a igreja no governo do paraguai – notas

Estudo relacionado a: reduções jesuíticas – missões jesuíticas- o que eram missões jesuíticas- o que foram missões da companhia de Jesus – jesuítas no paraguai – missões guaranis , paraguai e sul do Brasil

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Robert Southey – Projeto Gutemberg

Robert Southey (Bristol, Inglaterra, 12 de agosto de 1774 – 21 de março de 1843) – História do Brasil

CAPÍTULO II

NOTAS DO CAPÍTULO II

1 O seu procurador Carrilo diz que êle foi nomeado legado para a extirpação da idolatria, mas o título oficial parece ter sido Pregador e Missionário Apostólico para Conversão dos índios. No correr das suas expedições dizem que conquistara êle inumeráveis almas para o reino do céu, derribados mais de 12 000 ídolos!

Dircursos Jurídicos en Defesa de la Consagración de D. Fr. Bernardino Cardenas, por el Licenciado D. Alonso Carrilo, § 2.

2 Um índio livre, que Cardenas confessara no leito de morte, deixou-lhe toda a sua fortuna, na importância de 12 000 coroas. Logo depois substituiu um espanhol em circunstâncias semelhantes o nome dele ao de outra pessoa, a quem havia legado 5 000 ditas. Fizeram estas coisas conceber uma suspeita que não seria tão apostólico como êle o inculcava o caráter de Cardenas. Também se diz que êle no Potosi se não descuidou de fazer valer o privilégio da sua ordem, solicitando dos fiéis com que êle, pobre mendicante pudesse guardar o decoro da posição a que fora elevado. Charlevoix acrescenta que êle levou com que consolar-se da despedida sem cerimônia que lhe deram. . . “puisqu’il emportoit d’une ville, ou il étoit venu avoie un sou, une Chapelle très-riche, et de quoi meubler magnifiquement son palais episcopal.” Asserções como estas devem receber-se com desconfiança da parte dos jesuítas, e com especialidade a arguição de ter êle, quando corria o boato das minas, tomado dinheiro de quem lho queria adiantar, prometendo, sobre a fé da descoberta, pagá-lo com juros. Apesar de ávido e imprudente, não era provável que êle, afetando a reputação de santo, se fosse expor a censuras e acusações criminais.

3 Charlevoix diz que êle apresentou duas cartas, uma do cardeal Antonio Barberino, datada de dez, de 1638, informando-o de que as bulas haviam sido efetivamente expedidas, e a outra do rei da Espanha, em data, dando-lhe o título de bispo. A primeira destas, afirma Charlevoix, era falsa sem dúvida, e acrescenta que jamais teria acreditado que Cardenas fosse capaz de sair-se com ela, se o mesmo procurador deste a não houvesse citado num memorial apresentado a el-rei, e que corre impresso. Mas o negócio foi ainda mais longe do que Charlevoix o narra. Carrilo cita a carta de Barberino com data de 12 de dez., d; 1638; reproduz numa nota a carta do rei, datada de 21 de fev. de 1638, e apesar de tudo declara no texto do memorial que el-rei só nomeou Cardenas em maio de 1640. Sobre a questão do bispo do Paraguai com os jesuítas têm se escrito volumes sem que nenhuma das partes se mostrasse escrupulosa nos meios que empregava, nem nos argumentos com que se justificava, e hoje, passado tanto tempo, torna-se freqüentemente difícil e às vezes impossível atinar com a verdade. Mas por sua nomeação, e demorasse até maio de 1640, como se vê da própria declaração de Carrilo, Charlevoix diz ter verificado as datas na Espanha certo não é crível que o rei cominicasse a Cardenas em fev. de 1638 a na secretaria do Conselho as índias e em Roma no registro dos consistórios.

