- As circunstâncias retiraram da virtude de Fócion uma parte da glória que merecia.
- As repúblicas são perigosas para se manejar na adversidade.
- Temperamento delicado, mas também difícil de encontrar quando necessariamente, em iguais circunstâncias.
- Austeridade excessiva de Catão.
- Porque Plutarco compara Fócion com Catão.
- Nascimento e caráter de Fócion.
- Diversas piadas de Fócion.
- Inícios de Fócion sob a orientação de Cábrias.
- Apego de Fócion por Cábrias.
- Fócion estuda igualmente a política e a guerra.
- Não adula nunca o povo.
- Bons ditos e sábias respostas de Fócion.
- Estima dos aliados dos atenienses por Fócion.
- Conquista uma vitória completa sobre a armada de Filipe em Eubéia.
- Os aliados de Atenas recusam receber em seus portos a frota comandada por Cares.
- Fócion é nomeado em seu lugar; seus sucessos.
- Torna os atenienses senhores da cidade de Megare.
- Aconselha os atenienses a assinar a paz com Filipe.
- É colocado à frente da república.
- Prudentes respostas de Fócion.
- Conselho de Fócion relativamente aos dez cidadãos que Alexandre solicitou lhe entregassem.
- Aconselha Alexandre a virar suas armas contra os persas.
- Recusa um presente considerável de Alexandre.
- Novas recusas de Fócion.
- Mulheres de Fócion.
- Conduz seu filho a Esparta para aí ser formado na disciplina dos lacedemônios.
- Conduta de Fócion com relação a Harpalo.
- Prudente conduta de Fócion diante da morte de Alexandre.
- O que pensava da guerra denominada Lamaica.
- Dá ordem para arrolar homens até sessenta anos.
- Derrota Micion.
- Vitória, e em seguida, derrota dos gregos confederados.
- Fócion é enviado na qualidade de embaixador diante de Antípatro e Crátero.
- Nova embaixada de Fócion.
- Os atenienses são obrigados a receber guarnição.
- Mais de doze mil atenienses são privados do direito de cidadania.
- Dureza e tirania de Antípatro.
- Sábia conduta de Fócion.
- Seu nobre desinteresse
- Morte de Demades e de seu filho.
- Fócion aconselha Nicanor a tratar os atenienses com brandura.
- Polisperco engana os atenienses por meio de cartas que lhes trazem sua liberdade.
- Nicanor empreende apoderar-se do Pireu.
- Fócion acusado de traição.
- Polisperco envia-o atado sobre uma carriola a Atenas.
- O povo condena-o à morte.
- Constância de Fócion.
- Um pobre homem chamado Conópio cumpre com os deveres fúnebres
- Arrependimento dos atenienses, honras restituídas a Fócion. Castigo de seus acusadores
- Notas
Plutarco Vidas Paraleas
FÓCION
Desde o terceiro ano da nonagésima-quarta Olimpíada, até o terceiro ano da centésima-décima-quinta; A. C. 318.
As circunstâncias retiraram da virtude de Fócion uma parte da glória que merecia.
O orador Demades desfrutou em certa época, de grande prestígio em Atenas porque dizia e fazia, quando se intrometia no governo, tudo o que julgava agradar e servir aos macedônios e a Antipas; para isto era constrangido, muitas vezes, a aconselhar e persuadir coisas deprimentes para a dignidade de sua terra e contrárias à vida normal da cidade, e depois, para se desculpar, não se cansava de dizer que deviam perdoá-lo se assim procedia, porque o que ele tinha a governar era, nada menos que os restos do naufrágio de seu país. Isto, ainda que seja dito um pouco crua e temeràriamente, poderia parecer verdadeiro, se se referisse à administração de Fócion; pois, para dizer a verdade, Demades era, ele mesmo, o náufrago de sua cidade, vivendo tão dissolutamente e conduzindo-se tão vergonhosamente em seu governo, que o próprio Antipas dizia dele, depois que ficou velho, que não era mais do que uma hóstia imolada à língua e ao ventre; mas a virtude de Fócion teve que combater ( 1) um poderoso e violento inimigo, como o tempo, que trouxe calamidades à Grécia e foram causa de não ter sido famosa nem celebrada como merecia; pois não se pode depositar fé nas palavras de Sófocles, que faz a virtude fraca, quando diz:
Nada (2) fica aos aflitos, Senhor, Mesmo o senso em boa hora.
Mas é preciso conceder que a sorte, quando lhe apraz opor-se aos homens virtuosos e às pessoas de bem, tem tanto poder, que em vez de receberem estas a honra e a graça que merecem, coloca sobre alguns deles falsas imputações e malignas calúnias que são motivos de não se crer mais em suas virtudes, tais como são.
As repúblicas são perigosas para se manejar na adversidade.
II. Todavia, parece a muitos que os povos livres são mais violentos e ultrajam mais seus bons cidadãos no tempo da prosperidade porque o feliz sucesso de seus negócios e o crescimento de seu poder lhes endurece o coração; mas não é isto. Ordinariamente, as adversidades tornam os homens despeitados, tristes e prontos a se encolerizar, e seu ouvido pouco disposto, áspero e ofendido a todo propósito e toda palavra dita claramente. Aquele que reprova aos que falham, parece propriamente lhes censurar suas desgraças e aquele que fala francamente parece caluniá-los. Pois tudo é assim como o mel, que é doce por natureza e, no entanto, produz dor, quando o aplicam nas úlceras ou nos ferimentos e partes inflamadas; também as admoestações sábias e verdadeiras mordem e irritam aqueles que se acham na desgraça, se não estão bem adocicadas. Eis porque o poeta Homero chama ao delicado, menoices, o que equivale a dizer: cedendo e obedecendo à parte da alma que está inchada de despeito e de raiva, não a resistindo nem a combatendo; nem mais, nem menos como o olho doente que, mais voluntariamente, olha as coisas sombrias, escuras e não reluzentes e foge daquelas que são vivas, alegres e brilhantes; também numa cidade, na qual os negócios não andam ao gosto dos cidadãos (3), o povo tem ouvidos delicados e medrosos, por causa de sua imbecilidade, para suportar pacientemente uma língua que diga a verdade livremente; então preferem, principalmente, ouvir aquilo que não lhes traz seu erro diante dos próprios olhos; portanto, é perigoso para os que governam, em todos os sentidos, pois perde com a coisa pública, aquele que adula; e também aquele que não adula.
Temperamento delicado, mas também difícil de encontrar quando necessariamente, em iguais circunstâncias.
III. Assim, portanto, como dizem os matemáticos, o sol não segue totalmente o curso do firmamento, nem também tem seu movimento oposto ou contrário, mas enviezando um pouco e caminhando por uma via oblíqua, traça uma linha torta, que não é muito violentamente estendida, mas vai girando delicadamente e, por sua obliqüidade, é causa da conservação de tudo, mantendo o mundo em boa temperatura. Também em matéria de governo, a severidade muito inflexível em todos os propósitos e em todas as coisas diante da vontade do povo, é muito dura e muito rude; também a facilidade de deixar cair no erro os que falham, porque vêem o povo afeiçoado e inclinado àquela parte, isto é um precipício muito escorregadio e muito perigoso. Mas a via do centro, em ceder algumas vezes para fazer obedecer em outra e ceder uma coisa agradável para pedir uma útil, é um meio salutar para bem reger e governar os homens, os quais se deixam por fim conduzir mansa e utilmente para executar o que é bom, quando não sujeitos, em tudo e por tudo, em elevada luta nem por uma violenta e senhorial autoridade. É bem verdade que esse meio é muito desagradável e difícil, porque nele há majestade misturada com graciosidade; mas também quando estão misturadas juntas, não há harmonia tão musical, nem consonância tão bem afinada nem tão perfeita; também dizem ser este o estilo do deus da natureza no governo deste mundo, sem nada forçar, abrandando por admoestação e persuadindo pela razão, para constranger à obediência.
Austeridade excessiva de Catão.
IV. Esse defeito de austeridade tinha Catão, o Jovem, pois não possuía a natureza nem os costumes agradáveis a um povo, nem próprios para se fazer amar pela plebe; também não chegou a ter prestígio por ter adulado o povo. Eis porque Cícero diz que, governando, nem mais, nem menos como se estivesse na cidade e na coisa pública é que se forma Platão, e não na escória e no bagaço como foi Rómulo, o qual foi desviado (4) e falhou ao obter o consulado. É minha opinião que ele se parece propriamente com os frutos que vêm fora da estação, que são elogiados por todos mas não são aproveitados. Também a antiga inocência, há muito tempo havia caído do uso e vinha depois de tão longo intervalo mostrar-se entre as vidas corrompidas e os costumes estragados desse tempo; adquiriu-lhe uma grande glória e grande fama; no entanto não encontrou saída para a pôr em ação, nem era própria para empregar nos negócios, porque a gravidade e perfeição de sua virtude eram muito desproporcionadas à corrupção desse século.
Porque Plutarco compara Fócion com Catão.
V. Pois êle não veio intrometer-se no governo dos negócios já estando a república arruinada, como fêz Fócion, que aí chegou quando estava muito enfraquecida e agitada por grande tormenta; e não teve nunca o timão nem a autoridade de piloto na mão, mas tratou apenas de manejar as velas e cordagens, assistindo e secundando aos que tinham mais prestígio e poder do que ele; e no entanto ainda deu muito trabalho à sorte, a qual, tendo procurado arruinar e abolir a república, conseguiu afinal por meio de outros, mas foi com grande sacrifício, lenta e demoradamente, e ainda por pouco quase ficou por baixo, por causa de Catão e de sua virtude, à qual comparo aquela de Fócion, não que seja minha opinião de que tenham sido parecidos por semelhança geral e universal, mas quero dizer apenas que todos os dois foram pessoas de bem, todos os dois entendidos em matéria de situação e de governo; pois ainda há diferença de energia a energia, como entre aquela de Alcibíades e a de Epaminondas; e de prudência a prudência, como aquela de Temístocles para a de Aristides; e de justiça a justiça, como aquela de Numa à de Agesilau; mas as virtudes desses dois personagens mostram em tudo um mesmo traço, um mesmo molde, uma mesma tez e mesma cor impressas em seus costumes, até nas mínimas particularidades, tendo ambos possuído a austeridade quase em igual medida, juntamente com a brandura, a energia com a prudência, a vigilância temerosa pelos outros, com a segurança resoluta para eles mesmos, a fuga das coisas vergonhosas e zelo pela justiça, igualmente comuns aos dois, tanto que é preciso um bem sutil e hábil juízo como por um instrumento, para encontrar e saber discernir as diferenças.
Nascimento e caráter de Fócion.
VI. Ora, quanto a Catão, é coisa confessada por todos, que era de casa grande e nobre, como diremos mais adiante em sua vida; quanto a Fócion, conjeturo que não tenha saído de lugar baixo nem vil; pois teria sido filho de um fabricante de colheres, como diz Idomeneu (5), Glaucipo, o filho de Hipérides (6) que ajuntou na invectiva que escreveu contra ele, todos os males que pôde, e não se esqueceu de censurar-lhe a baixeza plebéia de sua linhagem; pois em sua juventude foi discípulo de Platão e depois de Xenocrates na escola da Academia, onde se dedicou desde seu início a todas as práticas de bons costumes; pois como Duris escreveu, jamais ateniense o viu rir ou chorar, nem lavar-se nos banhos públicos, nem pôr as mãos fora da capa de sua veste nas raras vezes que a usava, pois quando ia pelos campos, durante as guerras, caminhava sempre de pés nus e sem veste, se não fazia um frio extremo e insuportável, de sorte que os soldados, na sua linguagem comum, diziam entre eles que era sinal de grande inverno, quando viam Fócion vestido.
Diversas piadas de Fócion.
