A oratória do Padre Antônio Vieira

Cônego Fernandes Pinheiro (1825 – 1876)

CURSO DE LITERATURA NACIONAL Fonte: editora Cátedra – MEC – 1978

História da oratória – apostila de oratória (falar em publico)

LIÇÃO XXV

oratória

Privada da tribuna política e judiciária, não restava à eloqüência portuguesa senão o púlpito para teatro de sua glória. Prejudicava-lhe ainda aí a crença geralmente espalhada entre os pregadores de que todo o artifício retórico devera ser banido dos sermões e panegíricos dos santos, não necessitando de ornatos a linguagem evangélica. Com o progresso porém das luzes foi definhando semelhante crença, e convencendo-se os oradores sagrados que mais frutuosas seriam as suas prédicas se menos rudes se tornassem elas. Quer pelas dificuldades da impressão, quer pela natural modéstia dos religiosos que então principalmente ocupavam a cadeira da verdade, não nos consta que hajam sermonários dignos de estudo e imitação nas três primeiras épocas da nossa literatura. Destinada estava à Companhia de Jesus o fornecer a Portugal o seu primeiro pregador, com cuja vida e trabalhos oratórios passamos a ocupar-nos.’

O PADRE ANTÔNIO VIEIRA

O Padre Antônio Vieira nasceu na cidade de Lisboa a 6 de fevereiro de 1608. Foram seus pais Cristóvão Vieira Ravasco e D. Maria de Azevedo. Na tenra idade de oito anos incompletos acompanhou seu pai à cidade da Bahia, onde este vinha exercer o emprego de secretário do Estado do Brasil. No

colégio dos padres da Companhia fez ele o seu curso de preparatórios, então chamado de humanidades, com grande aplauso de seus mestres e condiscípulos, e aos quinze anos, abandonando a casa paterna, abraçou o instituto de Loyola; no qual professou a 6 de Maio de 1625.

Tão prematuro foi o seu desenvolvimento intelectual, que na tenra idade de dezoito anos já regia uma cadeira de retórica no colégio de Olinda, e compunha comentários às tragédias de Séneca e às Metamorfoses de Ovídio. Ainda antes de receber a ordem de persbítero, o que teve lugar no mês de dezembro de 1635, pregava com grande fama nas principais igrejas da Bahia, onde principiou essa celebridade que depois se estendeu por toda a Europa.

Levou-o a Lisboa o fausto sucesso da restauração da au-gustíssima casa de Bragança, sendo escolhido pelo vice-rei, marquês de Montalvão;,, para acompanhar à metrópole seu filho D. Fernando de Mascarenhas, incumbido de felicitar o novo rei. Envolvido no ressentimento popular centra a família dos Mascarenhas, da qual alguns membros se haviam bandeado para o partido de Castela, escapou o padre Vieira de ser vítima do furor da populaça de Peniche, devendo ao governador da praça, conde de Atouguia, o ser conduzido salvo à capital do reino, onde não tardou em granjear as boas graças de D. João IV e de seu filho, o príncipe D. Teodósio.

Não é do nosso intuito traçar aqui o quadro dessa existência tão cheia de peripécias, das vicissitudes por que passou o maior homem que naqueles tempos contava Portugal. Sucessivamente encarregado das mais importantes comissões dentro e fora do país, era o padre Vieira ouvido como conselheiro, e enviado como diplomata a diversas cortes e governos da Europa. Por suas mãos passavam os mais importantes negócios tendo o marquês de Niza, ministro de D. João IV em França, expressa ordem de nunca falar à rainha regente e ao cardeal ministro, senão acompanhado do célebre jesuíta. À sua influência deveu a causa da restauração o valioso auxílio de três fragatas carregadas de petrechos bélicos e o empréstimo de avultada soma de cincoenta mil cruzados. No meio desses triunfos diplomáticos, vemo-lo partir para o Maranhão, em obediência às ordens dos seus superiores eclesiásticos, e, depois de pregar o Evangelho seis anos à tribo dos Poquizes e à dos ferozes Nheengaíbas, empenhar-se com não menos zelo no caloroso debate suscitado entre a Companhia e os colonos acerca da escravidão indígena, o que lhe valeu ser preso e remetido para o reino com outros jesuítas.

Honrado com a confiança dos maiores potentados da terra, não escapou o padre Vieira às garras da inquisição, que, por motivo de algumas proposições ousadas que lhe haviam escapado no púlpito e em conversas particulares, fê-lo comparecer ante o seu tribunal e reteve-o em Coimbra até o ano de 1667, em que foi lida a sentença pela qual era privado para sempre da voz ativa e passiva e do poder de pregar, e recluso no colégio da sua religião que o santo-ofício lhe designasse. Verdade é que de pouca duração foi o efeito de semelhante sentença; porquanto seis meses depois vemo-lo dispensado de tão rigorosos ônus, perdoado, e restituído ao colégio de S. Antão de Lisboa.