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4 Carrilo (§ 8) diz que o bispo averiguara terem-se as bulas perdido no Peru, asserção que em nenhum fundamento se apoia. Fala do ato como ponderoso, arriscado e cheio de escrúpulos, e conservou-nos o papel em que o bispo declara a intenção com que celebrara a cerimônia. Nesse papel se faz claramente a reserva. Confessa o bispo que a resolução lhe custara muitas noites de insónia, em que fervorosamente orava a Deus e ao santíssimo Sacramento que o iluminassem em matéria tão difícil. . .

5 Desta proeza deu Cardenas parte ao bispo de Tucuman, dizendo-lhe que empregaria igual rigor contra todos os religiosos que achasse culpados. Respondeu-lhe Maldonado que o seu zelo mais se parecia com o de Elijah que com o de Cristo; que ferros antigos e esquecidos não se deviam assim reviver nestas remotas províncias, nem era justo punir numa comunidade inteira a culpa de indivíduos poucos. As minhas luzes pelo menos, acrescentou êle em tom de sarcástica humildade, não alcançam tão longe! Vossa Senhoria sem dúvida as possue bem mais claras.

6 Grande efeito produziu esta exibição sobre o vulgacho e especialmente sobre as mulheres, mas valeu a Cardenas uma censura na parte do seu amigo, o bispo de Tucuman. Este, cujas cartas revelam tanto talento como juízo, escreveu-lhe por esta ocasião dizendo que ouvira narrar o ocorrido, mas que lhe parecera incrível, pelo que repreendera quem lhe contara, observando contudo que se o bispo do Paraguai realmente se tinha assim disciplinado em público, devia o ato por força ser próprio e conveniente, posto que nenhuma apóstolo houvesse dado semelhante exemplo; que Nosso Senhor, ao ser açoitado, se não despira, sofrendo apenas que o executor lhe tirasse o vestido exterior; que isso se fazia de noite, não de dia, nem erri vista das mulheres ;e que os santos, que devotamente tinha imitado este grande protótipo de sofrimento sempre o tinham feito em particular. Por ocasião da prisão do fr. Pedro já o bispo de Tucuman escrevera uma carta, desaprovando energicamente o modo porque haviam sido violados os privilégios da Igreja, mas censurado os termos não menos enérgicos o proceder e quem provocara o ultraje. Previa muito más conseqüências deste ato. esperava porém, dizia êle, que a solicitude pastoral de S. Excelência muito conseguiria, confiando que D. Bernardino se portaria com a mais estrita equidade, recorrendo aos remédios mais brandos emnregando, para reconduzir ao aprisco a ovelha desgarrada, o cajado e a flauta, não venábulo e o dardo.

Dum homem da têmpera de D. Bernardino Cardenas devia ser muito mal aceito um correspondente como o bispo e Tucuman. Charlevoix. 2, 22, 23. *

7 Sigo aqui a narração os jesuítas, por estar plenamente convencido de ser em tudo falsa a dos adversários; bom será contudo ouvi-los. Afirmam estes que. obedecendo a ord°ns d’el-rei. disnunha-se o bispo a visitar as reduções; que os magistrados municipais e judiciais requereram ao governador para que este lhe desse uma escolta; que os jesuítas se inquietaram, receando não fossem eles descobrir a quantidade de armas que tinham prontas para os seus índios os tesouros escondidos que possuíam e o incrível número de vassalos de que privavam a coroa; que por estes motivos tentaram primeiramente dissuadi-lo do intento, oferecendo-lhe por via de peita 20 000 coroas; achando-se porém incorruptível, principiaram a negar-lhe a autoridade, afirmando e até pregando,

