A DANÇA – HISTÓRIA DA ARTE

HISTÓRIA DA ARTE DE ERNEST GROSSE (1893)

CAPÍTULO VIII

A DANÇA

Enquanto a arte estatuária, de grande importância entre os povos civilizados, é quase insignificante entre as tribos mais primitivas, outra arte, a dança, teve outrora uma importância social de que hoje dificilmente podemos formar uma idéia. A dança moderna não passa de uma degeneração estética e social. Ao contrário,

a dança primitiva é a mais imediata e poderosa expressão do sentimento estético.

A característica da dança reside na ordem rítmica dos movimentos. Não existe dança sem ritmo. De acordo com a sua significação, podem dividir-se as danças dos povos caçadores em dois grupos: danças mímicas, e ginásticas. As primeiras consistem em imitações rítmicas de atitudes de homens e de animais. As se-

gundas não imitam nenhum modelo natural. Ambas coexistem na maioria dos povos caçadores1. As danças ginásticas que melhor conhecemos são as dos australianos, denominadas "corroboris"2, e descritas por quase todos os viajantes, pois quase todas as tribos desse continente as praticam.

Dança-se o corrobori sempre à noite, geralmente ao luar. Mas, por esse motivo, não pensamos que deva ser considerado cerimônia religiosa. É provável que se escolham as noites de lua, não por seu caráter sagrado, mas em virtude da claridade. Quase sempre os homens é que dançam e as mulheres formam orquestra. Com freqüência, reúnem-se várias tribos num grande baile. Em Vitória, os dançarinos atingem, às vezes, quatrocentos3.

(1) Poderia levantar-se a questão de saber se as danças ginásticas não foram antigamente danças mímicas. Em certos casos, talvez não possamos reconhecer a imitação, em virtude do desconhecimento do modelo. De outro lado, as mais primitivas danças que conhecemos, as de amor de certas espécies de pássaros, têm um caráter puramente ginástico.

(2) Às vezes, denominam-se também as danças mímicas de corroboris. Mas, em regra gerai, essa denominação só se aplica às danças ginásticas.

(3) Brough Smyth, I, 175.

As maiores e mais notáveis festas celebram-se, em geral, depois de um tratado de paz4. Além disso, todos os acontecimentos importantes da vida australiana acompanham – se de danças: a vindima, a inauguração da pesca de ostras, a iniciação dos jovens, o encontro com uma tribo amiga, a partida para a guerra, uma expedição de caça que logrou êxito. Os corroboris, que se dançam por motivos tão diversos, assemelham-se tanto que basta ter visto um para conhecer todos.

Vejamos agora como Thomas descreve um corrobori a que assistiu na província de Vitória5. Uma clareira no mato serve de sala de baile. No centro, uma fogueira confunde sua claridade avermelhada com a luz azulada da lua cheia. Mas, não se vêem os dançarinos, que estão na mata, ador-nando-se. De um lado da fogueira, agrupam-se as mulheres que compõem a orquestra. De repente, ouve-se um ruído entre os galhos: os dançarinos entram em cena. Os trinta homens, que se reúnem em volta do fogo, haviam desenhado com argila círculos brancos em redor dos olhos e extensas riscas nos membros e no corpo. Nos tornozelos, levam feixes de folhas, e, em volta dos rins,

aventais de pele. As mulheres sentam-se em grupo, em forma de ferradura. Estão nuas. Cada qual apresenta nos joelhos uma pele de sariguéia perfeitamente pregueada e esticada que; ordinariamente, serve de abrigo. Entre as mulheres e o fogo coloca-se o chefe da dança, que também traz em volta dos quadris um avental ordinário de pele de sariguéia. Em cada mão, um bastão. Em volta, ficam os espectadores, de pé ou sentados. O chefe corre os olhos para examinar os dançarinos. Depois, volta-se e aproxima-se lentamente das mulheres e, rápido, bate um bastão no outro. Com a rapidez do raio, os dançarinos colocam-se em linha, avançam e detêm-se. Nova pausa durante a qual o chefe da dança examina os seus homens. Quando tudo está em ordem, dá o sinal. Com seus dois bastões marca o compasso. Os dançarinos fazem o mesmo com os seus. As mulheres cantam e tamborilam nas peles de sara-guéia: inicia-se o corrobori. O compasso é observado com maravilhosa justeza. Sons e atitudes acordam-se perfeitamente. Os dançarinos movem-se com a regularidade de um corpo de baile sabiamente exercitado. Executam todas as posições possíveis. Ora saltam de lado, ora avançam ou retroce-

(4) Lumholtz, 286.

(5) Segundo Brough Smith, I, 167-68.

dem alguns passos, estiram-se e encurvam-se, agitam os braços, esperneiam. O chefe da dança continua marcando o compasso e cantando com voz fanhosa. O som de sua voz é mais ou menos intenso, segundo dá um passo adiante ou atrás. Não permanece um só instante no mesmo lugar. Ora volta-se para os dançarinos, ora para as mulheres, que então elevam suas vozes com toda a força. Paulatinamente, os dançarinos excitam-se. Os bastões chocam-se com maior rapidez. Os movimentos aceleram-se e aumentam de violência. Os dançarinos sacodem-se, dão saltos incríveis e acabam soltando, todos juntos, um só grito estridente. Um instante depois, desaparecem na mata de onde saíram.

