OS TRÊS CABELOS DE OURO DO DIABO – contos infantis

Histórias da Carochinha

OS
TRÊS CABELOS
DE
OURO DO DIABO

Há muitos e muitos anos, numa casinha pobre,
nasceu um menino bonito e forte, mas que, ao contrário de todas as outras
crianças, nasceu com todos os dentes na boca. Os pais, assim que o viram,
ficaram muito assusta-os, pensando se tratar de alguma bruxaria. As vizinhas,
entretanto, os tranqüilizaram, dizendo que nascer com dentes era sinal de boa
sorte. E uma delas, que era considerada feiticeira, profetizou que o menino, ao
com­pletar quinze anos, se casaria com a filha do imperador do país.

Um dia, quando o menino ainda era bem pequeno, o imperador
passou casualmente pela vila e ouviu contar a história da criança, que era
chamada de o "Filho da Sorte". In­dignado com a possibilidade de ver
sua filha casada com um tipo qualquer, pobre e de ori­gem humilde, o imperador
resolveu dar um jeito de impedir que a profecia se cumprisse.

Dizendo-se um rico comerciante, apresen­tou-se na casa onde
vivia o Filho da Sorte. Tomou a criança nos braços e, fingindo-se en­cantado
com sua beleza, disse aos pais que era muito rico e não tinha ninguém a quem
deixar sua herança. Por isso, gostaria muito de poder levar o bebê e criá-lo
como se fosse seu filho. O casal, a princípio, não aceitou a proposta, mas o
imperador foi tão hábil e convincente que os fez acreditar que daria ao menino
uma vida muito melhor do que ele teria naquela casa pobre.

Assim, o perverso imperador levou con­sigo o pequeno Filho
da Sorte e, logo que se viu sozinho, fora da cidade, colocou-o numa caixa e
atirou-a ao rio, na certeza de que ela afundaria, matando a criança.


Mas o menino parecia merecer mesmo o nome de Filho da Sorte, pois a caixa, em vez de afundar,
saiu flutuando rio abaixo, indo parar no açude de um moinho.

Um velho moleiro que ali trabalhava, pensando ter encontrado
um tesouro, foi cor­rendo tirar a caixa da água. Quando a abriu, ficou comovido
por ver uma criança tão linda e esperta abandonada para morrer. Como não tinha
filhos, levou o bebê para casa. A mulher do moleiro ficou muito feliz, e o
Filho da Sorte cresceu ali, rodeado pelo carinho dos pais adotivos.

*   *   *

O tempo passou e, um dia, alguns meses depois
que o menino havia completado quinze anos, o imperador e sua comitiva viajavam
pela região quando caiu uma tempestade muito forte. Como não havia nada por
perto a não ser o moinho, o imperador foi obrigado a pedir abrigo na casa do
velho moleiro.


O
casal de velhos o recebeu muito bem. Para que o tempo passasse mais depressa,
ficaram conversando com o imperador. Não demorou para que a beleza e a
vivacidade do Filho da Sorte chamassem a atenção do mo­narca, que perguntou ao
moleiro se o menino era seu filho. A mulher, inocentemente, res­pondeu-lhe que
não, e acabou contando a his­tória de como haviam encontrado a criança.

Quando
ela terminou de falar, os olhos do imperador estavam vermelhos de ódio, pois ele logo se deu conta de quem era o rapaz. Furioso
por ele ainda estar vivo, começou imediatamente a pensar num jeito de liqui­dar
o moço de uma vez.

Como
estava no meio de uma grande via­gem e demoraria muitos meses para voltar ao
palácio, o imperador ficou com medo de que a profecia se concretizasse durante
sua au­sência. Assim, resolveu agir rapidamente e, dando algumas moedas aos
velhos, pediu-lhes que deixassem o rapaz levar uma mensagem à rainha, na
capital do reino.  Em seguida,
mandasse à sua mulher ordenando que ela mandasse executar
imediatamente o rapaz que lhe entregasse aquela carta.

No dia seguinte, bem cedinho, lá se foi o Filho da Sorte na
direção da capital do reino, sem saber que levava nas mãos sua própria
lentença de morte.

Andou o dia inteiro, sem descanso, pois queria
chegar logo ao palácio. No entanto, como nunca havia deixado a vila em que mo­rava,
o rapaz se desviou do caminho certo e acabou se perdendo no meio da floresta.

