Foi um sultão 1) à mesquita 2) fazer a sua oração. Aproxima-se dêle um pobre mui esfarrapado e diz-lhe:
“Poderoso senhor, acreditas no que diz o santo profeta :i) ?”
O sultão, cuja piedade era notória, respondeu:
“Se creio 3) ! Sem dúvida nenhuma, creio firmemente em tudo quanto diz o profeta.”
O pobre redargüiu 4) :
“O profeta diz no alcorão tí) : Todos os homens são irmãos.” Senhor meu irmão, tende a bondade de repartir comigo da herança.”
O sultão sorriu-se, pensando consigo: “Eis um modo originalíssimo de pedir esmola.” E deu ao pobre uma piastra5.
O mendigo 6 olhou e tornou a olhar para a moeda: voltou-a nos dedos mais de uma vez, e por fim, levantando a cabeça, disse para o sultão:
“Senhor meu irmão, tu dás-me apenas uma piastra e possues mais ouro e prata do que poderiam carregar cem camelos. Chamarás tu a isto repartir irmãmente?”
O sultão pôs o dedo na boca, como para indicar-lhe silêncio e acrescentou:
“Cala.-te, meu querido irmão, contenta-te com isso e cala-te muito calado 7); não digas a ninguém o que te dei, porque bem sabes quanto a nossa família é numerosa; e, se cada um começasse a exigir o que lhe pertence, ainda tu terias que repor.”
O querido irmão convenceu-se e decidiu-se a ir imediatamente esbanjar a herança antes que lhe pedissem toms8).
(Tradução)
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1) Sultão — título do monarca da Turquia.
2) Mesquita — templo maometano.
3) O santo profeta — Mahomet, fundador do Maometismo, 569-632 dep. de Cr.
4) Se creio — depende de: Ainda perguntas? que se subentende.
5) Redargüiu — pronuncia-se redargu-iu.
6) Alcorão — livro sagrado dos Maometanos.
7) Piastra — moeda turca do valor de duzentos réis.
8) Que diferença há entre pobre e mendigo?
9) Cala-te muito calado — expressão pleonástica para dar realce; dizemos: dar o seu recado muito bem dado. Vieira diz: “Se alguém pensa que assolado o reino, pode a sua casa ficar em pé, engana-se muito enganado.” Em Bernardes (Nova Flçresta III. 203) encontramos: “Êste é o seu ofício e se preza de o fazer muito bem feito.” “Aldo te roga muito rogado que… (Nova Flor. II. 203). Semelhantes a esta são as expressões: dormir a bom dormir, correr a bom correr, rir a bom rir, suar a bom suar. Em Pa-tay os famosos archeiros ingleses tinham fugido a bom fugir di<mte de uma donzela (Joana d’Arc). Como doido, correu a bom correr. (Alex. Herculano).10) Tomas — compensação que o herdeiro mais favorecido na partilha dá aos outros coerdeiros a-fim-de igualar os quinhões.
Fonte: Seleta em Prosa e Verso dos melhores autores brasileiros e portugueses por Alfredo Clemente Pinto. (1883) 53ª edição. Livraria Selbach.
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