Por um momento, o lugar fica abandonado. Depois, o chefe do baile dá de novo o sinal e reaparecem os dançarinos. Desta vez, formam uma linha curva. Além disso, a segunda parte da dança assemelha-se à primeira. As mulheres tamborilam e cantam, levantando a voz até esganiçar-se ou baixan-do-a até o simples murmúrio, que mal se ouve. O final da segunda parte é idêntico ao da primeira. Assim se repete, três, quatro, cinco vezes. Em dado momento, os dançarinos dis-põem-se em quatro fileiras. A

primeira separa-se e as demais avançam, dirigindo-se juntos para as mulheres. Nesse momento, todo o grupo forma uma confusão inextrincável de corpos e membros. Dir-se-ia que os dançarinos abrem o crânio com seus bastões. Mas a ordem é tão rigorosa como antes, sendo cada movimento previamente calculado. A excitação atinge seu grau máximo. Os dançarinos gritam, esperneiam, saltam. As mulheres tamborilam como loucas e cantam a plenos pulmões. Do fogo sai uma chuva de chispas que cai sobre a cena selvagem. Então, o chefe levanta os braços. Uma pancada formidável abafa o barulho e os dançarinos desaparecem como por encanto. As mulheres e os espectadores erguem-se e dispersam-se em seus miam’s. Meia hora mais tarde, nada mais se movimenta na clareira. Apenas o fogo deita os seus últimos clarões, Eis um corrobori australiano.

Com pequena diferença, o corrobori dos homens é o mesmo em toda parte. A dança das mulheres, ao contrário, que raras vezes se executa, ao que parece é muito diversa. Eyre é o autor que no-la descreve melhor6. "As mulheres, diz, juntam as mãos acima da cabeça, fecham as pernas e juntam os joelhos. Em seguida, separam as pernas a partir do joelho — enquanto as panturrilhas e as mãos permanecem na posição primitiva — jun-tando-as de novo rapidamente, de modo a produzir um ruído seco. Essa dança é executada sempre por uma ou várias jovens, que a realizam unicamente para seu .próprio prazer. Às vezes, porém, uma mulher dança desse modo diante de vários bailarinos para excitar suas paixões. Em outra dança, os pés mantêm-se estreitamente unidos e avança–se, imprimindo ao corpo extravagantes contorsões. Desse modo, descreve-se um semicírculo. Essa dança é executada quase exclusivamente pelas jovens entre si". Os corroboris tasmânios não diferem, segundo sabemos, dos australianos.

(6) Eyre, II, 235.236.

 

As estranhas analogias que observamos várias vezes entre os australianos e os mincópios estendem-se também às danças. As dos mincópios parecem–se extraordinariamente com as dos australianos. Os motivos são os mesmos na Austrália e nas ilhas Andamã: uma caçada feliz, uma cura, o fim de uma luta, uma visita de amigos, o começo de uma estação, enfim, qualquer acontecimento susceptível de alegrar a alma do mincópio. Também se realizam grandes festas com danças que reúnem várias tribos. "Em uma pequena clareira, no meio das selvas, diz Man, congregam-se mais de cem homens e mulheres, solenemente pintadas para a circunstância. A lua espalha sua luz suave, e em cada cabana o fogo ilumina os grupos com clarões avermelhados. De um lado, estão reunidas, em uma só fileira as mulheres, que devem cantar em coro o estribilho da canção que acompanha a dança. De outro, vêem-se as escuras silhuetas dos espectadores, certo número dos quais toma parte na dança, marcando o compasso com as mãos. Invisível para todos, o chefe da dança, que é ao mesmo tempo o autor da letra e música da canção, coloca-se numa extremidade. Com o pé na borda, apertada do ressonador7 e apoiado em sua lança ou arco, marca o compasso, golpeando o ressoador com a planta do pé ou o calcanhar. Durante este "solo", que tem o caráter de um recitativo, os demais permanecem quietos e calados. Mas, quando o chefe dá o sinal de entoar o estribilho, alguns dançarinos precipitam-se com selvagem excitação na arena e reforçam o canto das mulheres, desempenhando-se de seu papel com apaixonada energia. Os dançarinos encurvam a espádua e deixam todo o peso do corpo cair sobre uma perna, arqueando-a. Estendem as mãos para a frente, à altura do peito, e seguram o polegar de uma das mãos com o polegar e o indicador da outra, ao mesmo tempo que erguem os demais dedos. Nessa posição, o dançarino avança, saltando com uma perna. De dois em dois saltos, bate o pé livre no chão. Desse modo, percorre a clareira, regendo-se pelo res-soador e o canto. Quando está fatigado, descansa, marcando ao mesmo tempo o compasso, levantando os calcanhares do chão"8.

(7) Sobre o ressoador dos mincópios, veja-se o capítulo X.