VII. E se bem que fosse muito delicado e muito humano por natureza, no rosto demonstrava ser austero e intratável, de sorte que um homem que não tivesse familiaridade com ele, não o teria facilmente abordado sozinho; assim um dia quando o orador Cares caçoava da severidade de suas sobrancelhas, como o povo de Atenas fosse tomado pelo riso, ele respondeu publicamente: — "Estas minhas sobrancelhas, senhores atenienses, não vos fizeram nenhum mal, mas as risadas destes favoritos aqui, muitas vezes vos fizeram chorar". Seu linguajar, igualmente, pelas boas concepções e belas sentenças que continha, era cheio de instrução, muito útil e salutar, mas de um laconismo imperativo, austero e de forma alguma adocicado; pois, como dizia o filósofo Zenon: — "Que o homem sáBio deve molhar sua palavra no senso e na razão antes de pronunciá-la", também o falar de Fócion, de poucas palavras, continha muita substância e parece ser esta a razão pela qual Polieucto, o Esfetiano, diz: — "Que Demóstenes era muito bom orador, mas que Fócion era muito eloqüente". Pois, assim como as peças de ouro ou de prata são as melhores, as quais, com menos massa, têm mais preço e mais valor, também a força no falar repousa em significar muito com poucas palavras. A este propósito contam, que um dia, estando todo o teatro repleto, Fócion passeava à parte, sozinho, meditando, no tablado da cena, quando um de seus amigos, vendo-o assim pensativo, perguntou-lhe: — "Pensas em alguma coisa, Fócion? — Com efeito, respondeu ele, penso se poderia cortar ainda alguma coisa do que tenho a dizer ao povo ateniense". E Demóstenes mesmo, que fazia bem pouco caso de todos os outros oradores de seu tempo, quando Fócion se levantou uma vez para falar, fartou-se em dizer baixo no ouvido de seus amigos: — "Eis o machado que se levanta para cortar minhas palavras". Todavia, isto poderia por acaso também referir-se aos seus costumes; porque não somente uma palavra, mas também uma olhadela ou um sinal de cabeça de um homem de bem, têm o poder de persuadir contrapesando com vantagem, mais que infinitos argumentos e cláusulas artificiais de retórica.
Inícios de Fócion sob a orientação de Cábrias.
VIII. Em suma, na sua juventude convivia com o capitão Cábnas e seguia-o, aprendendo com êle muita coisa referente aos feitos da guerra e reciprocamente também o corrigia de algumas imperfeições que tinha por natureza. Pois sendo Cábrias, pensando bem, homem frio e difícil de se comover, quando vinha ao combate, queimava-se do ardor da coragem, de tal modo se atirava, de olhos fechados ao perigo, entre os mais temerários; também isto lhe custou a vida dentro da ilha de Quios (7), onde quis ser o primeiro a abordar com sua galera e descer à terra apesar dos inimigos; mas Fócion, sendo prudente em se preservar e esperto no executar, esquentava de um lado a lentidão de Cábrias e de outro amornava sua ardente impetuosidade; por esta razão Cábnas, sendo homem brando e bondoso, estimava-o e cientificava-o dos negócios, dan-do-o a conhecer aos gregos e servindo-se dele nas coisas de maior responsabilidade, como o fez adquirir grande honra e grande reputação na batalha naval que ganhou junto da ilha de Naxos (8), onde lhe deu a conduzir a ponta esquerda de sua armada e foi neste lugar o combate mais áspero do que em nenhuma outra parte; também aí foram os inimigos mais depressa rompidos. Esta batalha, sendo a primeira que a cidade de Atenas ganhou só com suas forças depois de sua tomada, foi causa do povo amar muito Cábnas e começar a fazer caso de Fócion, como de um personagem serviçal e digno de ter um cargo. Esta batalha foi ganha no próprio dia da festa dos grandes mistérios, em memória da qual Cábnas, todos os anos, no décimo-sexto dia de agosto, dava a beber a quem quisesse, do povo ateniense. Depois Cábrias, tendo-o escolhido para enviá-lo a receber o dinheiro e os navios com que os aliados consulares deviam contribuir, entregou-lhe vinte galeras; dizem que Fócion respondeu-lhe que se o enviava para combater inimigos, precisava de maior número de navios, e se o enviava como embaixador diante de aliados e amigos, só uma galera lhe era suficiente. Assim, indo só com uma galera, depois de haver falado nas cidades e se comunicado com os oficiais e governadores, branda e simplesmente, voltou com uma boa frota de navios que forneceram os aliados e com dinheiro também para os atenienses.
Apego de Fócion por Cábrias.
IX. Se Fócion continuou a honrar tanto Cábrias, enquanto viveu, mas também depois de sua morte, e abraçou a proteção dos que lhe pertenciam e se esforçou para tornar seu filho Ctesipo, homem de bem, apesar de vê-lo muito depravado e bastante incorrigível, não deixou nunca de experimentar sempre diminuir e encobrir sua infâmia; todavia, dizem que como esse rapaz estava sob sua guarda numa guerra em que era o capitão, deu-lhe dores de cabeça e importunou-o, fazendo-lhe em cheio perguntas desagradáveis, intrometendo-se a querer aconselhá-lo, repreendê-lo e ensinar-lhe o ofício e dever de capitão, ao que não pôde se conter e disse: — O Cábrias, Cábrias! Pago bem cara, a amizade que me dedicaste quando vivo, suportando a importunação de teu filho".
Fócion estuda igualmente a política e a guerra.
X. E vendo que aqueles que manejavam os negócios do governo em Atenas, estavam repartindo entre si, como por meio de sortes, os cargos militares e civis, de tal modo, que uns como Éubulo, Aristo-fon, Demóstenes, Licurgo e Hipérides, não faziam mais nada senão discursar diante do povo e submeter projeto a sua frente, e, os outros como Diopitas, Menesteu, Leóstenes e Cares faziam-se grandes e ricos, guerreando e tendo cargos militares, preferiu mais propôr-se a imitar e seguir a maneira de governo que haviam tido Péricles, Aristides e Sólon, como sendo mais completa e composta de uma e de outra parte igualmente, pois cada um deles, a meu ver, como diz o poeta Arquílocos:
Unido era bom servidor de Marte
E conhecia das Musas a delicada arte.
Também não ignorava que a deusa tutora de Atenas, Palas, era guerreira e política ao mesmo tempo, isto é, possuía as qualidades necessárias para governar na guerra e na paz.
Não adula nunca o povo.
XI. Estando, portanto, assim preparado o alvo, ao qual dirigia sempre toda sua intervenção do governo da república, ele que desejava sempre o repouso e a paz, no entanto foi muitas vezes eleito capitão e teve mais de uma vez o comando de forças, não somente de todos os homens de guerra de seu tempo, mas também de todos aqueles que haviam sido antes dele, não pedindo nem solicitando tais cargos, nem também recusando ou rejeitando quando a necessidade o chamava; pois é coisa certa que por quarenta e cinco vezes foi eleito capitão, sem que jamais tenha se encontrado uma só vez nas assembléias das eleições, sendo sempre escolhido ausente; deste modo, os homens insensatos se espantavam desta maneira de agir do povo, visto que jamais Fócion fazia nem dizia coisa alguma para os agradar, mas a maioria das vezes contradizia a sua vontade, em vez dos outros, que eram mais engraçados, mais alegres e mais agradáveis em suas arengas, pelos apartes e passatempos, nem mais, nem menos como dizem dos reis, que ouviam seus aduladores e engraçados, depois de terem lavado as mãos para se porem à mesa; mas quando era questão de escolher os cargos militares, então pensavam demorada e conscientemente, chamando sempre o homem mais austero e mais sábio da cidade, aquele que só ou mais do que nenhum outro, se opunha a todos os seus apetites e a todas as suas vontades. Um dia, tendo sido lido publicamente um oráculo de Delfos, o qual dizia: "Que todos os outros atenienses estando de acordo, havia um único que estava contrário a todo o resto da cidade", Fócion adian-tando-se disse publicamente: "que não se dessem de modo algum ao trabalho de procurar quem era aquele, pois era ele, porque de fato achava nada bom de tudo o que faziam".
Bons ditos e sábias respostas de Fócion.
XII. Uma outra vez aconteceu-lhe dar uma opinião diante da assembléia do povo, a qual foi universalmente aprovada e recebida por todo o mundo e, vendo que toda a assistência se punha logo ao seu lado, voltou-se para seus amigos,’ perguntan-do-lhes: — "Ai de mim! meus amigos, não me escapou alguma palavra sem pensar?" Uma outra vez, como os atenienses solicitassem uma contribuição liberal e voluntária em dinheiro, para fazer um sacrifício, tendo os outros de sua posição, já entregue sua parte, foi também nominalmente chamado várias vezes para o mesmo fim, mas ele lhes disse: — "Pedi a esses que são ricos, pois quanto a mim, terei vergonha de contribuir, não tendo ainda pago a este aqui", mostrando o agiota, Cálicles, que lhe havia emprestado dinheiro; mas como eles não cessavam nem por isto de gritar e bradar contra ele, pôs-se a contar-lhes esta história: — "Houve um dia um homem covarde que se preparava para ir à guerra, e na hora em que ia partir, ouviu gritar os corvos e pensando que fosse um mau presságio para ele, pousou suas armas e parou na hora, ficando em casa. Depois tomou-as uma outra vez e se pôs a caminho para ir ao campo; os corvos recomeçaram a gritar atrás ainda mais, e então ele ficou de uma vez e disse finalmente: — "Gritais bastante e alto como desejais, mas não comereis meu corpo".
XIII. Uma outra vez os atenienses, estando na guerra sob seu comando, queriam, a toda força, que ele os conduzisse para ir contra seus inimigos. Ele não o queria e nessa ocasião chamaram-no de covarde e poltrão; ele respondeu-lhes: — "Nem vós me saberíeis fazer destemido, nem eu a vós covardes; todavia nós nos conhecemos bem uns aos outros". Uma outra vez, em tempo bastante perigoso, o povo o maltratava e queria que imediatamente prestasse contas de sua administração e de seu cargo; ele lhes respondeu: — "Ó meus amigos, salvai-vos, salvai-vos primeiramente". E como durante a guerra fossem humildes e flexíveis pelo pavor que tinham, mas de repente, tendo sido feita a paz o afrontassem com palavras e gritassem contra Fócion, que lhes havia conseguido a vitória toda, assegurada entre as mãos, ele nada fez senão dizer: — "Sois bem felizes em ter um capitão que vos conhece, pois do contrário seríeis pedaços perdidos". Tiveram aliás alguma diferença contra ele devido sua conduta contra os beócios, com os quais o povo não queria contender em justiça, mas combater em campo de batalha; mas Fócion disse-lhes que eles não entendiam nada, aconselhando-os a combater antes por palavras, no que eram mais fortes, e não com as armas, no que eram mais fracos. Sua opinião numa assembléia do Conselho desagradou algumas vezes tanto aos atenienses, que eles não queriam nem ter paciência de ouvi-lo; e êle lhes disse então: — "Não podeis forçar-me, senhores atenienses, a fazer o que não se deve; mas fazer-me dizer contra minha opinião coisa que se não deve dizer, a isto vós não saberíeis me constranger". Repelia também vivamente os oradores que eram contrários, quando o atacavam, como respondeu uma vez a Demóstenes, o qual lhe dizia: — "O povo te matará algum dia, Fócion, se entra em furor"; — "A ti também, disse êle, se entra em seu bom senso". E a Polieucto, o Esfetiano, o qual num dia que fazia muito calor, persuadia o povo a empreender a guerra contra o rei Filipe e estava quase sem fôlego, respirava e suava em grossas gotas, pois que era muito gordo, de sorte que precisava beber água diversas vezes para terminar seu discurso: — "Verdadeiramente, disse ele, há razão para que ordeneis a guerra seguindo persuasão deste aqui; o que pensais vós fará ele quando tiver a mochila sobre os ombros e os inimigos pela frente, se agora, pronunciando somente um discurso que estudou há muito, está em perigo de arrebentar-se e sufocar diante de vós?" E como, durante uma assembléia de Conselho, Licurgo lhe dirigisse vários insultos na presença de todo o povo, e depois de tudo ainda disse que Alexandre, tendo pedido dez dos cidadãos de Atenas para fazer com eles o que bem lhe parecesse, havia Fócion aconselhado a entregá-los, ele respondeu: — "Muitas vezes aconselhei diversas coisas boas e belas a estes aqui, mas não quiseram atender".
