Sentido e Referência dos nomes próprios e das
sentenças declarativas: uma proposta de Gottlob Frege
1. Introdução
O objetivo do presente texto é tentar mostrar o que Frege (1848-1925)
entende por sentido e referência dos nomes próprios e das
sentenças assertivas completas, isto é, das sentenças
declarativas 1.
Tal tentativa ocorre visto que essas questões são de extrema
relevância no desenvolvimento da chamada filosofia analítica
da linguagem, a qual alguns consideram ter seu início exatamente
após a distinção que é realizada por Frege
entre sentido e referência . O artigo de Frege “Sobre o Sentido e
a Referência” foi publicado pela primeira vez em 1892 e o seu complemento
“Digressões sobre o Sentido e a Referência” foi publicado
postumamente, provavelmente escrito entre 1892 e 18952
. São nesses dois artigos que irei centrar a atenção
para efetivar a tentativa de expor o labor fregeano.
Antes de qualquer desenvolvimento possível, é deveras útil
explicar o que é um nome próprio e qual o critério
para identificá-lo, de acordo com Frege. Para que algo seja um nome
próprio, é preciso que se refira a um objeto singular. Isso
significa que algo é nome próprio se, e somente se, designa
um particular e não mais que um. Cito Frege:
“A
designação de um objeto singular pode também consistir
em várias palavras ou sinais. Para sermos breves, chamaremos cada
uma destas designações de nome próprio.”3
Dado o entendimento do que é um nome próprio, chega-se à
conclusão de que, para Frege, as descrições definidas,
que são as combinações de palavras ou sinal, também
são nomes próprios, visto que se referem a apenas um objeto(
Isso sem levar em conta as situações contrafactuais). Assim,
pode-se inferir a partir do critério fregeano, que são exemplos
de nomes próprios: “Flávia”, “Goiânia”, “A capital
de Goiás”, “O autor de Memórias póstumas de Brás
Cubas“, bem como muitos outros, desde que se refiram a apenas um objeto.
Faz-se útil, depois de expor o que Frege entende por nomes próprios,
acrescentar sua compreensão de sinal, referência e sentido
do sinal.
Por “sinal”, Frege entende qualquer que seja o nome, combinação
de palavras ou letra 4.
“Referência”, aquilo que pelo sinal é designado, ou seja,
aquilo a que o sinal se refere 5
;
“Sentido do sinal”, o modo de apresentação do objeto.
A distinção elaborada por Frege entre sentido e referência
é corolário da análise das proposições
de identidade da forma a=a e a=b, de qualquer forma, somente após
resolver alguns problemas estaremos aptos a compreender a concepção
fregeana da identidade, ou seja, igualdade. Frege usa os dois termos e
com eles quer dizer “a é o mesmo que b” ou “a e b coincidem”6.
Admitindo as definições acima de sinal, referência
e sentido sinal, pergunta-se:
A) É possível que dois nomes próprios com sentidos
distintos se refiram ao mesmo objeto, ou seja, é possível
que dois sinais distintos tenham a mesma referência?
Se conseguirmos responder com um “sim” a questão proposta, então
poderemos inferir que a igualdade de referência não pressupõe
a igualdade de sentido. Observemos o caso dos nomes “A cidade do Estádio
Serra Dourada” e “A capital de Goiás”; certamente, tais nomes se
referem à mesma cidade, qual seja: Goiânia. Quanto aos nomes
próprios “A cidade do estádio Serra Dourada” e “A capital
de Goiás” sabemos que se referem à mesma cidade, nossa comunidade
lingüística usaria esses termos de tal modo que esses nomes
se referem ao mesmo objeto. Os dois nomes tem um sentido que “é
entendido por todos que estejam suficientemente familiarizados com a linguagem
ou com a totalidade de designações a que ele pertence 7.”
Isso mostra, portanto, que diferentes sentidos diferentes podem ter a mesma
referência. Daí, podemos chegar a conclusão que a igualdade
de referência não pressupõe a igualdade de sentidos.