 

 

Como acontece na Austrália, em regra geral as mulheres não participam das danças dos homens. Mas, dedicam-se a danças especiais, bastante equívocas, segundo afirmação de várias testemunhas oculares. A verdade é que Man não faz alusão a esse pretenso caráter equívoco. "As mulheres, diz, balançam os braços para a frente e para trás. Ao mesmo tempo, dobram o joelho e levantam as pernas ao compasso. De vez em quando, avançam alguns passos e recomeçam em seguida os movimentos indicados".

Os bosquimanos possuem grande talento mímico. Não seria, pois, estranho encontrar manifestações desse talento nas danças. Mas, as descrições que possuímos de seus exercícios coreográficos — e são muito numerosas — só se referem as danças ginásticas. Burchell9 é quem nos faz a mais pormenorizada descrição de uma dança de bosquimanos. Realizava-se à noite, em uma das maiores cabanas, em cujo recinto se reuniam quantas pessoas de ambos os sexos pudessem permanecer em círculo, em volta do dançarino, que dispunha de um lugar para manter-se de pé apenas. Perto da entrada, ardia uma fogueira. O dançarino entrava em uma espécie de êxtase durante o qual nada via do que se passava em seu redor e só pensava em si mesmo. Como um adulto não pode permanecer de pé, ainda que seja na maior destas cabanas, o dançarino via-se obrigado a apoiar-se em dois bastões, esforçando-se para mantê-los afastados o mais possível de seu corpo. Assim, inclinado para a frente, permanecia numa posição deveras incômoda para dançar. Nenhuma veste o impedia, porém, de mover-se livremente, pois só levava sua pele de chacal. Desse modo, dançava sem parar. Às vezes, ele não usa bastões. Cada assistente tem a liberdade de dançar, por sua vez, todo o tempo que desejar e depois num outro se põe o guiso, que serve para uso geral. Essa dança é muito estranha. Creio que não se encontra nada parecido em nenhum outro povo selvagem da terra10. Um dos pés permanece preso ao solo. enquanto o outro se move rápida e irregularmente, mas sem se afastar muito, embora o joelho e a perna se movam de acordo com o que permite a posição incômoda do dançarino. Os braços, que sustentam o corpo com a ajuda dos bastões, agitam-se naturalmente muito pouco. Sem cessar, o dançarino canta e executa todos os seus movimentos, conforme o compasso. De vez em quando, baixa o corpo e o levanta de novo rapidamente até que, afinal, se estende no chão, para respirar um pouco. Mas continua cantando e movimentando o corpo, ao compasso do canto dos espectadores. Transcorridos alguns minutos, ergue-se de novo e reinicia a dança com novas forças. Se uma das pernas se fatiga ou a ordem da dança o exige, agita a outra perna. Em cada tornozelo o dançarino ata uma espécie de guiso formado por quatro orelhas de antílope marsupial, nas quais se encontram pequenos pedaços de cascas de ovo de avestruz, que dão a cada movimento do pé um som nem desagradável, nem duro, contribuindo muito para o efeito da dança. Embora uma só pessoa possa dançar por vez, todos acompanham o dançarino, contribuindo assim para a diversão geral. Para o acompanhamento, canta-se e toca-se o tambor, todos cantam e marcam o compasso, batendo levemente as mãos. Embora se repitam continuamente as palavras ae-co, "ae-o", nada significam. Pronunciando o "o", batem-se palmas. Ao mesmo tempo, o dançarino diz "wa-wa-kuh". As mulheres não estão excluídas do canto, e as vozes sempre acordam. As jovens, cuja voz é cinco ou seis notas mais altas, cantam com muita vivacidade. Uma dança, a que assistiram Arbousset e Dau-mas, executada ao ar livre, teve um caráter muito diverso. "Os bosquimanos, dizem, só dançam depois de terem comido e bem. Então, dançam ao luar, no meio do kraal". Seus movimentos consistem apenas em saltes regulares, produzindo o efeito de um rebanho de bezerros saltando aqui e acolá, como eles próprios dizem. Saltam até ficar todos cansados e cobertos de suor. Os gritos e os saltos são de tal modo violentos, que amiúde eles caem no chão extenuados e sujos de sangue que lhes escorre das narinas.

(8) Man, "Journ. Anthr. Inst.", XII, 390, 391.

(9) Burchell, "Reisen in das Innere von Süd-Afrika", Weimar, 1825, II, 81 e segyintes.

 

(10) Burchell não conhecia a dança dos mincópios, que se parece muito com a dança bosquimana que descreveu. Em uma cabana pequena, um mincópio executaria com pequena diferença os mesmos movimentos do bosquimano.

Por esse motivo, também se denomina essa dança "moko-ma", ou dança do sangue11.

