A
organização genital infantil [1923]:
Fernanda Rossetto
A pesquisa sexual
na criança é de extrema importância, pois a
partir de seu início até o seu desfecho (por volta dos
cincos anos) se aproxima amplamente da forma definitiva assumida pelo
adulto. Já na infância é realizada uma escolha de
objeto semelhante à que vimos como característica da
fase de desenvolvimento da puberdade, ou seja, suas tendências
sexuais se dirigem para uma única pessoa, na qual esperam
alcançar seus objetivos. Ainda assim. A aproximação
da vida sexual infantil a dos adultos não se limita a escolha
do objeto, no seu auge, o interesse nos genitais e sua atividade
adquirem uma significação preponderante, que pouco fica
a dever àquela da maturidade.
A principal
característica dessa organização genital
infantil consiste no fato de que, para ambos os sexos, apenas um
genital (o masculino) entra em consideração. Há,
portanto, uma primazia do falo. O pequeno garoto se dá conta
que homens e mulheres são diferentes, mas inicialmente ele não
tem motivos para relacionar o fato com uma diferença entre
órgãos genitais de ambos. Para ele é natural
supor que todos os seres vivos, tanto pessoas quanto animais, possuem
um órgão semelhante ao seu, e ele ainda busca
igualmente em coisas inanimadas uma formação análoga.
Essa parte do corpo, tão rica em sensações,
ocupa em alto grau de interesse o menino que continuadamente
apresenta novas tarefas ao seu impulso investigador. Esta curiosidade
sexual se manifestará, após a puberdade como forca
impulsora que este membro desenvolverá. Muitas das próprias
exibições e agressões cometidas pelas crianças
se relevam na analise como experimentos a serviço desta
investigação.
Porém, no
curso dessas investigações e experiências, o
menino descobre que o pênis não é um bem comum a
todos que o cercam. A visão casual dos genitais de uma
irmãzinha ou coleguinha de brinquedo fornece a oportunidade de
descoberta. Inicialmente o menino recusa essa ausência,
acreditando ver um membro, ou atenua a contradição
mediante a evasiva de que ele ainda é pequeno e crescerá,
e aos poucos conclui que no mínimo ele estava presente e foi
retirado. A ausência do pênis é vista como o
resultado de uma castração, e o menino se acha ante a
tarefa de lidar com isto em relação a ele próprio.
Não devemos
crer, portanto, que o menino prontamente generaliza sua observação,
de que todas as pessoas do sexo feminino não possuem pênis,
sua suposição é de que a ausência de pênis
na mulher seria uma consequência do castigo de castração.
O menino então conclui que apenas mulheres indignas,
provavelmente culpadas de impulsos proibidos como os dele, teriam
perdido o genital. Mulheres respeitadas, como sua mãe, teriam
o pênis conservado por muito tempo.
Neste estágio
da organização genital infantil, há então
o masculino, mas não há o feminino, sendo que a
oposição se dá entre genital masculino ou ser
castrado. Apenas ao se completar o desenvolvimento na época da
puberdade, a polaridade sexual coincide com masculino e feminino. O
masculino reúne o sujeito reúne o sujeito, a atividade
e a posse do pênis, o feminino assume o objeto e a passividade.
A vagina é então estimada como abrigo do pênis,
torna-se herdeira do ventre materno.
Algumas
consequências psíquicas da diferença anatômica
entre os sexos [1925]:
Inicialmente foram
observadas as primeiras configurações psíquicas
da vida sexual da criança, tendo como objeto de estudo a
criança do sexo masculino. A situação do
complexo de Édipo é a primeira etapa que recorremos com
segurança no menino. Aqui a criança se atém ao
mesmo objeto que no precedente período de amamentação
já tinha investido sua libido ainda não genital. Também
perceber o pai como um rival importuno, do qual gostaria de se livrar
e tomar o lugar, é deduzido das circunstâncias
objetivas. A postura edipiana do menino pertence à fase fálica
e sucumbe ao medo da castração, isto é, ao
interesse narcísico pelo genital. Mesmo no garoto, o complexo
assume há um duplo sentido, ativo e passivo, correspondendo à
disposição bissexual. O garoto quer também
assumir o lugar da mãe como objeto amoroso do pai, o que
designamos como postura feminina.
Quanto à
pré-história do complexo de Édipo, sabemos que
ali há uma identificação de natureza terna com o
pai, que ainda está livre do senso de rivalidade em torno da
mãe. Outro elemento desse período é a atividade
masturbatória com o genital, a masturbação da
primeira infância, cuja supressão mais ou menos
violenta, por parte de seus cuidadores, ativa o complexo de
castração. Há hipótese que este onanismo
aparece inicialmente como atividade vinculada a um órgão
e só depois se liga ao complexo de Édipo é a
mais provável. Por fim, presenciar o coito dos pais, numa
época muito tenra da infância, pode desencadear uma
primeira excitação sexual, tornando-se o ponto de
partida para todo o desenvolvimento sexual posterior.
O complexo de
Édipo da menina traz em si um problema a mais que no garoto.
Inicialmente, a mãe foi para ambos o primeiro objeto. Uma
análise aprofundada, nos mostra que na menina, o complexo de
Édipo tem uma longa pré-história e é, em
certa medida, uma formação secundária.
A menina nota o
pênis do irmão ou de um companheiro de brincadeiras,
flagrantemente visível e de tamanho notável,
reconhece-o imediatamente como superior ao seu órgão
correspondente, pequeno e oculto, e assim caem vítimas de
inveja do pênis. Aqui, nota-se claramente o contraste no
comportamento dos dois sexos. A menina num instante faz seu
julgamento e toma sua decisão. Ela viu, sabe que não
tem e quer ter.