Frege tem bons exemplos, como é o caso, o da “Estrela da Manhã”
e a “Estrela da Tarde”, dois sentidos diferentes que se referem ao mesmo
objeto particular, qual seja: o planeta Vênus. Portanto, conclui-se,
novamente, que a igualdade de referência não exige a igualdade
de sentido, no caso dos nomes próprios. Frege aceita isso em sua
teoria da referência. Observemos aqui que não é levado
em conta as situações contrafactuais de Kripke, que fariam
as duas descrições definidas, no caso de Frege, os dois nomes
próprios se referirem, pelo menos em um mundo possível, a
objetos distintos: “A capital de Goiás” poderia muito bem não
ser Goiânia. Entretanto, tratar das situações contrafactuais
não é o caso para o momento.
B) Ao sentido do sinal sempre corresponde uma referência?
Se conseguirmos responder que isso não é o caso, ou seja,
que nem sempre ao sentido do sinal corresponde uma referência, então
poderemos chegar à conclusão que um sentido nunca garante
sua referência, visto que nem sempre o sentido se refere a um objeto.
Suponhamos que ao sentido do sinal sempre corresponda uma referência;
Ora, se isso é verdadeiro, então não é possível
encontrar um caso em que o sentido não terá referência.
Obviamente, podemos construir um exemplo que mostra um sentido que não
corresponde a uma referência:
0) “Cascão fugiu da água que Cebolinha nele jogou.” Ou
1) “Mônica é uma menina capaz de bater em todos os meninos
da rua de uma só vez”.
É claro que o sentido dos sinais acima existe, mas não existe
uma referência, visto que os nomes próprios “Cascão”
e “Cebolinha” e “Mônica” são fictícios. Para dizer
como Frege, é duvidoso que tais nomes se refiram. Se nós
considerarmos os nomes mencionados como detentores de uma referência,
então a sentença que eles possuem podem ser verdadeiras ou
falsas, pois são destes objetos que algo será predicado.
Se, por outro lado, interpretarmos a sentença como detentora de
nomes que não se referem, então elas não podem ser
verdadeiras e nem falsas, visto que os nomes não terão referência
e, assim, nada pode ser predicado de alguma coisa que não exista.
Portanto, o sentido nem sempre garante a referência. Tentar constituir
uma teoria dos objetos parece não ser o propósito de Frege,
assim, também não nos prenderemos a esse tipo de construção.
Ora, se aceitarmos o exemplos como suficientes, podemos concluir que quando
sentenças possuem nomes fictícios, o sentido nem sempre,
portanto, assegura a referência. O exemplo de Frege é feito
através do nome “Ulisses”, em uma outra sentença que não
é a mesma que nenhuma das duas acima; tal nome, Frege considera
duvidoso que se refira a algo 8
. Para Frege isso parece ser o caso:
“E o que dizer agora a respeito da referência? Podemos, mesmo,
formular essa pergunta? É possível que uma sentença
como um todo tenha tão-somente um sentido, mas nenhuma referência?
De qualquer forma, poder-se ia esperar que tais sentenças existam,
do mesmo modo que há partes de sentenças que possuem sentido,
mas que não têm referência. E sentenças que contêm
nomes próprios sem referência serão desta espécie.
” 9
A questão de determinar a referência de sinais, Frege a responde
ao dizer que a referência de um nome é um pressuposto. Isso
quer dizer que ele parte do fato que tal referência existe. Se não
existe, já vimos o que Frege pensa sobre isso.
C) Pode o sentido de um sinal ser compartilhado por muitas pessoas,
ele tem natureza objetiva?
