FRANCISCO RODRIGUES LOBO, e a poesia bucólica no Teócrito Português

Cônego Fernandes Pinheiro (1825 – 1876)

CURSO DE LITERATURA NACIONAL

LIÇÃO XIX

Gênero lírico

espécie bucólica

FRANCISCO RODRIGUES LOBO

Forma este suavíloquo poeta, chamado o Teócrito Português, a transição da terceira para a quarta época da literatura. Pertence ainda à escola italiana, de que foram paladinos Ferreira, Miranda e Camões, mas participa já da funesta influência do gongorismo, que com a usurpação castelhana entrara em Portugal. Natural de Leiria, ignora-se o ano do seu nascimento, sabendo-se apenas que morrera afogado no Tejo pelos anos de 1623 a 1627. Não consta que ocupasse cargo algum público, e parece que se deslizaram seus dias no modesto mister de lavrador. Geralmente estimado, era o mais popular poeta de seu tempo, e estranhos e nacionais rendiam homenagem aos seus conhecimentos e honestidade. Considerando-o como poeta bucólico não se lhe pode recusar um dos primeiros lugares e a Coleção de Éclogas Pastoris goza de merecido conceito. Seus pastores, como os de Sá e Miranda, tem falta de naturalidade, são por demais sentenciosos e de uma prolixidade enfadonha. Contribui ainda poderosamente para desgostar os leitores os versos octossílabos de que quase sempre se serve.

Para exemplo de suas belezas citemos um fragmento da VI Écloga, em que com delicado pincel traça a luta entre dois pastores:

Foram Dino e Montano os lutadores, Cada qual de seu cabo levou três Da serra os mais dispostos e melhores. Tangem-se as gaitas uma e outra vez, Põem no terreiio a boa da Fogaça Que nunca neste vodo tal se fez. Despem-se os dois, rodeiam toda a praça, Es um se chega, eis outro se apartava Cometendo por jeito e por negaça. Arcou Dino primeiro e não chegava Quando a Montano lhe arma uma travessa Que imagnei então que o derribava, Se não quando chegando o arremessa De si com tanta força e tanta ira Que lhe valeu soltar-se bem depressa. Tornam de novo à guerra, quem os vira! Como os nossos almados com ciúme Da juvenca que a vê-los se não vira? Os olhos vertem sangue, e vertem lume As mãos tremendo, e o rosto traspassado Cada qual teme e cada qual presume. Remetem, pegam, arcam e abraçpdo Ficou Montano um pouco mais a jeito: E’e da parte esquerda subjugado Meteu-lhe então com força o pé dreito, Caiu Dino e Montano justamente Na terra pôs a mão como eu suspeito. Gritam dum bando e doutro brada a gente, Cobrem logo Montano os do seu bando, Cobrem Dino também, mas descontente. Os duma e doutra parte estão gritando Que foi de ambos a queda, e sobre o caso Armou Vicente brigas com Fernando Pediu Cerino então por não dar azo A mores desavenças que o julgassem E pôs da causa até domingo o prazo.

É notável pela sua naturalidade e vivo colorido o seguinte exórdio da Ia Écloga:

Bicito

Uma novilha dourada Que anda naquela floresta Com uma estrela na testa Silva branca e remendada Viste, Aleixo, donde veio Que anda ali sem companhia?

aleixo

Guiçais se derramaria, Será d’algum gado alhe!o, Para nós se vem chegando, E se eu tenho inda o meu tino, A novilha é de Corino, E o pastor anda-a buscando. É nestes pastos estraniia, Veio há pouco a seu curral, Acha-se ro campo mal E foge para a montanha.

bicito

E donde houve aquela rês, Que ele poucas vacas cria?

aleixo

Ganhou-a numa porfia Nas festas que Ergasto fez; Houve então grã desafio Em luta, canto e louvores, Da serra e de além do rio.

As mesmas belezas se encontram neste trecho da Écloga VIII.

O teu novilho formoso
Tão arisco e indomado
Mau de pasto, e mau de arado.
Entre as vacas buliçoso.
Entre os homens espantado,
Que pastor lhe não passava,
Nem outro quando pastava,
Na ribeira do Sabugo
Não ve o tomar o jugo
E amansar fúria tão brava?
O urso que Alberto cria
Animal de tal fereza
Não vai perdendo a braveza
Porque basta a companhia
A mudar a natureza?
Uma charneca maninha
Que só mouta e cardos tinha
E infrutíferos silvados,
E estes barrancos quebrados
Por onde a água ao vale vinha,
Não vês que o trabalho alheio,
E a dura continuação.
Fez com que agora nos dão
De trigo, milho e centeio
Cheia espga e louro grão?
Pois como não pode ser,
Gonçalo, que uma mulher,
Que tem razão conhecida,
Sabendo que é tão querida
Que se sujeite a querer

Obriga-nos a brevidade do nosso plano a omitir muitos outros lugares lindíssimos que se acham nas Éclogas do Teócrito Português.

Fonte: editora Cátedra – MEC – 1978

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