XIV. Havia então em Atenas um homem chamado Arquibíades que imitava o lacedemônio com uma barba longa e forte, uma mísera capa e uma fisionomia e atitude sempre tristes. Fócion, encontrando-se um dia na assembléia da cidade, tratado com aspereza pelo povo, chamou-o como testemunha para provar e confirmar suas palavras, mas o outro, levantando-se, fez justamente o contrário, aconselhando o que lhe parecia ser agradável ao povo; ouvindo isso Fócion, pegou-o pela barba e lhe disse (9) : — "Por que não fazes, portanto, badalar esta barba, desde que queres te pôr a adular?" Havia (10) um grande advogado chamado Ansto-giton, que em todas as assembléias da cidade não fazia outra coisa senão proclamar ordinariamente a guerra e pregar que se devia dar as armas ao povo.
Depois, quando foi preciso levantar soldados e arrolai os nomes daqueles que deveriam ir à guerra, ele veio à praça, apoiado em uma bengala, as duas pernas enfaixadas para fazer crer que estava doente; e Fócion percebendo-o de longe, de cima da tribuna, gritou bem alto ao secretário que escrevia os arrolados: — "Escreve também: Anstogiton, covarde e mau, que imita o manco".
XV. Deste modo, algumas vezes eu me admiro de como um homem tão áspero e tão severo, como é evidente por seus exemplos, nunca teve o cognome de bom. Todavia, acho que é coisa bem difícil, mas não impossível encontrar um homem como o vinho, que seja maneiroso e engraçado como os outros, ao contrário, que à primeira vista parecem suaves no convívio e depois tornar-se tão desagradáveis e prejudiciais a todos os que conversam com eles. No entanto se lê que o orador Hipérides disse um dia ao povo de Atenas: — "Senhores atenienses, não olheis somente se eu sou azedo, mas considerai e o sou sem tirar proveito"; como se os homens não fossem desagradáveis e enfadonhos pela avareza apenas e o povo não temesse e não odiasse a esses todos que por arrogância, inveja, insolência, cólera e obstinação, abusam de seu prestígio e autoridade. Fócion, portanto, não praticou mal nem desagradou a cidadão algum por inimizade particular que tivesse contra êle, nem nunca odiou nenhum, mas era somente áspero e rude contra aqueles que resistiam a alguma coisa que empreendia fazer pelo bem público; pois, pensando bem, mostrava-se em tudo delicado, cortês e humano para com todo o mundo, até mesmo em convivendo particularmente com os que lhe eram adversários e socorrê-los em seus negócios, se vinham a cair em algum perigo e alguma adversidade. Seguindo tal propósito, seus amigos o recriminavam um dia porque defendia em julgamento um indivíduo mau, a quem submetiam a processo-cnme e êle lhes respondeu: — "Que as pessoas de bem não precisavam de defesa". De outra vez Aristogiton, o Caluniador, estando na prisão, depois de ter sido condenado, mandou suplicar-lhe para ir vê-lo; atendeu-o e foi até dentro da prisão, pelo que seus amigos queriam zombar, mas êle lhes disse: — "Deixem-me, pois em que lugar poderei ver Aristogiton mais à vontade do que na prisão?
Estima dos aliados dos atenienses por Fócion.
XVI. Quando partia de Atenas alguma armada, se havia outro capitão que não fosse Fócion, as cidades marítimas aliadas dos atenienses e as insulares, armavam suas muralhas, enchiam seus portos e traziam dos campos para dentro da cidade as mulheres, as crianças, os escravos, o gado e todos os demais valores como se se tratasse de inimigos declarados em guerra aberta; mas ao contrário, se Fócion era o chefe, iam até bem longe ao seu encontro com seus navios coroados de festoes e chapéus de flores em sinal de regozijo público, e conduziam-no eles mesmos às suas casas. E como o rei Filipe, procurando apoderar-se secretamente da ilha de Eubea, por ali fizesse passar uma armada da Macedónia e foi subornando as cidades por meio de alguns tiranos particulares, Plutarco Eretriano chamou os atenienses, suphcando-lhes que retirassem das mãos desse rei a ilha que, dia a dia, estava ocupando cada vez mais, se logo não procurassem remediar. Fócion foi enviado como capitão com poucos soldados, porque julgavam que os do país se uniriam a ele logo, afetuosamente, mas ao contrário, encontrando à sua chegada, cheia de traidores, tudo corrompido, gasto e minado pelo poder do dinheiro que Filipe despendia, encontrou-se em grande perigo; por esta razão retirou-se para um outeiro separado da planície de Tamina por um grande e profundo vale, onde se fortificou e aí parou com toda a elite de guerreiros que tinha consigo, admoestando a seus capitães que não se preocupassem com os outros amotinados e sediciosos, que não faziam senão gaguejar e não valiam nada quando preciso, mas que os deixassem ir e se afastassem para fora do acampamento para onde quisessem: — "Porque, dizia ele, tais soldados também nos seriam inúteis por aqui por sua desobediência e prejudicariam aos que têm boa vontade em cumprir o dever; mas sentindo-se culpados por ter abandonado o campo e terem ido sem consentimento, não ousarão gritar contra nós, e se preservarão de nos caluniar".
Conquista uma vitória completa sobre a armada de Filipe em Eubéia.
XVII. Depois, quando os inimigos vieram em batalha para enfrentá-lo, ordenou a seus soldados que estivessem prontos e armados, sem se mover, até que êle houvesse acabado de sacrificar aos deuses, no que ficou muito tempo, seja porque não pudesse receber os sinais felizes dos sacrifícios, ou porque não procurasse atrair mais para perto os inimigos. Mas Plutarco Eretnano, pensando que prolongava assim a marcha por falta de coragem, jogou-se nos campos em primeiro lugar com alguns aventureiros que tinha a seu soldo; vendo isso, os soldados da cavalaria não puderam mais se conter, e marcharam também após êle contra os inimigos, em desordem, separados, uns aqui, outros acolá, como haviam saído do campo; os primeiros, tendo sido rompidos pelo inimigo, todos os demais debandaram também por si mesmos e Plutarco mesmo se pôs em fuga, de modo que algumas tropas adversárias, pensando já haver ganho tudo, foram até dentro do acampamento e trataram de abater o tapume; entretanto, os sacrifícios de Fócion estando terminados, os atenienses saíram sobre eles, que viraram imediatamente em fuga, depois de deixarem morto um grande número junto das trincheiras de seu acampamento. Isto feito, Fócion ordenou que permanecessem firmes sem se mover, para esperar e recolher aqueles de seus soldados que estavam ainda espalhados aqui e ali pelos campos onde se deu a primeira ruptura, enquanto ele, com uma tropa de combatentes escolhidos, em todo seu exército, foi dar através dos inimigos. O combate foi duro, pois os atenienses combateram corajosamente, sem poupar sua gente; mas, sobre todos os demais, dois rapazes, combatendo ao lado do capitão, Glauco, filho de Polimedes e Tálio, filho de Cíneas, levantaram o prêmio de coragem. Todavia Cleófa-nes, nesse dia, demonstrou também seu valor; pois gritou tanto por seus soldados da cavalaria que haviam sido rompidos e intimou-os tanto a irem socorrer seu capitão que dizia estar em perigo que, ridicularizando-os, trouxe-os ao combate; fazendo isso, conseguiu a vitória assegurada e inteira aos soldados da infantaria.
Os aliados de Atenas recusam receber em seus portos a frota comandada por Cares.
XVIII. Depois desta batalha, expulsou Plutarco mesmo para fora de Eretria; e, tendo se apoderado do castelo de Zaretra, assentado em lugar estratégico para esta guerra, no lugar onde a ilha se vai estreitando em um longo aterro, apertado de um lado e do outro do mar, proibiu (11) que se apoderassem dos gregos prisioneiros, com receio de que os discur-sadores de Atenas constrangessem o povo ateniense como algumas vezes faziam, a uma súbita cólera, exercendo alguma crueldade contra eles. Essas coisas assim feitas, Fócion voltou à casa, mas nem bem havia virado as costas, os aliados e confederados de Atenas sentiram imediatamente falta de sua justiça e sua bondade; e os atenienses conheceram também seu valor e sua suficiência; pois Molosso, aquele que o sucedeu no cargo de capitão nos demais combates, portou-se de tal modo, que êle mesmo foi feito prisioneiro. Por esta razão, Filipe, abraçando grandes coisas em sua esperança, foi com toda sua armada até o Helesponto, opinando que aí tomaria logo toda a Quersoneso, as cidades de Pennto e de Bizâncio (12) ; entretanto, estando os atenienses resolvidos a enviar socorro, para o impedir de realizar seu intento, elegeram Cares para capitão, a instância e grande empenho dos oradores que puseram à frente; mas tendo este ido com bom número de navios, não praticou feito algum digno das forças que havia conduzido, porque as cidades não quiseram nem receber sua frota em seus portos, razão por que se viu constrangido a ir rodando aqui e acolá ao longo das costas, suspeito a todo o mundo, renegado dos amigos e desprezado dos inimigos. Ouvindo isto, o povo, a quem também os discursadores irritaram com suas prédicas ordinárias, ficou muito enfurecido, arrependendo-se de haver enviado socorro aos bizantinos; Fócion então, atirando-se à frente, demonstrou-lhes que não era de seus aliados e confederados que deviam duvidar, mas de seus capitães, que se portavam de modo que tinham motivos para desconfiar deles: — "São àqueles, dizia ele, a quem vós deveis agarrar, pois eles vos tornam odiosos e temíveis àqueles mesmos que não saberiam se salvar sem vosso socorro".
Fócion é nomeado em seu lugar; seus sucessos.
XIX. Essas palavras agitaram o povo de tal forma que na mesma hora fizeram-no mudar de opinião, tanto que entregaram a Fócion um outro reforço, enviando aquela parte para socorrer seus aliados, o que foi de muito resultado para preservar a cidade de Bizâncio; pois além de que sua reputação já era grande, Cleon, o primeiro homem de Bizâncio em virtude e em autoridade, tendo sido companheiro e amigo de Fócion na escola da Academia, pleiteou-o para sua cidade; e então os bizantinos não quiseram que acampasse fora, mas abrindo suas portas, o receberam dentro de sua cidade e se misturaram entre os atenienses; estes, vendo que os da cidade confiavam neles, portaram-se tão honestamente em sua conversação comum, que não houve queixa nenhuma deles, e tão valentemente se mostraram em todos os combates e assaltos, que Filipe, o qual consideravam antes tão terrível nas armas, que nada parava à sua frente e não encontravam pessoa alguma que ousasse apresentar-se em batalha contra ele, voltou do Helesponto sem nada fazer, senão perdendo muito de sua reputação, quando Fócion ganhou alguns de seus navios e recuperou as praças fortes onde havia colocado guarnições; e desembarcando em vários lugares de suas terras, percorreu e pilhou toda a planície, até que tendo reunido bom número de soldados para o defender, aí foi fendo e nesta ocasião obrigado a voltar.
Torna os atenienses senhores da cidade de Megare.
XX. Algum tempo depois os megarianos mandaram secretamente propor-lhe entregar a cidade em suas mãos; mas Fócion, temendo que os beócios, avisados, não o prevenissem a tempo, fez logo tocar a trombeta e, ao partir da assembléia sem lhes dar outro descanso senão pegar as armas somente, levou-os logo diretamente a Megara (13), onde, sendo recebido, fechou a muralha do porto de Nisa (14) e levantou duas muralhas enormes da cidade até ali, por meio do que uniu a cidade à praia e o fez de modo que do lado da terra não teria que temer em nada seus inimigos do lado do mar (15), ficando inteiramente à disposição dos atenienses.
Aconselha os atenienses a assinar a paz com Filipe.