que tendo êle sido consagrado antes da chegada das bulas devia ser olhado como um entrelopo, não como bispo legítimo, que além disto se dizia haverem eles subornado com 30 000 coroas de ouro o governador para expulsar Cardenas da sua diocese. Tal é a história que Villalon nos conta parágrafo 20-24. Carrilo parágrafo 20-21) faz as mesmas acusações gerais cumprindo notar que ambos estes escritores principiam a sua narrativa, sem referir nenhuma das transações anteriores exceto a captura de Pedro Cardenas. Quão absolutamente infundadas eram estas acusações que constantemente se repetiam contra os jesuítas por causa dos seus imensos tesouros, sua força militar, e seus projetos ambiciosos, ficou exuberantemente provado quando os inimigos da companhia, efetuado a ruína dela patentearam a falsidade própria. Não podiam ter pois os jesuítas nenhum desses motivos de receio que lhes imputam os advogados de Cardenas nem efetivamente se dava outro temor algum, além do que a declarada hostilidade do bispo, o seu gênio arrebatado a sua flagrante injustiça, e direi até todo o seu procedimento, não podiam deixar de excitar. Por outro lado procurou Charlevoix disfarçar o mais que pôde o fato aliás certo e ter Cardenas neste ponto ido de acordo com os sentimentos gerais do povo. A este respeito mostra-se êle advogado imprudente e historiador culpável, pois que a impopularidade dos jesuítas, bem considerada a causa, é a melhor prova do seu merecimento. Mas em tudo o mais a sua narração, clara e consistente, e uma prova da sua veracidade e ter êle. talvez sem dar por isso, representado, o comportamento de Hinostrosa a uma luz mais desfavorável do que haviam feito os advogados de Cardenas. Nunca os jesuítas escrupulizavam com a falsidade, sabendo, quando assim lhes convinha, mentir sem rebuço, mas não eram tão parvos que fossem preferir a mentira, quando a verdade lhes fazia mais conta.

8 Villalon (parágrafo 15) diz que eles vieram pelo caminho saqueando as povoações, roubando os moradores, e violando as espanholas, trazendo à frente sete jesuítas armados e a cavalo, entre os quais Romero (pouco depois martirizado) e Vicente Badia Catalan. Carrilo (paráfrago 21-2) repete a acusação, dizendo que eles deixavam nuas as pessoas que roubavam, mas não afirma os jesuítas viessem à frente. Parece-me que os índios viriam guiados pelos missionários, e que estas enormidades que se lhes imputam são descaradamente exageradas, quando não inteiramente falsas.

9 A um braço, diz Charlevoix. àquela diz Villalon, acrescentando que o governador o contundira e ferira na luta. Legista e não frade, é Carrilo mais escrupuloso nas suas asserções, e o seu silêncio a respeito das circunstâncias mais agravantes parece mostrar que pouco fundamento tinham elas na verdade.

10 Charlevoix chama isto uma incidente procissão do corpo de Deus. Bom seria que nunca os jesuítas houvessem feito pior uso dos sacramentos! Carrilo, pelo contrário, numas das suas notas pedantescas, cita os canonistas em prova de ter sido o proceder do bispo tão pio como prudente, trazendo, exemplos da história de Roma pagã e de Roma papal.

11 Lembre-se o leitor que é um protestante quem fala. (F.P.)

12 On lui ajouta, qu’au reste on ne lui rêpondoit pas de ce qui en arriverait s’il ne rassuroit prompetement ces noveaux chrétiens, qui n’estoient nullement traitables sur cet article, parce qu’ils étoient convaincus que ce changemeut de Paseurs n’avoit point d’autre motif que de les pivres de la liberté dont ils jouiisoient; et que se qu’il y avoit de moins à craindre, etoit le dépeuplement entier de toutes les réductions. Char-levoix, 2, 83.

13 Des coquillages dont les couleurs brillantes avoient puzaisément donne dans les yeux d’un enfant qui n’avoit pas cinq ans. Charlevoix, 2 84 Não sei de que fontes tirava Charlevoix o que escrevia aqui, nem posso adivinhar qual fosse a palavra que êle tomasse erradamente no sentido de concha, se erro houve, como parece provável. A tradução latina porém confirma-lhe o texto, conchyliorum genus.

14 É assim que a facão e malevolência sabem colorir os facos. A maior parte destes jesuítas, senão todos eles, foram mortos pelos selvagens no cumprimento dos seus deveres. Desta forma o que os inimigos deles representam como justo castigo do céu ofendido, inculcam os irmãos como a melhor prova da mais feliz terminação duma vida santa e um seguro penhor da coroa celestial.

