MÁXIMAS DE EPICTETO
Tradução de Alberto Denis
Compilação da 1ª Edição da
GRÁFICA E EDITORA EDIGRAF LTDA.
São Paulo, Brasil Col. Biblioteca de Autores Célebres
Material enviado por Tiago Tomasi
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140
Não há nada tão
freqüente como ver poderosos que julgam saber tudo, e nada sabem, ignorando até
as verdades mais necessárias. Como nascem na abastança e não sentem necessidade
nenhuma, não suspeitam de que lhes possa faltar alguma coisa. Dizia eu assim,
uma tarde, a um dos mais considerados: – Estais perto do Príncipe, possuís
grande quantidade de administradores poderosos e grandes alianças; por meio do
vosso crédito podeis servir aos amigos e destruir os invejosos. – Que me
falta, pois? perguntou-me. – O mais importante e necessário à verdadeira
felicidade; até aqui, fizestes o contrário do que vos convém, descuidando o
principal. Não sabeis o que são os deuses, nem o que é o homem; ignorais a
natureza do bem e do mal, e, o que vos surpreenderá mais que tudo, vós próprio
vos desconheceis. Ah, fugis e vos encolerizais pelo que vos manifesto com esta
franqueza! Que mal vos fiz? Somente vos apresentei o espelho em que viste a
vossa imagem.
141
Nada se dá sem
recompensa. Pretendes um Consulado? Terás de intrigar, pedir, rogar, beijar a
mão deste, daquele, bater-lhe à porta, praticar mil baixezas e mil
indignidades, enviar todos os dias novos presentes. E que é ser cônsul? Levar à
frente doze feixes de varas, sentar-se três ou quatro vezes num Tribunal, dar
jogos e festins ao povo; eis tudo. E para estar livre de paixões e de cuidados,
para ser constante e magnânimo, para poder dormir de noite e velar de dia, para
não ter angústias nem temores, não queres dar nada, nem ter nenhum trabalho?
Julga tu próprio o teu procedimento.
142
Foste preferido
num festim, num conselho, numa visita. Se são bens as preferências de que és
alvo, devera alegrar-te recaírem elas sobre o próximo, e se são males, não te
aflijas, por te não veres livre deles; mas lembra-te de que não pode caber-te
deles a mesma participação que cabe aos que lidam por adquirir o que deles não
depende. Quem nunca bate à porta de um grande senhor não pode ser tão bem
tratado como o que lá vai todos os dias; quem o não acompanha quando sai, como
o que lhe fica sempre ao lado; quem o não adula nem tampouco o lisonjeia, como
o que outra ocupação não conhece. Portanto, és injusto e insaciável, se, não
dando as coisas com as quais se compram os favores, os queres obter
gratuitamente. Por que preço vendem os legumes no mercado? Por um óbulo. Se,
pois, der o teu vizinho um óbulo e levar o seu legume, ao passo que tu, sem dar
o óbulo, sem o legume regressas, não imagines ser por isso menos afortunado,
pois se ele tem legume, tens tu óbulo, já que o não entregaste. O mesmo sucede
neste caso: não foste convidado a um festim? Tampouco deste ao hóspede o preço
pelo qual o vende; esse preço é um elogio, uma visita, uma complacência, uma
subordinação; dá, pois, o preço, se a coisa te agrada, mas não queiras, sem
ele, adquirir a mercadoria. No resto, não sintas pesar se não tens assento no
festim, desde que tenhas conseguido conservar o que é superiormente estimável,
como a independência e o direito de exprimir livremente os teus sentimentos.
143
Sê firme na
prática de todas estas máximas, e observa-as, pois devem ser para ti leis
invioláveis, e não te preocupe a maledicência, pois ela não figura no número
das coisas que de ti dependem.
144
Quando acusas a
Providência, sabe que em ti próprio está a sua justificação. Em que possui o
mau vantagem sobre ti? Na riqueza? Examina-lhe o interior, e dize se te não
envergonharia a vida que ele observa. Há dias, exprimi esse pensamento a um
homem a quem envergonhava a prosperidade de Filostorcos. Disse-lhe eu: –
Venderias os teus favores a Sura? – Não o queiram os deuses, respondeu-me, preferiria, e com prazer, perdem vida. Por que, então, te envergonhas de
uma dita que tem o seu preço? Por que o achas ditoso ao possuir coisas que
detestas? Em que te maltratou a Providência dando-te o que de melhor possui?
Não te queixes; a sabedoria é mais preciosa que as riquezas, e a humildade mais
que a ambição.
145
Não podes ser um
Hércules, nem tampouco um Teseu, para limpar de monstros a terra; mas podes
imitá-los, atirando para longe de ti os monstros que te assediam. Em vez de
Procusto e de Círon, doma a violência da dor, o medo, a concupiscência, a
inveja, a avareza, a preguiça e a intemperança. O único meio de vencer tais
monstros é ter sempre diante dos olhos os deuses, ser-lhes devoto e obedecer
apenas aos seus preceitos.