Infelizmente, estamos muito mal informados sobre as danças dos fueguinos. Apenas temos informes acerca das representações dramáticas de uma só tribo os Yahgans, e que talvez sejam danças mímicas12. Nada conhecemos a propósito de suas danças ginásticas e ignoramos mesmo se existem. No que se refere aos botocudos, a maioria dos relatos não alude às suas danças. O príncipe de Wied chegou a dizer expressamente que não existiam. No entanto, Ehrenreich as viu e descreveu mais tarde. "Nas ocasiões solenes, quando se trata de celebrar uma caçada feliz, uma vitória, ou de festejar a chegada de um estrangeiro, reúne-se toda a horda, à noite, em redor do fogo do acampamento. Homens e mulheres formam um círculo. Cada dançarino corre os braços em volta do pescoço de seus vizinhos e todo o círculo começa a rodar para a direita ou \ para a esquerda. Batem com o pé no chão, caminhando assim para o lado a que o movimento se dirige, e retira-se o outro, depois. Ao baixarem a cabeça e se aproximarem uns dos outros descompõem-se o círculo. Durante toda a dança, entoam um canto monótono pelo qual regulam os movimentos dos pés"13.

Entre os esquimós, segundo certos relatos, as danças ginásticas estão em plano inferior ao das danças mímicas. "Dança-se, diz Boas, no verão, ao ar livre, e no inverno, numa grande casa de neve que se constrói para esse fim. Essa casa não passa de uma grande abóbada de neve, medindo cerca de 15 pés de altura por 20 de diâmetro. No centro, elevasse uma coluna de gelo de 5 pés de altura, na qual se colocam as lâmpadas. Quando os habitantes de uma aldeia se reúnem nessa casa, as mulheres casadas colocam-se em fileira ao longo das paredes. As jovens formam outro círculo concêntrico e os homens ocupam o círculo interior. As crianças formam dois grupos, aos lados da porta. Assim que a festa se inicia, um homem pega o tambor, entra no espaço livre perto da porta e começa a cantar e a dançar. As canções, de autoria do próprio cantor, consistem, sobretudo, em poesias satíricas. Enquanto os homens, calados, escutam, as mulheres entoam o coro, cantando "amna aya". O dançarino, que permanece no mesmo lugar, bate os pés no chão, executando um movimento rítmico, balança o torso e toca ao mesmo tempo o tambor. Durante a dança descobre o busto, conservando apenas as calças e as botas"14.

(11) Nessa descrição, há alguns pontos possíveis de crítica. Nota-se-lho a ausência de duas coisas, que existem em toda dança primitiva: o acompanhamento musical e a ordem rítmica dos movimentos. Se os observadores omitiram esses dois pontos, sua descrição é defeituosa. Mas, se, na realidade, faltam na dança, o "mokoma" não é provavelmente uma verdadeira dança, mas tão somente conseqüência de uma embriaguez geral, provocada pelo uso do haxixe, muito freqüente entre algumas tribos do Congo.

(12) Globus, XLVII, 332.

(13) Ehrenreich, "Zeitschr, für Ethnologie", 1887, 22

 

Em outra dança ginástica que Bancroft denomina — e ignoramos por que — "dança nacional"15, as jovens entram uma após outra no meio do círculo, enquanto os demais cançam em volta delas, tendo as mãos entrecruzadas. "Os movimentos mais extraordinários são os mais aplaudidos". Enquanto as danças ginásticas são quase sempre "soli", são necessárias várias pessoas para as danças mímicas. "Os dançarinos, que são quase sempre jovens, põe-se completamente nus até à cintura. Imitam de modo burlesco o grito dos animais ou dos pássaros, acompanhando os movimentos com cantos e batidos de tambor. Às vezes, ostentam de modo extravagante calças de pele de rena ou de foca, levando plumas ou um chale mosqueado na cabeça". Essas representações não se limitam a imitar animais. "Um estribilho monótono, acompanhado de golpes de tambor, chama os homens uns após outros, até reunir cerca de vinte, que formam um círculo. Em seguida, iniciam as representações mímicas, cenas de amor, alegria, ódio e amizade16.