XXI. E como os atenienses já se haviam declarado abertamente inimigos de Filipe e houvessem eleito em sua ausência outros capitães para irem guerreá-lo, ele, assim que voltou a Atenas, vindo das ilhas, persuadiu o povo, considerando que Filipe tinha boa vontade de viver em paz com eles, temendo o perigo que as forças de Atenas podiam trazer aos seus negócios, e que deviam receber os artigos e condições de paz que apresentava. Opondo-se um pleiteador comum, que não se movia jamais nos litígios senão para caluniar e chicanear sempre contra alguém, disse-lhe: — "Fócion, como ousas dissuadir os atenienses da guerra, quando eles têm as armas nas mãos?" — "Sim, verdadeiramente, respondeu-lhe Fócion, pois eu sei muito bem, que se há guerra, eu te comandarei; e se há paz, tu me comandarás". No entanto, não o podendo obter, Demóstenes ganhou contra ele desta vez, aconselhando os atenienses a irem dar a batalha a Filipe, no local mais distante que pudessem no país do Ático; e Fócion disse-lhe então: — "Meu amigo, não nos divirtamos em discutir em que local nós lhe daremos a batalha, mas olhemos somente como nós a ganharemos; porque fazendo isto, recuamos a guerra para bem longe de nós; pois esses que são vencidos, em qualquer parte em que estejam, têm sempre todo o mal e perigo junto deles".
É colocado à frente da república.
XXII. Após a batalha (16) perdida contra Filipe os sediciosos, que não pediam senão novidades na cidade, arrastaram Caridemo (17) para frente, para o fazer eleger capitãogeneral de Atenas, pelo que as pessoas de bem e de honra ficaram com grande medo e tomando seu lado, toda a Corte e o Senado do Areópago, solicitaram afetuosamente ao povo, com lágrimas nos olhos, o que afinal se conseguiu, mas foi com grande sacrifício, que os negócios da cidade fossem entregues nas mãos de Fócion; este foi de opinião que deviam receber no momento a forma de viver e as humanas condições de paz que lhe ofereciam ; como o orador Demades houvesse proposto que a cidade de Atenas entrasse no tratado comum de paz e na reunião habitual dos estados da Grécia, que devia se instalar a instâncias de Filipe, Fócion não concordou, mas dissuadiu-os, até que soubessem o que Filipe desejava dos gregos naquela assembléia. Todavia, a sua opinião não teve lugar por causa do mau tempo; e, logo depois, vendo que os atenienses se arrependiam por não terem acreditado em seu conselho, quando viram que precisavam fornecer navios e soldados de cavalaria a Filipe, ele lhes disse então: — "O temor do que vos lastimais agora, está em oposição ao que vós vos consentistes; mas desde que haveis cedido, é preciso suportar pacientemente e não perder a coragem por isto, não esquecendo que vossos antepassados algumas vezes deram leis aos outros e algumas vezes receberam também de outrem; e portando-se bem e sabiamente em uma e outra sorte, preservaram não somente esta cidade, mas também todos os moradores da Grécia .
Prudentes respostas de Fócion.
XXIII. Depois, tendo chegado a notícia da morte de Filipe (18), todo o povo quis acender os fogos de alegria e fazer sacrifícios aos deuses como por uma boa notícia, mas Fócion não quis permitir: — "Isto, disse ele, seria um sinal de muita baixeza e coração mesquinho alegrar-se com a morte de outrem, se bem que a armada que vos derrotou em Quero-néia (19) não esteja diminuída apenas de uma cabeça". E como Demóstenes em seus discursos habituais dissesse palavras injuriosas contra Alexandre que já se aproximava com seu exército da cidade de Tebas, disse-lhe estes versos de Homero:
"Ó desgraçado, por que andar irritando
Um tão feroz e áspero combatente,
que não cobiça outra coisa senão grandeza de glória? Queres, sendo tu um tão grande fogo aceso, jogar esta cidade dentro? Quanto a mim, se bem que os atenienses queiram se perder, eu não lhes permitiria, pois para este fim aceitei o cargo de capitão".
Conselho de Fócion relativamente aos dez cidadãos que Alexandre solicitou lhe entregassem.
XXIV. E depois a cidade de Tebas, tendo sido inteiramente destruída e arrasada, como Alexandre pedisse aos de Atenas que lhe entregassem em suas mãos Demóstenes, Licurgo, Hipérides e Can-demo, a assembléia do povo, não sabendo o que responder a esta intimação, pôs seus olhos sobre Fócion e chamou-o diversas vezes por seu nome, para dar sua opinião; pelo que ele se levantou e, aproximando-se de um dos seus amigos chamado Nicocles, aquele que estimava com mais apreço e em quem tinha mais confiança, disse alto e claro: — "Esses que Alexandre vos pede, conduziram a cidade a tal extremo de necessidade, que se ele pedisse Nicocles, seria da opinião que lho entregassem; pois eu mesmo reputaria que me seria uma grande honra, se pudesse morrer, de sorte que minha morte salvasse a vida a todos meus outros concidadãos; e ainda que sinta em meu coração grande piedade e compaixão por esses pobres desolados que fugiram das ruínas de Tebas para esta cidade, se é que eu deva opinar, vale mais que os gregos lamentem a perda de uma só cidade, do que de duas, e por esta razão, é meu parecer que é melhor tratar de impetrar graça por meio de súplicas e admoestações àquele que é o mais forte, do que se obstinar em querer combater diante da ruína certa.
Aconselha Alexandre a virar suas armas contra os persas.
XXV. Dizem que Alexandre rejeitou o primeiro decreto que foi concluído pelo povo sobre seu pedido e desviou-se para não ver os embaixadores que lhe haviam trazido; mas recebeu o segundo que lhe foi levado por Fócion mesmo, ouvindo dizer pelos servidores mais velhos de seu pai, que este sempre tivera muito apreço por ele, razão pela qual Alexandre, não somente lhe concedeu audiência e atendeu sua solicitação, como também seguiu seu conselho. De fato êle o exortou, dizendo-lhe que, se apreciava o repouso, descansasse todas as suas armas e cessasse de guerrear; mas, se cobiçava a glória, que voltasse suas armas contra os bárbaros e não contra os gregos. E deduzindo-lhe diversas razões e admoestações acomodadas com o temperamento e gosto de Alexandre, desviou-o e abrandou-o de tal modo, que o rei, ao separar-se dele, disse-lhe que os atenienses deviam ter olhos bem abertos nos negócios, porque se êle viesse a morrer, não conhecia outro povo a quem o império pudesse ser entregue, senão a eles; e desejando a amizade particular e a hospitalidade de Fócion, tratou-o com tanta honra, como não o fazia aos seus íntimos. Com referência a isto, o historiador Duris escreve que depois de se tornar grande e ter derrotado o rei Dario, retirou da saudação de todas as suas cartas particulares, a palavra que estava habituado a colocar, caro, a não ser naquelas que escrevia a Fócion, e que não dava mais esta honra de saudar assim àqueles a quem escrevia, senão a Fócion e Antípatro, o que Cares também confirma.
Recusa um presente considerável de Alexandre.
XXVI. É coisa bem confessada por todos que Alexandre enviou a Fócion boa soma de dinheiro como presente, pois mandou-lhe cem talentos (20). Tendo sido esse dinheiro trazido a Atenas, Fócion perguntou aos que o trouxeram, por que Alexandre enviava tal presente só a ele, quando havia tantos burgueses em Atenas. — "Porque (responderam eles), o considerava o único homem de bem e de honra". E Fócion lhes replicou: — "Ora, que me deixem, portanto, continuar a ser toda a minha vida". Nem por isto os mensageiros deixaram de ir atrás dele até sua casa, onde viram grande simplicidade, pois encontraram sua mulher que amassava o pão ela mesma e ele, em sua presença, tirou a água de seu poço para lavar os pés; razão porque instaram mais ainda do que antes para receber o presente do rei, insistindo com ele, e dizendo que era uma grande vergonha viver assim pobre, levando em conta que era amigo de Alexandre. Pelo que Fócion, vendo passar pela rua um pobre ancião, ridiculamente vestido com um velho traje sujo e gorduroso, perguntou-lhes se o reputavam menos do que aquele pobre homem — "que aos deuses já não agrada" — responderam imediatamente: — "E, todavia, replicou-lhes, vive ainda com muito menos do que eu e está, apesar disso, muito contente. Afinal, — disse-lhes mais — se eu receber tão grande soma de ouro e não usá-lo, de nada me adiantará e se me servir dele, gastando-o, o resultado será que toda esta cidade começará a falar mal de mim e do rei."
Novas recusas de Fócion.
XXVII. Assim, foi recambiado o presente para fora de Atenas, servindo de notável exemplo a todos os gregos, para lhes dar a conhecer que mais rico era aquele que não tinha o que fazer com tanto ouro e prata, do que aquele que lhe dava. Alexandre, tendo sabido que seu presente havia sido recusado, ficou descontente e escreveu a Fócion, que não podia considerar seus amigos, os que recusavam receber presentes dele; todavia, mesmo assim não tomou o dinheiro, mas somente solicitou-lhe o favor de libertar Equecrátidas, retórico, Atenodoro, natural da cidade de Imbro e dois coríntios, Demarato e Esparton, que haviam sido retidos prisioneiros na cidade de Sardis, por algumas faltas de que os acusavam. Alexandre imediatamente os fez libertar, enviando Crátero à Macedónia e ordenando-lhe dar a Fócion uma dessas quatro cidades da Ásia, que preferisse mais, Quios (21), Gergueto (22), Milas-ses (23), ou Eléia (24), dizendo-lhe que se enfureceria mais amargamente do que na primeira vez, se as recusasse; todavia, Fócion não quis aceitar nenhuma. E Alexandre pouco depois morreu. Vê-se ainda hoje, no bairro de Melita (25) a casa de Fócion, decorada com lâminas de cobre, mas quando morava nela era simples e sem nenhuma superfluidade.
Mulheres de Fócion.
XXVIII. Quanto às mulheres que desposou, não encontram nada por escrito da primeira, senão que Cefisódoto, modelador de imagens, era seu irmão; mas a segunda não foi menos famosa em Atenas por sua honestidade e simplicidade em todas as suas ações, assim como Fócion, por sua justiça e bondade. Segundo tal propósito, dizem que um dia, como os atenienses estivessem reunidos no teatro para ver desempenhar as Tragédias novas, um dos atores, na hora mesmo que devia entrar no palco para desempenhar seu papel, pediu ao empresário uma máscara de rainha e um acompanhamento de moças enfeitadas magnificamente, porque desempenhava o papel de uma princesa; o outro não concordou e o comediante enfureceu-se, fez cessar os jogos, e não quis sair do palco. Melâncio, que era o empresário, puxou-o à força, gritando bem alto: — "Não vês a mulher de Fócion, que vai sempre só com uma camareira à cidade e, tu queres te fazer glorioso e corromper os costumes das damas de Atenas?" Essas palavras foram ouvidas pela assistência, a qual, pelo grande barulho que fêz batendo palmas, mostrou achá-las muito a propósito. Esta dama, tendo uma de suas amigas da região da Jônia, vindo a Atenas, exibiu-lhe suas jóias e anéis de ouro enriquecidos com pedras preciosas, deu-lhe esta resposta: — "Todo meu ornamento é meu marido Fócion que há vinte anos tem sido continuamente eleito capitão dos atenienses".
Conduz seu filho a Esparta para aí ser formado na disciplina dos lacedemônios.
XXIX. (26) Seu filho deu-lhe a entender um dia que desejava competir com os outros rapazes, a ver quem levantaria o prêmio de descida e subida sobre os carros, correndo à rédea solta nos jogos dos festejos denominados em Atenas, Panathenea; o que o pai lhe permitiu, não porque lhe viesse alguma honra de tal vitória, mas a fim de que, adestrando-se nesse honesto exercício, se tornasse mais útil, porque era rapaz bastante dissoluto e que amava o vinho; todavia, tendo conquistado o prêmio, houve vários amigos de seu pai que lhe pediram para homenageá-lo, festejando em suas casas aquela vitória. Fócion recusou a todos os outros, exceto a um só, ao qual permitiu fazer esta exibição de boa vontade para com sua casa e foi êle mesmo ao jantar onde, entre outras delícias e superfluidades, constatou que haviam preparado banhos de vinho e especiarias odorantes para lavar os pés dos convidados logo que entrassem no festim. Chamou seu filho e lhe disse: — "Como suportas, Fócio (27), que este nosso amigo prejudique e desonre assim tua vitória com estas superfluidades?" E desejando retirar imediatamente esse rapaz daquela dissoluta maneira de viver, levou-o a Esparta, colocando-o com os meninos que são criados na disciplina denominada lacônia. Isto desagradou aos atenienses, ao verem que Fócion desprezava assim os costumes, hábitos e maneiras de seu país, e como Demades, o orador lhe dissesse: — "Por que não persuadimos nós ao povo ateniense para adotar a forma de governo e a disciplina da Lacedemônia ? Quanto a mim, se quiseres concordar, eu me ofereço para propô-lo". — "Verdadeiramente, respondeu então Fócion, seria bem decente que persuadisses os atenienses a viver como os lacedemônios e elogiar as ordens de Licurgo, que são austeras, tu que és comu-mente tão perfumado e andas tão delicadamente vestido".
