O CASTIGO DA AMBIÇÃO – O Rei e a Princesa – Contos Infantis

O CASTIGO DA AMBIÇÃO

AO castelo do rei Miroslao foram chamados os mais célebres pintores do reino a fim de ser pintado o retrato do soberano.

O rei, que era ainda muito jovem, desejava encontrar a companheira de sua vida.

Entre os numerosos retratos que lhe foram enviados por diversas princesas e altas damas estrangeiras, da mais refinada linhagem, destacava-se um de grande e singular formosura!

Miroslao, desde o primeiro momento, sentiu um ardente desejo de desposar aquela dama tão bela, compartilhando com ela o seu trono.

Por isso é que mandara pintar o seu retrato que seria enviado à jovem princesa, juntamente com o seu pedido de casamento.

Achando-se os pintores todos reunidos, o rei lhes falou nestes termos:

— Prezados senhores e célebres mestres, convoquei-os à minha corte para que cada um de vós pinte o meu retrato. Advirto-vos, entretanto, que não será de meu agrado se neles me fizerdes mais bonito. Ao contrário, ficarei mais satisfeito se no retrato ficar menos favorecido do que realmente sou.

— Por que iríamos aumentar vossa beleza, real senhor? — disseram os pintores. — dar–nos-emos por satisfeitos se nossos pincéis reproduzirem exatamente a realidade.

Com intensa atividade os pintores puseram mãos à obra e, dentro de pouco tempo, achavam-se expostos vários retratos do rei nos salões do palácio.

O soberano, acompanhado de seus conselheiros, foi examinar qual das pinturas seria mais apropriada para enviar àquela que ele pretendia.

— Segundo minha opinião — disse um dos cortesãos — vossas feições excedem em muito a todos estes retratos! Nenhum dos pintores soube reproduzir com fidelidade vossa soberana beleza!

— Não foi mesmo do meu desejo que o retrato reproduzisse a realidade. Creio que minha futura noiva não ficará contrariada ao constatar que eu sou mais belo do que pareço no retrato.

Dominado por tal pensamento o rei escolheu o retrato que menos o favorecia.

Mandou emoldurá-lo em ouro e pedras preciosas e ordenou que os seus mais altos dignatarios se pusessem a caminho do palácio da princesa.

Seguiram, pois, acompanhados de um grande séquito e providos de ricos presentes destinados ao pai da formosa donzela, ao qual deveriam pedir a mão da filha para o rei Miroslao.

O monarca ficou esperando ansioso a volta de seus emissários.

Depois de algumas semanas, a embaixada voltou.

Vinham todos tão tristes e mal humorados que o rei Miroslao imaginou logo que traziam desagradável resposta.

— Senhor e soberano — disseram os delegados que se apresentaram perante o seu rei — sofremos uma ofensa inaudita, tão horrível, que até tememos dar-vos ciência do ocorrido.

— Falai francamente, seja o que fôr.

— Fomos recebidos pelo rei com toda a amabilidade e na corte reinou grande alegria, ao saberem que Vossa Majestade pretendia a mão da princesa Carolina. Na manhã seguinte apresentamo-nos ante a princesa para lhe render as nossas homenagens. Como até hoje, nenhum mortal teve a graça de lhe tocar as mãos, tivemos que nos limitar a beijar a barra de sua túnica. A real alteza, depois de examinar desdenhosamente o retrato de Vossa Majestade, nô-lo devolveu, dizendo:

Depois de examinar o retrato
Depois de examinar o retrato

— O rei aqui retratado não é digno de atar siquer os cordões de meus sapatos.

Envergonhados, e humilhados, sentimos que o sangue subia as nossas faces, porém o velho rei pediu-nos não contássemos a Vossa Majestade a grosseira atitude da princesa acrescentando que, êle próprio muito sofria com o gênio de sua filha. Apesar de tudo, não duvidava, disse, de, que as coisas se pudessem arranjar e que a princesa acabaria por dar o seu consentimento.

Nós, que a tudo havíamos assistido, não consideramos a princesa digna de ser um dia nossa rainha.

Sem ligar importância ao fato, preferimos abandonar o palácio e regressar.

— Era o que de mais prudente poderiam ter feito — respondeu o rei — estou contente com a dignidade que demonstraram e com a vossa conduta. Quanto ao resto, correrá por minha conta.

E o rei, dizendo estas palavras, não podia dissimular o rancor que lhe fazia arder as faces, por causa do orgulho daquela princesa.

Sua Majestade ficou algum tempo pensativo, sem saber que atitude tomar. 