Associado a todos os acontecimentos políticos e religiosos de seu tempo, experimentou o padre Vieira o desfavor da corte no reinado de D. Afonso VI, a cuja maioridade se opusera, con servando-se afastado dos negócios no colégio do Porto durante todo o tempo que esse infeliz monarca se sentou no solo lusitano. Com a exaltação ao governo do príncipe D. Pedro tornou Vieira a gozar de sua privança, e voltando a Roma, ob’.eve do pontífice Clemente X um breve que o isentava da jurisdição do santo-ofício português. Estimado pelas maiores notabilidades da capital do mundo católico, em cujo número se incluía a famosa Cristina, ex-rainha da Suécia, permaneceu seis anos longe de sua pátria, por motivos que não são bem conhecidos.

Pouco se demorando em Portugal, deixou a 27 de janeiro de 1681 a barra do Tejo e aportou à Bahia, dispondo-se, como dizia ele, a passar tranqüilo os últimos dias que lhe restavam na solidão da quinta do Tanque, pertencente à Companhia. Invejou-lhe a fortuna esse derradeiro voto; porquanto ha-vendo-se suscitado sérias contestações entre o governador Antônio de Souza de Menezes, e Bernardo Vieira Ravasco, secretário do Estado e irmão do famigerado jesuíta, viu-se este obrigado a sair do seu retiro a fim de pugnar pelos ultrajados direitos de seu tão próximo consanguíneo. Caluniado no ânimo de el-rei D. Pedro II, a quem consagrara a mais viva afeição e por quem talvez em outras eras não pouco’ se comprometera, doeu-se profundamente de semelhante infortúnio, que contribuiu para abreviar-lhe os atribulados dias.

Quando pretendia voltar à quinta do Tanque, foi de novo distraído para obedecer a ordem do seu geral, que em 1688 lhe expediu a patente de provincial dos jesuítas no Brasil, dificílimo cargo, que, não obstante sua avançada idade, com a maior solicitude desempenhou.

Terminada esta honrosa incumbência, volveu ao seu tão querido asilo, onde já cego e surdo ditava a sua Clave dos Profetas, quando pôs a morte termo aos seus trabalhos no dia 18 de julho de 1697, com quase noventa anos de idade.

Longa seria a nossa tarefa se quiséssemos citar aqui todas as belezas que abundam nos sermões do padre Vieira; conten-temo-nos com apcntar as que mais justa e indisputável reputação hão granjeado. Dentre os primores que saíram da pena do grande jesuíta ocupa distinto lugar o sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda, pregado na igreja de N. S. da Ajuda da cidade da Bahia, no ano de 1640. Este célebre sermão, que mereceu a honra de ser trasladado em francês pelo abade Raynal, seria digno de Bossuet pela energia dos pensamentos e vivacidade das imagens. Sirva de exemplo o belíssimo quadro em que traça os horrores de uma cidade invadida pelos inimigos da pátria e da religião:

Finjamos pois (o que está fingido e imaginado faz horror), finjamos que vem a Bahia e o resto do Brasil à mão dos Holandeses; que é que há de suceder em tal caso? Entrarão por esta cidade com fúria de vencedores e d’hereges; não perdoarão a estado, a sexo, nem a idade; com os fios dos mesmos alfanges medirão a todos; chorarão as mulheres, vendo que se não guarda decoro à sua modéstia; chorarão os velhos, vendo que se não guarda respeito às suas cãs; chorarão os nobres, vendo que se não guarda cortesia à sua qualidade, chorarão os religiosos e veneráveis sacerdotes, vendo que até as coroas sagradas os não defendem; chorarão finalmente todos, e entre todos mais lastimosamente os inocentes, porque nem a esses perdoará (como em outras ocasiões não perdoou) a desumanidade herética. Sei eu, Senhor, que só por amor dos inocentes, dissestes vós alguma hora, que não era bem castigar a Ninive. Mas não sei que tempos, nem que desgraça é essa nossa, que até a mesma inocência vos não abranda. Pois também a vós, Senhor, vos há de alcançar parte do castigo (que é o que mais sente a piedade cristã), também a vós há de chegar.