Conduta de Fócion com relação a Harpalo.
XXX. Uma outra vez, tendo Alexandre pedido que lhe enviassem algumas galeras, os discursadores contrários pregavam que não deviam atender; o povo chamou nominalmente Fócion para ouvir sua opinião, o qual lhes respondeu francamente: —
"Sim, sou de opinião que deveis ser os mais fortes nas armas ou que procureis a amizade daqueles que o são." A Pítias, que estava começando a fazer seus discursos diante do povo e vivia constantemente falando, audacioso e cheio de presunção, Fócion disse: — "Esse novo arengueiro não se calará nunca?" E como Harpalo (28), tenente de Alexandre na província da Babilônia, tendo fugido da Ásia com uma grande quantidade de ouro e de prata, descesse ao país do Ático, logo os que estavam acostumados a mercadejar sua língua falando ao povo, acorreram com inveja uns dos outros perante ele, o qual não deixou de jogar a cada um alguma quantia em prata para os atrair e apetecer; pois isto lhe era pouca coisa, dada a grande quantidade que havia trazido; mas a Fócion, enviou deliberadamente setecentos talentos (29), querendo pôr ainda o resto de seus haveres e sua própria pessoa sob a proteção e salvaguarda dele. Fócion lhe deu uma bem dura resposta: — "Que o faria arrepender-se, caso não parasse de prejudicar e corromper a cidade de Atenas". Nessa ocasião Harpalo retirou-se muito admirado da presença daqueles que haviam aceito seu dinheiro; mas, pouco depois, os atenienses, pondo seus negócios em deliberação, viu que aqueles que haviam aceito o dinheiro haviam virado a casaca, de tal modo que em lugar de defendê-lo, o acusaram para que não suspeitassem de terem aceito dinheiro dele, Fócion ao contrário, que o havia tão rudemente despedido sem querer receber nada, dando em seus conselhos principal atenção à utilidade pública, teve ainda alguma consideração por Harpalo. Este tentou então, pela segunda vez e por todos os meios ganhar sua amizade mas acabou verificando que era uma fortaleza inexpugnável por meio do dinheiro; mas fêz-se amigo de Caneles, genro de Fócion, o que foi causa de maus rumores, pois todos viam que Harpalo confiava em todas as coisas nele, empregando-o em todos os seus negócios, chegando até a encarregá-lo de fazer construir uma magnífica sepultura para a cortesã Pitônica (30), da qual fora amante e de quem havia tido uma filha. Mas, se aceitar um tal encargo era ignominioso para Caricies, a obra o difamou ainda mais, quando ficou terminada; pois até hoje se vê a sepultura no lugar que é denominado Hér-mio (31), quando se vai de Atenas a Eleusina, não havendo nada digno de nota ao se considerar des-peza (32), de trinta talentos, que dizem ter-lhe pago pela construção daquela sepultura. Ainda mais, após o falecimento de Harpalo, Caneles e Fócion mesmo tomaram a filha e a fizeram cuidadosamente criar; todavia sendo Caneles depois chamado perante à justiça para responder pelo dinheiro que o acusavam de haver recebido de Harpalo, aquele pediu a seu sogro Fócion para ajudá-lo e assisti-lo no julgamento, e favorecer sua defesa; mas Fócion recusou, dizendo-lhe: — "Eu o aceitei, Caricies, como meu genro somente, para as coisas justas e honestas".
Prudente conduta de Fócion diante da morte de Alexandre.
XXXI. O primeiro que trouxe a Atenas a notícia da morte de Alexandre foi um Asclepíades, filho de Hiparco, ao qual Demades dizia que não poderiam dar fé: — "Porque, disse ele, se fosse verdadeiro, toda a terra sentina o odor de uma tal morte". Mas Fócion, vendo que o povo já levantava a cabeça, farejando novidades, procurou moderá-lo e contê-lo; e como muitos dos discursadores subissem incontinenti à tribuna e gritassem que a notícia de Asclepíades era certa e que Alexandre estava verdadeiramente morto, Fócion respondeu-lhes: — "Se ela é verdadeira hoje, será portanto verdadeira amanhã e depois de amanhã; portanto, senhores atenienses, não vos apresseis, mas deliberai sossegadamente e estabelecei seguramente o que tendes a fazer". E como Leóstenes, que tanto fêz por suas tramas que atirou a cidade de Atenas na guerra que chamam "a guerra dos gregos" (33), perguntasse zombando a Fócion, que estava irritado, que bem havia feito em favor da coisa pública em tantos anos de poder como capitão-general de Atenas, Fócion respondeu-lhe: — "O bem que fiz não é pequeno; pois enquanto fui capitão, os cidadãos de Atenas foram enterrados nas sepulturas de seus antepassados". Esse Leóstenes falava alto e avantajadamente diante do povo, razão por que Fócion lhe disse um dia: "Teus propósitos, rapaz amigo, assemelham-se propriamente aos ciprestes; pois são grandes e altos, mas não dão frutos". Então Hipérides, levantando-se nos pés, perguntou-lhe: — "Então, Fócion, quando aconselharás os atenienses a guerrear?" — "Quando vir, disse êíe, os rapazes bem disciplinados em suas fileiras, os ricos contribuindo voluntariamente com dinheiro e os oradores se abstendo de furtar a república".
O que pensava da guerra denominada Lamaica.
XXXII. No entanto, diversos se encantaram de ver a bela e poderosa armada que Leóstenes havia organizado e perguntaram a Fócion o que lhe parecia tal preparativo. — "É belo, disse ele, para uma corrida no estádio (34) mas receio a volta e a continuação da guerra, porque não vejo onde esta cidade tenha meios de conseguir dinheiro, nem outros navios, nem outros soldados além desses". Isto foi depois testemunhado pelos acontecimentos, porque de início Leóstenes praticou grandes feitos de armas, pois derrotou os beócios e colocou Antípater dentro da cidade de Lâmia; o que levantou os atenienses em grande esperança, de sorte que não faziam em Atenas outra coisa senão festas e sacrifícios contínuos, para render graças aos deuses por estas boas notícias; havia alguns que procuravam convencer Fócion, de maneira que não soubesse o que responder, e perguntavam-lhe se desejava tomar parte em tão belas festas: — "Sim, verdadeiramente, respondeu-lhes, eu desejaria de fato, mas continuo aconselhando o que aconselhei". E como escrevessem e trouxessem todos os dias boas notícias umas sobre as outras, disse: — *Ó deuses! Quando cessaremos de vencer e de ganhar?" Todavia Leóstenes, no final, tendo morrido nessa viagem, aqueles que receavam ser Fócion nomeado capitão em lugar dele, e fizesse a paz, nomearam um personagem pouco conhecido e de baixa classe que em plena assembléia do conselho veio dizer que, sendo amigo de Fócion e seu companheiro de escola, suplicava ao povo para poupá-lo e salvaguardá-lo porque não tinham outro semelhante a ele e que enviassem antes ao campo a Antífilo. Manifestando-se o povo de acordo, Fócion foi à frente e disse que não havia estado nunca na escola com aquele homem, e mais ainda, que não o conhecia de modo algum, nem nunca havia sido seu amigo: — "Entretanto, quem quer que tu sejas, disse ele, tenho-te doravante por meu amigo e por meu benfeitor, pois aconselhaste ao povo o que me é mais excelente".
Dá ordem para arrolar homens até sessenta anos.
XXXIII. No entanto o povo, a toda força, querendo ir contra os beócios, Fócion resistiu o mais que pôde, com palavras primeiramente; e como seus amigos lhe observassem que se faria matar, contrariando assim a vontade popular, respondeu-lhe: —
Sem razão me farão morrer, se faço e procuro o que lhes é útil; e com razão também, se o que faço os contraria". Mas vendo que nem assim eles não concordavam, mas gritavam mais e mais contra ele, então ordenou aos arautos que proclamassem ao som da trombeta, que todos os burgueses, camponeses e habitantes de Atenas, desde a idade de quatorze anos (35), até sessenta, estivessem prontos, ao partir da assembléia, a segui-lo nas armas, trazendo víveres para cinco dias. Ouvido tal brado, houve grande tumulto em toda a cidade e acorreram incontinenti os velhos à sua presença para se queixarem da dureza da ordem; respondeu-lhes: — "Isto não é nenhum erro, pois eu mesmo, que estou com a idade de oitenta anos, estarei convosco".
Derrota Micion.
XXXIV. Assim os reteve e lhes fez perder seu louco desejo de guerrear, mas sendo a costa da praia percorrida e pilhada pelo capitão Micion, o qual, com bom número de macedônios e outros estrangeiros havia descido no território do bairro de Ramnus e danificava toda a região plana nos arredores, Fócion para ali conduziu os atenienses; entretanto, como vários acorressem a ele, intrometendo-se em seu cargo de capitão e pondo-se a aconselhar, uns para alojar seu acampamento sobre tal outeiro, outros, a enviar a tal local os soldados da cavalaria, outros ainda a acampar aqui: — "Ó Hercules, disse-lhes, que quantidade vejo de capitães e tão poucos soldados!" Depois, quando alinhou seus soldados em formação de batalha, houve um que se atirou bem longe adiante dos outros, fora de sua linha; mas, tendo lambem avançado um dos inimigos para enfrentá-lo, o ateniense teve medo, e voltou ao seu lugar; então Fócion lhe disse: — "Não tens vergonha, jovem estouvado, de haver assim, por duas vezes, abandonado tua fileira, uma na qual fôste colocado por teu capitão e a outra na qual te colocaste por ti mesmo?" E imediatamente carregou contra o inimigo, rompeu-o à força e matou sobre o campo o capitão Mi-cion, com um bom número de seus soldados.
Vitória, e em seguida, derrota dos gregos confederados.
XXXV. Ora, achava-se então a armada dos gregos na Tessália, onde ganhou uma batalha (36) contra Antípater e contra Leonato, que se havia unido a ele com os macedônios que havia pouco trouxera da Ásia e ali foi morto Leonato, sendo Antífilo comandante dos soldados da infantaria e Menon Tessaliano, da cavalaria. Mas pouco tempo depois, tendo Crátero passado da Ásia para a Europa com uma poderosa força, houve outra batalha próxima à cidade de Cranon (37) na qual os gregos foram derrotados; todavia, a derrota não foi tão grande e não morreram muitos soldados; isto mesmo aconteceu devido à desobediência dos soldados aos capitães, que eram muito brandos, enquanto que eram eles muito jovens; também, tão logo Antípater forçou suas cidades, eles debandaram todos e abandonaram vergonhosamente a defesa da liberdade comum. Assim, Antípater logo se encaminhou diretamente com sua armada para diante da cidade de Atenas. Pressentindo tal, Demóstenes e Hipérides abandonaram a cidade; mas Demades, não podendo pagar o dinheiro que devia ao erário público, tendo sido condenado em sete multas, por haver tantas vezes proposto e levado avante coisas contrárias às leis, tornou-se impopular e não lhe era fácil falar e discursar em público; todavia, sendo dispensado na hora, propôs que enviassem embaixadores com plenos poderes a Antípater, para conseguir tratar alguma paz com êle.
Fócion é enviado na qualidade de embaixador diante de Antípatro e Crátero.