Quando
já estava anoitecendo, o Filho da Sorte viu, numa clareira, uma cabana, onde
resolveu pedir ajuda. Bateu à porta e uma velhinha muito bondosa veio atender.
Á mulher o acolheu com simpatia e, depois de ouvir sua história, deu-lhe de
comer e de be­ber, mas avisou-lhe que seria melhor ele não dormir ali, pois
aquela cabana servia de es­conderijo a perigosos ladrões, que certamen­te o
matariam quando o encontrassem.

O rapaz, entretanto, não teve medo e in­sistiu tanto que a
boa senhora arranjou-lhe um canto da cabana onde pudesse dormir aquela noite.

De madrugada, quando o Filho da Sorte dormia a
sono solto, chegaram os ladrões. A velha, temendo pela vida de seu hóspede, avi­sou
aos malfeitores que havia alguém na ca­bana, mas que se tratava apenas do filho
de um moleiro que estava a caminho da capital para levar uma carta do imperador
à mulher.

O chefe dos bandidos ficou muito curioso para
saber o conteúdo da carta e a abriu para ler. Ao ver a maldade que estava fazendo
com o pobre rapaz, ficou indignado e resol­veu pregar uma peça no malvado
soberano. Imitando a letra do imperador, escreveu uma nova mensagem à rainha,
ordenando que ela casasse imediatamente a princesa com o portador daquela
carta. Em seguida, quei­mou a carta verdadeira e colocou a outra em seu lugar.

Na manhã seguinte, o Filho da Sorte, sem saber de nada,
partiu. Orientado pelo pró­prio chefe dos ladrões, encontrou facilmente o
caminho certo para a capital e horas de­pois se apresentava no palácio.

A rainha, ao ler a mensagem que julgava ler de
seu marido, preparou tudo para o casamento, que se realizou naquela mesma tarde, na capela do palácio.

* * *

Meses depois o imperador voltou de sua viagem e, vendo sua
filha casada com o filho do moleiro, ficou furioso com a mulher, lista, sem
entender por que o marido estava tão bravo, mostrou-lhe a carta que havia re­cebido.
Como não havia mais remédio para a situação, o imperador decidiu não punir nem
a mulher nem o genro, para a felicidade da princesa, que gostava muito do
marido. Por outro lado, era impossível aceitar que a princesa vivesse casada
com um tipo qual­quer, sem eira nem beira, como aquele; por isso o imperador
chamou o genro e lhe disse:

— Para eu consentir que você e minha filha continuem vivendo
juntos, é preciso que
 você se torne
digno de ser um príncipe rea­lizando alguma façanha. Por isso, eu lhe dou uma
tarefa para cumprir: quero que vá até o inferno e traga de lá três cabelos de
ouro do Diabo. Se conseguir realizar esse feito, quando voltar eu o farei
príncipe.

O Filho da Sorte, esperto e valente como era, partiu sem
demora rumo ao inferno.

* * *

Caminhou durante muitos dias, até che­gar à
porta de uma grande cidade, onde uma sentinela lhe perguntou que problemas ele
sabia resolver.

  
Todos!
— respondeu o rapaz.

   Todos?! — disse o
guarda. — Então faça-me o favor de dizer por que a fonte do nosso mercado, que
antes jorrava um vinho delicioso, agora está tão seca que não solta nem uma
gota de água!

   Não posso responder
agora — ele res­pondeu —, mas, se me deixar passar, eu lhe trarei a resposta na
volta.

A sentinela, confiando na palavra do rapaz, abriu as portas
da cidade para que ele passasse.

O Filho da Sorte seguiu seu caminho e alguns
dias depois chegou à porta de uma outra cidade, onde havia outra sentinela que
também lhe perguntou que problemas ele sa­bia resolver.

  
Todos! — respondeu ele mais uma vez.

   Ah, é? — disse a
sentinela. — Então me responda por que é que a árvore grande dos jardins do
nosso rei, que antes dava fru­tos de ouro, agora está tão seca que não tem nem
uma folha mais!

   Nao posso responder
agora — disse o moço —, mas, se me deixar passar, eu lhe trarei a resposta na
volta!

