A ilha dos Nheengaíbas, na boca do Amazonas – Pe. Vieira

A ilha dos Nheengaíbas, na boca do Amazonas

Na grande bôca do rio das Amazonas está atravessada uma ilha de maior comprimento e largueza que todo o reino de Portu­gal e habitada de muitas nações de índios, que, por serem de lín­guas diferentes e dificultosas, são chamados geralmente Nheengaí- has. Ao princípio receberam estas nações os nossos conquistado­res em boa amizade; mas, depois que a larga experiência lhes foi mostrando que o nome de falsa paz com que entraram, se conver- tia em declarado cativeiro, tomaram as armas em defesa da liber­dade, e começaram a fazer guerra aos Portuguêses em tôda a par­le. Usa esta gente de canoas ligeiras e bem armadas, com as quais não só impediam e infestavam as entradas, que nesta terra são tôdas por água, em que roubaram e mataram muitos Portuguêses; mas chegavam a assaltar os índios cristãos em suas aldeias, ainda naquelas que estavam mais vizinhas às nossas fortalezas, matan­do e cativando: e até os mesmos Portuguêses não estavam segu­ros dos Nheengaíbas dentro de suas próprias casas e fazendas, de que se vêm ainda hoje muitas despovoadas e desertas, como sitia­dos, sem lograr as comodidades do mar, da terra e dos rios, nem ainda a passagem dêles, sinão de-baixo das armas. Por muitas vêzes, quiseram os governadores passados tirar êste embaraço tão custoso ao Estado, empenhando na emprêsa tôdas as forças dêle, assim de índios como de Portuguêses, como os cabos mais antigos e experimentados; mas nunca desta guerra, se tirou outro efeito mais que o repetido desengano de que as nações Nheengaíbas eram inconquistáveis pela ousadia, pela cautela, pela astúcia e pela costância da gente, e, mais que tudo, pelo sítio inexpugnável com que as defendeu e fortificou a mesma natureza. E’ a ilha tôda com­posta. dum confuso e intricado labirinto de rios e bosques espessos, aquêles com infinitas entradas e saídas, êstes sem entrada nem saí­da alguma; onde não é possível cercar, nem achar, nem seguir, nem a inda ver o inimigo, estando êle, no. mesmo tempo, de-baixo da. trin­cheira das árvores, apontando e empregando as suas frechas. E porque 2) êsse modo de guerra volante e invisível não tivesse o es­torvo natural da casa, mulheres e filhos, a. primeira coisa que fize­ram os Nheengaíbas, tanto que se resolveram à guerra com os Por- t uguêses, foi desfazer e como desatar as povoações em que viviam, dividindo as casas pela terra dentro a grandes distâncias, para que em qualquer perigo pudesse uma avisar às outras, e nunca serem acometidas juntas. Desta sorte ficaram habitando tôda a ilha, sem habitarem nenhuma parte dela, servindo-lhes, porém, em tô­das, os bosques de muro, os rios de fôsso, as casas de atalaia e cada Nheengaíba de sentinela, e as suas trombetas de rebate.

P. Antônio Vieira.

Fonte: Seleta em Prosa e Verso dos melhores autores brasileiros e portugueses por Alfredo Clemente Pinto. (1883) 53ª edição. Livraria Selbach.

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