146
Desejas muitas
coisas e, entretanto, se desejasses menos, as conseguirias. És semelhante à
criança que, desejando colher as frutas metidas num vaso de estreita abertura,
nela introduzisse a mão e pretendesse tirá-la cheia. A ambição desmedida só
pode frutificar em lágrimas.
147
Não é raciocinar
prudentemente dizer: – Sou mais rico do que tu, logo sou melhor; sou mais
eloqüente, logo valho mais. – Para raciocinar consequentemente, é preciso
dizer: Sou mais rico do que tu, logo o meu bem atual é maior; sou mais
eloqüente, logo a minha eloquência vale mais do que a tua.
148
Quando se atiram à
população figos e avelãs, os meninos se espancam para colhê-los, mas os homens
não dão a eles a menor importância. Distribuem-se governos de província: são
frutas para os meninos; honras, consulados, são para mim figos e avelãs. Se,
por acaso, tomba um deles na minha túnica, pego-o e como-o. É tudo quanto vale;
mas não me curvarei para pegá-lo, nem muito menos pisarei o próximo.
149
Os deuses me
abandonam na pobreza, na miséria, no cativeiro. Não é por cólera que por mim
experimentem, porque não há quem se encolerize com um fiel servidor; não é por
descuido, porque não descuidam a menor coisa. Querem provar-me, querem ver se
tem em mim um bom soldado, um bom cidadão; querem, enfim, que lhes sirva de
testemunho vivo no seio dos demais homens.
150
Até quando
diferirás julgar-te digno de grandes feitos e por-te em estado de jamais ferir
a reta razão? Recebeste os preceitos aos quais deverias dar o teu consentimento.
Deste-o. Por que, pois, postergar a emenda? Não és uma criança, e sim homem
feito. Se te descuidares, se te distraíres, se abrigares resolução e mais
resolução, se todos os dias assinalares um novo em que haverás de prestar
atenção a ti próprio, sucederá finalmente que, sem o perceberes, não terás
realizado nenhum progresso, e perseverarás eternamente na ignorância. Valor,
portanto; julga-te digno, desde hoje, de viver como homem, e como homem que já
realizou alguns progressos na sabedoria; que tudo quanto se te afigure bom e
belo seja para ti lei inviolável. Se se te oferecer algo de penoso ou
agradável, de glorioso ou vergonhoso, lembra-te de que a luta está aberta, que
os jogos olímpicos te chamam, que não convém postergar, e sim, pelo contrário,
levar a caba, e enfim que, de um momento a outro de um único ato de valor ou de
covardia depende a tua salvação ou a tua perda. Não foi de outro modo que
logrou Sócrates chegar à perfeição fazendo com que todas as coisas servissem ao
seu fim, e seguindo constantemente a razão. Quanto a ti, embora não sejas
Sócrates, deves viver como se tivesses de o ser um dia.
151
Se nasceste de
pais nobres, persuadido da tua nobreza, não deixas de tê-la constantemente
diante dos olhos, e de com ela aturdir todos. Mas tens a divindade por pai, ela
se manifesta em volta de ti, e esqueces-te dessa nobreza e ignoras de onde
vieste, e a marca que trazes na testa. Eis aquilo de que deverás lembrar-te em
todos os atos da tua vida. Pensa a todo instante: foi a divindade que me criou;
está em volta de mim, em mim próprio a levo por toda parte. Por que ofendê-la
com pensamentos obscenos, baixas e impuras ações e infames desejos?
152
Se os deuses te
houvessem incumbido da guarda de uma pupila, cuidarias dela e não permitirias
se perdesse tão valioso depósito. Mas confiaram-te a guarda de ti próprio.
Disseram-te: não julgamos poder colocar-te em mãos de tutor mais fiel, mais
afetuoso; guarda-nos este filho tal qual é por natureza; conserva-no-lo cheio
de pudor, de fidelidade, de magnanimidade, de valor, isento de paixões. E tu te
descuidas. Haverá maior crime?
153
Terias escrúpulo
em cometer atos desonestos diante de uma estátua ou de uma imagem dos deuses;
não obstante, vêem-te, ouvem-te, e não coras ao abrigar em sua presença
pensamentos obscenos, que os ferem, que os desonram, que os afligem. Oh,
inimigo dos deuses! Oh, covarde, que te esqueceste da tua natureza!
154
Se fosses uma
estátua de Fídias, a sua Minerva, ou o seu Júpiter, e tivesses consciência do
teu estado, cuidarias, lembrando-te do obreiro que te dera a forma, de nada
fazer que fosse indigno dele e de ti, e por nada no mundo quererias aparecer
num estado indecente que desonrasse a tua beleza; mas, sem te inquietares
absolutamente com aquele em que apareceres diante dos deuses, desonras a mão
que te formou. Que diferença, entretanto, entre obreiro e obreiro, obra e obra!
155
Quando fizeres
alguma coisa depois de saberes a fundo que é o teu dever, não evites, ao
fazê-la, ser visto, ainda que o vulgo forme de ti falsos juízos; porque se a
ação é má, não deves realizá-la; e se é boa, não deve importar-te a condenem os
maus.
