FRANCISCO VILELA BARBOSA (1.° Visconde e Marquês de Paranaguá)

Biblioteca Academia Paulista de Letras – volume 7.

História da Literatura Brasileira TOMO I. vol 3.

 LIVRO PRIMEIRO Época de Transformação (século XIX) 2º período (Fase Patriótica)

Artur Mota (Arthur Motta) (1879 – 1936)

FRANCISCO VILELA BARBOSA (1.° Visconde e Marquês de Paranaguá)

Nasceu no Rio de Janeiro, a 20 de novembro de 1769, e faleceu a 11 de setembro de 1846. Era filho do negociante Francisco Vilela Barbosa e D. Ana Maria da Conceição.

BIBLIOGRAFIA

1) Elementos de geometria, publicados por ordem da Academia Real das Ciências — Lisboa, Tip. da Academia, 1815. Foi adotada em várias escolas. A 2." edição é de Lisboa, de 1819, 127 págs. in 8.°, e a 3." edição de 1837. Trazem em aditamento o "Tratado de geometria esférica", bem como as edições subseqüentes; 4." de 1838, 5." de 1841, 6.a de 1846 (Tip. Laemmert), 7.a de 1863, 8." de 1870 e 9.a de 1871, feitas no Rio de Janeiro. As de 1837, 1841, 1863 e 1871, foram feitas em Lisboa. De 1846 em diante há várias correções do autor.

2) Breve tratado de geometria esférica, em aditamento aos Elementos de geometria — Lisboa, Tip. da Acad. Real das Ciências, 1817, 28 págs. in 8.°, com uma estampa. Foi incluído na precedente, a partir da edição de 1819 (n.° 2.554 da Biblioteca Brasiliense).

3) Discurso histórico, recitado na sessão pública da Academia Real das Ciências, a 24-6-1821, quando o autor era vice-secretário. Encontra-se nas "Memórias da Academia", tomo 8.°, págs. 1 a 23.

4) Discursos recitados no paço de Queluz perante el-rei D. João VI e do infante D. Miguel, por ocasião do seu feliz regresso ao reino de Portugal. Saíram no mesmo tomo das "Memórias da Academia", pág. 35 em diante.

5) Poemas — Coimbra, na Real Imp. da Univ., 1794, in 8.° de 127 págs. Observa Inocêncio da Silva que esse volume de poesias, publicado quando o autor cursava as aulas da universidade, apresenta-se mutilado, tendo cortadas as págs. 31 a 36 e 115 a 120. Atribui como causa desses cortes a exigência posterior da censura (n.° 2.553 da Bib. Brasiliense). O livro encerra odes, sonetos, cantatas, etc.

6) A Primavera — cantata. Lisboa, 1799. A 2.a edição é de Lisboa, 1828. Encontra-se, também, no tomo VI, parte 1." das "Memórias da Acad. Real das Ciências", págs. 20 a 32. Foi reproduzida no "Parnaso Brasileiro", de Januário da Cunha Barbosa, caderno 2.°, pág. 53, onde também se encontram duas liras do autor (págs. 47 a 49), em versos octossílabos, compostos em 1799. Acha-se, ainda, reproduzida no "Florilégio da poesia brasileira", por F. A. de Varnhagen, tomo 2.°, págs. 653 a 666; no "Parnaso Brasileiro", de J. M. Pereira da Silva, tomo

2.°, págs. 29 a 43. O Parnaso também reproduz uma odè, três cançonetas, uma alegoria e uma poesia (A Rosa)

7) Saudade pela sentidíssima morte do Sr. D. Pedro I, ex-imperador do Brasil, glosa oferecida aos corações sensíveis por Z. O. A. — Rio de Janeiro, 1834. Teve 2.a edição no ano de 1835, correta e aumentada. Rio de Janeiro, Tip. do Diário de M. L. Viana, 10-4-págs. in. Vem reproduzida na "História da restauração de Portugal" — Rio, Laemmert, 1841.

8) Ode ao Visconde de Cairu — (Rev. do Inst. Hist., vol. I, pág. 246.

9) Stabat Mater — tradução. Saiu no "íris", tomo 2.°, pág. 637.