Afinal, sua fértil imaginação indicou-lhe o caminho que deveria seguir.

Mandou, pois, chamar o seu velho conselheiro e administrador confiando somente a êle o seu plano, que sem reservas, mereceu sua aprovação.

No dia seguinte notava-se grande animação no castelo.

A atividade desusada era motivada pela iminente viagem do rei.

Antes de se pôr a caminho Sua Majestade entregou a administração do reino aos seus conselheiros e três dias depois seguiu viagem.

Ao chegar aos limites de seu reino ordenou a todo o seu séquito que regressasse com tudo quanto levavam.

Seguiu êle só, provido de pequena quantidade de dinheiro e poucas roupas.

Dirigiu-se para o reino da caprichosa princesa.

Em um formoso dia de primavera a jovem Carolina passeava pelo seu jardim.

Ela era formosa como a deusa da beleza, embora o seu rosto se assemelhasse a uma rosa sem perfumes.

Entretanto, possuia alma delicada e sensível, o que se notava pelas lágrimas que sempre derramava, condoída das desgraças alheias e pela abundância de esmolas que distribuía.

Não permitia, porém, a mendigo algum, acercar-se dela. Não gostava que a tocassem com as mãos.

Muitos soberanos haviam já se interessado pela princesa porém, todos haviam sido rechaçados com desprezo.

Seus pensamentos pareciam dotados de asas de águia, desejando elevar-se à altura do sol.

Mais de uma vez apreensivo o rei seu pai teve de repreendê-la, ameaçando-a com a cólera de Deus, que não tardaria em castigá-la

pela sua altivez e orgulho, mas, a princesa respondia:

— Aquele que pretenda ser meu esposo, terá que distinguir-se pela sua nobre ascendência, qualidades morais e nobreza de alma, caso contrário, nunca me casarei.

Naquele dia, quando a jovem passeava pelo jardim, seu pai, aproximando-se dela, disse–lhe:

— Minha filha, acabo de contratar um jovem serviçal, tendo-lhe confiado o cargo de primeiro jardineiro, embora me pareça demasiado instruído para ocupar esse posto. É tão perito na arte da jardinagem, como nas letras e na música, conforme pude notar, com grande espanto meu. Por isso aceitei-o com "prazer entre os serviçais de minha corte. Em todo o reino não há quem o ultrapasse em sabedoria. Que achas?

— Nada posso dizer, uma vez que ainda não o vi. Penso, entretanto que Vossa Majestade agiu acertadamente, meu pai, porque a presença de um tal homem é como a de uma jóia rara que se guarda no cofre! Se, na realidade, é tão instruido na música como dizeis, suponho que seja também cortês e, nesse caso, poderia aperfeiçoar-me na arte de tocar harpa, substituindo assim o meu chorado mestre que tanta falta me faz. Mandai, pois, chamar esse estrangeiro.

O rei cumpriu com satisfação o desejo da filha e pouco depois Miroslao apresentou-se ante a princesa, que o esperava no pavilhão de verão.

— Tenho grande honra de me pôr aos vossos pés, graciosa senhora, e fico aguardando as vossas ordens — disse o jovem rei disfarçado, fazendo a mais elegante reverência. Beijando a barra da túnica da donzela, lançou-lhe ao mesmo tempo um olhar como jamais alguém havia feito.

A altiva princesa ruborizou-se, desviando o olhar para uma rosa que há pouco havia colhido no jardim sem adivinhar a tragédia que iria surgir daquele botão entreaberto.

Miroslao apresentou-se ante a princesa
Miroslao apresentou-se ante a princesa

Logo que Carolina fitou a rosa, Cupido, o pequeno deus do amor, disparou-lhe a sua flexa.

A princesa sentiu-se ferida no coração, golpe esse para o qual não há remédio no mundo.

— Como é o vosso nome? — perguntou ela a Miroslao, em tom amável.

— Miroslao — respondeu o jovem.

— Meu pai me disse, Miroslao, que sois instruido na música. Precisamente há tempos estou desejosa de um bom mestre, para aperfeiçoar-me na harpa. Muito me alegraria, se quisésseis ocupar o lugar do meu falecido mestre.

— Se a minha modesta habilidade nessa nobilíssima arte fôr suficiente para satisfazer todas as exigências do cargo, considerar-me-ei muito feliz em poder servir-vos, senhora.

— O rei, meu pai, dar-vos-á os detalhes, — disse a princesa fazendo um gesto, como para dar a entender que a audiência estava terminada.