156
Quis certa matrona
romana enviar uma grande quantia em prata a um dos seus amigos, chamado
Grátila, desterrado por Domiciano; disse-lhe alguém que o imperador se
apoderaria da quantia e a confiscaria. – Não importa, respondeu ela. Prefiro,
a não enviá-la, que Domiciano a roube.
157
Qual é o varão
invencível? Aquele que, imóvel no seu lugar, não se preocupa com as coisas que
não dependem da sua vontade; considero-o um verdadeiro atleta. Sustentou um
combate. Sustentará o segundo? Resistiu ao dinheiro. Resistirá à beleza? Venceu
em pleno dia, no meio do mundo. Vencerá, sozinho, durante a noite? Triunfará da
glória, da calúnia, da adulação, da morte? Dominará todos os incômodos e todas
as tristezas? Numa palavra, será vitorioso até em sonhos? Vê o atleta que eu
procuro.
158
Hércules houvera
sido Hércules sem os leões, tigres, os monstros, os bandidos e demais seres de
que livrou a terra? Sem tais monstros, de que lhe teriam servido os musculosos
braços, a força e a coragem, a paciência invencível e as demais qualidades?
159
Evita o juramento
em tudo e por tudo; se não, sempre que o permitam as circunstâncias.
160
Um pede o Tribunato;
outro a chefia dos exércitos; eu o pudor e a modéstia, porque sou livre e amigo
dos deuses e lhes obedeço de todo o coração. É, pois, necessário que não dê
importância ao corpo, à riqueza, às dignidades, à reputação, nem a qualquer
coisa estranha, porque não querem os deuses que eu lhes dê importância. Se o
tivessem querido, houveram feito com que fossem bons para mim; mas, visto que
assim não procederam, não são evidentemente bons, e obedeço às ordens deles.
161
A primeira coisa
que é mister aprender é que existe um Deus que a tudo governa com a sua
providência e a não podem estar ocultos nem os nossos atos, nem os nossos
pensamentos e vontades. Logo, é necessário examinar-lhe a natureza. Uma vez bem
determinada e conhecida a sua natureza, é preciso que os que pretendem
agradar-lhe e oferecer-lhe, se esforcem por parecer-se a Ele; que sejam livres,
fiéis, benévolos, misericordiosos, magnânimos. Todos os teus pensamentos, todas
as tuas palavras, todos os teus atos sejam, pois, atos, palavras e pensamentos
de homem que imita a Deus e com Ele procura ter alguma semelhança.
162
Ensinam os
filósofos que o homem é livre. Ensinam, por conseguinte, a menosprezar a
autoridade do imperador? Não. Nenhum filósofo ensina os discípulos a revoltar-se
contra o seu Príncipe, nem a subtrair à autoridade dele nada do que lhe está
submetido. Tomai, eis o meu corpo, os meus bens, a minha reputação, minha
família; entrego-vo-los; e se achardes que ensino alguém a retê-los, matai-me;
sou um rebelde. Não é isso o que ensino aos homens; ensino-lhes apenas a
conservar a independência das suas opiniões, de que os fez donos exclusivos a
Divindade.
163
Sabei que o
principal fundamento da Religião consiste em crer que existem os deuses, que
estendem a sua providência sobre tudo quanto existe, que governam o Universo
com perfeição e justiça, que o homem está no mundo para lhes obedecer, para
admitir de bom grado tudo o que deles provenha, e prestar a sua aquiescência às
coisas que deles procedem, como de Providência boa e sábia. Desse modo, jamais
te queixarás dos deuses nem tampouco os acusarás de te haverem esquecido. Mas
tais sentimentos não podes adquiri-los sem renunciar a tudo quanto de ti não
depende, e fazendo consistir os teus bens e os teus males no que depende da tua
vontade; porque se tomas por bem ou por mal uma coisa estranha, é absolutamente
necessário que, uma vez que se te frustrem os desejos ou que caias no que
temes, te encolerizes e acuses a causa dos teus males; porque todo animal
nasceu para detestar e fugir de tudo o que lhe parece mau e prejudicial, assim
como para buscar e querer tudo o que lhe parece útil e bom. É, pois, impossível
que quem julga ser lastimado se mostre agradável a quem o fere; donde se segue
que ninguém se regozija no seu mal. Por isso, o filho cobre de censuras e,
talvez, de injúrias o pai, quando o não faz participar dos seus bens; por isso,
tornaram-se inimigos irreconciliáveis Etéoclo e Polinice, que consideravam o
Trono um grande bem; por isso, o lavrador, o piloto, o mercador, chegam a
maldizer os deuses, e por isso, finalmente, se ouvem as queixas dos que perdem
mulheres e filhos; porque, onde está a utilidade, está a piedade. Todo homem
que cuida de ajustar desejos e aversões, segundo as regras prescritas, cuida de
conservar e aumentar a sua piedade; nas suas libações, nos seus sacrifícios e
nas suas oferendas, cada qual deve seguir o costume do seu país e realizá-los
com pureza, sem ostentação, sem negligência, sem irreverência, sem mesquinhez,
e, por fim, sem suntuosidade que lhe exceda as forças.