Entrarão os hereges nesta igreja e nas outras; arrebatarão essa custódia, em que agora estais adorado dos anjos: tomarão os cálices e vasos sagrados, e aplicá-los-ão às suas nefandas embriaguezes: e não perdoarão as mãos furiosas e sacrilegas, nem as imagens tre-msndas de Cr:’sto crucificado, nem as da Virgem Maria. Não me admiro tanto, Senhor, de que hajas de consentir semelhantes agravos e afrontas nas vossas imagens, pois já as permitistes em vosso sacratíssimo corpo; mas da Virgem Maria, nas de vossa santíssima Mãe, não sei como isto pode estar com a piedade e amor de filho. No monte Calvário esteve esta Senhora sempre ao pé da cruz, e com serem aqueles algozes tão descorteses e cruéis, nenhum se atreveu a lhe tocar nem a lhe perder o respeito. Assim foi, e assim havia de ser, porque assim o tinhes vós prometido pelo profeta. Flagellum non appropinquabit tabernáculo tuo. Pois, Filho de Maria, se tanto cuidado tivestes então do respeito e decoro de vossa Mãe, como consentis

ngora que lhe façam tantos desacatos? — Nem me digais, Senhor, que là era a pessoa, cá a imagem. Imagem somente da mesma Virgem era a arca do testamento, e só porque Osa a quis tocar, lhe tirastes a vida. Pois se então havia tanto rigor para quem ofendia a imagem de Maria, por que o não há também agora? Bastava então qualquer dos outros desacatos às coisas sagradas para uma severíssima demonstração vossa, ainda milagrosa. Se Jeroboão, porque levantou a mão para um profeta se lhe secou logo o braço milagrosamente, como aos hereges depois de se atreverem a afrontar vossos santos lhes ficam ainda braços para outros delitos? Se Baltasar por beber pelos vasos do templo, em que não se consagrava o vosso sangue, o privastes da vida e do reino, por que vivem os hereges, que convertem os vossos cálices a usos profanos? Já não há três dedos que escrevam sentenças de morte contra sacrílegos?

Enfim, Senhor, despojados assim os templos, e derribados os altares, acabar-se-á no Brasil a cristandade católica; acabar-se-á o culto divino; nascerá erva nas igrejas, como nos campos; não haverá quem entre nelas. Passará um dia de Natal, e não haverá memória do vosso nascimento: passará a quaresma e a semana santa, e não se celebrarão os mistérios da vossa Paixão. Chorarão as pedras das ruas, como diz Jeremias, que choravam as de Jerusalém destruída: Via Sion tugent eo quod non sint veniant ad solemnitatem. Ver-se-ão ermas e solitárias, e que as não pisa a devoção dos fiéis como costumavam em semelhantes dias. Não haverá missas, nem altares, nem sacerdotes que as digam; morrerão os católicos sem confissão, nem sacramentos; pregar-se-ão heresias nestes mesmos púlpitos; e em lugar de S. Jerônimo e Santo Agostinho ouvdr-se-ão e alegrar-se-ão cs infames nomes de Calvino e Lutero; beberão a falsa doutrina os inocentes que ficarem, relíquias dos portugueses, e chegaremos ao estado que se perguntarem aos filhos e netos dos que aqui estão: — Menino, de que seita sois? — Um responderá: Eu sou calvinista; outro: Eu sou luterano. Pois isto se há sofrer, Deus meu? Quando quisestes entregar às vossas ovelhas a S. Pedro, examinaste-lo três vezes se vos amava: Diligis me, diligis me, diligis me? E agora as entregais desta maneira, não a pastores, senão aos lobos? Sois o mesmo, ou sois outro? Aos hereges, o vosso rebanho? Aos hereges as almas? Como tenho dito e nomeei almas não vos quero dizer mais. Já sei, Senhor, que vos haveis de enternecer e arrepender, e que não haveis de ter coração para ver tais lágrimas e tais estragos. E assim é (que assim o estão prometendo vossas entranhas piedosíssimas), se é que há de haver dor, se é que há de haver arrependimento depois, cessem as iras, cessem as execuções, agora, que não é justo que vos contente antes o que vos há de pesar em algum tempo.

No mui citado sermão de S. Antônio pregado na cidade de S. Luís do Maranhão no ano de 1651 encontram-se infinitas galas de linguagem e grande cópia de idéias filosóficas e morais. Sob a forma de uma alegoria, e supondo, à imitação de seu herói, pregar aos peixes, censura o padre Vieira os vícios dominantes nessa parte do Brasil, e sem ferir nenhuma susceptibilidade, consegue ser por todos compreendido com

não pequena vantagem para as almas. Aprimorado retrato do traidor deparamos nós na pintura que nos faz do polvo, cuja transcrição julgamos que aprazerá ao leitor:

Mas já que estamos nas covas do mar, antes que saiamos delas temos lá o irmão polvo, contra o qual têm suas queixas S. Basí éo e 6. Ambrósio. O polvo com aquele seu capelo na cabeça parece um monge; com aqueles seus raios estendidos parece uma estrela; com aquele não ter osso, nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma mansidão. E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa, testemunham contestemente os dois grandes doutores da Igreja latina, que o dito polvo é o maior traidor do mar. Consiste esta traição do polvo primeiramente em se vestir, ou pintar das mesmas cores a que está pegado. As cores que no camaleão são gala, no polvo são ma ícia: as figuras que em Pro*eu são fábula, no polvo são verdade e artificio. Se está nos limos, faz-se verde; se está na are’a faz-se branco; se está no lodo faz-se pardo; se está em alguma pedra, como mais ordinariamente costuma estar, faz-se da cor da mesma pedra. E daqui que sucede? Sucede que o outro peixe inocente da traição vai passando desacautelado, e o salteador que está de emboscada dentro do próprio engano lança-lhe os braços de repente, e fá-lo prisioneiro. Fizera mais Judas? Não fizera mais, porque nem fez tanto. Judas abraçou a Cristo, mas outros o prenderam; o polvo é o que abraça e mas o que prende. Judas com os braços fez o sinal, e o polvo dos próprios braços fez as cordas. Judas é verdade que foi traidor, mas com lanterna ad ante; traçou a traição às escuras, mas executou-a muito às claras. O po’vo escurecendo-se a si tira a vista aos outros, e a primeira traição e roubo que faz é à luz para que não distingua as cores. Vê, peixe aleivoso e vil, qual é a tua maldade, pois Judas em tua comparação já é menos traidor.

Como não ignora o leitor, ocupava outrora o púlpito o vácuo que vemos hoje preenchido pela imprensa periódica e servia de válvula ao demasiado vapor dos queixumes populares. No gozo de justa influência e incontestável prestígio, trovejava Vieira da cadeira da verdade contra os abusos que se haviam introduzido na administração pública, e não raro dava aos seus discursos sagrados feições políticas. Em abono do que acabamos de dizer bastará citar o seguinte trecho do sermão do bom ladrão, pregado na igreja da Misericórdia de Lisboa no ano de 1655:

Dom Fulano (diz a pTedade bem intencionada) é um fidalgo pobre, disse-lhe um governo. E quantas pedades, ou advertidas, ou não, se contêm nesta piedade? Se é pobre dêem-lhe uma esmola honestada com o nome de tença, e tenha com que viver. Mas parque é pobre um governo, para que desempobrecer à custa dos que governar; e para que vá fazer muitos pobres à conta de tornar mu to rico? Is1 o quer quem o elege por este motivo. Vamos aos do prêmio e também aos do castigo. Certo capitão mais antigo tem muitos anos de servço; dêem-lhe uma fortaleza nas conquistas. Mas se esses anos de serviço

assentam sobre um sujeito que os primeiros despojos que tomava na guerra eram a farda e a ração dos seus próprios soldados, despidos e mortos de fome; que há de fazer em Sofala, ou em Mascate? Tal graduado em leis leu com grande aplauso no Paço; porém em duas judicaturas e uma correição não deu boa conta de si; pois vá degradado para a índia com uma beca. E na Beira e no Alentejo, onde não há diamantes, nem rubis, se lhe pegavam as mãos a este doutor, que será na relação de Goa?

Notável pela valentia de expressão e majestade de pensamentos é sem dúvida o seguinte exórdio ex abrupto do sermão da primeira dominga do advento, pregado na capital real em 1650:

Abrasado finalmente o mundo, e reduzido a um mar de cánzas tudo o que o esquecimento deste dia edificou sobre a terra (dou princípio a este sermão sem principio, porque já disse Quintiliano que as grandes ações não hão mister exórdio; elas por si mesma ou supõem a atenção, ou a conciliam. Também passo em silêncio a narração portentosa dos sinais que precederão ao juízo; porque esta parte do Evangelho pertence aos que hão de ser vivos naquele tempo, e não a nós, e o dia de hoje é muito de tratar cada um só do que lhe pertence). Abrasado pois o mundo, e consumido pela violência do fogo o que a soberba dos homens e o esquecimento deste dia levantou e edificou na terra; quando já não se verão neste formoso e dilatado mapa, senão umas poucas cinzas, relíquias de sua grandeza e desengano de nossa vaidade; soará no ar uma trombeta espantosa, não metafórica mas verdadeira (que isso quer dizer a repetição de S. Paulo: canet enim tuba).