Se os corroboris ginásticos são monótonos, as danças mímicas pelo contrário, são variadíssimas, tanto na Áustria quanto em outros lugares. Em primeira linha, figuram as danças de animais: as do din-go, casoar, rã, borboleta. Não há, porém, nenhuma tão generalizada e apreciada quanto a do canguru descrita por numerosos viajantes, que são unânimes referir-se em termos elogiosos ao talento mímico demonstrado pelos indígenas na execução dessa dança. "Quando saltavam, diz Mundy, cada um melhor que o outro, não se podia figurar nada mais extravagante nem melhor imitado’17. No lago Vitório, Eyre viu a dança do canguru "tão bem executada que provocaria estrondosos aplausos em qualquer teatro europeu"18. No que se refere à vida humana, ela concorre em duas de suas manifestações mais importantes, 0 amor e a batalha, para o tema de algumas danças mímicas. Mundy descreve uma dança de guerra que viu na Nova Gales do Sul. Os dançarinos executavam primeiramente uma série de movimentos complicados e violentíssimos, brandindo suas maças, lanças, boomerangs e escudos. "De repente, toda a massa se dividia em dois grupos, um dos quais se precipitava sobre o outro, proferindo gritos ensurdecedores. Uma das partes logo se declarou vencida e foi perseguida na escuridão, de onde vinham urros, gemidos e o barulho dos golpes das maças, dando a ilusão de uma perfeita batalha sangrenta. Em certo momento, todos quantos haviam tomado parte no simulacro voltaram para perto do fogo e dividiram-se em dois grupos. A música mudou de compasso. Os dançarinos movimentaram-se ao som de um ritmo mais lento, batendo no chão a cada passo e proferindo grunhidos. Pouco a pouco/as pancadas do tambor e os movimentos aceleraram-se, chegando a ser tão rápidos quanto é possível ao corpo humano executá-los. De vez em quando, saltavam a prodigiosas alturas, e, ao cair, os músculos de suas pantominas tremiam, de modo que as raias brancas de suas pinturas pareciam serpentes enroscando-se, e, ao mes mo tempo, soltavam gritos ensurdecedores19. As danças de amor dos australianos são referidas na maioria dos relatos por meio de alusões assaz ca racterísticas. Ademais, é muito difícil descrevê-las. "Vi danças, diz Hodgkinson, que são apenas uma repetição repug nante de movimentos obscenos e, embora eu estivesse escondido na obscuridade e ninguém me pudesse ver, tinha vergonha de estar contemplando semelhantes horrores"20. É suficiente estudar aqui uma só dessas danças, a "kaaro", dos Watchandis. "A festa começa na primeira lua nova depois da vindima do "yams". Os homens dão-lhe início com uma orgia. Em seguida, executam uma dança ao luar, em volta de um fosso, rodeado de Urzes. O fosso e as Urzes representam o órgão feminino, cuja estrutura copiam. Os homens brandem suas lanças, símbolo do membro viril, e, em seguida, saltam em todas as direções, cravando suas lanças no fosso e fazendo gestos violentos e apaixonados que demonstram sua excitação sexual". Um his toriador fantasista Scherer, pretendeu ver nessa dança ‘a célula primitiva da poesia". O amor e a batalha são os motivos principais das danças australianas, embora se representem também cenas de menor importância. No Norte, por exemplo, há a dança da canoa. "Para dançá-la, os executores pintam-se de branco e vermelho, e substituem os remos por bastões. Os dançarinos colocam-se em duas fileiras. Cada qual oculta um bastão atrás das costas e move os pés de acordo com o compasso do canto. A um sinal dado, todos mostram seus bastões e fazem menção de remar21". Para terminar, trataremos ainda de uma dança que simboliza a morte e a ressurreição. Foi Parker quem a observou entre os indígenas de Loddon. A dança foi dirigida por um ancião, que a aprendeu entre as tribos do Noroeste. "Os dançarinos levavam ramos que agitavam acima dos ombros. Depois de haver dançado durante certo tempo em semicírculo e em filas, eles formavam um grupo circular, deixando-se cair lentamente por terra e representavam, escondendo a cabeça sob os ramos, a aproximação da morte, e, permanecendo imóveis, durante algum tempo, a própria morte. Depois, o ancião dava um sinal, começando subitamente uma dança rápida e brandindo os ramos: todos erguiam-se de um salto, e iniciavam a dança de júbilo.

(14) Boas, "Annual Report Bur, of Ethnol.", 600 e seguintes.

(15) Bancroft, "The native races", etc. I, 67.

(16) Bancroft, I, 67. Deixamos de lado as danças de máscaras das tribos do Noroeste, pela mesma razão por que deixamos de parte as máscaras, no último capítulo.

(17) Brough Smyth, I, 173.

(18) Eyre, II, 233.

 

(19) Brough Smyth, I, 173.

(20) Hodgkinson, "Austrália from Port Macquerie to Moreton Bay", 1S45.

 

Isto significava a ressurreição da alma depois da morte".

Não há verdadeiramente necessidade de efetuar demoradas investigações para apreciar o prazer que essas danças mímicas e ginásticas podem propiciar aos espectadores e executantes. Não existe atividade artística que tanto comova o homem quanto a dança. Os homens primitivos encontram seguramente nela o seu mais intenso prazer estético. Os movimentos que se executam na maioria das danças primitivas são enérgicos. Basta que representemos o prazer que os movimentos fortes e rápidos nos produziam, quando éramos crianças, desde que não ultrapassou um certo grau de duração e esforço. Esse prazer, ademais, está na razão direta da tensão emocional que os movimentos põem em ação. Permanecer quietos, quando interiormente estamos excitados, é uma tortura. É um prazer dar liberdade ao impulso interior, através de movimentos apropriados. Com efeito, vimos que as danças dos caçadores são provocadas quase sempre por um acontecimento exterior que comoveu a alma. pronta a excitar-se, dos primitivos. O australiano dança em volta de sua presa como a criança em volta do sapato que pôs debaixo da cama na noite de Natal.

(21) Brough Smyth, I, 173.