164
Não sejas, mortal,
ingrato aos bens que recebeste dos deuses, e não te esqueças dos seus grandes
benefícios. Dá-lhes constantemente graças pela vista, pelo ouvido que te
concederam – que digo! – pela própria vida e por todos os auxílios que te
prestaram para sustentá-la; pelos próprios frutos da terra. Ao mesmo tempo,
porém, lembra-te de que te deram algo de mais precioso ainda, a faculdade que,
servindo-se de todas as coisas, as analisa e a cada uma atribui o seu valor.
165
Tendo sido Galba
morto, disse alguém a Rufo: – Atualmente, a Providência toma parte nas
coisas do mundo. – Desgraçado, respondeu-lhe Rufo, julgas, por acaso,
que Galba alguma vez logrou impedi-lo?
166
Se o Príncipe te
houvesse adotado, terias insuportável orgulho. Mas esqueces a Divindade, à qual
tanto deves.
167
Se obrássemos com
bom juízo, não faríamos outra coisa na vida pública e particular senão dar
graças à Providência por todos os bens que dela recebemos. Lavrando, comendo,
passeando, levantando-nos e deitando-nos, diríamos: – A Providência é
grande! Tudo repercutiria o eco destas divinas palavras: A Providência é
grande! Mas sois ingratos e cegos; é preciso, pois, que o diga eu por vós,
e que, velho, coxo, pobre e enfermo, repita sem cessar: Como é grande a
Providência!
168
Se eu fosse
rouxinol ou cisne, faria o que deve fazer o cisne ou o rouxinol; mas sou homem,
e tenho por patrimônio a razão. Que devo fazer? Louvar a Divindade. É o que
farei a vida toda, e exorto todos os homens a fazer o mesmo que eu.
169
Os soldados que se
alistam nas tropas de César prestam o juramento costumeiro. Qual é esse
juramento? Que preferirão o bem do imperador a todas as coisas, que lhe
obedecerão em tudo, que se exporão à morte por ele. Tu, que estás ligado à
Divindade pelo teu nascimento, e por tantos benefícios que dela recebeste, tu
que nasceste nas suas tropas, não farás análogo juramento? E, uma vez feito,
não lhe serás fiel? Que diferença, contudo, entre os dois juramentos! O soldado
jura que preferirá a salvação do imperador a todas as coisas, e tu juras que
preferirás a todas as coisas a tua própria salvação.
170
– Como poderei
persuadir-me, disse alguém a Epicteto, de que todas as minhas ações são
vistas pela Divindade, sem que uma só passe inadvertida? Respondeu-lhe
Epicteto: – Não estás persuadido de que todas as coisas do mundo estão
entrelaçadas? – É claro. Não estás persuadido de que as coisas terrenas
são reguladas pelas celestiais? – Estou. Com efeito, vês que todas as
coisas da natureza sucedem em tempos assinalados, como, por exemplo, as
estações. Ao nascer e ao pôr do sol, quando a lua cresce e mingua, a face da
natureza muda. Pois se todas as coisas deste mundo miserável, se os nossos
próprios corpos estão ligados e tão unidos ao todo, como podes imaginar que a
nossa alma, muito mais divina que todo o universo, seja a única isolada e não
esteja unida à Divindade que a criou? – Mas, como pode ela ver ao mesmo
tempo tantas coisas tão diversas e distantes? – Pobre cego, quantas
operações diferentes não realiza de uma só vez o teu entendimento, embora tenha
tão estreitos limites? Abraça as coisas divinas e humanas; raciocina, divide,
julga, consente, nega. Quantas imagens diferentes, quantas idéias contrárias
não encerra? O sol ilumina ao mesmo tempo a maior parte do mundo; o que se
oculta aos seus raios é apenas uma parte da terra; e Aquele que fez o sol, que,
por imenso que seja, não é mais do que um ponto no enorme universo, não iluminará
a terra inteira? – Mas o meu entendimento não faz as suas operações senão
sucessivamente, e não pode considerar os objetos senão um depois do outro. – Quem
te disse que o teu entendimento é tão extenso como a própria Divindade?
Considera, verme que és, quantos objetos diferentes abraça de uma só vez o
olho, que é tão pequeno. Tudo o que o horizonte encerra se apresenta
simultaneamente à vista. Que poderá escapar à vista de quem fez o olho?
171
Os deuses não me
deram multidão de bens; não quiseram que eu nade na opulência, nem tampouco que
me entregue aos prazeres; mas de que me queixo? Não trataram melhor Hércules,
que tantos feitos realizou em honra deles.
172
Quando consultamos
os áugures, é tremendo e dirigindo aos deuses ardentes preces. – Deuses,
tende piedade de mim, permiti que me livre felizmente deste ou daquele cuidado,
– Vil escravo! Queres outra coisa que a que te convém? Que pode convir-te
mais que fazer a vontade dos deuses? Por que, pois, tentas corromper o teu
árbitro e o teu juiz, enquanto pedes?