Carolina permaneceu durante muito tempo como que atordoada, incapaz de recordar o que se havia passado! De repente ouviram-se pas-

sos, e a princesa saiu de sua profunda meditação.

Era o rei que se aproximava, dizendo:

— Contrataste Miroslao como maestro?

— Sim, meu pai, e estou a pensar quando deverei começar as lições.

— Isso é contigo, minha filha. Quanto a mim, ao ouvir pronunciar esse nome, sempre me recordo do rei Miroslao. Temo ainda que pretenda declarar-nos guerra, para se vingar da ofensa sofrida. Cometeste uma falta grave, minha filha.

— Não me façais sofrer, meu pai. Seria para mim grande desgosto ter de casar-me com aquele rei, não mudarei de opinião.

O soberano afastou-se pensativo e aborrecido com receio de possíveis complicações com o soberano do reino vizinho.

No dia seguinte começaram as lições.

Miroslao era um mestre consciencioso e tinha em Carolina uma aluna muito atenta.

Conforme transcorriam os dias ia-se derretendo a camada de gelo com que o orgulho havia envolvido o coração da princesa.

A criadagem já murmurava:

— Que transformação se verifica agora em nossa princesa! Antes ninguém podia tocar-lhe a mão e agora não se opõe a que Miroslao lha beije, quando dela se afasta.

O amor que havia brotado na alma da jovem foi vencendo, lentamente, o seu orgulho.

Passou-se longo tempo desde a chegada de Miroslao à corte.

O moço gozava do afeto de todos, principalmente da princesa, embora ela procurasse iludir-se a si mesma.

Descendo um dia ao jardim, respondeu brusca e orgulhosamente aos cumprimentos do novo chefe dos jardineiros: assentou-se em um banco do caramanchão, todo ornado de flores, que havia sido construido por ordem de Miroslao, especialmente para a princesa.

Teria sido impossível não pagar com amabilidade e carinhosas palavras, aquela nova prova de estimação do jovem empregado.

Miroslao apresentou-se ante a princesa

As poucas palavras que dirigia ao moço.

davam sempre oportunidade a uma pequena conversação nem sempre afetuosa e alegre da princesa.

Assim, a orgulhosa princesa manifestou-lhe os seus numerosos e injustos desejos e ordens. Houve dias em que a princesa, de mau humor, dava ordens ao seu criado particular para despedir o mestre de harpa.

Imediatamente se arrependia e o homem tinha de correr às pressas para trazer novamente de volta o seu jovem professor.

Certa tarde quando a princesa estava a tocar e cantar ao pé da janela aberta Miroslao, ao seu lado, contemplava fascinado a beleza de seu rosto, banhado pelo áureo resplendor do sol no ocaso!

Repentinamente a princesa deteve-se, passando o instrumento às mãos do mestre.

— Se Vossa Alteza o permitir, cantarei uma canção composta por mim — disse Miroslao.

A princesa consentiu muito admirada e satisfeita.

O jovem rei começou a cantar.

O sol havia desaparecido por trás das montanhas, lançando um dos seus últimos raios pela janela aberta.

O calor suave que enchia o ambiente desfez o gelado véu que envolvia o coração da orgulhosa princesa, como densa teia de aranha.

Inclinando ternamente a cabeça para Mi-roslao, deixou cair uma lágrima sobre a sua mão.

Fingindo nada haver notado, o moço falou:

— Esta foi a minha canção de despedida graciosa soberana. Amanhã deverei partir, deixando esta capital.

— Que dizes, Miroslao? — Não permitirei que vás! Oh! não, por nada neste mundo! — exclamou a princesa Carolina com a voz trêmula, agarrando as mãos do moço.

Naquele momento abriu-se a porta e apareceu o rei, seu pai.

— É este o homem que o teu coração elegeu? — perguntou êle friamente para a filha, que o olhava perplexa!

— Sim, meu pai, é este! — respondeu ela com altivez.

— Sabes que falta a este homem uma das qualidades que deve, incondicionalmente, possuir teu futuro esposo?

— Sei que Miroslao não é de nobre descendência, porém, por mais humilde que seja o seu nascimento, não deixarei de o amar.

— Se assim é deves casar-te neste mesmo instante! Porém, advirto-te que não podes permanecer por mais tempo no castelo para que o ridículo não recaia sobre minha pessoa!

— Justíssimo soberano — disse então o mestre de música, ajoelhando-se diante do rei — não posso consentir que a princesa se torne infeliz por minha causa. Abandonarei imediatamente este país e tudo ficará esquecido.

Mas o rei persistia em seu propósito. Pouco depois mandou chamar o seu confessor realizando assim o casamento da orgulhosa Carolina com o pobre jardineiro.

