D. DUARTE (1391-1438), segundo rei da dinastia de Avis, filho de D. João I. Seu reinado, pouco feliz, durou apenas os cinco últimos anos de sua idade. Inclinou-se às letras, e surge na Literatura lusitana como escritor judicioso, em cuja produção se mostram relevantes os pensamentos filosóficos e os ensinamentos morais. Suas obras principais, que mais do que o seu governo lhe fixaram o nome, são o Leal Conselheiro e o Livro da Ensinança de bem Cavalgar Toda a Sela, que se imprimiram pela primeira vez em 1842, pelo manuscrito da Biblioteca de Paris, e foram postos em um só volume. Mendes dos Remédios opina que a linguagem de D. Duarte "sofre, por vezes, confronto lisonjeiro com a do nosso primeiro cronista, F. Lopes".
Da Virtude da Prudência em Special (Séc. XV)
Sobre o que perteence aa virtude da prudência, a mym parece que nom convém a persoas, que virtuosamente desejom vyver, creerse per seus coraçoões em qualquer estado por as grandes mudanças de seus sentimentos, porque huü promete que he abastante jejüar tempo muy perlongado fora de geeral custume, e outro nom quer dar lugar que aguarde o comer ataa véspera sem tam grande pena que mostra nom scer pera soportar, e semelhante faz nas pellejas, obras, despezas, trabalhos do entender e do corpo, e as cousas contrairás de grande conta muytas vezes soporta muy vallentemente e outras assas pequenas fora de rezom o derrubam; e portanto cada huü consiire suas obras que ja praticou e as que fazem seus semelhantes e assy veja o que pode fazer, e sobre tal fundamento se afirme, nom se atrevendo sandiamente por a largueza do seu coraçom, nem se aperte, recee, ou apreguyce por sua fraqueza e deleixa-mento, porque grande fundamento he da muy perfeita prudência nom se reger per seus desejos e paixoões, mas per aquello que nosso boo entender demonstra, ou per suficientes pessoas, quando convém, nos he conselhado.
E diz no livro do regymento dos Pryncypes, que por tres cousas perteece aos Rex e Senhores seer prudentes. Hüa he por seerem verdadeiros regedores, e saberm a fym pela qual devem reger e guyar seu poboo, ca nom o sabendo nom poderiam reger avondosamente, e seriam semelhantes aaquel que tem o arco e haprestes para tirar, o qual nom veendo o synal nom tiraria direitamente. Porem diz Aristotilles no livro sexto da moral fillosofia: Aquelies som prudentes que sanem reger sy e outros pera fym convynhavel; e pois que a fym he dos Rex seerem regedores, e esto elles nom podem fazer sem prudência, necessariamente lhes convém seer prudentes; e em outra guysa seriam chamados Rex e Senhores, e nom o seriam verdadeiramente, semelhantes aos dynheiros dos contadores, que representam grande vallor, e per sy valem muy pouco. Outra cousa per que os Senhores devem seer prudentes he, por quanto aquelies que prudência nom ham ligeiramente poeram sua bemaventurança nas riquezas, deleitos, e prazeres corporaaes. e leixarom as bondades das virtudes, e todo seu bem sera âver avondança de bées dos sentidos, e pera comprir seu apetito fazerseam tiranos e rou-badores do poboo. A terceira cousa que deve os Senhores demover a seer prudentes, he por seerem naturaaes Senhores e regedores; ca diz Aristotilles no primeiro livro da policia: Aquel que defallece no entendimento, e nom sabe reger sy mesmo, he naturalmente servo; aquel que tem prudência, e sabe reger sy e os outros, naturalmente he Senhor. E esto nom somente he verdade por o dizerem os fillosofos, mas ainda consiirando os regymentos naturaaes veemos os homees seer Senhores das feeras por sua prudência, e as molheres seer sogeitas aos baroões, porque fallecem em prudência, e os moços naturalmente devem obedecer aos velhos, que ham mayor speriencia, das cousas e som mais prudentes.
(Leal Conselheiro, ed. de J. J. Roquette, Paris, 1854. cap. LI. pp. 288-290).
Bem Cavalgar (Séc. XV)
Em nome de Nosso Senhor Jhã Xpo, com sua graça, e dá Virgem Maria sua muy sancta Madre Nossa Senhora, Começasse o livro da ensynança de bem cavalgar toda sella, que fez El Rei Dom Eduarte de Portugal e do Algarve, Senhor de Cepta, o qual começou seendo Infante.
Aos que dizem que esta manha [de bem cavalgar toda sela] sem livro se deprende, digo que he verdade; mas entendo que a moor parte de todos acharam grande vantagem em leerem bem todo esto que screvo. E porque nom sey outro que sobrello geeralmente screvesse, me praz de poer esta sciencya primeiro em scripto, e antremetí algüas cousas que pertencem a nossos costumes, ainda que tam a propósito nam venham, por fazer a algüus proveito, posto que a outras pareça sobejo. E conhecendo que o saber dos senhores, segundo razom, em hüa soo manha, nom pode seer muyto avantajado, por certo he que a virtude espalhada he mais fraca que se for ajuntada; mas por averem conversassom com muytas pessoas destados e saberes desvairados de mais cousas que outros, avendo entender natural, razoadamente devem saber. Porem a vontade me requere que algüas ouvy, e per mym entendo que screva por se delias a meu juyzo poderem filhar boos avysamentos sem nenhüa perda.
E os que esto quiserem bem aprender, leamno de começo, pouco, passo, e bem apontado, tornando algüas vezes ao que ja leerom pera o saberem melhor; ca se o leerem ryjo, e muyto juntamente, como livro destorias, logo desprazerá, e se enfadaram dei, por o nom poderem também entender nem renembrar, porque regra geeral he, que desta guisa se devem leer todollos livros d’algüa sciencia ou ensynança.
(Livro de Ensynança de Bem Cavalgar Toda Sela, apud Mendes dos Remédios, Hist. da Literat. Port., p. 112).
Seleção e Notas de Fausto Barreto e Carlos de Laet. Fonte: Antologia nacional, Livraria Francisco Alves.
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