Frege nos atenta ao fato de que não podemos confundir a representação
do objeto com sua referência ou com o seu sentido. A representação
que alguém faz do objeto, é certamente distinta de outra
feita por um indivíduo diferente, pelo próprio fato da diferença
entre indivíduos. Isso a faz ter uma natureza subjetiva, cada homem
tem sua representação do objeto. Que o sentido tenha uma
natureza subjetiva não é verdadeiro, mas que ele seja objetivo,
isto é, que possa ser compartilhado por vários é definitivamente
o caso. Agora, a representação que esse sentido faz em alguém
é uma imagem interna , um processo psicológico. Diz Frege
que mesmo quando duas pessoas distintas representam a mesma coisa ainda
assim elas terão cada uma a sua representação. O sentido
não é o próprio objeto, e sim algo que se dá
entre a representação dele e o nome. Frege usa a metáfora
do telescópio e da lua que consiste em mostrar que se alguém
observa a lua por um telescópio, a referência poderia ser
comparada à lua, que é o objeto observado; a imagem que esse
alguém formaria de sua visão da lua a partir do telescópio
seria a representação; o telescópio, assim, seria
o sentido, aquele que por muitos pode ser compartilhado. Um exemplo poderia
funcionar da seguinte maneira, tomemos o sentido do sinal:
2) “Existe uma cidade chamada Brasília.”
A imagem interna que alguém é levado a produzir quando
entra em contato com esse sentido é totalmente subjetiva, malgrado
não o ser o sentido, que por muitos é compartilhado, dado
que múltiplas pessoas entendem o enunciado acima.
D) O que é o pensamento, de acordo com Frege?
Por pensamento, Frege não entende o processo psicológico
que se dá na atitude subjetiva de pensar, mas sim aquilo que é
objetivo e por muitos pode ser, portanto, compartilhado. Em 2 temos um
pensamento completo. Tal não é o caso quando se trata de
uma função proposicional, dado que ela é incompleta;
assim, uma função proposicional, ao ser completada, pode
se transformar em um pensamento, ter um sentido completo. Por exemplo:
3) “x é a capital de Goiás”
Parece que é o caso para Frege que tal função não
contém nenhum pensamento ou sentido, visto que está incompleta.
Sobretudo, se colocarmos no lugar da variável x um nome próprio
como “Goiânia”, teremos, então, um sentido completo, isto
é, um pensamento. Passemos, agora, a questão da referência
das sentenças declarativas.
E) A que se referem as sentenças declarativas e é possível
que dois pensamentos distintos se refiram ao mesmo objeto?
Para Frege, ocupar-se da referência é uma tentativa
de determinar o valor de verdade das sentenças, ou seja, saber se
elas são verdadeiras ou falsas. Para ele, aqueles que se preocupam
somente com o sentido, o pensamento, não se ocupam da verdade.
Por “valor de verdade de uma sentença”, Frege entende “a circunstância
de ela ser verdadeira ou falsa” 10.
Dado o que é exposto por Frege, conclui-se que a resposta à
pergunta acima levantada é positiva, ou seja, é possível
que dois sentidos se refiram ao mesmo objeto. Cito Frege:
“Se substituirmos uma palavra da sentença por outra que tenha
a mesma referência, mas sentido diferente, isto não poderá
ter nenhuma influência sobre a referência da sentença.
No entanto, vemos em tal caso que o pensamento muda; assim, por exemplo,
o pensamento da sentença “a Estrela da Manhã é um
corpo iluminado pelo sol” é diferente do da sentença “a Estrela
da Tarde é um corpo iluminado pelo sol”. Alguém que não
soubesse que a Estrela da Tarde é a Estrela da Manhã poderia
sustentar um pensamento como verdadeiro e o outro como falso. O pensamento,
portanto, não pode ser a referência da sentença, pelo
contrário, deve ser considerado como o seu sentido.” 11
No caso das sentenças declarativas, para Frege, elas têm sua
referência dois objetos, que são os valores de verdade, isto
é o verdadeiro ou o falso. Frege aceita, paradoxalmente, que não
existem outros valores de verdade. É paradoxal porque sentenças
que tenham nomes próprios que não se refiram não podem
ser, de acordo com autor, verdadeiras ou falsas. E isso significa abandonar
o princípio da bivalência que ele aceita anteriormente.