E, obedecendo aos impérios daquela voz do céu, o inferno, o purgatório, o limbo, o mar e à terra; abrir-se-ão em um momento as sepulturas, e aparecerão no mundo os mortos vivos. Parece-vos muito que a voz duma trombeta haja de achar obediência nos mortos? Ora, reparai em outro milagre maior, e não vos parecerá grande este. Entrai pelos desertos do Egito, da Tebaida, da Palestina, penetrai no mais interior e retirado daquelas soledades; o qué é que vedes? Naquela cova vereis metido um Hilarião, naquela outra um Macário, na outra mais apartada um Pacômio, aqui um Paulo, ali um Jerônimo, acolá um Arsênio, doutra parte uma Maria Egipcíaca, um Tias, uma Pelágia, uma Teodora. Homens, mulheres, que é isto? Quem vos trouxe a esse estado? Quem vos antecipou a morte? Quem vos amortalhou nesses cilícios? Quem vos enterrou em vida? Quem vos meteu nessas sepulturas? Quem? — Responderá por todos S. Jerônimo; Semper mihi videtur insonare tuba ília terribilis: Súrgite, mortui, venite ad judictum. Sabeis vós quem nos vestiu dessas mortalhas? Sabeis quem nos fechou nessas sepulturas? A lembrança daquela trombeta temerosa que há de soar no último dia: Levantai-vos, morto, vinde a juízo. Pois se a voz desta trombeta, só imaginada (pesai bem a conseqüência) , se a voz desta trombeta, só imaginada, bastou para enterrar os vivos; que muito, que, quando soar verdadeiramente, seja poderosa para desenterrar os mortos? O meu espanto não é este. O que me espanta, e o que deve assombrar a todos, é que haja de bastar esta trombeta para ressuscitar os mortos, e que não baste para espertar os mortais. Credes, mortais, que há de haver juízo? Uma de duas é

certa; ou o não credes, ou o não tendes. Virá o dia final e então sentirá nossa insensibilidade sem remédio o que agora poderá ser com proveito. Quanto melhor fora chorar agora, e arrepender agoia, como faziam aqueles e aquelas penitentes do ermo, do que chorar e arrepender depois, quando para as lágrimas não há de haver misericórdia, nem para os arrepentí.mentos perdão! Agora vivemos como queremos; e ainda mal, porque depois havemos de ressuscitar como não quiséramos.

Belíssimo exemplo de uma amplificação por gradação deparamos no sermão do dia de Ramos, pregado na matriz do Maranhão em 1656:

Começou a chover o dilúvio de Noé; alagaram-se na primeira semana os vales, e os quartos baixos dos edifícios; subiram-se os homens aos quartos altos; choveu a segunda semana, venceram as águas os quartos altos; subiram-se aos telhados; choveu a terceira semana, sobrepujou o dilúvio os telhados; subiram-se às torres; choveu a quarta semana, ficaram debaixo das águas as torres e as ameias ma:’s altas; subiram-se aos montes; choveu a quinta semana, ficaram também afogados os montes; subiram-se finalmente às árvores e assim estavam suspensos e apegados nos ramos. Postos neste estado os homens, já não tinham para onde subir, e não lhe restava mais do que uma de duas; ou nadar e acolher-se à arca, ou deixar-se afogar, e perecer no dilúvio. Oh! se nos víssemos bem neste grande espelho!!! E quantos de nós estamos hoje no mesmo estado? Desde o princípio da quaresma começou Deus a querer-nos conquistar as almas, e nós sempre a retirar e a fugir de Deus de semana em semana. Passou a primeira semana da quaresma, guardamo-nos para a segunda; passou a segunda, deixamo-nos para terceira; passou a terceira, esperamos pela quarta; passou a quarta, delatamo-nos para a quinta; passou a quinta; apelamos para a sexta; já estamos na sexta e na última semana deste dilúvio espiritual, já estamos como os do outro dilúvio com as mãos nos ramos das árvores, ou com os ramos das árvores nas mãos: Cadebant ramos de arboribus (Matth.)

Nem menos feliz emprego das figuras preterição e paresia oferece-nos o exórdio do sermão das exéquias de El-Rei D. João IV:

Grande é minha ingratidão, sacra, real e defunta majestade. Grande é minha ingratidão, que a quero confessar assim, por não dizer que é grande a minha fé. Devo à memória do senhor rei D. João, o IV, maiores obrigações que as de rei, porque lhe devi muitas vezes nos olhos de sua majestade todas as piedades do pai. Mas sou tão ingrato (sem estar nem poder estar esquecido) que nem a nova da não esperada morte de sua majestade me pode entristecer, nem esta mesma representação funeral que ainda em casos ordinários costuma entristecer os ânimos por simpatia da natureza, me pode causar sentimento.

A par de tantas e tão peregrinas belezas vem algumas nódoas gongorísticas embaciar o esplendor dos maiores mo-

numentos oratórios da nossa língua. Quem por exemplo deixará de censurar os trocadilhos que no sermão do nascimento da Virgem Maria fez o padre Vieira com os substantivos nascimento, luz e com o verbo nascer?