173
Por que consultar
os adivinhos acerca das coisas em que o nosso dever está marcado? Se se trata
de expor-me a um perigo pelo meu amigo, devo morrer por ele; que necessidade
tenho de adivinho? Não possuo dentro de mim próprio um adivinho mais seguro e
incapaz de enganar-me, que me ensinou a natureza do bem e do mal, e que me
explicou todos os sinais pelos quais os devo reconhecer?
174
A fraqueza do
homem pelos oráculos e adivinhações procede da sua timidez. Teme os sucessos, e
é por isso que tem pelos adivinhos inexplicável complacência; fá-los árbitros e
juizes de todos os seus assuntos, confia-lhes tudo quanto tem, e se lhe
predizem algo de bom, os gratifica, como se lho estivessem dando. Que cegueira!
Se fôssemos prudentes, consultaríamos os adivinhos do mesmo modo pelo qual
perguntamos pela direção numa jornada, sem nos importar que seja para a
esquerda ou para a direita que devemos passar. Porque, que é consultar os
adivinhos? Indagar a vontade dos deuses para realizá-la. Deveríamos, pois,
servir-nos dos oráculos como dos olhos, aos quais não tentamos fazer ver estes
ou aqueles objetos, deixando, pelo contrário, que nos mostrem o que vêem.
Façamos o mesmo com os adivinhos; não lhes supliquemos, e limitemo-nos a fazer
o que nos mandarem.
175
Acusar os demais
das próprias desditas é coisa de ignorante; acusar apenas a si próprio é coisa
de homem que começa a instruir-se; não acusar nem a si próprio nem aos outros é
coisa de homem já instruído.
176
Quando fores
consultar o adivinho, lembra-te de que ignoras o que deve suceder, e que vais
sabê-lo. Mas lembra-te ao mesmo tempo que, se fores filósofo, vais consultá-lo,
muito bem sabendo de que natureza é o que deve suceder; porque se for coisa que
de nós não dependa não poderá ser seguramente nem um bem nem um mal para ti.
Não leves, pois, contigo, ao adivinho, inclinação ou aversão por coisa nenhuma;
de outro modo, tremerás sempre; persuade-te, pelo contrário, e convence-te de
que tudo quanto suceder será indiferente, não te dirá respeito, e que de
qualquer natureza que seja, de ti depende fazer dele bom uso, sem que ninguém
consiga impedir-to. Vai, pois, com confiança, como quem se aproxima de deuses
que se dignam aconselhar e, ademais, quando te houverem sido dados alguns
conselhos, lembra-te do que são os conselheiros aos quais recorreste, e que a
tua desobediência será menosprezo das suas ordens. Não vás ao oráculo se não
como Sócrates queria se fosse, isto é, não vás senão para as coisas que só podem
ser conhecidas pelo acaso, e não podem ser previstas nem pela razão nem pelas
regras de qualquer arte. Assim, quando se te deparar oportunidade de te expores
a grandes perigos pelo amigo ou pela pátria, não vás consultar o adivinho se
tiveres de fazê-lo, porque se te declarar que são más as entranhas das vítimas,
serás evidente que o sinal te pressagia a morte, os ferimentos ou o desterro;
afirma-te, porém, a razão, em que pese a todas essas coisas, que deves socorrer
o amigo e expor-te pela pátria. Apolo Pitiano atirava para fora do seu templo
quem, vendo em perigo de morte o amigo, o não ajudava.
177
Só cortejo os
poderosos. Mas é esse o teu destino? De mim sei dizer que não nasci para
tal coisa. Não tenho a quem comprazer, obedecer e submeter-me? Tenho os deuses,
nos quais está o verdadeiro poder.
178
Quando tiveres de
conversar com alguém, sobretudo se se tratar de um dos principais da cidade,
imagina o que houvera feito Sócrates ou Zeno em tal entrevista. Desse modo, não
terás o menor embaraço em cumprir o dever e valer-te convenientemente de tudo
quanto puder deparar-se-te.
179
Supondo que
homem livre é aquele a quem tudo sucede como deseja, disse-me um louco, quero
que me suceda tudo quanto me aprouver. Meu amigo, jamais andam juntas a
loucura e a liberdade. A liberdade não é uma coisa somente belíssima, senão
também racional, e não há nada mais absurdo nem mais irracional que desejar
temerariamente e pretender que as coisas se verifiquem do modo pelo qual as
pensamos. Quando tenho de escrever o nome próprio Díon, devo escrevê-lo
não como me agradaria, mas tal qual é, sem a mudança de uma única letra. Sucede
o mesmo em todas as artes e ciências. E queres que na maior e mais importante
de todas as coisas, como é a liberdade, impere o capricho e a imaginação? Não,
meu amigo, a liberdade consiste em querer que as coisas sucedam não como as
desejamos, mas como são.
180
Esperas ser feliz
uma vez que tenhas obtido o que solicitas. Enganas-te; terás as mesmas
inquietações, os mesmos cuidados, os mesmos aborrecimentos, os mesmos temores,
os mesmos desejos. A felicidade não consiste em adquirir e desfrutar do
adquirido, mas em não desejar, porque consiste em ser livre.