O guarda também acreditou em sua pa­lavra e o
deixou seguir.

Alguns dias depois, o filho do moleiro
che­
gou a
um grande rio que precisava atraves­sar para chegar ao inferno. Só havia ali um
barqueiro que, ao vê-lo, perguntou a mesma
 coisa que as duas
sentinelas. Quando ouviu o rapaz dizer que sabia resolver todos os pro­blemas,
o barqueiro, interessado, disse-lhe:

   Meu jovem, se você sabe mesmo
de tudo, então me explique logo por que eu pre­ciso ficar a vida inteira
sendo barqueiro, atra­vessando gente de um lado para outro do rio, sem nunca
encontrar uma alma boa que ve­nha me substituir neste trabalho!

   Não sei explicar o
motivo — disse o Filho da Sorte —, mas, se me levar à outra margem, prometo que
na volta eu trarei a resposta à sua pergunta!

O barqueiro também acreditou na pala­
vra do Filho da Sorte e o levou para o outro
lado do rio.
                                     

Bem perto dali ficava a porta do inferno. O
rapaz bateu bem forte e esperou ser aten­dido. Algum tempo depois, apareceu à
porta a avó do Diabo, dizendo que seu neto não estava. Como ela parecia ser uma
boa pes­soa, o moço contou-lhe sua história, e a velha, condoendo-se da sua
situação, resolveu ajudá-lo.

— Mas se o meu neto o encontrar aqui — disse ela
—, vai ficar tão furioso que vai que­rer matá-lo no mesmo instante e comê-lo as­
sado no jantar.  Por isso preciso escondê-lo.

Assim, a velha transformou o Filho da Sorte numa formiguinha
e o escondeu numa das dobras de sua saia.

Minutos depois, chegava em casa o Dia­bo, e já vinha
faminto, pois havia sentido cheiro de carne humana, seu prato predileto.
Farejou por todos os cantos do inferno, mas, como nada encontrasse, a velha lhe
disse:

— Você anda com mania de sentir cheiro
de gente! Venha comer que eu matei um franguinho
novo especialmente para. o seu jantar!

O
Diabo comeu até fartar-se e, depois, como era seu costume, deitou-se no colo da
avó para que ela lhe fizesse cafuné. Dali a pouco, dormia profundamente e a
velhinha aproveitou-se disso para arrancar o primeiro fio de ouro de sua
cabeça.

— Ai! — gritou Satanás. — Que é que
você está fazendo, minha avozinha?

   Nada — respondeu a
velha. — É que tive um sonho mau e acordei agarrada em seus cabelos!

   E
qual foi o sonho que teve? — pergun­
tou o Diabo.

   Sonhei que a fonte do
mercado de uma cidade, que antigamente só jorrava vi­nho, agora anda tão
seca que não solta nem uma gota de água.

Satanás deu uma gostosa gargalhada e depois respondeu:

— É verdade! É verdade! É que existe uma pedra tampando o
nascedouro da fonte!
Se a tirarem, a fonte voltará imediatamente a jorrar vinho.

A avó do Diabo voltou a fazer cafuné na cabeça
do neto e logo depois ele dormia tão pesado que roncava. Quando estava num sono
ferrado, a velha aproveitou para arran­car o segundo fio de cabelo.

   Ai!
Ai! Ai! — fez ele de novo. — O que
é que aconteceu agora?

   Eu sonhei outra vez! —
disse a avó.


Desta vez foi com uma outra cidade onde havia,
no jardim do rei, uma árvore que dava frutos de ouro e que agora está cada dia
mais seca!

O Diabo riu gostosamente
e respondeu:

— Isto
também é verdade, minha avó! E sabe por que a árvore secou? Porque em­ baixo
dela há um rato que diariamente rói suas raízes. Se matarem o rato, a árvore fi­cará
verde outra vez. Se o deixarem lá, ela ficará cada dia mais seca, até morrer!

Depois
de dizer isso, Satanás ajeitou de novo a cabeça no colo da avó e, logo, emba­lado
pelo cafuné, dormia outra vez. A velhi­nha aproveitou então para arrancar o
tercei­ro fio e ele, acordando por causa da dor, gri­tou furioso:

   Ai, minha avó! Seus
sonhos vão aca­bar me deixando careca! O que foi desta vez?