10) Memória sobre a correção das derrotas de estima. Foi escrita quando o autor servia na marinha e premiada pela Soe. Marítima, Militar e Geográfica.

11) A uma velha enamorada e outras (Parnaso Brasileiro, vol. 2.°, pág. 44, de Pereira da Silva).

Encontram-se produções poéticas do Marquês de Paranaguá nos seguintes livros: "Florilégio da poesia brasileira" (Duas liras e A Primavera), tomo 2.°, pág. 647; "Parnaso Brasileiro", por J. M. Pereira da Silva (A Primavera — cantata, A uma velha enamorada — ode, O beijo, O retrato — cançonetas, O rio e o regato — alegoria; A tarde — cantata, e A rosa), 2.° vol., pág. 29; no "Parnaso Brasileiro", por Melo Morais Filho (Lira e Epigrama), vol. 1.°, pág. 366; na "Antologia brasileira", de Eugênio Werneck; na "Antologia vernácula", de Almachio Dinis.

Afirma S. Blake que Vilela Barbosa, pouco antes de falecer, entregou às chamas uma preciosa coleção de poesias, de memórias políticas e vários escritos inéditos, de valor literário. E acrescenta: "Muitas pessoas, porém, possuem um ou outro de tais escritos, assim como de ligeiros improvisos, que ele nunca escreveu".

Ocorrem-me, ainda: "Rev. do Inst. Hist." (Ode ao Visconde de Cairu, improvisada no Senado, quando o visconde proferia um discurso enérgico), tomo 1.°, pág. 246; "íris" periódico de religião, belas-artes, ciências, letras, etc. (Stabat Mater) tomo 2.°, pág. 637 (3).

(2) No "Florilégio brasileiro da infância" se encontram uma ode e uma alegoria. Uma lira e um epigrama foram transcritos por Melo Morais Filho no seu "Parnaso Brasileiro". Em outras seletas e antologias há reproduções de algumas poesias.

(3) Na "Revista do Inst. Hist." encontram-se, além da "Ode" ao Visconde de Cairu, a "Justificação do voto favorável à maioridade", tomo 44, pág. 228, outro trabalho no tomo LXIV, pág. XIII, e na "Carta ao Marquês de Rezende", tomo 80, pág. 491.

FONTES PARA O ESTUDO CRÍTICO

 Alfredo Gomes — Hist. Literária — Introd. Dic. Hist., vol. I, pág. 1.358.

 Almachio Dinis — Antologia vernácula, pág. 205.

 Barbuda (P. J.) — Literatura brasileira, pág. 398.

 Barão de Vasconcelos — Arquivo nobiliárquico brasileiro, pág. 334.

Cándido B. de Oliveira — Revista do Inst. Hist., tomo 2.°, da 2." série, pág. 308, tomo 9.°, pág. 308.

 Chichorro da Gama — Miniaturas biográficas, pág. 125.

 " " " — Dicionário de autores clássicos, pág. 83, e Rev. de Língua Portuguesa. Cristiano Benedito Otoni — Juízo crítico, Rio, 1845. Costa Honorato (Monsenhor M. da) — Tratado de retórica, pág. 284.

 Eugênio Werneck — Antologia brasileira, pág. 624.

 Fernandes Pinheiro — Historia literária, vol. 2.°, pág. 421.

 Frota Pessoa — Crítica e polêmica, pág. 41.

 Gomes de Carvalho (M. E.) — Os deputados brasileiros nas cortes gerais de 1821.

 Inocêncio da Silva — Dicionário bibliográfico, tomo 3.°, pág. 81.

 Lery dos Santos — Panteão Fluminense, pág. 327.

 Melo Morais Filho — Parnaso Brasileiro, tomo 1.°, pág. 366.

 Pereira da Silva — Os varões ilustres do Brasil, 2.° vol., pág. 352.

 Revista do Instituto Histórico — tomos I, pág. 246 (2.a ed.) e pág. 191 (3.aed.); 9.°, pág. 398; 44.°, pág. 228; 64.°, pág. XIII, 80.°, pág. 491.

 Sacramento Blake — Dic. bibliog. brasileiro, vol. 3.°, pág. 134.