181
Os deuses me deram
a liberdade, e não desconheço os mandamentos. Por conseguinte, ninguém logrará
reduzir-me à escravidão, porque tenho o libertador que me falta e os juizes dos
quais careço.
182
Um dia, perguntava
Floro a Agripino: – Devo ir ao teatro com Nero? – Vai, respondeu
Agripino. – E tu, retrucou Floro, por que não nos acompanhas? – Porque
não sei calar-me.
183
Estava muito bem
gravada no coração de Prisco Helvídio essa máxima, e ele soube pô-la nobremente
em prática. Um dia, ordenou-lhe Vespasiano que não fosse ao Senado. – Tem
Vespasiano o poder de afastar-me do meu cargo, respondeu Helvídio, mas
enquanto eu for senador, irei ao Senado. – Se vieres, disse-lhe o Príncipe,
virás somente para calar-te. – Não me peças conselho, respondeu
Helvídio, e eu me calarei. Mas se estiveres presente, retrucou o
Príncipe, não poderei deixar de pedir-te conselho. – E eu, disse
Helvídio, dir-te-ei o que me parecer justo. – Se o disseres, far-te-ei
morrer. Quando te assegurei que eu era imortal? replicou Helvídio. Ambos
faremos o que de nós depender; tu me farás morrer, e eu, sem queixa, me
submeterei à morte. Que lucrou com isso Helvídio, sendo o único que se
colocava em tal situação? O mesmo que a púrpura sobre a túnica; orna-a,
embeleza-a, e causa aos outros inveja e desejos de possuir uma semelhante.
184
– Foste
condenado ao desterro. Mas haverá lugar fora do mundo para o qual eu possa
ser enviado? Para onde quer que eu vá, não terei céu, sol, lua e estrelas? Não
terei sonhos e agouros? Não poderei manter comércio com os deuses?
185
Depois de todos os
prazeres de que desfrutavas na pátria, e que perdeste, subsiste o de pensar que
obedeces aos deuses e cumpras, real e efetivamente, o dever do homem bom e
sábio. Grande prazer é poderes dizer a ti próprio: a estas horas semeiam os
filósofos grandes coisas nas escolas, explicam todos os deveres do homem de
bem, e eu os pratico. O que ensinam são as minhas virtudes: fazem o meu
panegírico, sem o saber, porque realizei o que louvam e propagam.
186
Lembra-te de que
não é quem te injuria, nem quem te fere, quem te maltrata, senão a opinião que
deles tens e que te faz encará-los como inimigos. Quando alguém se encoleriza e
irrita, sabe que não é esse homem que te irrita, senão a opinião que tens das
coisas. Trata, pois, de impedir que a imaginação te vença, porque se alguma vez
o consegues, podes chegar a ser mais facilmente senhor de ti próprio.
187
Para amar, devem
colocar-se no mesmo lugar a santidade, a honestidade, a utilidade, a pátria, os
pais, os amigos e a própria justiça. Se se separam, não há amizade; se o que é
meu, ou seja, o meu interesse está com a honestidade e a justiça, sou bom
amigo, bom pai, bom filho, bom marido; mas se de um lado está o meu interesse e
de outro aquelas virtudes, não é possível a amizade, nem a existência dos
deveres mais santos e indispensáveis.
188
Um mestre de
ginástica me exercita, endurecendo-me o pescoço, os ombros, os braços e
ordenando-me provas penosas. – Levanta este peso com as duas mãos, diz-me. Quanto
maior o peso, mais se me fortificam os nervos. O mesmo é o homem que me
maltrata e injuria; exercita-me na paciência, na clemência, na mansidão,
exercício pelo menos tão útil como o primeiro.
189
Somente o sábio é
capaz de amizade. Como pode amar quem confunde o mal com o bem?
190
Os que se apegam à
moleza, à voluptuosidade ou à vanglória não podem estimar os homens. O único
amigo dos homens é aquele que ama a decência e a honestidade.
191
Quando alguém te
causa dano ou de ti fala mal, reflete que ele julga estar obrigado a tanto. Não
é possível que siga os teus juízos, senão os seus, de modo que, se julga mal, a
si apenas é que prejudica, porque somente ele se engana; assim, se alguém tacha
de falso um silogismo muito justo e racional, não é o silogismo que perde,
senão quem se engana julgando erradamente. Se te servires cuidadosamente dessa
regra, suportarás com paciência todo mal que de ti se diga, porque não deixarás
de afirmar do maldizente: – Diz isso, porque de boa fé o acredita.
192
– Não devo
vingar-me e devolver o mal que me fizeram? Meu amigo, não te fizeram o mal,
visto que mal e bem só dependem da tua vontade. Quanto ao resto, se um tolo
feriu a si próprio cometendo contra ti uma injustiça, por que pretendes
imitá-lo?
193
– Quando alguém te
repetir o mal que outro falou de ti, não te preocupes com refutar o que se
afirma, e responde simplesmente: – Quem assim falou de mim ignora, sem dúvida,
os meus outros vícios, pois de outro modo se não contentaria com afirmar tais
futilidades.