       Sonhei com um barqueiro
— disse a avó — que se queixava de ficar eternamente passando gente de uma
margem para outra
< do rio sem nunca
encontrar alguém que o substituísse nesse trabalho sem fim!

— Ah! — respondeu o Diabo, dando outra gargalhada. — Esse
barqueiro é um bobo! Se ele quiser sair de lá, é preciso apenas que abandone os
remos na mão da primeira pes­soa que aparecer pedindo para passar à outra
margem do rio! A pessoa não terá outro re­médio senão tomar o lugar do
barqueiro!

Como
já estava de posse dos três fios de cabelo, e já havia obtido as respostas para
as três perguntas, a velhinha finalmente dei­xou Satanás dormir sossegado.

Logo
de manhã, dizendo ao neto que ia buscar água, a avó do Diabo saiu do inferno e
retirou a formiguinha da dobra da saia, restituindo ao Filho da Sorte a forma
huma­na. De posse das três respostas, o rapaz pe­gou os três fios de cabelo de
ouro e, depois de agradecer muito à -velhinha, iniciou o ca­minho de volta.

Logo chegava outra vez à margem do grande rio e o barqueiro,
ansioso, perguntou pela sua resposta.


— Primeiro você precisa me levar ao outro lado —
respondeu o rapaz.

E, assim que o barqueiro o atravessou, o moço ensinou-lhe
como deveria fazer para escapar da sina de ser barqueiro eternamen­te. Muito
feliz, o homem agradeceu a ajuda e o Filho da Sorte seguiu seu caminho.

Depois
de alguns dias, chegava ao portão da cidade onde existia a árvore que dava fru­tos
de ouro. Ensinou à sentinela o que se de­via fazer para recuperar a árvore, e o
ho­mem, agradecido, deu-lhe como recompensa dois jumentos carregados de ouro e
pedras preciosas.

Mais à frente, passou outra vez pelo por­tão da
cidade cuja fonte de vinho havia se­cado. A sentinela logo indagou da resposta
e o moço ensinou-lhe o que fazer, conforme havia ouvido da boca de Satanás.
Muito feliz, o guarda deu-lhe mais dois jumentos carre­gados de ouro e lá se
foi o Filho da Sorte, rumo ao reino de seu sogro.

Chegou ao
palácio muito satisfeito, pois, além de haver cumprido a façanha exigida,
estava agora muito rico.

A princesa, sua esposa, o recebeu com muita
alegria e o imperador, depois de ter em mãos os três cabelos de ouro e ver a ri­queza
que o genro trazia, permitiu que ele vivesse com sua filha e o tornou príncipe.

Tudo ia muito bem no palácio, mas o im­perador era muito
ambicioso e morria de curiosidade para descobrir como e onde o genro havia
conseguido tantas riquezas.

Um dia, não resistindo mais, acabou per­guntando, e o Filho
da Sorte lhe respondeu:

   Foi muito fácil, meu
sogro! No cami­nho para o inferno há um grande rio onde está sempre um
barqueiro que atravessa todas as pessoas. É só pedir para ele atravessá-lo e
colher, na margem de lá, todo o ouro que pu­der carregar, pois o ouro ali é a
areia do chão!

   E eu posso ir até lá
pegar ouro para mim também? — perguntou o imperador.

   Claro, meu sogro! —
respondeu o ra­paz. — É só falar com o barqueiro!


O ganancioso imperador saiu logo na ma-nhã seguinte, ansioso por
encontrar o lugar onde  havia tanta riqueza.  Viajou por vários dias e, de
fato, acabou encontrando o barqueiro.  Este, que aguardava ansiosamente o
aparecimento de alguém, assim que o impe­rador lhe pediu que o atravessasse,
entregou-lhe com satisfação os remos e disse: – Atravesse você mesmo, ora!
Movido pela ambição, o imperador acei­tou a tarefa e saiu remando, enquanto o
bar-queiro, feliz da vida, saía por esse mundo afora, livre outra vez.

E dizem que até hoje o imperador está lá, Cumprindo
a eterna tarefa de atravessar gen­te de um lado para outro do rio.

Quanto ao Filho da Sorte, viveu feliz por muitos
e muitos anos, junto com a princesa, sua amada esposa.

 

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