XXXVI. O povo, temendo conceder este poder absoluto para tratar com quem quer que fosse, chamou nominalmente Fócion, dizendo que não havia senão êle em quem se pudesse confiar. E então respondeu-lhes Fócion: — "Se eu fosse acreditado quando vos dei conselhos, não estaríeis agora em dificuldade". Assim, sendo o decreto autorizado pelo povo, foi enviado pessoalmente à presença de Antípater, o qual estava então acampado na Cad-méia, preparando-se para entrar logo no país do Ático. Fócion solicitou-lhe que, antes de se desalojar dali, fizesse a paz com eles, ao que Crátero respondeu prontamente: — "Fócion, tu não nos pedes coisa razoável, pois ficando aqui, estamos solapando o país de nossos aliados e amigos, ao passo que acolá, onde podemos viver e nos enriquecer, é justamente o território de nossos inimigos"; todavia Antípater, tomando Crátero pela mão: — "É preciso, disse ele, que concordemos em dar esse prazer a Fócion". Mas, quanto às condições de paz, estipulou que os atenienses as aceitassem aquelas que lhes impusesse, tal como acontecera quando ele, sitiado dentro da cidade de Lâmia, deixara todas as condições de sua rendição ao comandante Leóstenes. Ouvida esta resposta, Fócion voltou a Atenas, onde o povo, vendo-se constrangido, foi obrigado às condições do tratado que lhe oferecia o inimigo.
Nova embaixada de Fócion.
XXXVII. Assim, Fócion voltou imediatamente à Tessália, à presença de Antípater com outros embaixadores, entre os quais os atenienses estima e a reputação da virtude desse personagem elegeram o filósofo Xenocrates, porque a fama, a eram tão grandes em todo o mundo, que pensavam não haver arrogância, nem crueldade, nem cólera tão grande em coração de homem, fosse quem fosse, que só o olhar de Xenocrates não abrandasse até obrigá-lo a dar-lhe alguma honra e reverência. Não obstante, isso, aconteceu tudo ao contrário, devido à maldade da natureza de Antípater, inimiga de toda virtude; pois, primeiramente, não se dignou nem saudá-lo, quando abraçava todos os outros. Sobre isto, Xenocrates teria dito então: — "Antípater fêz bem tendo vergonha de me ver como testemunha do seu mau papel e do tratamento iníquo que quer dar aos atenienses". Depois, quando começou a falar, não teve paciência de ouvi-lo, mas interrompendo-o a todo momento,e tratando-o com aspereza, ordenou afinal calar-se por completo; mas depois que Fócion falou, deu-lhe resposta, segundo a qual os atenienses teriam paz, aliança e amizade com êle, contanto que lhe entregassem Demóstenes e Hipérides em suas mãos; que governassem seu Estado segundo a forma de governo instituída pelos seus antepassados, onde não houvesse privilégios nos cargos da administração; que recebessem guarnição dentro do porto de Muníquia (38) ; que reembolsassem o dinheiro despendido na guerra e, além disso, pagassem uma certa quantia como multa. Todos os outros embaixadores se contentaram e aceitaram essas condições de paz como suaves e humanas, exceto Xenocrates, o qual disse que para escravos, ele os tratava muito delicadamente; mas para um povo franco e livre, muito duramente. Então Fócion suplicou-lhe que transigisse ao menos quanto à guarnição; ao que, segundo dizem Antípater respondeu: — "Fócion, nós desejamos recompensar-te em todas as coisas, menos naquelas que sejam causa de tua ruína e da nossa". Outros escrevem que não respondeu assim, mas perguntou-lhe se garantia que os atenienses manteriam integralmente os artigos e condições da paz, sem qualquer novidade sem distúrbios, se ele os isentasse de receber a guarnição. Como Fócion se calasse e demorasse a responder, um tal Calimedon, denominado Carabos, homem violento e que odiava a liberdade popular, atirando-se entre eles, disse: — "E se este fosse tão louco em garantir isto, Antípater, acreditarias nele portanto, e deixarias por isto de fazer o que deliberaste?"
Os atenienses são obrigados a receber guarnição.
XXXVIII. Assim, foram os atenienses obrigados a receber a guarnição dos macedônios, da qual Menilo foi capitão, homem honesto e amigo de Fócion. Essa ordem de receber guarnição dentro do porto de Muníquia foi considerada como orgulho e exigida por Antípater mas por uma vã glória para demonstrar ultrajantemente seu poder, do que pelo bem que pudesse advir aos seus negócios. Ainda mais, no dia em que isto aconteceu, aumentou ainda mais o pesar; pois foi justamente no vigésimo dia de agosto (39) que sua guarnição entrou ali, quando se celebra a festa dos Mistérios (40), na qual se habituaram a fazer a procissão chamada Jacos, desde a cidade de Atenas até à de Eleusina, de sorte que, estando a solenidade desta santa cerimônia um tanto confusa, acudiu ao pensamento de vários, a consideração de como, antigamente, nos tempos felizes da república, haviam sido ouvidas e vistas vozes e visões divinas em tal dia, do que os inimigos haviam ficado assustados e amedrontados, e agora, ao contrário, na mesma solenidade, os deuses viam a mais triste calamidade que podia ter vindo à Grécia e justamente no dia mais santo e mais agradável, o qual começaria a ser contaminado com o mais desgraçado acontecimento, que jamais viera aos gregos, que era a perda de sua liberdade.
Mais de doze mil atenienses são privados do direito de cidadania.
XXXIX. Ora, poucos anos antes, haviam trazido um oráculo de Dodone (41) a Atenas: "Que guardassem bem os rochedos de Diana, de modo que os estrangeiros deles não se apoderassem"; e aproximadamente, nesse mesmo tempo, as cortinas (42) que se achavam colocadas à volta dos santos leitos místicos, estando banhadas em água, trinaram uma cor amarelada e pálida como a de um morto, em lugar da cor viva de púrpura que tinham antes; e, ainda mais, os outros panos dos particulares não sagrados, que eram molhados juntos, dentro da mesma água, mantinham sua inocente vivacidade de cor. E como um dos sacerdotes do templo lavasse um porquinho dentro do mar num lugar da praia (43), puro e limpo, saiu de repente um grande peixe do mar que o retirou dentre as mãos e engoliu todo o trazeiro; daí conjecturaram que os deuses lhes davam a entender que perderiam a parte baixa de sua cidade e a mais próxima do mar, mas que salvariam as partes altas; todavia, essa guarnição, dada a honestidade do capitão Menilo, não aborreceu os atenienses. Mas houve mais de doze mil cidadãos que foram privados do direito de burguesia, em razão de sua pobreza, dos quais uma parte ficou em Atenas a quem parece que causavam um grande dano e uma grande injúria; e uma outra parte foi-se para a Trácia, onde Antípater assinou-lhes cidades e terras para morar. Esses pareciam propriamente pessoas cuja cidade tivessem tomado de assalto, ou por assédio e que fossem assim obrigados a abandonar seu país.
Dureza e tirania de Antípatro.
XL. Em suma, a morte de Demóstenes na ilha de Caláuria (44) e de Hipérides próximo à cidade de Cléones (45) o que narramos em outro local, quase que foram causa de se recordar com saudade o tempo dos reinados de Filipe e de Alexandre; tanto, que daí em diante diziam que Antígono, tendo sido derrotado, esses que o haviam vencido e morto oprimiram e trataram tão rudemente seus súditos, que no país da Frigia, um lavrador, revolvendo a terra e sendo interrogado sobre o que procurava, respondeu suspirando: — "Procuro Antígono". Também vinha a outros o mesmo pensamento, quando rememoravam a magnanimidade e generosidade desses dois grandes príncipes, que, mau grado a sua cólera, perdoavam facilmente e voltavam atrás em suas decisões, não assim como Antí-pater, que sob a máscara de se portar como homem comum, andar simplesmente vestido, viver sobriamente e com pouca despesa, dissimulava o poder tirânico que usurpava e no entanto mostrava-se senhor mais violento e tirano mais cruel para com aqueles de quem a sorte havia fugido. Todavia, Fócion conseguiu dele o retorno de diversos que havia banido e dos que não pode chamar, ao menos conseguiu que seus limites de banimento não ficassem tão longe como dos outros que estavam relegados para além dos montes Acroceraunianos (46), e do Tenaro, fora da Grécia, mas que lhe fosse pelo menos possível ficar dentro do Peloponeso, entre os quais estava Agônides, falso acusador.
Sábia conduta de Fócion.
XLl. Afinal, governando os que haviam ficado dentro da cidade com grande justiça e com grande humanidade, quando conhecia alguns de natureza suave e pacífica, mantinha-os sempre em algum cargo; mas aqueles que sabia serem avoados, sediciosos e amantes das novidades, preservava-os de chegar a alguma posição e retirava-lhes todo meio de excitar tumultos, de sorte que feneciam por si mesmos e aprendiam com o tempo a amar o campo e dedicar-se ao cultivo da terra. E vendo que Xenocrates pagava o mesmo tributo à república, que os estrangeiros moradores de Atenas pagavam em cada ano, quis lhe dar o direito de cidadão, para poder ter parte na administração, mas Xenocrates não aceitou, dizendo que não desejava ter parte (47) num governo, o qual, para impedir, havia sido enviado como embaixador.
Seu nobre desinteresse
XLIl. E como Menilo enviasse dinheiro de presente a Fócion, deu esta resposta, dizendo que Menilo não era maior senhor do que havia sido Alexandre, nem tinha no momento maior ocasião para aceitar seu presente, do que quando havia recusado o do rei; e como Menilo replicasse que se não precisava para si, pelo menos que o aceitasse para seu filho Fócio, respondeu-lhe: — "Se meu filho Fócio, mudando a maneira de viver, quer ser homem de bem, terá bastante para viver com o que lhe deixarei, mas se deseja dirigir-se como atualmente, não há riqueza que lhe possa ser suficiente". Uma outra vez respondeu bem rudemente a Antí-pater, que desejava obrigá-lo fazer alguma coisa, a qual não era honesta: — "Antípater, não saberei ser amigo e adulador ao mesmo tempo". Antípater mesmo dizia que contava com dois amigos em Atenas, Fócion e Demades, a um dos quais nunca conseguira fazer aceitar nada e não pudera nunca saciar o outro. Também era a pobreza de Fócion um grande argumento de sua probidade, atendendo que havia envelhecido após ter sido em sua vida tantas vezes capitão-general dos atenienses e havia tido a amizade de tantos príncipes e reis, quando Demades sentia prazer em fazer demonstração de sua riqueza até nas mesmas coisas que eram vedadas pelas leis da cidade; pois havia então uma ordem em Atenas, pela qual era proibido a qualquer estrangeiro tomar parte nas danças dos jogos públicos sobre pena da multa (48) de mil dracmas, que seria paga à república; Demades, fazendo alguns jogos à sua custa, fez vir cem bailarinos estrangeiros para um lance e no mesmo momento trouxe o dinheiro para pagar a multa publicamente no teatro diante de todo o mundo, a mil dracmas para cada cabeça. Uma outra vez, quando casou seu filho, que se chamava Demas, disse-lhe: — "Meu filho, quando desposei tua mãe, houve tão pouca festa, que nosso vizinho próximo não ouviu nada; e, no entanto, agora, os príncipes e os reis contribuem para as despesas de tuas núpcias".
Morte de Demades e de seu filho.
XLIII. Entretanto, os atenienses insistiam com Fócion para requerer de Antípater que retirasse sua guarnição da cidade, mas este encontrava sempre algum meio para rejeitar esse pedido, fosse porque não esperava poder obter esta graça, ou antes porque via que o povo estava mais humilde e muito fácil para se deixar conduzir pela razão do temor daquela guarnição; mas conseguiu de Antípater que não reclamasse prontamente seu dinheiro, protelando ainda o pagamento; dado isto, vendo que Fócion não queria compreender de outro modo, viraram-se para Demades, o qual aceitou a incumbência e foi com seu filho à Macedónia, quando, sem nenhuma dúvida, seu destino o conduziu em má hora, pois Antípater já havia caído doente da enfermidade da qual morreu e passavam os negócios para as mãos de seu filho Cassandra, o qual havia surpreendido uma carta particular de Demades, em que notificava Antígono, na Ásia, que viesse com toda diligência para se apoderar da Grécia e da Macedónia, que não pendia senão de uma rede velha, ainda assim toda podre, criticando Antípater. Cassandra, avisado que foi de sua chegada, o fez aprisionar imediatamente (49) e, aproximando primeiramente seu filho bem junto dele, matou o rapaz diante de seus olhos, tão perto, que o sangue esguichou sobre ele, ficando o pai todo ensanguentado; depois, após haver censurado sua ingratidão e sua desleal traição e ter-lhe feito e dito todas as vilanias e ultrajes que podia lembrar, matou-o também.