194
O varão prudente
aguarda sempre dos maus maior mal que o que deles recebe. Um semelhante me
injuria; dou graças por me não haver golpeado. Golpeia-me; dou graças por me
não haver ferido. Fere-me; dou graças por me não haver matado.
195
Quando chegar ao
teu conhecimento qualquer má notícia, lembra-te de que nada tem de ver contigo,
pois não diz respeito a nenhuma coisa das que estão em teu poder. – Acusa-se-me
de impiedade? Pois bem, Sócrates também não foi acusado? – Mas poderão
condenar-me. – Também Sócrates foi condenado. Lembra-te de que a pena não está
onde não está o erro; é impossível que estas duas coisas se separem. Não te
consideres, pois, desditoso. Quem, a teu ver, foi mais desditoso, Sócrates ou
aqueles que o condenaram? O mal não está em ser acusado como ímpio, senão em o
ser. Portanto, o perigo não é para ti, mas para os juizes, porque tu não podes,
de maneira nenhuma, morrer culpado, e eles podem fazer morrer um inocente.
196
Em que ocupação
desejas que a morte te surpreenda? Eu, por mim, quisera que me surpreendeste em
ato digno de homem, grande, generoso e útil ao gênero humano; ou melhor,
quisera que me surpreendesse ocupado em me corrigir, e atento a todos os meus
deveres, para em tal momento poder erguer ao céu as mãos, puras e limpas de
todo crime, e dizer aos deuses: todas as faculdades que de vós recebi para
conhecer a vossa providência e para lhe ser eternamente submetido foram por mim
observadas; até onde me chegaram as forças tratei de vos não desonrar. Vede o
uso que fiz dos sentidos, das faculdades. Jamais me queixei de vós; jamais, por
causa nenhuma me envergonharei da minha origem divina; nunca senti pesar pelo
que tive de fazer por vós, nem desejei trocar essa tarefa por outra. Não violei
as vossas ordens, e dou-vos graças por me haveres criado. Usei dos vossos bens,
na medida em que mo permitistes; quereis retirar-mos, eu vo-los devolvo, são
vossos, disponde deles como vos aprouver. Eu próprio me coloco em vossas mãos.
197
Entristece-te ter
que abandonar lugares tão belos; lamentas-te, choras. És, pois, mais desgraçado
que os corvos e gralhas, que mudam de clima e passam os mares sem gemer e sem
saudades do páramos que abandonam. – Mas esses animais carecem de razão. – Não
te deram os deuses a razão para algo melhor que para te fazeres mísero?
Pretendes que os homens sejam como as árvores, sujeitas pelas raízes e
impossibilitadas de mover-se? – Entristece-me deixar os amigos. – Ora, o
mundo está repleto de amigos e de protetores; todos os homens estão unidos pela
natureza. Ulisses, que tanto viajou, não encontrou amigos? Não os encontrou
Hércules?
198
Esforça-te para
que te não turve a idéia de ser menosprezado e de nada ser no mundo; porque se
o menosprezo é um mal, não podes cair no mal por intermédio de outro, nem
tampouco no vício. Depende de ti desempenhar os principais cargos? Está em tuas
mãos seres convidado, ou não, a um festim? De maneira nenhuma; como, pois, há
de ser isso para ti menosprezo ou desonra? De que modo deixarás de ser alguma
coisa no mundo, quando, se és alguma coisa, sê-lo de ti é que depende? – Mas
os meus amigos carecerão, por minha parte, de todo socorro. – Que queres
dizer? Queres, acaso, manifestar que não poderás dar-lhes dinheiro nem fazê-los
cidadãos romanos? Quem te disse que tais coisas pertencem ao número das que de
ti dependem, e como podemos dar aos outros o que nós próprios não possuímos?
Procura o teu bem estar, dizem-te, para que nós participemos dele. Se puder
procurá-lo, conservando o pudor, a modéstia, a fidelidade, a magnanimidade,
mostrai-me o caminho por seguir para que eu chegue a ser rico, e sê-lo-ei; mas
se pretendeis que perca os meus verdadeiros bens, com o intuito de adquirirdes
vós os falsos, examinai a desigualdade da vossa balança e até onde vos leva a
vossa inconsideração e ingratidão. Preferis o dinheiro a um amigo prudente e
fiel? Não fora melhor ajudar-me a adquirir tais virtudes que exigir faça eu
coisas que mas fariam perder? – Mas dirás ainda: a minha pátria não receberá
de mim nenhum serviço. Que serviço? Não conseguirá, por teu intermédio,
pórticos nem termas? E que é isso? Certamente ninguém obtém calçados por meio
de um ferreiro, nem armas com o trabalho de um sapateiro; é preciso que cada
um, dentro da sua esfera, se dedique apenas ao seu trabalho. Mas se dás à tua
pátria um novo cidadão prudente, modesto e fiel, não lhe prestas assinalado
serviço? Certamente lhe prestarás um muito grande e não lhe serás, portanto,
inútil. Que posição ocuparei, portanto, na cidade? A que puderes lograr,
conservando-te fiel e modesto. Que serviço podes prestar à tua pátria, que
posição ocuparás na cidade, se chegares a perder essas virtudes?