 Silvio Romero — Historia da literatura brasileira — 1.° vol., pág. 505.

 " e João Ribeiro — Compêndio de historia da literatura brasileira, pág. 111.

 Vasconcelos Drummond — Memorias, nos Anais da Biblioteca Nacional.

 Wolf (Ferdinand) — Littérature Bresilienne, pág. 97.

NOTÍCIA BIOGRÁFICA E SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO CRÍTICO

Fosse embora um homem de cultura científica comprovada no magistério e pelos livros didáticos que escreveu, a sua principal feição era a do poeta. Distinguia-se, também, como político notável. Deve, porém, figurar como cultor da poesia clássica, repassada de lirismo.

Perdeu-se o seu livro Poemas, pois que os raros exemplares que dele se encontram apresentam-se mutilados, privados de doze páginas entre as 127 do seu conteúdo completo. Admitem os biógrafos que a censura tivesse exercido tardiamente a sua feroz missão corretora.

Há, porém, nas coletâneas antigas da produção poética dos autores brasileiros copiosa messe de exemplos que coadjuvam o julgamento crítico.

A cantata A Primavera é uma manifestação característica do classicismo reinante no 18.° século. Tresanda a pastorais e a mitologia, de princípio a fim. Ainda se inspira no gosto arcádico, é rasteira no surto e mesquinha na concepção.

Das liras, a que mais lhe aprecio é aquela em que o poeta abranda o ciúme de sua Anarda, fazendo-lhe o confronto com Gelia. A das evocações às auras, aos ecos e aos regatos nada revela de apreciável, como insulsa se apresenta a ode "A uma velha enamorada".

As melhores produções do seu engenho poético são as cançonetas, a alegoria e, sobre todas, "A rosa", onde o lirismo é mais suave e a delicadeza supera.

Melhor será julgar o homem pela biografia.

Vilela Barbosa era filho de um negociante português.

Órfão de pai e de mãe, muito cedo, encontrou o afeto e o carinho de duas tias para lhe suprirem a perda dos progenitores. Delas recebeu o auxílio na educação.

Terminado o estudo preparatório aos 18 anos, na cidade natal, foi mandado para Coimbra, onde se matriculou no curso de matemática, que concluiu em 1796. Deu de si as melhores provas de talento e aplicação, durante a fase de estudante, até receber o diploma de bacharel. Mas ocorreu-lhe um incidente. Por haver contraído núpcias contra a vontade da tia, esta suspendeu-lhe a mesada. Gra-

ças, porém, a D. Francisco de Lemos pôde prosseguir nos estudos e concluí-los.

Da faculdade passou para a armada real, no posto de 2.° tenente, desde o ano imediato ao da formatura, isto é, com a idade de 28 anos. Na carreira militar distinguiu-se no cerco da praça de Túnis e no combate aos piratas argelinos, chegando ao posto de major, quando pediu demissão.

Em 1801 mereceu da congregação da Universidade de Coimbra a distinção de ser nomeado lente substituto da Real Academia de Marinha. No ano imediato passou para o corpo de engenheiros, no posto de 1.° tenente.

Em Lisboa, foi membro da Sociedade Real Marítima, Militar e Geográfica, sendo admitido, em 1814, para a Academia Real de Ciências, de que foi eleito vice-secretário em 1818.

Jubilou-se no magistério em 1822, para vir ao Brasil após a proclamação da independência, sendo nomeado coronel graduado do corpo de engenheiros.

Antes, porém, de regressar à pátria, representou a província do Rio de Janeiro como deputado às cortes de Lisboa.

No exercício do mandato político a sua atitude de fidelidade ao governo português e, portanto, contrário a quaisquer intuitos separatistas, provocou muitas críticas e comentários desagradáveis à sua condição de brasileiro nato e representante de sua província natal. Gomes de Carvalho, em várias passagens de sua obra, recriminou-lhe o procedimento, bem como quase todos os autores brasileiros, especialmente Vasconcelos Drummond, o mais severo censor dos seus atos.

