CUBRA-ME DE LUA

abr 21st, 2012 | Por | Categoria: Romance em prosa poética        

Nei Duclós

Fantasias são ridículas colocadas à luz do dia. Cubra-me de Lua.

Sigo o rastro do teu perfume. Te encontro no sonho.

Vivo do verso que sobrevive a mim. Não do que morre em tua porta nas noites em que te fechas no quarto.

Eu esperava mesmo que você em algum momento desse sinal de vida, proibida. Foi só uma vez e acabaste comigo.

Agora aguardo o próximo aceno. Espero que desta vez teus traços não sumam na minha memória. Te quero, nítida.

Estás inacessível porque ficas próxima demais, delícia. Não posso provar dessa fruta que pulsa em meu sonho.

Lembro uma vez que cedeste, para minha surpresa. E ficaste muda, olhando para o nada. Foi quando tocaram todas as fanfarras.

Quando abri a caixa postal, me enchi de esperança. Mas era spam. Continuas inacessível, enigma.

Basta que me ame. O resto, eu aguento

Corra, bonita, por este beco florido, onde raspamos o corpo em movimento nos muros, fugindo de alguma polícia. Corra desse perigo, porque do outro, o que nos mergulha, jamais estaremos livres.

Passagens de um trem que não existe, parando em estações de neblina, viajamos de mãos dadas para o desconhecido. De vez em quando vês uma luz, longe, na treva, e me olhas. És a minha janela.

Já cumpri o dia, empilhei a palavra no capricho, enfeitei teu rosto com um beijo e te tirei dali, para uma happy hour que começa num bar e termina em pura delícia.

Voltaram teus ombros mas não posso dar bandeira do quanto quis beijá-los. Por isso me comporto e te acaricio. Mas tremes toda, dando pulos nas curvas que enfeitam teu sorriso.

Sabes que é contigo, maravilha. Guardada numas, pois já estou com a mão no teu vestido.

Vale a pena quando me visitas. Sou capaz de fazer alguma besteira só para não dar vista a gana que tenho por ti, magnífica.

Te levo no colo em silêncio por uma alameda perdida. Pássaros arrulham uma canção de outono. Olhos espreitam pelas folhas. Sou teu guardião, um deus destas colinas.

Não posso dizer, senão serei punido. Por isso escolho o verso, meu modo avesso de estar contigo.

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