Movidos pelo instinto de conservação, a maior parte dos animais buscam *) ou preparam 2) abrigos para se resguardarem das Injúrias do tempo, e se defenderem dos ataques de seus inimigos. As aves escondem-se entre as fôlhas das árvores, ou nas concavidades dos troncos. Recolhem-se os quadrúpedes às espessuras das florestas, às grutas naturais ou às tocas profundas que fazem na terra. Ocultam-se os peixes nas covas da areia, nas anfractuosidades 3) das rochas, nos intricados labirintos dos bosques submarinos. Ãs tartarugas, porém, como aos testáceos4), deu a natureza abrigos próprios, invólucros protetivos, que lhes servem de casa e que, de bom ou mau grado, levam consigo por tôda a parte.
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Esta armadura defensiva das tartarugas consiste em dois escudos ósseos, unidos pelos bordos. O superior, composto das costelas soldadas entre si e com as vértebras dorsais 5), chama-se concha ou casca; o inferior, formado pelo esterno 6) convenientemente modificado, tem o nome de couraça. Em nenhuns outros animais vertebrados as partes do esqueleto saem por tal modo de dentro do corpo para se expandirem na superfície, transformando-se de Internas em externas de conteúdas em continentes.
É extravagante o aspecto das tartarugas. Parecem animai obsoletos [1]), que a natureza se esqueceu de extinguir com os outro répteis, que povoaram os mares nos tempos ante-diluvianos, e tive ram por jazigo comum os velhos terrenos secundários. Como 1 judeu errante da lenda, escaparam à lei geral das espécies, e, perdidos os seus contemporâneos de cataclismo em cataclismo, chegara– até à época atual, para se arrastarem num mundo diversíssimo daquele a que sobreviveram atônitas e confusas, entre animais insólitos [2]) e plantas desconhecidas. Porque vivem ainda? Porque não! baixaram com os entes congêneres às catacumbas em que jazem sepultadas as faunas ::) primitivas do globo. Picariam vivas sôbre a terra para atestarem que êsses monstros singulares das antiga idades foram efetivamente animados, e se moviam e se nutriam ej propagavam como os animais de agora? Seriam privilegiadas com tão admirável isenção, para dizerem ao vulgo absorto que as criações paleozóicas[3]) dos naturalistas são mais que sonho ou fantasia, são a realidade.
t)e que lhes serve hoje a rija armadura? São bem fracos, em comparação dos antigos, os seus atuais inimigos, a quem outras espécies resistem sem serem couraçados. Não têm já que recear as fortes garras do megalosáurio 5), as maxilas monstruosas do pterodátilo [4]), ou os dentes penetrantes do iguanodonte ?)’. Pereceram essas alimárias nas grandes revoluções que mudaram’ a face do planeta, e de tôdas as castas de répteis [5]) marinhos salvou-se apenas a das tartarugas.
A. Felipe Simões.
Fonte: Seleta em Prosa e Verso dos melhores autores brasileiros e portugueses por Alfredo Clemente Pinto. (1883) 53ª edição. Livraria Selbach.
[1] Obsoletos — antigos; que desapareceram.
[2] Insólitos — que raras vêzes aparecem.
[3] Criações paleozóicas — animais que viveram em tempos remotíssimos.
[4] Pterodáctilo — espécie de lagarto fóssil que tinha os dedos reuni
dos por uma membrana.
[5] répteis. Veja a nota 2) à pág. 117.
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