Há, no entanto, a considerar o seu temperamento, a circunstância de ser filho de português e de haver sido militar do reino. Ademais, não se divorciou dos seus compatriotas, pois assinou a declaração proposta por Fernandes Pinheiro e requereu urgência para a discussão dela. Permaneceu, todavia, em Lisboa, até ser proclamada a emancipação política do Brasil, e só em princípios do ano de 1823 desligou-se dos cargos e postos por ele ocupados, embarcando em junho para o Rio de Janeiro.

No Brasil dedicou-se à causa nacional, primeiro na Constituinte de 1823, depois como ministro do império que referendou o decreto dissolvendo a assembléia. Passou a ocupar a pasta da guerra e depois a da marinha, até 16.1.1827, quando se exonerou por conveniências políticas.

Mas volveu à pasta da marinha, no período de 4.12.1829 a 19.3.1831, exercendo simultaneamente as funções de ministro de estrangeiros, durante 10 dias, em 1830.

Vilela Barbosa era político enérgico, homem de caráter e de opiniões bem definidas e administrador severo.

Adveio-lhe certa antipatia perante a opinião pública do fato de haver manifestado oposição às tendências separatistas do seu país. Atribuíram-lhe até uma frase que teria sido proferida em Lisboa, de pretender atravessar o Atlântico a nado, com uma espada segura nos dentes, a fim de combater os propugnadores da independência.

Em recompensa aos relevantes serviços por ele prestados, foi agraciado com o título de Visconde e depois Marquês de Paranaguá. Além desse título de nobreza, mereceu outros honoríficos, tais como: Conselheiro de Estado, dignitário da ordem do Cruzeiro, de que obteve mais tarde a grã-cruz, além de alguns diplomas das sociedades científicas a que pertenceu, entre as quais do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Quando se fundou o Senado, foi eleito e escolhido como senador do império pela província do Rio de Janeiro.

Colaborou no projeto da Constituição, como um dos dez conselheiros designados por D. Pedro I; fez parte da comissão dos três brasileiros incumbidos de negociar com o governo português o reconhecimento do Brasil independente, em 1825; e, no ano seguinte, recebeu a distinção de ser o plenipotenciário encarregado de celebrar o tratado de amizade e comércio com a França.

Apesar da grande soma de serviços prestados ao seu país, tornou-se impopular, não só pelo motivo indicado, como por ser extremamente dedicado a D. Pedro I, durante o período que sucedeu à dissolução violenta da Assembléia Constituinte. Esse erro político determinou o fermento de desordem que perdurou até a abdicação do primeiro imperador.

Fez parte do último ministério de D. Pedro I, demitindo-se a 7 de abril; e, para escapar às violências e arbitrariedades do partido revolucionário, procurou asilo a bordo de um navio francês. Não obstante essa medida de prudência, a sua casa foi assaltada duas vezes pela massa popular, sofrendo toda a sorte de depredações.

Serenados os ânimos dos revolucionários, recolheu-se à vida privada, freqüentando apenas as sessões do Senado, até o ato que reconheceu a maioridade de D. Pedro II, quando era presidente da câmara alta. No ato da coroação foi designado para exercer as funções de condestável.

Durante o segundo império aquiesceu aos desejos do monarca, voltando à vida ativa. Mas recusou a incumbência de organizar o primeiro ministério e só aceitou a pasta da marinha a partir de 23.3.1841, até 20.1; 1843, com interrupção de 28 dias.

Deixou o poder com a idade avançada de 74 anos, continuando, porém, no Senado, até falecer a 11.9.1846.

As suas qualidades de homem público distinguiram-se pela probidade, lealdade e coragem, fiel às suas convicções.

Não só o político e estadista,, o militar e professor, como o literato e o poeta, merecem exaltação e o culto dos que procuram estabilizar o presente nos alicerces do passado.

Foi um brasileiro ilustre e digno.

SUMÁRIO PARA O ESTUDO COMPLETO

O começo da vida — Em Coimbra — A carreira militar — O professor — Na Academia Real de Ciências — O ingresso na política — Sua atitude nas cortes portuguesas — Na Constituinte brasileira — Ação do ministro — Causas da impopularidade — Os serviços prestados — O poeta — Classicismo e lirismo — Como deve ser julgado o político — Como deve ser classificado o poeta.

 

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