Mas qual era o objetivo de Frege ao tentar separar um sentido e uma referência
para os nomes próprios e das sentenças declarativas? Não
podemos perder de vista que o intento fregeano para com a linguagem era
fruto de sua tentativa de construir um linguagem logicamente perfeita,
projeto que foi levado adiante através de sua Conceitografia.
Ora, uma linguagem perfeita certamente não é uma linguagem
natural, mas sim uma linguagem artificial, que é, antes de tudo,
formal. Na linguagem formal que Frege tinha em mente, apenas sentenças
que pudessem ser verdadeiras ou falsas seriam objeto de estudo e dedicação.
Os nomes próprios funcionam, às vezes, como os sujeitos de
sentenças declarativas, aquelas que podem ser verdadeiras ou falsas,
e determinar a que esses nomes se referem é de fundamental importância
para determinar o valor de verdade das sentenças. Observo aqui que
a tentativa de determinar o valor de verdade de uma sentença não
cabe à Lógica, mas sim a um procedimento empírico.
A lógica se ocupa da verdade para constituir o que é denominado
de raciocínio válido, isto é, inferência logicamente
correta e por conseqüência, verdades lógicas. Daí,
a preocupação da lógica com a verdade ser estritamente
formal e não-empírica. Uma função proposicional
não é e não pode ser verdadeira e nem falsa,
visto que quando adquiri estes valores já será uma saturada;
implica que será uma sentença assertiva completa, uma sentença
declarativa. Não será mais função. Acompanhemos
o exemplo 3 mais uma vez:
“x é a capital de Goiás.”
No caso da sentença acima, o argumento, que é um nome próprio,
“Goiânia” saturaria a função que é, na noção
de Frege, essencialmente insaturada . Saturar significa completar o pensamento,
incompleto enquanto função proposicional, que é exposto
na sentença declarativa e ainda dar um valor de verdade à
ela. Daí a importância de uma busca pelo sentido e pela referência
dos nomes próprios, eles são fundamentais para estabelecer
o valor de verdade de algumas sentenças declarativas.
Para Frege a busca da referência
dos nomes próprios é essencial para a busca da verdade, como
no caso da Lógica. Para pensamentos que não se preocupam
com a referência, mas sim somente com o sentido, os nomes não
precisam se referir, pois são pensamentos apenas com sentido e sem
referência. Se é um pensamento sem referência, então
é também destituído de valor verdade.
Para Frege, se substituirmos dois
termos com a mesma referência em uma sentença declarativa,
esta continuará a se referir ao mesmo objeto, por exemplo:
4) Goiânia é a capital de Goiás.
5) A cidade do estádio Serra Dourada é a capital de
Goiás.
Tais sentenças, apesar de terem pensamentos distintos, têm
o mesmo valor de verdade, isto é, se referem ao mesmo objeto, qual
seja: o verdadeiro. É claro que Frege não levava em conta
os contextos modais, aquelas sentenças que contém os operadores
“é possível que” e “é necessário que”. Se isso
ele tivesse feito, veria que nem sempre o salva veritate é
válido. Mas a questão dos contextos modais também
não é objetivo do presente trabalho.
F) Como os nomes próprios se referem aos seus portadores, ou seja,
como se acoplam a objetos?
Se os nomes próprios se referem aos seus portadores por meio de
algo, então isso é feito através do sentido e a relação
será mediada e para que o objeto seja referido será preciso
uma ponte que ligue o nome ao portador. Frege diria que o que faz essa
relação se efetivar é exatamente o sentido, pois este
é o responsável para estabelecer a referência do nome
próprio. Para compreender o modo dos nomes próprios se ligarem
ao mundo, uso a seguinte metáfora, a relação seria
feita através de um túnel, cujo interior, quem o perseguisse,
seria levado ao objeto, isto é, ao mundo. Para Frege, a relação
do nome próprio com o mundo não é feita de modo imediato,
mas sim de modo mediato, e tal mediação, o túnel,
seria o sentido. Cito Frege no artigo “Digressões sobre o sentido
e a referência”:
“O nome próprio deve ter pelo menos um sentido, senão
ele seria uma seqüência vazia de sons, ilegitimamente chamada
de nome. Para o uso científico, porém, deve-se exigir que
também tenha uma referência, que designe ou nomeie um objeto.