199
Quando fores
visitar um varão poderoso, imagina que o não encontrarás em casa, que estarás
doente, que te será fechada a porta ou que te não dará a menor importância. Se
depois disso, o dever te obrigar a ir, suporta com resignação tudo quanto
suceda, e nunca digas que foste contrariado, porque tal linguagem só é própria
do vulgo ou daquele para quem possuem as coisas exteriores demasiado poder.
200
Supões que foi uma
grande desdita para Páris entrarem os gregos em Tróia, destruírem-na a sangue e
fogo ou matarem toda a família de Príamo e raptarem as mulheres. Enganas-te,
meu amigo. A grande desdita de Páris se realizou quando perdeu o pudor, a
fidelidade, a modéstia, e quando violou a hospitalidade. Igualmente, não
consistiu a desdita de Aquiles na morte de Patroclo, senão quando chorou e se
esqueceu de que não partira para a guerra em busca de amantes, e sim para
devolver a um marido a esposa.
201
Guarda-te de fazer
o papel de zombeteiro e de trocista, porque tal defeito te fará cair
insensivelmente nas maneiras baixas e grosseiras, e fará que percam os outros o
respeito e a consideração que por ti sentem.
202
Não é menos
prejudicial entregares-te a conversações obscenas. Quando te encontrares nessa
espécie de conversações, não deixes, se to permitir a ocasião, de repreender
quem estiver com a palavra; se não, guarda, ao menos silêncio, e dá a conhecer,
pelo rubor da face e pela severidade do olhar, que te não são agradáveis tais
conversações.
203
Nunca viste uma
feira a que acodem homens de todos os distritos? Uns vão vender, comprar
outros, e um pequeno número por curiosidade, unicamente para ver a feira e
saber porque se celebra e quem a estabeleceu. É a mesma coisa o mundo: todos os
homens estão nele, uns para vender, para comprar outros; pouquíssimos há que
admirem este grande espetáculo e examinem o que é, quem o fez, para que o fez e
como o governa, porque é impossível não seja feito e governado por alguém. Uma
cidade, uma casa, não existem sem obreiro, e se duram é porque alguém as
governa; máquina tão imensa e admirável não pode existir por puro acaso; é
impossível. Logo, existe alguém que a fez e a governa. Quem é e como a governa?
E nós, que também somos obra sua, que somos e por que somos? Pouquíssimos fazem
tais reflexões, e, após admirarem a obra e bendizerem o obreiro, se retiram
contentes. Se alguém as faz é alvo das chacotas dos outros, como na feira o são
os simples curiosos, a quem chamam tolos os mercadores. Se os bois e os
carneiros pudessem falar, certamente se ririam de todos os que pensassem noutra
coisa que não comer e ruminar.
204
Não te esqueças do
valor e da serenidade de Latrão. Tendo-lhe Nero enviado o seu liberto
Epafrodita, para interrogá-lo sobre a conspiração em que entrara, limitou-se a
responder ao liberto apenas isto: – Quando tiver o que dizer, di-lo-ei ao
teu amo. – Serás agrilhoado. – Achas que isso bastará para me entristecer?
– Irás para o desterro. – E que me impede ir alegremente, cheio de
esperança e de contentamento pelo meu novo estado? – Serás condenado à
morte. – Mas… é obrigatório morrer murmurando e gemendo? – Dize-me o
teu segredo. – Não o direi, porque isso depende de mim. – Carregar-te-ei
de ferros. – Que dizes, meu amigo? A mim é que ameaças carregar de ferros?
Duvido. Carregarás, sem dúvida, minhas pernas e meus braços; mas a minha
vontade será sempre livre e nem o próprio Júpiter ma poderá tirar. – Mandarei
agora mesmo que te cortem o pescoço. – Disse-te eu alguma vez que o meu
pescoço tem o privilégio de não poder ser cortado? As obras corresponderam
as palavras; levado Latrão ao suplício, foi o primeiro golpe do verdugo
demasiadamente fraco para lhe cortar a cabeça; Latrão ficou um instante
aturdido; mas imediatamente recobrou os sentidos e de novo apresentou o pescoço
com firmeza e constância.
205
Se nos
encontrássemos num calabouço e em vésperas de ser julgados por uma acusação
capital, poderíamos admitir o homem que nos perguntasse se não queríamos ouvir
um hino por ele composto? – Meu amigo, dir-lhe-íamos, por que vens
importunar-me em tão má ocasião? Tenho cuidados de muita importância. Não sabes
que devo ser julgado amanhã? Não tenho a serenidade de Sócrates, que compunha
hinos na véspera da morte.
206
Foi Agripino
modelo de homens contentes com a sorte. Anunciou-se-lhe que o Senado estava
reunido para o julgar. – Em boa hora! exclamou; vou preparar-me para o banho,
segundo o meu costume. – Apenas saiu do banho, disseram-lhe que fora condenado.
À morte, ou ao desterro? – Ao desterro. – Confiscaram-me os bens? – Não,
deixam-nos em teu poder. – Nesse caso, partamos, sem demora. Vamos comer no
lugar de desterro; comeremos tão bem como em Roma.
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