A VINGANÇA DAS PIRANHAS – O Brasil Trágico

diabo e piranhas

A VINGANÇA DAS PIRANHAS

Nos rios Paraguai, S. Lorenço, Cuiabá e afluentes, há tanta piranha, que até parece que esses peixes foram criados para estabelecerem a desordem e a voracidade nessas águas.

Multiplicam-se esses peixes duma maneira fantástica, ao ponto de se acreditar que eles são os donos dos rios, emprestando aos outros simples qualidade de inquilinos. E como ninguém os destrói, eles aumentam de tal forma que até parece que são protegidos por um espírito mau, a fim de que pela quantidade, insolentemente infernizem a vida dos demais habitantes das águas.

* * *

Considerando que tais peixes foram gerados por um gênio destruidor, um espírito belicoso, não se devem espantar os outros peixes mas sim, defender-se com astúcia ou com agilidade, porque as piranhas são verdadeiras feras que trazem o respeito dos seus semelhante no desejo carnívoro de seus dentes aguçados.

E por aquelas vastas regiões piscosas, a guerra entre os que querem comer e os que não estão dispostos a alimentar os outros, deve ser verdadeiramente encanzinha! Brutalidade!

Não é mais a luta pela vida, porém é a luta para não morrer! Os que não têm dentes, desenvolvem, naturalmente outras faculdades como meios de defeza. E singram o remanço das águas, cautelosos e sobreavisados, como quem prevê em cada mancha de musgo, uma cilada preparada pelo inimigo devorador. Os que têm dentes, confiados nessas armas, deslizam pelo leito dos rios, alegres e confiados como tiranetes insolentes que blasonassem desprezo à toda casta de perigo.

A ferocidade das piranhas tem servido até de mo tivos à criação de lenda.

Uma tarde, enquanto viajava da bahia Negra até o Forte de Coimbra, um embarcadiço ‘côr de cobre, prová velmente uma mescla de branco com índio, a propósito das piranhas relatou-me o seguinte:

— As piranhas, devido ao grande poder de multiplicação e tendo tantos dentes agressivos, prevendo o deus que protege os peixes, que elas se transformavam em seres tão ferozes como têm demonstrado; a título de querer abrandar essa ferocidade, parece que lhes foi imposto o dever de só comerem limo, frutos, cascas, raízes de pau, excrementos vários e vários detritos. Ficara-lhe proibido tocarem em carne, ou qualquer outra coisa rubra semelhante, porque constituía isso grande pecado. Porém, o diabo que andava pelos rios, a desfazer a obra desse deus, disse às piranhas:

— Vocês foram vilmente enganadas. Esse gênero de alimentação, incolor e insabor, não lhes serve. Vocês devem é comer carne! A carne é saborosa, faz engordar, provocando uma deliciosa sensação na serrilha dos seus dentes!

E elas perguntaram ao que andava pelas águas a anarquizar a obra divina:

— 0 que vem a ser isso de carne!

— Carne é uma coisa vermelha que de tão gostosa, uma vez ingerida, nunca mais se tem vontade de ingerir outra coisa!

E as piranhas procuraram! Encontraram. Comeram e gostaram. E, desde então, as piranhas, como uma vingança ao ludíbrio imposto pela divindade, não só comem carnes com grande apetite, como devoram furiosamente qualquer coisa vermelha. O vermelho é o pecado da carne, muito agradável aos seus dentes.

Por isso procuram sempre destruir o vermelho quanto se lhes depara aos olhos; e essa fascinação é tão grande que elas se deixam até pescar por um pedaço de pano vermelho amarrado a uma corda.

E, sob o lençol formidável das águas daqueles rios, as piranhas no desespero da vingança, multiplicam-se pelas solidões tenebrosas, dando porfiosa batalha aos outros moradores.

A desforra ao engano aguçá-lhes os criminosos apetites. O vermelho, que lhes evoca os sabores da carne, alucina-as!

Sílvio Floreal: O Brasil Trágico. Empresa Gráfica Rossetti, São Paulo, 1928, pp. 161-164.

Fonte: Estórias e Lendas de Goiás e Mato Grosso. Seleção de Regina Lacerda. Desenhos de J. Lanzelotti. Ed. Literat. 1962

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