Tomaram a carruagem
Tomaram a carruagem

Vestida com extrema simplicidade despediu-se de seu penalizado progenitor que tão duramente a havia expulso do palácio, como se ela fosse uma criada qualquer.

Recobrando o ânimo tomou a mão de seu marido, a quem muito amava e por quem tudo sacrificara, e com êle tomou a carruagem que deveria conduzi-los até às fronteiras do reino.

Ao chegarem aos limites do país cujo trono poderia um dia pertencer a Carolina, apearam da carruagem e seguiram o caminho a pé.

— Querida esposa — disse Miroslao — que faremos agora? Felizmente mora nesta cidade um irmão meu, empregado na corte. Êle poderá arranjar-nos um emprego, assim escaparemos das garras da miséria.

— Por enquanto ainda possuo algum dinheiro, irei trabalhando e servirei de alívio em tuas aflições, — respondeu Carolina, consolando o esposo.

Chegados à próxima vila, Miroslao alugou um carro para que sua esposa, desacostumada de andar a pé, não se fatigasse tanto.

Ao regressarem à capital do reino Miros-lao acomodou-se em uma modesta casinha onde foi morar com sua esposa.

De comum acordo venderam os seus ricos vestidos e adquiriram outros mais modestos.

— Vou agora — disse o marido no dia seguinte — vêr se arranjo algum serviço para ti e uma colocação para mim, por intermédio de meu irmão.

Ao meio dia voltou trazendo uma trouxa e desatando-a tirou um pedaço de finíssima tela e algumas frutas.

— Vê, minha querida, trago aqui trabalho que te dará boa recompensa ao terminá-lo. Estas frutas são enviadas por meu irmão. Oh! Minha amada esposa, como pude trazer-te até aqui? Tu, a filha de um rei, para levares esta vida miserável? Acostumada ao bem estar, tens que trabalhar para os estranhos e suportar privações. Que desgraça para mim!

— Não compreendo estas queixas — replicou Carolina sorrindo. Pois, fui eu mesma que assim o quis! Teu amor será a melhor recompensa para todas as minhas penas.

Satisfeita tomou o fino bordado e começou a trabalhar com afinco, sem descansar dia e noite; só se levantava para preparar a comida para o marido.

Quando terminou o trabalho foi entregá-lo em companhia de Miroslao.

A casa onde foi conduzida era um prédio vistoso; o criado levou-a por diversos aposentos à presença da camareira mór.

Apesar de sua boa vontade Carolina sentia-se constrangida, quando a camareira começou a examinar o seu trabalho, apontando vários defeitos.

Sentiu-se profundamente envergonhada e amargas lágrimas brotaram-lhe dos olhos.

Abriu-se eritão uma porta e apareceu uma respeitável senhora.

Perguntou à camareira o motivo daquele pranto e depois de examinar pessoalmente o trabalho mandou pagar à bordadeira.

Carolina inclinou-se agradecendo e saiu pressurosa.

Chegando em sua casa nada disse ao marido, lembrando-se que igual tratamento costumava dar sua própria camareira às suas costureiras.

Dois dias depois Miroslao ofereceu à Carolina um emprego em casa de uma senhora onde, certamente, teria bom tratamento. Satisfeita, a ex-princesa apresentou-se no dia e hora marcados.

A senhora examinou-a da cabeça aos pés, perguntando-lhe o que sabia fazer.

Satisfeita com as respostas, disse-lhe que queria experimentá-la durante dois dias, antes de a contratar.

Quanta amargura sofreu naqueles dois dias! Somente agora compreendia quanto sofrimento passavam as criadas das caprichosas senhoras da corte, que as tratavam com tão pouco caso.

Durante o dia não tinha outra coisa a fazer, senão ajudá-las a se vestirem, andando de um lado para outro, em busca dos mais inúteis objetos e ouvindo reprimendas pelos mais fúteis motivos. Carolina não poude suportar mais e no fim do segundo dia voltou para casa.

— Temos grandes novidades querida esposa! — disse um dia Miroslao, ao regressar à casa com o rosto radiante de alegria. Nosso rei acaba de escolher uma noiva e vai dar amanhã um grande banquete, a fim de apresentar aos seus governantes a nova soberana. Na corte a correria é grande à procura de cozinheiras e pasteleiras e oferecem bons ducados de salário para aquele dia! Como és ótima cozinheira e o trabalho não será muito difícil poderias oferecer–te no castelo como cozinheira!