15 Os advogados de Cardenas não dizem que êle fosse autorizado a voltar, contudo Charlevoix o admite, posto que de má vontade: ”// paroit qu’il en avoit enfin obtenu la permission de l’Audiense Roïale de De Charcas, ou du vice-roi, pour y régler ses affaires: du moins est-il certain que dans les instructions du nouveau gouverneur, il lui étoii expressément recommandé de s’opposer à tout ce que cet Evêque et ses partisans voudroient entreprendre contre les jésuites”. T. 2 100. Nesta parte da sua narrativa omite o autor muitas circunstâncias, que não lhe podiam ser muito agradáveis de relatar.

16 Villalon diz que o governador esperava matar o bispo à fome, mas que não podendo consegui-lo, abrira as portas, entrara e peira perdão. Éste franciscano oferece-nos repetidas provas de que o seu hábito de desprezar absolutamente a verdade o fizera até esquecer a probidade.

17 Villalon diz que Leon reunira então quatro mil índios das reduções para o mesmo fim, mas que estes ao saberem o que deles se exigia, dispersaram-se horrorisados pelo sacrilégio. Carrilo, apesar de costumar omitir as partes menos prováveis da história de Villalon, repete esta: ambos os escritores parecem ter esquecido quão pouco isto «e coaduna com todo o proceder dos guaranis, e com esta autoridade absoluta que os jesuítas sobre eles exerciam, autoridade que tem sido uma das acusações principais feitas aos jesuítas do Paraguai pelos seu, inimigos de todos os tempo.

18 Os partidistas do bispo atribuem-lhe a glória de haver vaticinado a morte de Osório, que dizem se realizara assim. Preparara o governador uma embarcação para transportar o bispo, e celebrava à meia noite na ribeira uma conferência com os jesuítas. Havia dias que soprava um vento norte abrasador, pelo que trajava Osório apenas um vestido leve aberto no peito, mas de repente veio do sul um pé de

vento frigidíssimo que deixou transido. Imediatamente se sentiu doente, e perdidos d’au a pouco sentidos e lá morreu ao quarto dia, sem nomear sucessor, fazer testamento, nem confessar-se. Charlevoix diz que êle morreu de repente depois de ter tomado uma coisa que lhe havia mandado como remédio soberano contra uma indisposição que sentia: é o mesmo que dar a entender ter sido o governador envenenado. Nem Charlevoix teve escrúpulos de dizer que achando-se Osório a caminho para is assumir o seu governo tentaram assassiná-lo por levar instruções para proteger os jesuítas. Por outro lado afirma-se que duas vezes se atirara contra o bispo. Atento ao caráter do povo e do século tão provável é que ambas as acusações sejam verdadeiras, como que sejam ambas falsas.

O poeta do bispo exulta com a morte de Osório:

Dios que no se descuida En castigar a los maios, A Alecto manda cortar El estambre y el hilado De la vida de don Diego De Escobar, que gobernando Estubo hasta esta punto. Dispurso Dios como sábio El que cadáver se vuelva, Pues fue cadáver mandando.

Lêem-se estas linhas no Papel en verso sobre el recibimiento dei vénérable Obispo D. Fr. Bernardino de Cardenas, y persecuciones que le suscharon los regulares de la compania. É um romance este dos seus novecentos versos, impresso pela primeira vez na Colección general de documentos sobre este assunto. Achava-se o manuscrito original no convento de S. Hermenegildo em Sevilha. Foi escrito na Assunção pouco depois da morte de Osório e durante o reinado do bispo. Nele brilham toda a pompa e pedantismo da poesia espanhola na sua pior época; estas faltas porém só o tornam mais divertido. Também se encontram nele referidos .alguns curiosíssimos fatos, de que em outra nenhuma parte se acha notícia. Principia o autor por invocar o Padre, o Filho e o Espírito Santo, a corte celestial, Potestades, Principados, Tronos, Dominações com todos os santos do paraíso, que o iluminem, que o inspirem, nem haja dúvida que carecia êle d’algum auxílio desta natureza, para realizar o seu modesto desejo, que não era mais do que poder a sua voz ser qual trombeta, cujo som repercutisse pelo universo inteiro. Depois convida a escutá-lo o mundo todo, de que nomeia muitas partes. Duas curiosas acusações se fazem contra os jesuítas neste singular poema. Uma é terem interceptado as bulas, o que não duvidaram confessar em Lima, afirma o autor. É palpàvelmente falsa. A outra talvez seja mais bem fundada: terem instigado o bispo a demolir o convento dos dominicanos. Por aqueles tempos estava a companhia por certo nas boas graças do prelado, mas é mais provável que este, depois da dissen-ção. procurasse lançar sobre aquela o odioso da medida, do que terem-na os padres realmente aconselhado. Tal ódio tem o autor dos jesuítas, que os reputa piores que todos os demais hereges:

Atended, y lo vereis, Que Lutero es un enamo: No hablen los Anabaptistas, Y callen Calvino y Arrio,

Y el Alcorán de Mahoma

Es pigmeo, comparado

A lo que quiero decir.

De Inglaterra no hablo,

Porque ya se queda atras

Después que hay bonetes anchos. E conclui conjurando todos os príncipes e estados a expulsarem esta ordem abominável, como único meio de desfrutarem neste mundo, alegria, paz e glória, e obterem no outro um lugar à mão direita de Deus Padre.

19 Charlevoix exagera o perigo, mas não provavelmente a violência. Poderia o rio, diz êie, tê-los levado mar em fora, se não tivessem sido arrojados a uma ilha que lhes fica no caminho! Teria o autor esquecido a distância da Assunção à foz do Prata? Neste ponto da história dá-se Carrilo francamente por batido (§ 104-1 lü), e desesperando de apresentar melhor defesa, recrimina os jesuítas, dizendo que depois de assim violentamente expulsos, em lugar de aguardarem da lei o seu restabelecimento, recorreram a meios tão extremos e tortuosos como os de que se queixavam.

20 Villalon diz que os jesuítas acusaram o bispo perante a Audiência de querer fazer-se senhor da província com a ajuda dos paulistas, bem como de heresia, sacrilégio, concubinato, feitiçaria e de ter um espírito familiar (§ 190)! A acusação dentro da alta traição, ridícula como é, repete-a Carrilo também, mas aqui, como em outras ocasiões, omite êle a maior parte das atoleimadas falsidades que lhe fornecia o procurador do bispo.

— Su Señoría estando Tratando de estas materias Con algunos prebendados, Embió á cuatro, ó seis monigotes,

Y traían á Manquiano Con la sotana en la testa,

Y las vadanas abaxo. Los ministros agarrantes Tomaron á buen trabajo Rascarle la posteriora Aunque fuera con un macho: ¿Quién vio mas rara figura, Ni mas horrendo espantajo

Que aqueste, en quantos se ha puesto

Desde el primer hortelano? Dio el pobre dos mil clamores,

Y al obispo le ha llamado De su padre y su pastor,

Y su obispo consagrado. Su Señoría le dice:

¿Qué dice padre Manquiano, Pues ayer era un intruso,

Y hoy obispo No señor, Le respondia el cuitado; Que si es pastor verdadero

De todo aqueste rebaño (Papel en verso).

Precioso rebanho era este, digno pastor! O autor do Papel escreve como quem viu e desfrutou a brincadeira.

21 Villalon diz que Leon matou com a própria mão dois guaranis, para pôr termo à fuga, e que os jesuítas conseguiram fazê-los voltar ao combate prometendo-lhes os bens e as mulheres dos espanhóis. Poderia êle sonhar que houvesse alguém tão néscio, ou tão alucinado pelo espírito de parcialidade, que acreditasse semelhante acusação?

22 No exército dos jesuítas recaiu, diz Villalon, a perda sobre os guaranis, morrendo 395: os padres porém enterraram secretamente 394, e fazendo então um funeral público ao que restava persuadiram o povo de que só houvera aquele morto. É assim que este imprudente franciscano repete ou inventa os contos mais absurdos.