O sol, se bem advertirdes (diz ele), tem dois nascimentos: um nascimento com que nasce quando nasce, e outro nascimento com que nasce antes de nascer. Aquela primeira luz da manhã que apaga, ou acende as sombras da noite, cuja luz é? É a luz do sol. E esse sol então está já nascido? Não, e sim: não porque ainda não está nascido em si mesmo; sim porque está nascido em sua luz. De sorte que naturalmente vêem os nossos olhos ao sol duas vezes nascido: nascido quando nasce, e nascido antes de nascer.

Inúmeras provas poderíamos apresentar de freqüentes abusos da figura antíteses, da qual tanto parecia gestar Vieira. Abramos o magnífico sermão da Epifania, pregado na capela real de Lisboa no ano de 1662 e na presença da rainha D. Luísa e do rei D. Afonso VI. Logo no exórdio lêem-se estas palavras, inspiradas pelo mau gosto do contraste:

Para que Portugal em nossa idade possa ouvir um pregador evangélico, será hoje o Evangelho o pregador. Esta é a novidade que trago do Novo Mundo. O estilo era que o pregador explicasse o Evangelho: hoje o Evangelho há de ser a explicação do pregador. Não sou eu o que hei de comentar o texto, o texto é que me há de comentar a mim. Nenhuma palavra direi que não seja sua, porque nenhuma cláusula tem que não seja minha. Eu repetirei as suas vozes, ele bradará os meus silêncios. Praza a Deus que os ouçam os homens na terra, para que nào cheguem a ser ouvidos no céu.

Lendo o sermão de N. S. do O’, pregado na igreja d’Ajuda da cidade da Bahia no ano de 1640, profundamente sentimos que o Cícero português, procurando ser arguto, descesse a sutilezas impróprias do seu grande engenho. Nada revela melhor a fraqueza da humanidade do que esses lapsos, a que se referia Horácio quando dizia:

Quandoque bônus dormitat Homerus.

Só a eles poderemos atribuir o pueril jogo que faz o famoso jesuíta da letra O. Sirva de exemplo este final do exórdio:

O mistério do Evangelho é a conceição do Verbo no ventre virginal de Maria Santíssima: o titulo da festa é a expectação do parto, e desejos da mesma Senhora, debaixo do nome de O. E porque o O é um círculo e o ventre virginal outro círculo; o que pretendo mostrar em um e outro, é que assim como o círculo do ventre virginal na conceição

do Verbo foi um O que compreendeu o imenso, assim o O dos desejos da Senhora na expectação do parto foi outro círculo que compreendeu o Eterno.

Qual será finalmente o juízo que acerca do padre Vieira, considerado como orador, deveremos formar? — De um talento assombroso, realçado por descomunal erudição tanto sagrada, como profana, profundo conhecedor dos mais recônditos segredos da língua, apaixonado porém por extravagâncias e paradoxos, abusando a miúdo das Sagradas Escrituras para provar proposições ridículas e satisfazer ao imoderado desejo de passar por profeta. “Estes defeitos, diz o Sr. J. I. Roquete, que são assaz para lamentar, eram em parte devidos ao mau gosto do seu século e dos seus ouvintes, e em parte filhos das circunstâncias tão variadas da sua vida. Vieira adoecia muito de amor próprio, e da pretensão de ler no futuro, era mui ressentido, e, pungido tão constantemente dos espinhos da ingratidão, abandonava-se a empresas extravagantes, e escolhia assuntos alusivos em que desafogasse a sua paixão, e como que tomasse um honesto despique de ofensas não merecidas.” 1

O PADRE ANTÔNIO DE SA

Entre os discípulos e imitadores do padre Vieira cabe distinto lugar a este nosso ilustre compatriota, acerca do qual apenas sabemos que nascera no Rio de Janeiro aos 26 de junho de 1620, vestira a roupeta da Companhia de Jesus, onde fora mestre de teologia e humanidade, gozando da fama de bom pregador alcançada nos púlpitos da metrópole, bem como da sua pátria, onde falecera no dia Io de janeiro de 1678. Parece que eram os seus sermões publicados à proporção que os ia pregando, formando deles mais tarde Miguel Rodrigues uma coleção que saiu à luz em Lisboa em 1750. Eis como a respeito dessa coleção se exprime o Sr I. F. da Silva em seu Dicionário Bibliográfico:

“Tenho um exemplar desta edição, que é muito pouco vulgar; porque uma grande parte se consumiu pelo incêndio subseqüente ao terremoto de 1750 na loja do editor.”

Não podendo obter o complexo dos discursos sagrados do exímio pregador, de quem o maior caso fazia o padre Vieira, tivemos por uma boa fortuna o depararmos na Biblioteca

1 Epítome da vida do padre A. Vieira, pág. LU.

Fluminense com alguns dos seus sermões, incluídos em uma miscelânea oratória que aí existe, e deles faremos alguns extratos.

