo campo andasse,

A
nenhum dos guerreiros acusara.

Muitos
naquele dia Aqueus e Frígios,

Em
pó submersos, prosternados foram.


[Canto I ]
[ Canto II] [Canto III]

[Canto IV]

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