A conquista da felicidade, de Bertrand Russell
Danilo Santos
Dornas*
Bertrand Arthur Millian Russell (1872-1970), filósofo e matemático
inglês, escreveu dentre as suas obras, um livro intitulado A conquista da
felicidade. Neste livro, o autor adianta que não visa erudição acadêmica,
mas tecer algumas considerações sobre a felicidade vivenciada por sua própria
experiência. O livro se divide em duas partes. A primeira intitulada As
causas da infelicidade e a segunda intitulada As causas da felicidade.
Neste texto, iremos enfatizar a segunda parte da obra, uma vez que em alguns
momentos necessitaremos explicitar algum conceito apresentado na primeira
parte.
Para o autor a felicidade usualmente é entendida de duas formas: na
primeira a felicidade é compreendida como acessível a todos; enquanto na
segunda é acessível somente àqueles que sabem ler e escrever. A tentativa do
filósofo é investigar o fundamento da felicidade para construir algo que seja
aplicável a todos os homens. Então, verifica que os entendimentos acerca da
felicidade, que usualmente são considerados, são proposições contraditórias. Na
primeira, há a defesa de que todos podem ser felizes; na segunda, há a defesa
que nem todos podem ser felizes, apenas os letrados. Então, o filósofo busca o
fundamento da felicidade que possa ser justificável e aplicável em todos.
A primeira causa da felicidade que possa ser buscada por todos os homens
é o prazer. Por prazer, se deve entender a realização de algo que supera algum
obstáculo. Russell compreende que o homem sempre almeja o prazer e ele só pode
ser alcançado quando as dificuldades em buscá-lo são superadas. No entanto, o
homem que se deprecia e, ainda assim, alcança a realização de algo não entende
o alcance do prazer, mas da surpresa. O contrário, também pode ocorrer. O homem
que se vangloria e não consegue vencer os obstáculos, se decepciona. Então,
para fundar a felicidade no prazer se deve investigar alguns pontos essenciais.
O prazer é ligado às crenças. No mundo moderno, segundo Russell, a
ciência ficou entendida como poderosa e progressiva e sua importância não é
posta em dúvida nem pelos próprios cientistas e nem pelas pessoas leigas.
Existe a crença nas ciências como o caminho que leva ao prazer, e por fim à
felicidade. Para Russell, esta compreensão indica que a felicidade só pode ser
realizada no cientista ou nas pessoas que, mesmo não sendo cientistas,
acreditam nas leis das ciências que lhes são transmitidas. Ainda assim,
verifica Russell, a crença não se liga ao prazer e muito menos à felicidade
conforme tenta nos mostrar. A crença na ciência, por exemplo, nos leva a
concluir que Albert Einstein (1879-1955) – cientista alemão – era extremamente
feliz e que os pintores e literatos não o são. No entanto, Russell explica qual
é o papel da crença para a consolidação da felicidade. Para edificar um sentido
para a palavra ‘prazer’, Russell aborda superar obstáculos requer alguma
perícia. A perícia é fundamental para incentivar os instintos criativos. Nesta
compreensão, o prazer em sua base deve ser entendido como a realização de algo
que enseja a criatividade. Nesta conceituação, o prazer pode ser alcançado
tanto pelos cientistas que tentam responder os problemas por métodos rigorosos,
quanto pelos pintores e literatos ao contemplarem suas obras concluídas.
Portanto, Russell indica que o prazer é o caminho para a felicidade quando
desperta no homem a criatividade.
É evidente que, no tempo vivido por Russell, a criatividade estava
oprimida pelas máquinas. Assim, a infelicidade dos jovens de seu tempo poderia
ser explicada pela substituição dos trabalhos pelas produções com recursos
técnicos mecânicos. Mas, para o filósofo esta infelicidade sentida pelos jovens
pode ser facilmente contornada. Basta os jovens sentirem no trabalho que desempenham
a atividade por vocação. Sentir a vocação não é uma tarefa fácil, mas se for
projetada ou despertada será perseguida e a vida deixa de ser monótona para ser
criativa e inventiva.
Ainda neste incentivo à criação, Russel explica que fatores importantes
para atingirem a felicidade são a cooperação e a associação. Isso significa
que, as criações e invenções devem ser dialogadas ou comunicadas para
aumentarem o incentivo entre os homens para a vocação. A associação de homens,
em torno de uma crença, pode trazer questões científicas ou artísticas, de
modos diversos, mas que causam o prazer. A felicidade, então, possui um caminho
bem traçado que é a crença em ideais da busca pelo prazer.
No período em que Russell vive, há explicações filosóficas que tratam o
homem como um ser-para-morte ou que tratam a vida como um drama. Estas
explicações muitas vezes tratam a vida sem sentido ou vazia de significados.
Tais explicações são consideradas como as escolas existencialistas. Russell,
não entende a vida desta forma. Para ele, quando há esta perda de sentido o
homem se deixa levar por tolices ou manias que são máscaras para fuga da
realidade. No livro, em questão, o filósofo dedica um capítulo específico que
diverge de tais explicações existencialistas. Para ele, as pessoas desejam ser
amadas e não toleradas. No entanto, pedir amor é pedir muito do que a vida pode
dar e isso é o que leva alguns pensadores, literários e artistas a se sentirem
melancólicos. A melancolia é a perda do gosto de viver. E Russell dedica um
especial capítulo, neste livro, para tentar investigar essa perda pelo gosto de
viver. Vejamos a seguir os principais argumentos que ele apresenta.