Todavia, se os movimentos da dança fossem apenas violentos, o prazer experimentado seria em breve suprimido pela dor e fadiga. O caráter e o valor estético da dança repousam menos na energia que na ordem dos movimentos. Já dissemos que o ritmo é a qualidade essencial da dança. Desse modo, exprimimos o próprio sentimento dos homens primitivos que, antes de tudo, observam em suas danças uma ordem rigorosamente rítmica dos movimentos. "É surpreendente ver, diz Eyre na descrição das danças australianas, com que exatidão os movimentos dos bailarinos se associam aos sons da música22. E a mesma observação impõe-se a todos quantos observarem as danças dos primitivos23. O prazer que nos dá o ritmo possui, sem dúvida, uma razão orgânica profunda24. É verdade que seria exagero afirmar ser a forma rítmica a forma natural de todos os nossos movimentos. Entretanto, grande parte deles, particularmente os da locomoção, são efetivamente rítmicos. Além disso, toda excitação algo pronunciada dos sentimentos encerra uma tendência a converter-se em movimentos rítmicos, conforme observou Spencer. E Jurney acrescenta que a excitação sentimental é rítmica em si mesma. Assim, o ritmo dos movimentos da dança não seria senão o ritmo dos movimentos da locomoção, aumentado e tornado mais enérgico por uma excitação dos sentimentos. É verdade que essa explicação não esclarece ainda o prazer engendrado pelo ritmo. Se não nos contentamos com uma circunlocução, em vez de uma explicação, somos obrigados a nos satisfazer com a comprovação feita há pouco. Em todo o caso, o homem primitivo experimenta esse prazer com tanta intensidade quanto o civilizado. O estudo da poesia e da música dos primitivos nos fornecerá outras provas.

Até aqui, não houve necessidade de distinguir as danças ginásticas das mímicas, pois ambas satisfazem a necessidade de entregar-se a movimentos enérgicos e rítmicos. Mas as danças mímicas propiciam também ao homem outros prazeres que as danças ginásticas não dão. Elas satisfazem o instinto de imitação que amiúde se transforma em verdadeira mania. Os bosquimanos sentem grande prazer em "imitar os movimentos de certos homens ou animais" e "todos os indígenas australianos possuem um talento mímico surpreendente", que fazem entrar em cena em todas as ocasiões. Diz-se também que os fueguinos "repetem com perfeita exatidão qualquer palavra de uma frase* pronunciada, imitando ao mesmo tempo a maneira e os gestos de quem fala". Descobrimos aqui outra analogia entre os povos e os indivíduos primitivos e as crianças. Podemos observar igualmente essa propensão a imitar em nossas crianças, que a satisfazem com freqüência por meio de danças mímicas. Em verdade, o instinto de imitação é uma qualidade humana, mas sua força varia segundo os diferentes estágios da evolução. Entre os povos mais primitivos é quase irresistível para todos os indivíduos. Mas, à medida que a civilização avança, as diferenças entre os indivíduos se observam mais claramente, e o indivíduo superior não aspira a ser senão igual a si mesmo. Por conseguinte, as danças mímicas, que tão grande papel desempenham nos povos primitivos, desaparecem gradativamente dos civilizados e encontram um último público no mundo infantil, nessa humanidade primitiva, que, sem cessar, se renova. Certamente deve reconhecer-se, nas danças mímicas, grande valor do ponto de vista da produção do prazer, porque representam o ativo desenvolvimento das paixões humanas, isto é, as danças de guerra e de amor. Pois ao mesmo tempo que satisfazem tanto quanto as danças ginásticas ao instinto de imitação e ao prazer dos movimentos violentos, permitem ainda à alma desprender-se de suas paixões, tornando-lhe possível o "katharsis" que Aristóteles tem pelo melhor e mais elevado efeito da tragédia. Efetivamente, esta última forma das danças mímicas representa a passagem para o drama, que não é senão uma forma diferenciada da dança. Se se quiser distinguir nos povos primitivos a dança do drama, é preciso para tanto estabelecer um critério bastante exterior: a presença ou a ausência do ritmo. Mas, no estágio de evolução que nos ocupa principalmente, dança e drama possuem pouca diferença em natureza e efeito.

(22) Eyre, II, 231.

(23) Todos os autores estão de acordo em pôr em destaque o caráter rigorosamente rítmico das danças primitivas; a única exceção, que conhecemos é a dança dos bosquimanos, descrita por Arbousset e Daumas, de que íá falamos.

(24) Darwin é de opinião que o prazer provocado pelo ritmo é provavelmente comum a todos os animais. "The perception, if not the enjoyment, of musical cadences and of rylhm is probably common to all animais".