— Por que não? Irei com muito boa vontade, uma vez que poderei ganhar tanto dinheiro em um só dia! — respondeu a esposa.

Ao amanhecer do dia seguinte vestiu-se, amarrou um pano na cabeça, conforme o uso da gente simples e, com seu marido, dirigiu-se ao castelo.

— Eu também procurarei ganhar alguma coisa e à noite virei buscar-te — disse Miroslao, ao sair da cozinha do castelo, onde havia conduzido sua mulher.

Fizeram-se grandes festas
Fizeram-se grandes festas

 

 

Carolina começou a trabalhar com muito gosto, a fim de cumprir todos os encargos que lhe dera o chefe da cozinha.

Tudo lhe saía bem merecendo elogios do chefe da cozinha pela sua atividade.

Mais tarde começaram a aparecer numerosas carruagens trazendo os convidados.

No momento em que Carolina atravessava o corredor, um elegante cavalheiro, resplandecente de ouro e prata, cruzou-lhe os passos.

— Fazei-me o favor — disse êle com voz grossa a Carolina — de chamar alguém para amarrar meus sapatos?

Carolina olhou para o cavalheiro e notando pelo seu porte que deveria ser o rei, inclinou-se e amarrou-lhe os sapatos.

O rei agradeceu e partiu.

Logo depois, apareceu o camareiro do rei, perguntando pela cozinheira que lhe tinha amarrado o sapato. Deveria ela apresentar-se à primeira camareira nos aposentos do outro andar. Carolina atendeu logo ao que lhe ordenaram.

Quando ela entrou no aposento a primeira camareira inclinou-se em profunda reverência, convidando-a a seguí-la.

Com grande assombro a princesa examinava e admirava aqueles aposentos riquíssimos, que tanto lhe recordavam sua antiga residência real.

Aqueles belíssimos salões estariam, sem dúvida destinados a alguma princesa e Carolina supôs logo que seria a residência da jovem e futura rainha. Não sabia porém, porque motivo a haviam trazido ali.

Assim, chegou a um gabinete onde as cadeiras estavam repletas de riquíssimas roupagens, e as mesinhas transbordando de jóias cintilantes!

— Deveis escolher um vestido e as jóias que mais vos agradarem, disse a camareira mór. Eu estou encarregada de vestir-vos em recompensa ao ato de cortezia que tivestes para com o nosso amado rei e amo. Sua Majestade ouve por bem convidar-vos para o baile.

— Meu Deus! — exclamou Carolina muito assustada! — que há de dizer o meu marido? Quer dizer que eu deverei enfeitar-me com estes trajes e dançar com o rei? Não, isso nunca! Não o farei!

— Mesmo que eu peça com muito carinho? — disse uma voz do fundo da sala. Carolina, voltando o olhar viu diante de si o próprio rei e nele reconheceu seu marido Miroslao.

Assustada e cheia de assombro, perguntou aflita:

— Por que fizeste tudo isto e por que me tens tratado desta maneira?

— Não te recordas com que altivez trataste os meus embaixadores quando eles foram apresentar-te o meu retrato? Naquele dia jurei humilhar o teu orgulho! Consegui-o com o auxílio de teu pai e por teu próprio amor!

Não teria te sujeitado a provas tão duras se nisso não houvesse obedecido também à vontade de teu pai.

Tenho também participado de teus sofrimentos e eles foram bem grandes!

Nesse momento abriu-se a porta entrando por ela o velho rei, pai de Carolina. Os três abraçaram-se com efusão e carinho e a felicidade era visível em seus semblantes.

— Essas provas foram talvez um tanto amargas — disse o velho rei — porém, minha filha, purificaram o teu caráter! Serás agora mãe amantíssima para teus futuros filhos e uma nobre soberana para o povo deste grande reino!

Os convidados reuniram-se para vêr a nova rainha que trajava um precioso vestido todo bordado a ouro e pedrarias.

Ostentando em sua cabeça maravilhoso diadema real, trabalhada com pedras mais preciosas do reino, era mesmo uma linda rainha.

Os convidados estavam encantados com a sua formosura, pois, apesar do luxo com que estava ornada, a bondade e o carinho refletiam–se em seu rosto, em vez do altivo orgulho de outro tempos.

Com fidalgo gesto o rei Miroslao conduziu sua esposa ao salão real, onde, reunidos todos os nobres do reino, foi a jovem rainha aclamada com entusiasmo!

Depois, fizeram-se grandes festas durante sete dias e sete noites, e foram muito festejados pelo povo os jovens reis.

FIM

Tradução e Adaptação de Leoncio Sá Ferreira


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