23 Diz-se que deitaram eles fogo à cidade, morrendo uma filha natural de Leon queimada em casa de sua mãe. Entre outras atrocidades são os guaranis acusados de terem celebrado as suas antigas festas pagãs à volta da igreja e no cemitério, banqueteando-se com carne humana. Não tendo estes índios sido criados desde pequenos pelos jesuítas, é muito possível que não fossem tão dóceis como se tornaram depois os seus descendentes, e que algum excesso cometessem, mas esta última acusação é manifestamente falsa. (Villalon, § 232; Carrilo, § 151). Por outro lado representa Charlevoix as cousas como se Leon, entrada a cidade, tivesse ido direito à catedral, e beijado a mão ao bispo, permitindo-lhe ficar enquanto pôde excogitar algum pretexto para deferir a partida, e despedindo-o então com todas as possíveis demonstrações de atenção e respeito. Villalon e Carrilo pretendem que o prelado foi metido numa jangada podre na esperança de que perecesse.

24 A pedido do procurador do bispo lavrou o tabelião público nesse mesmo dia um termo autêntico desta recepção.

25 Nisto fêz porém o diabo uma grande parvoíce, como é de costume nesta mitologia, pois que num postscrito assevera o bispo ao seu metropolitano que acabava de pôr por intervenção de Cardenas, se o não houvera expulso da Assunção.

26 Tinha razão o jesuíta e o bispo truncara os nomes. A passagem inteira, qual se lê nas atas deste concílio, é curiosa tanto em si mesma, como por haver adquirido alguma importância novecentos anos mais tarde no coração da América do Sul. — Cumque per ordinem legeretur, prevenit ad locum ubi ait: Precor vos et conjuro vos, et supplico me ad vos, Angelus Uriel, Angelus Raguel, Angelus Tubuel, Angelus Micbael, Angelus Adimis, Angelus Tubuas, Angelus Sabaoth, Angelus Simihel. Dum verso vero haec oratio sacrílega usque ad finem perlecta fuisset, Zacharias sanctus Papa dixit, quid ad haec, sane ti F raízes respondeu’s? Sancti Episcopi et venerables Episcopí responderunt. . . quid aliud agen-tum est, nisi ut onnia quae coram nobis lecta sunt igne concrementur; auctores vero eorum anathematis vinculo percellantur? Octo enim nomina Angelorum, quae in sua oratione Aldebertus invocavit, non Angelorum, praeter Michaelis, sed magis daemonum nomina sunt, quos ad praestandum

sibi auxiliam invocavit. Nos autem ut a vestro sancto Apostolatu edo-cemur, et divina íradit auctoritas, non plus quam trium Angelorum nomina agnoscimus, id est, Michael, Gabriel, Raphael, Zacbarias sanctus Papa dixit: Optime provisum est Vestra Sanctitate, ut conscripta illius omnia igne concrementur. Sed opportu?nutn est, ut ad reprobationem in scrinio nostro conserventur ad perpetuam conjusionem. Bernino, História de tutte 1’heresie. T. 2, pág. 288.

27 Arguição semelhante a esta na sua natureza, mas versando sobre um ponto metafísico da filologia, se fêz também aos jesuítas a respeito das palavras chinesas que empregavam para designar a Divindade. Foi sina deles serem atacados com igual encarniçamento pelos escarniçadores incrédulos e filosofistas dum lado, e do outro pelos carolas, que tudo crêem, e cabeças broncas da sua própria igreja.

28 Na opinião de Bompland e de S. Hilaire haviam abundantes minas no território das Missões jesuíticas: ignorando-se porém hoje onde estejam elas situadas ou porque os jesuítas as houvessem cuidadosamente ocultado, ou porque a proverbial inércia dos seus sucessores fizessem perder os vestígios. (F.P.)

Traduzido pelo Dr. Luiz Joaquim de Oliveira e Castro. Fonte: Ed. Obelisco, 1965.

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