Sublevação do povo no Maranhão e no Pará. Prisão e desacatos que sofreram o P. Vieira e os demais jesuítas

Sublevação do povo no Maranhão e no Pará. Prisão e desacatos que sofreram o P. Vieira e os demais jesuítas

Divulgados enfim no Pará os sucessos do Maranhão (nem o segredo se podia guardar por muito tempo) começou o povo a al­vorotar-se. Em vão procuraram o senado e os nobres acalmar o seu furor: as suas mesmas diligências redundaram em prejuízo da paz, se não é que de propósito foram encaminhadas a êsse fim. O certo é que, resolvendo o senado convocar os moradores para a elei­ção de três nobres dos mais qualificados, que com o mesmo sena­do, provessem *) à segurança pública, e começando a eleição a 13 de julho, aconteceu, como dois meses antes se tinha visto em S. Luiz, que do mesmo concurso da multidão derivou o perigo que se pretendia remover. No dia 17, recolhida a corporação do senado depois da procissão do anjo Custódio, rompeu o povo em altos bra­dos, pedindo a nomeação de um juiz, que para logo obteve.

Enfatuados com êste primeiro triunfo, guiaram os sediosos tumultuários para o colégio da Companhia, invadiram-no de mão armada e ali prenderam todos os padres que acharam, inclusive Antônio Vieira, e conduziram-nos a diversas prisões, no meio de vaias, ameaças e espadas nuas, sendo Vieira recluso na ermida de S. João, separado de todos os mais companheiros. Sem dar inteiro crédito a André de Barros, o qual afirma que os mesmos padres enfermos e moribundos foram arrastados, e que a Antônio Vieira até se negava o indispensável alimento, é de presumir, contudo, que a multidão vitoriosa se demasiasse em tôda casta de excessos. Antônio Vieira, em particular, foi objeto das maiores afrontas; guardava à vista e incomunicável em uma prisão solitária, a plebe vil e desprezível ali vinha insultá-lo sem piedade. Êste o chama hereje, aquêle judeu, tanto que fôra batizado em pé; êste outro en­fim, feiticeiro, que trazia consigo um gênio familiar, com que lo­grava [1]) enganar a todos. Quando entre vaias da gentalha e sol­dadesca era conduzido do Colégio para a prisão, um dos principais da terra chegou-se a êle e perguntou-lhe em tom de môfa: “Onde está agora, P. Antônio Vieira, sua sabedoria e artes, se não sabe livrar-se dêste conflito?” Fôsse sobranceria ou abatimento, o pa­dre nada lhe respondeu; mas a injúria devia pungí-lo no íntimo d’alma, a êle sempre tão desvanecido da sua imensa superioridade, agora miserável prêsa e baldão de alguns obscuros sediciosos, eter­no objeto de seu ódio, para não dizer do seu desprêzo.

Esta injúria, porém, não devia ser a última, pois, nos mesmos tempos em que tragava no Pará tôdas estas afrontas, o governador

D. Pedro de Melo, seu grande amigo, que êle por tantas vêzes e ainda bem recentemente recomendara para a côrte com grande en­carecimento de seus serviços, infiel na presente desgraça, reclama­va por um ato público algumas assinaturas em branco que lhe con­fiara para mais pronta expedição dos negócios, a que de tão longe não podia prover. Suspeitando-o agora capaz de fazer delas um uso contrário à lealdade devida a el-rei, protestou contra isso de um modo altamente indecoroso na deplorável situação em que se acha­va o padre, havendo outrossim por nulo e vão tudo quanto pelo dito padre houvesse sido obrado mediante as assinaturas. (Idem).

Fonte: Seleta em Prosa e Verso dos melhores autores brasileiros e portugueses por Alfredo Clemente Pinto. (1883) 53ª edição. Livraria Selbach.


[1] Lograr — sin. conseguir.

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