 

O prazer que se experimenta ao executar movimentos violentos e rítmicos, imitando objetos, dando expansão aos sentimentos, todos esses fatores explicam suficientemente a paixão com que os povos primitivos se entregam à dança. Os próprios dançarinos são naturalmente os que experimentam maior prazer. Mas o júbilo que o anima é dividido com os espectadores, os quais desfrutam prazeres de que se privam os próprios bailarinos. Estes não podem ver-se nem aos seus companheiros. Não lhes é possível como aos espectadores extasiar-se diante do aspecto que oferecem os movimentos regulares, rítmicos e vigorosos dos dançarinos, quer isoladamente quer em grupo. O dançarino sente a dança, mas não a vê. O espectador a vê, mas não a sente. De outro lado, há uma compensação, pois o dançarino tem a admiração do público. Desse modo, todos, espectadores e dançarinos, excitam-se, embriagam-se de sons e movimentos, o entusiasmo atinge o período álgido e amiúde transforma-se em verdadeiro furor, que leva a violências. Se se fizer uma idéia exata do poderoso efeito que as danças primitivas exercem em quantos dela participam, quer como atores, quer como espectadores, facilmente se há de compreender porque a dança foi algumas vezes interpretada como cerimônia religiosa. É muito natural que o homem primitivo julgue que os atos que produzem sobre si mesmo tão poderosa impressão, possam exercer também uma certa influência sobre as forças demoníacas, cujos caprichos presidem aos seus destinos. Portanto, amiúde se dança para afastar ou tornar favoráveis os espectros e os demônios.

Parker descreveu uma dança australiana destinada a implorar o auxílio de um demônio muito temido, Mindi. "Ergueram-se num sítio afastado três imagens grosseiras, duas pequenas e uma grande, esculpidas em cortiça e pintadas. Esse sítio era rigorosamente tabu. Os homens e, depois de les, as mulheres, adornadas com folhas e sustentando na mão uma varinha com um fei xe de plumas, aproximavam-se dançando em uma só fila. Da vam algumas voltas circulares em torno dos ídolos e em seguida dirigiam-se para a figu ra principal, que tocavam res peitosamente com suas vari nhas25". Uma figura parecida desempenhava o mesmo papel numa dança religiosa, que Eyre observou entre os Moorundes. "Os dançarinos, pintados eataviados como sempre, em tais ocasiões, levavam na cabeça tufos de plumas de cacatúas. Alguns possuíam tufos na ponta dos bastões que levavam nas mãos, outros tinham tufos de folhas verdes. Apó haver dançado durante certo tempo, retiraram-se. Reapareceram, cada um trazendo uma figura estranha e grosseira, feita de tufo de erva ou de cana, envolta em pele de cangu ru, cuja face sem pêlos eslava, voltada para fora e coberta de pequenos discos pintados de branco. Dessa figura surgia um bastão, tendo um tufo de plumas que representava a cabeça. Dois bastões, com plumas vermelhas e colocados à direita e à esquerda, representavam as mãos. Diante da figura, havia um bastão, de perto de seis polegadas de comprimento, cuja extremidade trazia um nó de ervas envolto em pedaço de pano velho. Este, que era pintado de branco, representava o umbigo. A figura média na totalidade tinha cerca de 8 pés de comprimento e evidentemente representava um homem. Fizeram-na passear durante certo tempo e a substituíram depois por dois estandartes, feitos de estacas, onde iam duas pessoas. Finalmente, desapareceram do mesmo modo e os dançarinos avançaram com suas lanças26". É muito provável que todos os povos primitivos tenham danças religiosas. Mas, ainda não foram descritas. O número de danças religiosas que se observaram é muito restrito, até na Austrália. Gerland diz: "Originariamente, é provável que todas as danças fossem religiosas", mas não conseguiu demonstrá-lo27. Os fatos que conhecemos não nos permitem participar da opinião de Gerland. Nada nos induz a supor que as danças australianas teriam outrora significação diversa da que uma observação imparcial deve atribuir-lhes na atualidade. Só um reduzido número de danças reveste-se do caráter de cerimônias religiosas. Ao contrário, na maioria, têm unicamente um fim estético e emocionante28.

(25) Parker, "The aborigines of Australia". Brough Smyth, 1, 166

 

O fim não é sempre idêntico ao efeito. O fim da maioria das danças primitivas é puramente estético. Seu efeito, ao contrário, em geral vai além do limite imposto. Nenhuma outra arte primitiva desempenha um papel prático e civilizador tão elevado quanto a dança. Nós, civilizados, inclina-mo-nos sempre a ver a significação principal da dança nas relações que ela estabelece entre os dois sexos. É essa, com efeito, a única função social da dança moderna. Mas as danças primitivas e as danças dos povos civilizados diferem de tal modo em sua natureza que o efeito das primeiras não permite absolutamente tirar conclusões sobre o efeito das segundas. A maioria das danças primitivas não possui justamente esse elemento que assegura às danças modernas o favor dos dois sexos: a aproximação estreita do homem e da mulher. As danças dos povos caçadores são, em geral, executadas exclusivamente por homens. As mulheres ocupam-se somente do acompanhamento musical. Há também danças em que homens e mulheres têm igual parte, cujo objetivo, porém, é excitar a paixão sexual. Ademais, pode supor-se que as danças exclusivas dos homens não deixam de exercer influência na vida sexual. Um dançarino hábil e vigoroso não deixará de impressionar profundamente as espectadoras, e como um dançarino vigoroso e hábil é em geral e ao mesmo tempo um caçador dotado das mesmas qualidades, a dança poderia contribuir para o aperfeiçoamento da raça. Todavia, seja qual for a esse respeito a importância das danças primitivas, não é possível que por si só justifique nossa hipótese de que nenhuma arte primitiva tem importância tão considerável quanto a dança.