A condição para o homem se distanciar da melancolia é ter o gosto por
viver. E a felicidade é a tradução deste apetite pela vida. Por apetite de
viver, se deve entender o interesse pelas coisas que a vida nos apresenta. Para
Russell, quanto mais objetos pelos quais o Homem se interessar mais ocasiões
ele terá para ser feliz. No entanto, o Homem para se interessar por coisas da vida
deve ser atento. Por atenção, Russell explica que é o interesse pelas coisas
que rodeiam a vida, mas ao perceber tais coisas muitas vezes encontramos a nós
mesmos. A busca da felicidade nesta compreensão significa o Homem se interessar
por maior número coisas possível. Os interesses, quando se apresentam muito
restritos distanciam o Homem da felicidade porque a chance da decepção, é ainda
maior. Portanto, a continuação do caminho para a felicidade é o gosto pela vida
e isso implica em se surpreender com o mundo. Aqui verificamos que Russell
admite que a vida intensa em uma especialização pode significar a fuga ou o
esquecimento de outros aspectos da vida. Esta fuga, muitas vezes pode conduzir
ao exagero. Neste caso, a fórmula grega antiga da ética parece conveniente. A
fórmula da moderação. Isso porque, em nome do exagero se pode desenvolver uma
grande atividade intelectual quanto também uma grande melancolia. Esta fuga ou
esquecimento é sintoma da perda da liberdade que Russell parece considerar como
a principal causa da falta de estima.
Para que haja um resgate do gosto de viver, o Homem precisa se sentir
amado. Ao ser amado o Homem compreende a afeição como uma bondade. Deixaremos
claro, que Russell quer buscar os significados básicos para que a felicidade
seja resgatada por todos independentemente de sua localização ou cultura.
Então, a bondade deve ser compreendida como algo universal e para isso a
investigação ganha um sentido mais simples. Deve resgatar o bom “em si mesmo”.
Um aspecto importante deste “bem em si mesmo” é a afeição que devemos receber e
ao mesmo tempo dar. Por afeição, o Homem deve não agir por interesse, mas visar
sempre a bondade inerente ao ser humano. Portanto, a afeição é uma troca
desinteressada que não deve almejar segurança, proteção ou fuga da solidão. Ao
contrário, a afeição deve ser incentivada na medida em que integre o Homem numa
união, numa associação que não vise nenhum interesse. Apenas a comunhão do
gosto pela vida.
A afeição que o autor trata pode ser verificada na família. Os pais
sentem uma afeição especial por seus filhos, diferentemente das demais
crianças. Esta afeição sentida pelos pais é amplamente discutida por teólogos,
psicólogos, filósofos e cientistas. No entanto, é difícil verificar a busca
pela felicidade em todos os casos. Russell explica que é complicado analisar a
felicidade em cada pessoa. Mas, a felicidade num sentido fundamental deve
investigar o amor. O amor, entre pais e filhos, se refere aos cuidados que um
tem para com o outro. E ‘cuidado’ deve ser compreendido como atenção. Portanto,
a família feliz deve ser fundada no amor que traduz esta atenção especial que
os pais dedicam para os filhos.
O amor, entre os pais e filhos, baseia-se nos cuidados que um mantém com
o outro. Mas, este amor não pode ser aplicado às demais coisas do mundo.
Russell explica que uma das causas da infelicidade é a distração que o Homem
tem. Esta distração muitas vezes traduz o interesse para coisas que não possuem
uma praticidade. Esses interesses são impessoais. Não há critério para
determinar se os interesses são bons ou maus, então não há como investigá-los.
No entanto, outras distrações satisfazem as condições fundamentais da
felicidade. Estas condições de felicidade devem ser perseguidas por homens que
procuram interesses subsidiários, além daqueles que representam o centro em
volta do qual construiu sua vida. Portanto, a atenção deve ser difusa. As
distrações devem ser apenas complementares para as atividades centrais. Para
Russell, se isso ficar bem compreendido o Homem foge da resignação e do esforço
como categoria depreciativa do viver. Ou seja, incentiva o gosto pela vida
buscando a felicidade.
O texto de Russell foi escrito com uma condução ética hedonista. Isto é,
a felicidade deve ser considerada sempre como um bem perseguido por todos. Para
uma discussão ética, esta obra de Russell é fundamental porque se distancia dos
moralismos que tentam estabelecer uma lei máxima e a partir desta, as ações.
Russell não quer construir nenhuma lei ética, e muito menos verificá-la nas
ações. O filósofo pretende localizar a felicidade em fundamentos simples. As
categorias essenciais que procuramos demonstrar neste texto traduzem esta
tentativa do filósofo. Ao contrário, as infelicidades são produzidas pela falta
de amor à vida que causam a desintegração do Homem. O homem feliz, ao
contrário, se considerar as categorias apresentadas para viver sentirá a
unidade entre o íntimo e o mundo exterior. Tal unidade é o que o previne da
compreensão sobre a vida como drama ou como melancolia. A unidade do íntimo
como o externo é a causa fundamental da felicidade que é um caminho a ser
percorrido por qualquer discussão ética contemporânea.
Bibliografia
RUSSELL,
Bertrand. A Conquista da Felicidade. Tradução José Antônio Machado.
Lisboa: Guimarães, s/d.
* Professor de
Filosofia no Centro Educacional Frei Seráfico (CEFS), da cidade de São João
del-Rei. E-mail: [email protected]
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