Fócion aconselha Nicanor a tratar os atenienses com brandura.
XLIV. Antípater, entretanto, em sua morte, havia estabelecido Polipercon capitão-general do exército dos macedônios e Cassandra, coronel de apenas mil homens da infantaria. Cassandra, assim que ele morreu, tomando os negócios em sua mão, enviou subitamente Nicanor para suceder a Menilo no cargo de capitão da guarnição de Atenas, antes que a morte de seu pai fosse divulgada, ordenan-do-lhe de se apoderar, de qualquer modo, da fortaleza de Muníquia, o que foi feito. E, poucos dias depois os atenienses souberam da notícia da morte de Antípater, pelo que Fócion foi muito censurado e acusado de ter conhecimento muito tempo antes dessa morte e de se haver calado para auxiliar Nicanor; todavia, não fez caso dessas imputações, mas travou relações com Nicanor e o entreteve tão bem, que não somente o tornou delicado e atencioso para com os atenienses, mas, ainda mais, persuadiu-o a fazer alguma despesa para dar ao povo o passatempo de alguns jogos que fez realizar a suas expensas.
Polisperco engana os atenienses por meio de cartas que lhes trazem sua liberdade.
XLV. Nesse ínterim, Polipercon, que estava encarregado da pessoa do rei, querendo oferecer um estojo de instrumentos cirúrgicos a Cassandra, enviou ao povo de Atenas uma patente, pela qual estava expresso, como o jovem rei devolvia aos atenienses a plena e inteira liberdade do estado popular, querendo e entendendo que todos os atenienses, indiferentemente, governassem seu Estado, segundo as leis, usos e costumes de todos os tempos preservadas em seu país, assim como haviam feito seus predecessores. Isto era uma armadilha para Fócion; pois Polipercon, urdindo esta trama para se apoderar da cidade de Atenas, como evidenciou bem logo com efeito, não esperava poder realizar este seu intento, se não encontrasse primeiramente meios de expulsar Fócion; e julgou que seria expulso, logo que aqueles que haviam sido privados de seu direito de cidadania e tinham visto suas reivindicações negadas, voltassem a intrometer-se na administração, quando os discursadores e caluniadores teriam então o direito de dizer tudo o que quisessem. Os atenienses, cientes do que se passava, começaram a ficar alvoroçados. Então Nicanor, desejando falar-lhe no Senado, que se havia reunido no Pireu, para ali se dirigiu, colocando-se sob a proteção de Fócion. Dercílio, capitão das forças do rei, que se achavam acampadas fora da cidade, avisado secretamente, resolveu aprisioná-lo. Nicanor, entretanto, sentiu soprar o vento em boa hora e conseguiu salvar-se.
Nicanor empreende apoderar-se do Pireu.
XLVI. Era evidente que ele quena incontinenti vingar-se deste ultraje, sobre a cidade, e acusavam Fócion de não ter retido Nicanor, deixando-o escapar; a isto respondeu que confiava nas promessas de Nicanor e que sabia que não havia nenhum perigo e temor desse lado; todavia, se acontecesse de outra forma, que considerava melhor ser. ofendido e enganado, do que ofender e causar dano. Esta resposta, se se referisse a um assunto que não concernesse senão a ele só, poderia parecer, a quem a considerasse de perto, haver partido de uma grande bondade e grande magnanimidade, mas atendendo que colocava na sorte a salvação de seu país, sendo mesmo capitão-general e mantendo cargo de autoridade pública, eu não sei se transgredia um outro direito e não violava uma outra fé prévia e de maior obrigação, isto é, a atenção que devia para com todas as coisas, para o bem e segurança de seus concidadãos. Não se poderia também alegar em sua defesa, que ele não desejou por a mão sobre Nicanor, pelo receio de atirar sua cidade na guerra, mas como uma capa que colocava adiante, devido ter-lhe prometido e jurado e a justiça que quis observar no caso, a fim de que por consideração a ele, Nicanor, depois se mantivesse em paz e não causasse prejuízo nenhum aos atenienses; mas na verdade parece que de outra coisa aquele não abusou, a não ser da grande confiança que lhe depositara, como é evidente, porquanto vários vieram a concluir que espreitava os meios de poder surpreender o porto de Pireu, que fazia todos os dias passar guerreiros para a ilha de Salamina e procurava corromper por dinheiro alguns dos moradores dentro do recinto do porto; ele, entretanto, não quis nunca dar ouvidos nem acreditar. E, ainda mais, tendo Filomedas Lampnano (50) proposto um decreto, segundo o qual os atenienses deviam se manter prontos em armas, para fazer o que o capitão Fócion lhes ordenasse, não fez caso, até que Nicanor, saindo com as armas do forte de Muníquia, começou a fechar as trincheiras do porto do Pireu, mas então quando Fócion pensou em levar o povo para impedi-lo, encontrou-o amotinado contra ele, de maneira que nenhuma pessoa parecia querer obedecer às suas ordens.
Fócion acusado de traição.
XLVII. Nesse entrementes, Alexandre, filho de Polipercon, chegou com uma armada, sob a aparência de vir em socorro dos habitantes da cidade contra Nicanor, mas em verdade com a intenção de se apoderar, ele mesmo, do resto da cidade se pudesse, rnesmo porque estava em revolução uma parte contra a outra porque os bandidos aí entraram em confusão e acorreram também muitos estrangeiros e outras pessoas com a nota de infâmia, de modo que se manteve uma assembléia da cidade confusa com pessoas recolhidas de todas as camadas sociais, sem ordem nenhuma, na qual Fócion foi deposto de seu cargo, sendo eleitos outros capitães em seu lugar; e se não tivessem percebido Alexandre que falava a sós com Nicanor, voltando por várias vezes bem próximo às muralhas da cidade, (o que pôs os atenienses em desconfiança e suspeita) julgando que ele não quisera livrar a cidade daquele perigo. Foi Fócion incontinenti acusado asperamente de traição pelo orador Agnônides; receando isso, Calimedon e Péricles (51) ausentaram-se em boa hora da cidade, e Fócion com seus outros amigos que não haviam fugido, foram à presença de Polipercon; acompanharam-no também Sólon Plateiano e Di-narco Coríntio, que julgavam ter alguma amizade e alguma intimidade com Polipercon; mas em caminho, tendo Dinarco caído doente na cidade de Elácia, aí ficaram vários dias, esperando que ficasse curado, durante os quais, pela persuasão do orador Agnônides e a instâncias de Arquestrato, que propôs o decreto, o povo enviou à presença de Polipercon embaixadores para acusarem Fócion, de tal modo que os dois partidos chegaram ao mesmo tempo e encontraram-no pelos campos com o rei, próximo de um vilarejo da Fócia denominado Fariges, assentado ao pé do monte Acrorion, que chamam atualmente Gaulês.
Polisperco envia-o atado sobre uma carriola a Atenas.
XLVlll. Ali fez Polipercon estender um doceilde ouro em forma de céu, sob o qual fez sentar o rei e os principais de seus servidores e amigos ao redor dele; mas, de entrada antes de qualquer outro trabalho, fez prender Dinarco e ordenou que o levassem para morrer, após o torturarem e depois disto feito, ordenou aos atenienses que declarassem o que tinham a dizer. E, então começaram a gritar e fazer um grande barulho, acusando-se uns aos outros na presença do rei e de seu Conselho, até que Agnô-nides indo à frente, disse: — "Senhores macedô-nios, fazei-nos por a todos em uma jaula e enviar-nos pés e mãos atados a Atenas, ao povo, para nos fazer dar contas de nosso feito". O rei se pôs a rir com estas palavras; mas os senhores macedônios iam a esta audiência e alguns estrangeiros que haviam vindo para presenciar a acusação, faziam sinais com a cabeça para que deduzissem no momento, em presença do rei, os artigos de suas acusações, antes do que mandá-los de volta ao povo de Atenas. Mas as partes não eram igualmente ouvidas, porque Polipercon muitas vezes tratava mal a Fócion, cortando a todo instante sua palavra, quando este tentava fazer suas justificações até que, colérico, bateu com a bengala que tinha nas mãos em terra, ordenando afinal que se calasse e que se retirasse.
E como Hegemon lhe disse que podia mesmo ser muito boa testemunha de como Fócion havia sempre amado e servido o povo, respondeu-lhe furioso: — "Não venhas aqui mentir falsamente em presença do rei". O rei então levantou-se de seu trono e tomando uma lança, procurou bater em Hegemon se Polipercon não o tivesse abraçado subitamente pelas costas, retendo-o, e assim, dissolveu-se esta audiência e assembléia de Conselho; mas logo houve guardas que agarraram Fócion e os que estavam junto dele. Vendo isso, alguns outros de seus amigos, que estavam um pouco distantes, cobriram ridiculamente o rosto e fugiram rapidamente dali; os outros foram levados prisioneiros a Atenas por Clito, não tanto para fazer e completar seu processo, como dizem, mas para os executar, como já sendo condenados à morte. Ainda foi o modo como os conduziram, ignominioso; pois os arrastaram sobre carno-las em toda a extensão da grande rua de Cerâmica, até ao teatro, onde Clito os deteve até que os magistrados houvessem reunido o povo, sem excluir desta assembléia nem escravo, nem estrangeiro, nem homem com marca de infâmia; mas deixaram o teatro aberto a todos e a todas, de qualquer condição que fossem e a tribuna dos discursos livre a quem quisesse falar contra eles.
O povo condena-o à morte.
XLIX. Foram primeiramente lidas publicamente as cartas do rei, pelas quais dizia ao povo que havia julgado esses criminosos atingidos e evidenciados de traição, mas que os havia enviado de volta para julgamento e seu conhecimento, para os condenar, como homens que eram, francos e livres. Então Clito apresentou seus prisioneiros diante do povo, quando as pessoas de bem e de honra, assim que viram Fócion, abaixaram os olhos contra a terra, cobrindo o rosto com medo de olhá-lo, e puseram-se a chorar; todavia, houve um que se levantou e disse alto e claro: — "Senhores, desde que o rei submete ao povo o julgamento de tão grandes personagens, seria pelo menos razoável que fizesse sair desta assembléia os escravos e os estrangeiros que não são cidadãos de Atenas". Mas a plebe não quis consentir, e pôs-se a gritar que deviam castigar esses traidores inimigos do povo, que desejavam retirar a autoridade soberana para dá-la a um pequeno número de tiranos, de tal modo que não houve pessoa alguma que ousasse falar por Fócion. Tendo dificilmente e com grande luta obtido a palavra, Fócion perguntou: — "Senhores atenienses, como quereis nos fazer morrer, com justiça ou injustamente?" Alguns lhes responderam: — "Com justiça". — "Como, replicou ele, podeis fazê-lo, se não ouvis primeiramente nossas justificações?" Nem assim puderam conseguir. Então Fócion, aproximando-se mais para perto, disse-lhes: — "Bem, senhores, confesso vos haver causado dano c que as faltas que cometi na administração de vossa república, mereçam a morte; mas esses que estão comigo, por que quereis fazê-los morrer, levando em conta que não cometeram nenhum crime?" A plebe respondeu-lhe: — "Porque são teus amigos! Ouvida esta resposta, Fócion retirou-se sem dizer mais uma só palavra. E o orador Agnônides, tendo um decreto já escrito, leu-o, pelo qual o povo julgasse, pela pluralidade das vozes, se esses prisioneiros tinham cometido crimes contra a república, ou não; e quando fossem da opinião que tinham crimes, seriam todos condenados à morte. Quando esse decreto foi lido, houve os que gritaram bem alto que ajuntassem ainda mais a esse decreto, que Fócion antes de ser executado, fosse primeiramente martirizado; e de fato ordenaram que trouxessem t a roda de tortura e fizessem vir os carrascos; mas Agnônides vendo que mesmo Clito estava descontente com isto, julgando ser uma crueldade bárbara e detestável, disse bem alto: — "Quando tiverdes entre vossas mãos um velhaco como Cali-medon, senhores atenienses, então o fareis martirizar; mas contra Fócion, eu não saberia ser o autor". Então houve um homem de honra na assembléia que ajuntou: — "Fazes bem, Agnônides, em dizer isto; pois se martirizássemos Fócion, que deveríamos fazer contigo?" Esse decreto, sendo autorizado e segundo seu teor, o julgamento posto à pluralidade dos votos do povo, não houve um na assembléia que ficasse sentado, mas levantaram-se todos e a maioria ainda pôs chapéus de flores sobre suas cabeças pelo prazer que sentiam em condenar esses prisioneiros à morte.