(26) Eyre, II, 236.

(27) Waitz-Gerland, II, 755.

(28) Na Austrália, as danças estéticas realizam-se sempre à noite. Mas, as danças religiosas efetuam-se em pleno dia.

 

As danças dos povos caçadores são quase sempre executadas por numerosos assistentes. Ordinariamente, todos os homens de uma tribo, e amiúde também os membros de várias tribos, reúnem-se para esses exercícios coreográficos, e toda a multidão movimenta-se, pois, de acordo com uma regra única e obediente ao mesmo compasso. Todos os observadores referiram-se à ordem "admirável" dos movimentos rítmicos. A excitação funde, por assim dizer, todos esses indivíduos num só ser, movido e excitado por um só sentimento. Durante a dança, todos quantos dela participam se "socializam" completamente. Todo o grupo sente e age como se fosse um só organismo. Nisso consiste a importância social da dança primitiva. Obriga e acostuma certo número de homens, que na vida ordinária agem impulsionados por necessidades e instintos diversos, a mover-se sob uma vontade única, num sentido único e com um só fim. Introduz também de vez em quando alguma ordem na vida desordenada dos povos caçadores. Como a guerra, é o único fator que dá aos membros de uma tribo primitiva a sensação de que fazem parte de um só e mesmo grupo social. É uma das melhores preparações para a guerra, pois as danças ginásticas correspondem, sob mais de um aspecto, a nossos exercícios militares. Não pretendemos, ao dizer isto, atribuir à dança excessivo valor para o desenvolvimento da civilização humana. Toda cultura superior tem por base a colaboração bem ordenada dos diversos elementos sociais. A dança prepara os homens primitivos para essa colaboração.

Os próprios caçadores parecem conhecer a importância das danças em sua vida social. Na Austrália, "o corrobori é uma segurança cie paz entre as diversas tribos". Duas tribos que queiram afirmar respectivamente suas boas intenções, dançam juntas, uma em frente da outra29.

Nas ilhas Andamã, as várias tribos estabelecem também uma troca por ocasião de suas danças comuns30. Para poder apreciar em seu justo valor a influência dessas festas comuns a várias tribos, é necessário saber que com freqüência duram muito tempo. Lu-mholtz, por exemplo, menciona um período de festas que durou seis semanas.

Saber que a maior importância da dança residia outrora no seu efeito social não nos explica apenas seu poder de então, mas ainda a sua decadência atual. Embora nas mais favoráveis condições, é muito restrito o número de indivíduos que podem tomar parte numa dança. Vimos que na Austrália e nas ilhas Andamã os homens de diferentes tribos dançam juntos. Mas, os membros de uma tribo de caçadores não são muito numerosos31. Com o progresso da civilização, com a melhora dos meios de produção, os grupos sociais aumentam. As pequenas hordas transformam-se em tribos e os seus membros passam a ser muito numerosos para tomar parte numa dança comum. Assim, a dança perde pouco a pouco sua função social, e perde também o respeito que infundia. Entre os povos caçadores, a dança é uma cerimônia pública solene. Entre as nações civilizadas, consiste ora numa representação destituída de sentido, como o teatro, ora num prazer de sociedade, como o baile. A única função que conservou foi a de aproximação dos sexos. Mas, ainda sob esse aspecto, seu valor é problemático. É de crer que a dança primitiva servia para o melhoramento da raça, pois o caçador mais hábil é geralmente o melhor dançarino. Mas, nossa civilização considera menos a habilidade física que a inteligência, e os heróis e heroínas de um sarau dançante desempenham com freqüência triste papel na vida. Nossos bailes, enfim, com suas exibições repugnantes podem, no máximo, satisfazer ao embas-bacamento vulgar do público, para não empregar um termo mais forte. Não pode, pois, dizer-se que o baile tenha ganho, com a civilização, em importância social. Já nos referimos ao valor artístico de nossos bailes de sociedade. O prazer estético que procuram os que deles participam e os espectadores, não basta para explicar a voga que têm. O baile moderno é, sob todos os aspectos, um ato inútil em nossas atuais condições de existência. Está, portanto, em evolução regressiva. Outras artes assumiram em nossos dias o grande papel que desempenhou em outros tempos. O que a dança foi para os povos caçadores, a poesia é hoje para as nações civilizadas.

(29) Waitz_Gerland, II, 755. "Entre os habitantes do Queensland, os corroboris são executados, na maioria dos casos, para selar a paz (depois das guerras e das divergências) ". Lumholtz, 286.

(30) Man, "Journ, Anthr. Inst.", XII, 392. »

(31) Com referência ao número de membros das diversas tribos em Vitória, veja-se Brough Smyth, I, 43. Man estima em 4 mil pessoas a população indígena das ilhas Andamã. O grupo mais considerável de esquimós que Boas encontrou não excedia de 26 homens (Boas, "Ann. Rep. Bur. Ethn.", 1884-85, 426).

 

Fonte: Ed. Formar ltda.

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