Neste ponto, brota
o chamado complexo de masculinidade da mulher, que poderá ser
nocivo ao desenvolvimento de sua feminilidade, caso não seja
superado. A esperança de que ainda terá um pênis,
tornando-se igual ao homem, pode se manter por período
improvavelmente longo se tornando motivo de atos peculiares, de outra
forma incompreensíveis. Ou surge o processo designado como
“recusa”, em que a menina se recusa a admitir o fato de
sua castração, aferra-se a convicção de
que possui um pênis e se vê compelida a agir como um
homem.
As consequências
psíquicas na contrapartida do complexo de masculinidade se
constituem com o reconhecimento da ferida narcísica,
traduzindo-se na mulher, como uma cicatriz, um sentimento de
inferioridade. Depois de haver superado a ideia que a sua falta de
pênis advém de um castigo e haver compreendido a
universalidade dessa característica sexual, ela começa
a partilhar o menosprezo do homem por um sexo reduzido e ao menos
nesse juízo se equipara ao homem.
Mesmo tendo
renunciado a seu verdadeiro objeto, a inveja do pênis não
deixa de existir, persiste no traço de caráter do ciúme
com ligeiro deslocamento. O ciúme desempenha um papel muito
maior na vida psíquica da mulher, porque obtém um
enorme reforço da fonte que é a inveja do pênis
desviada. Portanto, o ciúme, no caso feminino, é uma
derivação da inveja do pênis. Outra consequência
da inveja do pênis parece ser o afrouxamento da relação
terna com o objeto materno. A menina vê a mãe como
responsável por sua falta de pênis, por tê-la
posto no mundo tão insuficientemente aparelhada. Após
descobrir a desvantagem do genital, a menina passa a sentir ciúme
de outra criança, supostamente mais amada pela mãe, o
que contribui ainda mais para desprender-se do vinculo materno.
Outro efeito da
inveja do pênis, ou da descoberta da inferioridade do clitóris
seria que a mulher tolera menos a masturbação que o
homem, opondo-se a ela com mais frequência. E compreensível
que esta afirmação possua inúmeras exceções,
visto que reações dos indivíduos de ambos os
sexos são mesclas de traços masculinos e femininos.
Podemos conduzir a reflexão de modo que a masturbação
do clitóris seria uma pratica masculina, sendo que uma
condição do desenvolvimento da feminilidade seria uma
eliminação da sexualidade clitoridiana. Esta corrente
contrária a masturbação na menina não
pode ser ligada apenas à influência da pessoa que a
cria. Este prenúncio irá remover boa parte da
sexualidade masculina na época da puberdade, abrindo caminho
para o desenvolvimento da feminilidade. A humilhação
narcísica relacionada à inveja do pênis é
um lembrete de que nesse ponto não pode concorrer com os
meninos, sendo melhor deixar de lado a concorrência com eles.
Dessa forma, o reconhecimento da diferença sexual anatômica
impele a menina a afastar-se da masculinidade, em direção
a novas trilhas que levam ao desenvolvimento da feminilidade.
Até o
momento, o complexo de Édipo na garota não desempenhou
função alguma. Agora a libido da menina passa do pênis
(na criança) para o desejo de possuir uma criança, e
com essa intenção toma o pai por objeto amoroso. A mãe
se torna objeto de ciúme. A menina se tornou uma pequena
mulher. Nesta nova situação, pode haver sensações
físicas que devem ser consideradas um despertar prematuro do
aparelho genital feminino.
Retornamos a
conclusão de que na menina, o complexo de Édipo é
uma formação secundaria. Os efeitos do complexo de
castração e precedem e o preparam.
Logo, a relação
nos complexos de Édipo e castração no menino e
na menina possuem um contraste fundamental. No garoto, o complexo de
Édipo é sobrepujado pelo complexo de castração,
sendo o da garota possibilitado e introduzido através do
mesmo. Essa contradição é explicitada se
levarmos em conta seu conteúdo, que inibe a masculinidade e
torna possível a feminilidade. Esta diferença é
devida as características anatômicas do desenvolvimento
sexual nos dois sexos, levando em consideração também
as peculiaridades das situações psíquicas
envolvidas, correspondendo à diferença entre a
castração ameaçada e a castração
realizada.
No menino, o
complexo de Édipo se despedaça devido a ameaça
de castração e sua possível concretização
mediante a visão de seres supostamente castrados. Em situações
ideais, seus investimentos libidinais são abandonados e seus
objetos são incorporados ao Ego, onde formam o âmago do
Superego. A catástrofe do complexo de Édipo, o abandono
do incesto e a instauração da consciência moral,
podem ser vistos como um triunfo da geração sobre o
indivíduo.
Na menina, a
castração já foi consumada e impele a criança
para a situação do complexo de Édipo. Por isso
este escapa ao destino que o aguarda no menino, podendo ser
lentamente abandonado ou seus efeitos podem persistir até bem
longe na vida psíquica da mulher. O seu superego jamais se
torna tão inexorável, tão impessoal, como se
requer que seja no homem. Traços de caráter como menor
senso de justiça, menor inclinação a submeter-se
às grandes exigências da vida, maior probabilidade de
ser guiada por sentimentos afetuosos e hostis ao tomar decisões,
encontrariam fundamento suficiente na distinta formação
do superego que acabamos de inferir.
Por fim, convém
nos lembrar da disposição bissexual que acomete todos
os indivíduos, fruto de sua herança genética
cruzada.
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