Constância de Fócion.
L. Estavam com Fócion, Nicocles, Tudipo, Hegemon e Pitocles, mas Demétrio, o Faleriano, Calimedon e Caricies achando-se ausentes, foram também condenados a morrer. Assim, terminada a assembléia, os condenados foram conduzidos à prisão para serem executados, quando todos os outros, abraçando pela última vez seus parentes e amigos que encontravam pelo caminho, iam chorando e lamentando sua miserável sorte, Fócion ia com a mesma fisionomia que demonstrava antes como capitão, quando o acompanhavam por honra, da assembléia até sua casa, e assim emocionava, com grande compaixão, os corações de diversos, quando iam considerando com admiração a constância e força de coragem que existiam nele; e ao contrário, aí estavam também outros maldosos e inimigos seus, que cornam o mais perto que podiam atrás dele para lhe dizerem vilanias, entre os quais houve um. que, abordando-o pela frente, cuspiu-lhe no rosto; então Fócion virando-se para os magistrados, disse-lhes: — "Não fareis cessar a insolência deste homem? Quando chegaram à prisão, Tudipo, vendo a cicuta que socavam para os fazer beber, pôs-se a lamentar e a atormentar-se desesperadamente, dizendo que cometiam um grande erro fazendo-o morrer com Fócion: — "Como, respondeu-lhe Fócion, não recebes como grande conforto, fazerem-te morrer comigo?" E como algum dos assistentes lhes perguntasse se desejava mandar dizer alguma coisa a seu filho Fócion (52) : — "Certamente, disse ele, que não procure nunca vingar o erro que me fazem os atenienses". Então Nicocles, que era o mais fiel de seus amigos, pediu-lhe que lhe permitisse beber o veneno primeiro do que ele. Fócion respondeu-lhe: — "Tu me fazes um pedido que me é bem doloroso e bem difícil, Nicocles; mas como em minha vida nunca te recusei nada, ainda concedo-te agora na minha morte o que me pedes". Quando todos os outros haviam bebido, aconteceu que não havia mais cicuta e o carrasco disse que não moeria mais nenhuma, se não lhe entregassem doze dracmas de prata, porque tanto lhe custava, de modo que ficaram muito tempo neste estado, até que Fócion mesmo, chamando um de seus amigos, pediu-lhe para entregar ao carrasco esse pouco dinheiro que pedia, pois não se podia morrer em Atenas, sem que custasse dinheiro.
Um pobre homem chamado Conópio cumpre com os deveres fúnebres
LI. Foi no décimo-nono dia do mês de março (53) no qual os cavaleiros estão acostumados a fazer uma procissão em honra de Júpiter; mas uns retiraram os chapéus de flores que deviam trazer sobre suas cabeças, e outros, olhando a porta da prisão passando pela frente, puseram-se a chorar. Pareceu a esses que não estavam despojados de toda humanidade e que não tinham o juízo totalmente depravado por rancor e inveja, que era um sacrilégio muito grave contra os deuses, de não haver pelo menos esperado passar esse dia, a fim de que uma festa tão solene como aquela, não fosse poluída nem contaminada com a morte violenta de homens; todavia, seus inimigos, não tendo ainda sua ira saciada, fizeram ordenar pelo povo que seu corpo seria transportado para fora dos limites do país do Ático e proibido aos atenienses acender fogo algum em seus funerais; razão porque não houve nenhum de seus companheiros que ousasse por-lhe a mão. Mas um pobre homem chamado Conopião, que estava acostumado a ganhar sua vida nisto, por algumas moedas de prata que lhe deram, tomou o corpo e levou-o para além da cidade de Eleusina e fazendo fogo sobre a terra dos megarianos, queimou-o; e, houve uma dama megánca, a qual encontrando-se por acaso nesses funerais com suas criadas, levantou um pouco a terra no lugar onde o corpo havia sido embalsamado e queimado, fazendo como um túmulo vazio, sobre o qual espargiu as fusões que se costumam espargir nos falecidos, mas recolhendo os ossos, levou-os dentro de seu regaço à noite, para sua casa e enterrou-os junto da sua lareira, dizendo: — "Ó querido lar, deposito em tua guarda estas relíquias de um homem de bem e peço-te que as conserves fielmente para as devolver um dia à sepultura de seus antepassados, quando os atenienses vierem a reconhecer o erro que cometeram nesta ocasião".
Arrependimento dos atenienses, honras restituídas a Fócion. Castigo de seus acusadores
LII. Não se passou muito tempo sem que os negócios públicos fizessem sentir aos atenienses que haviam feito morrer aquele que mantinha a justiça e a honestidade em Atenas. Por esta razão fizeram erigir uma estátua de cobre e sepultaram honradamente seus ossos a expensas da república; quanto aos seus acusadores, eles mesmos fizeram morrer Agnô-nides; os dois outros, Epicuro e Demófilo tendo fugido, foram encontrados depois por seu filho Fócion que vingou o pai. Esse Fócion, na ocasião, não tinha valor algum; mas tornou-se enamorado de uma jovem rapariga sustentada por um alcoviteiro e, encontrando-se, por acaso, um dia, dentro da escola do Liceu, ouviu um discurso e um argumento de Teodoro, aquele que foi denominado o Ateísta, isto é, descrente, que negava que existissem deuses: — "Se não há vergonha alguma em libertar da escravidão um seu amigo, também não é vergonhoso libertar uma sua amiga, e se não o é para tirar do cativeiro um companheiro seu, também não o é tirar uma companheira sua". Esse jovem, acomodando esteargumento com a sua paixão e fazendo suas contas, o que podia fazer com razão, tirou das mãos desse tratador de animais a jovem rapariga pela qual estava apaixonado. Em suma, esta morte de Fócion reavivou nos gregos a lembrança de Sócrates e consideraram que foi uma falta e uma calamidade igual para a cidade de Atenas.
Notas
- (1) Tendo a lutar contra um tempo tempestuoso, como contra um terrível antagonista.
- (2) No "Antígono", v. 570 ou 563.
- (3) Ver as Observações.
- (4) Ver as Observações.
- (5) Historiador, de Lampsaque, viveu no tempo da velhice de Fócion.
- (6) Um dos dez oradores dos quais Plutarco escreveu as Vidas, que se encontram nesta coleção.
- (7) Na guerra que denominam Social, no terceiro ano da centuagésima-quinta Olimpíada; A. C. 358.
- (8) O quarto ano da centuagésima Olimpiada; A. C. 377.
- (9) "Por que não te fazes escanhoar?" O resto é uma paráfrase de Amyot.
- (10) Um sicofanta.
- (11) Leia-se, de acordo com as variantes dos manuscritos, "enviou de volta todos os gregos que haviam sido aprisionados".
- (12) Todas as duas na parte da Trácia que forma o reino dos Odrisianos; Perinto, sobre a Propôntida, e Bizâncio, sobre o Bósforo da Trácia.
- (13) Na extremidade ocidental do Atiço, abaixo do monte Citeron.
- (14) Um pouco abaixo de Megara. Era uma cidadezinha que servia de porto e de arsenal de marinha a Megara.
- (15) Isto não consta no grego.
- (16) De Queronéia, aparentemente.
- (17) Aquele que se retirou com a comitiva que seguiu Dario, ali recebendo a morte como prêmio da nobre franqueza com que fizera sentir a diferença de suas tropas brilhantes de ouro com os soldados macedônios todos cobertos de ferro. Veja Q. Curt. L. III, cap. 5.
- (18) No primeiro ano da centuagésima-undécima-primeira Olimpíada.
- (19) No terceiro ano da centuagésima-décima Olimpíada.
- (20) Sessenta mil escudos, Amyot.
- (21) Não é da ilha que se trata aqui, mas de uma cidade sobre o rio do mesmo nome, na Bitínia ou na Mísia, que lhe é contígua.
- (22) Gergueto está na Mísia.
- (23) Milasses acha-se na Caria.
- (24) Eléia, na Eólia, abaixo do rio Calco e de Pérgamo que está do outro lado do rio. £ hoje a aldeia de Castela-mare-della-Bruca.
- (25) É um bairro do Pireu. Ver Meursius, L. I.
- (26) Leia: "Seu filho desejando combater nos jogos das Panathenea, Fócion permitiu-lhe concorrer aos prêmios do exercício chamado Parabate, não porque lhe apetecesse unanimemente, etc". Este exercício consistia em descer e subir sobre carros correndo à rédea solta. C.
- (27) Os sábios concordam com razão com a forma Foco, como se encontra mais adiante.
- (28) General de Alexandre, governador da Babilônia, onde roubou o tesouro dos reis antigos, transportando-o para Atenas. O desaparecimento de uma parte desse tesouro deu causa a um processo ruidoso, no qual o próprio Demóstenes esteve envolvido. Harpalo morreu em 324 A. C
- (29) Quatrocentos e noventa mil escudos. Amyot.
- (30) Pausânias chama-a Pitionice e assegura que esse monumento é um dos mais belos da Grécia. L. I, pág. 90, ediç. de Kuhn.
- (31) Ver as Observações.
- (32) Dezoito mil escudos. Amyot.
- (33) A Guerra Lamiaca, pela qual os gregos tentaram libertar-se do domínio macedónico depois da morte de Alexandre (328 A. C), sob a chefia de Hispérides e Demóstenes. Houve sucessos a princípio, tendo o próprio Leóstenes, referido no texto, feito um cerco a Antípater na cidade de Lâmia (daí a denominação da guerra). Com a batalha naval de Craunon e morte dos principais chefes, Atenas submeteu-se.
- (34) Consta no grego: "mas receio o Dolichum", que era uma corrida em que se fazia seis vezes o percurso. C.
- (35) Ver as Observações.
- (36) No segundo ano da centuagésima-décima-quarta Olimpíada; A. C. 323.
- (37) No ano seguinte. Cranon acha-se no distrito da Tessália chamado Têmpia.
- (38) Entre o de Falere para o oriente e o do Pireu para o ocidente. É uma das povoações do Atiço, mas não se sabe de qual tribo.
- (39) Grego, "boedromion", setembro.
- (40) Leia-se: "em cujo dia habituaram-se a conduzir Jacos desde a cidade de Atenas até. etc." C.
- (41) Floresta da Tesprótida ou de Molóssia; pois os limites dessas duas províncias variaram. Era consagrada a Júpiter e famosa por seus oráculos que eram entregues por carvalhos ou por pombas.
- (42) Ou faixas, com as quais unem ao redor os berços místicos de Baco. Amyot.
- (43) Ver as Observações.
- (44) Na extremidade do golfo Argólico e do golfo Saronlco.
- (45) Cidade da Argólida.
- (46) Grande cadeia de montanhas no Épiro.
- (47) A esta forma de governo. C.
- (48) Cem escudos. Amyot.
- (49) No quarto ano da centuagéslma-décima-quarta Olimpíada; A. C 321.
- (50) Havia duas províncias com o nome de Lampria no Atico.
- (51) É preciso ler: "eu creio. Caricies". Veja o cap. 50.
- (52) Leia-se: Foco.
- (53) Grego, ."munychion" (abril), no terceiro ano da centuagé-sima-décima-quinta Olimpíada.
Fonte: Edameris. Tradução brasileira de Prof. Carlos Chaves, com base na versão francesa de de 1616 de Amyot com notas de Brotier, Vauvilliers e Clavier.
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