Pondo de parte o patriotismo, que mal cabido seria em semelhante caso, ingenuamente confessamos que está o pregador brasileiro muito abaixo do português, e não duvidamos subscrever o juízo que a seu respeito emitiu o erudito filólogo Francisco José Freire (Cândido Lusitano) nas suas já citadas Reflexões sobre a Língua Portuguesa, quando disse: “Discípulos deste grande mestre (padre Vieira) foram diversos oradores, especialmente Antônio de Sá e D. Luiz da Ascensão, imitando-o na pureza do estilo, e correção da gramática, porém a cada um deles se pode aplicar com verdade: Sequitur-que patrem non passibus oequis.”

Recomendável pela sua energia de linguagem e vigor dialético é o seguinte trecho do sermão de quarta-feira de Cinza, em que o orador fluminense exorta os fiéis a converterem-se. No nosso conceito pode ele rivalizar com as melhores passagens de Vieira. Oiçamo-lo:

Se temos fé, e cremos que não há perdão de pecados sem arrependimento do pecador, necessariamente nos havemos de arrepender algum dia; pois se há ser algum dia, porque não será hoje? Se há ser depois, porque não será logo? Ou o pecado é bem, ou é mal; se bem, porque vos haveis de arrepender nunca? Deixai-vos morrer em pecado: se mal, e por isso determinais arrepender-vos depois, não é pouca cordura multiplicar número de culpas, para dobrar as causas do ar rependimento? Não pouca consideração pecar mais para ter mais que arrepender? Que queirais sacrificar o melhor dos anos ao mundo, e que não vos pejeis de reservar as relíquias da vida para Deus? Que intenteis começar a viver bem naqueles anos, onde muitos não chegarão e outros acabaram de viver? Comprais uma quinta e desejais que seja boa, fazeis uma gala, e procurais que não seja má, todas as vossas coisas, ainda as de menos substância, pretendeis que sejam boas e muito boas, e que segurança tendes de que a vida vos durará até esse tempo, para o qual guardais a vossa penitência? Quem vos esperou até hoje, não vos promete, nem o dia de amanhã: quantos viram nascer o sol que não tornaram a ver posto? Quantos o viram por que não tornaram a ver nascido? Não poderá ser cada qual de nós um destes? Antes que se acabe esta hora não poderá cada qual de nós acabar aqui a vida? E se sucedesse? Mas quero que vivais esses anos que falsamente vos prometeis, e por onde vos consta que então vos haveis de arrepender? Se agora vos parece tão árduo dar de mão aos vicios, que será depois quando com o costume, estiver a natureza mais depravada, e a graça mais distante? Nunca vistes uma avezinha que tendo o corpo todo livre e solto está contudo presa por uma unha? Bate as asas para voar e não pode; arremessa-se para fugir e não acaba. Pois o que te detém, avezinha, triste, não tens o corpo solto, não tens as asas livres? Por que não voas? Por que não foges? Quem te

prende? Quem te enlaça? — Uma unha. — Ah! pecadores, a culpa é a prisão d’alma: se vos achais agora tão impedidos quando são os laços menos, como esperais desembaraçar-vos quando forem mais os laços; se a muitos retarda hoje uma só unha presa como confiam soltar-se quando estiver enlaçado todo o corpo? Ai não há conversão de pecador, sem vocação de Deus, senão acudis a Deus quando vos chama, quem vos assegurou que vos havia de acudir quando vós chamardes? Aquelas cinco virgens loucas do Evangelho não se pressentiram quando Deus as buscou, chamaram depo’s uma e outra vez: Domine, Domine, e Deus não lhes acudiu, néscio vos: porque não temereis que diga Deus que vos não conhece quando vós chamardes, pois vós o não quereis conhecer quando ele vos chama?

Belíssimas são também as pinturas que nos faz do homem em geral e do cristão em particular no sermão da primeira sexta-feira da Quaresma, pregado na freguesia de S. Julião em Lisboa no ano de 1674. Judiciosas e eloqüentes são as seguintes expressões:

Entre todas as coisas do mundo, que nossos olhos vêem, ou nossos entendimentos alcançam, o maior milagre, e o mais notável é verdadeiramente o homem: oriente do céu e da terra, contérm no da eternidade e do tempo, vínculo do Criador e da criatura, na vda semelhante às plantas, no sentido igual aos ai<imais, no entendimento companheiro dos anjos, na majestade quase um segundo Deus composto de duas naturezas, tão diversas e tão adversas como são, o espírito e a carne, das quais uma é celestial e a outra terrena, uma é caduca, e a outra imortal, uma é a imagem de Deus, e a outra semelhança dos brutos; o espírito o faz pio, a carne o faz impío; o espirito o levanta ao céu, a carne o abate ao inferno; o espirito o reforma em Deus, a carne o transforma em animal; há maior milagre do que o homem? Po s ainda há outro maior milagre. A única admiração, a maravilha única entre todos os homens é o cristão verdadeiro: é felicíssimo porque espera em prêmio o céu, é infelicíssimo poique está em desteiro na terra; é fortíssimo porque vence ao demónio, é fraquíssimo porque às vezes o vence a carne; é animosíssimo porque não teme a morte, é pusilânime porque o aflige a vida; é nobiliss mo porque é irmão de Cristo, é vilíssimo porque é fábula do mundo; é prudentíssimo porque sabe o caminho da salvação; é fidelíssimo porque crê e não vê; é todo solícito porque nunca ama o descanso; é todo.descu dado porque se deixa reger em tudo de Cristo, padece contínuos combates de fora e goza c:ntínua paz de dentro, morre na vida e vive na morte; todas as cosas ama por Cris’o, e não ama a si mesmo por Cristo, não o desvanece a fortuna, nem o entristece a desgraça; no mesmo tempo deseja morrer, e no mesmo tempo deseja viver, morrer para estar com Cristo, e viver para servir a Cristo.

Como modelo de uma boa prosopopéia podem ser citad is as palavras por Jesus Cristo endereçadas ao pecador, as quiis se lêem em um dos sermões pregados ao recolher-se à procissão de Passos:

Homem, que como ovelha perdida, embaraçado nos deleites enganosos desta vida, te tinhas desviado dos caminhos da eterna, eis aqui como estou afligido e atormentado por te poder lançar aos meus ombros para te reduzir ao Paraiso. Conformar-te com a imagem da tua humanlidade para te refazer; já que não retiveste a forma da minha divindade, que imprimi em ti quando te formei, retém ao menos a forma de tua humanidade que imprimi em mim para te reformar; se não estimaste os muitos bens que te concedi quando te criei, estinr. ao menos as muitas misérias que padeço para te remediar. Tu és a causa de minhas dores, tu és o motivo dos meus tormentos, tu és a culpa da minha morte: tu foste o pecador, eu sou o castigado, tu foste o réu, eu sou o condenado; tu foste o delinqüente, eu sou o crucificado. Padeci agonias, para te merecer gostos; temi por te fazer seguro; velei para te acordar da culpa; orei para te impetrar favores; suei sangue para te lavar tuas fealdades; fui preso para te libertar; atado para te soltar; vendido para te comprar; negado de Pedro para te confessar diante dos anjos; acusado para te escusar; vendado nos olhos para te revelar minha face na glória; açoitado para que te não açoitasse meu Pai; condenado para te absolver; lançado fora de Jerusalém da terra para te admitir na Jerusalém do céu; levei a cruz para te passar de teus ombros aos meus o peso dos teus pecados; fui coroado d’espinhos para te aparelhar uma coroa de glória; tive sede, para te dar de beber na fonte viva da graça; fui encravado, para te espertar; estendi os braços para te abraçar; inclinei a cabeça para te dar o ósculo da paz; finalmente tomei sobre mim a morte para te perpetuar a vida; dar-te por prêmio minha paixão, pois eu me dei por preço da tua redenção; não me correspondas com agravos pois eu te obrigo com ternuras.

Pelos excertos que havemos feito dos sermões do padre Antônio de Sá terá conhecido o leitor que participou ele dos mesmos defeitos que assinalamos no padre Vieira, ainda mais salientes por isso que, como já dissemos, era muito inferior ao seu confrade. Pagou avultado tributo ao mau gosto do seu tempo: incensou o ídolo do gongorismo, e militou debaixo das bandeiras do célebre pregador castelhano frei Luis de Granada, cujos conselhos com o mais escrupuloso respeito seguiu e observou. Cumpre porém não esquecer, em honra do nosso benemérito conterrâneo, que pregava ele em Lisboa contemporaneamente com o padre Vieira. Este último disse, antes de partir para o Maranhão, “que a sua ausência não seria sensível ficando o padre Antônio de Sá.”

Antigo costume é dos discípulos exagerarem os erros dos mestres: não acontecia porém isto com o padre Antônio de Sá; porquanto, conhecendo que o seu talento era muito mais mesquinho do que o do Crisóstomo Português, fugia de remontar-se aos alpestres cimos, em que folgava este de pairar. Mencs arrojado em suas imagens, era também mais exato o padre Sá nas comparações e menos hiperbólico e guindado na frase.

Fonte: Editora Cátedra – MEC

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