Assim, o nome próprio se relaciona, mediante o sentido, e só
mediante este, com o objeto.” 12
Assim, para Frege, um nome como por exemplo “Goiânia” teria sua referência
fixada por uma descrição definida, ou seja, por um sentido
desse sinal, tal sentido poderia ser “A capital de Goiás”. Tal postura foi caracterizada de
teoria descritivista no debate corrente de teorias da referência
dos nomes próprios.
Depois do exposto, podemos agora tentar compreender o funcionamento das
proposições de identidade, aquelas que levaram Frege a separar
um sentido e uma referência para os nomes próprios e para
as sentenças declarativas. Assim:
G) Qual a diferença entre a=a e a=b?
É o caso que Frege aceita que as duas sentenças acima tem
valor cognitivo diferente. Assim, enquanto a=a podemos sustentar a priori
e não ganhar nenhum conhecimento, o mesmo não se dá
com a=b. Esta pode conter um ganho precioso de conhecimento.
As hipóteses de Frege acerca da identidade são:
1ª- Se a identidade é uma relação entre aquilo
que os nomes a e b se referem, então, se a=b é verdadeira
ela não pode se diferir de a=a, visto que as duas estariam a expressar
a relação da coisa consigo mesma e não teríamos
ganho cognitivo.
Na primeira hipótese observemos que a relação de identidade
seria feita através da referência de a e b.
2ª- Se a identidade é uma relação entre os sinais
ou os nomes a e b, então dois sinais distintos podem se acoplar
ao mesmo objeto e, portanto, dar ganho informativo.
Na Segunda hipótese observemos
que a relação de identidade seria feita através dos
sentidos e não do objeto.
Cito A.N.Brito, na sua monografia “Nomes próprios: estudo em semântica
e ontologia”:
“Foi a análise das sentenças de identidade que levou Frege
a formular, com respeito aos nomes, a distinção entre sentido
e referência. A peculiaridade com sentenças de identidade
está em sua capacidade informativa. Como é que sentenças
da forma ‘a=b’, diferentemente de sentenças da forma ‘a=a’, em que
o mesmo termo ladeia o sinal de identidade, podem ser informativas, considerando
que sejam verdadeiras. Se por um lado, podemos reconhecer a verdade de
‘a=a’ sem recorrer a experiência, o mesmo não ocorre sempre
com sentenças como ‘a=b’, cuja determinação do valor
de verdade pode ter um valor epistêmico. Sentenças dessa forma
não são, pois, se verdadeiras, trivialmente, verdadeiras.
Há aqui uma situação paradoxal.
O paradoxo deixa-se reconstruir claramente do seguinte modo: se ‘a’ e ‘b’
são termos singulares os quais estão por um e mesmo objeto,
então, se ‘a=a’ é trivialmente verdadeiro, então a
verdade de ‘a=b’ deveria ser igualmente trivial e esta sentença,
por conseguinte, não informativa. As coisas, entretanto, não
se comportam deste modo. ‘a=b’ pode expressar uma informação
de valor cognitivo, o que não significa dizer que esteja claro de
que a informação se trata. Consideremos que essa sentença
expresse que um objeto é idêntico a um outro. Ora, neste caso
não parece razoável conceber que ela pudesse vir a ser verdadeira.
Não existem dois objetos que sejam idênticos. Cada objeto
é idêntico apenas consigo mesmo e com nenhum outro. Se, por
outro lado, a sentença expressa que um certo objeto é idêntico
consigo mesmo, então ela não deveria trazer nenhuma informação
para além da que é expressa por ‘a=a’, a qual nada mais afirma
senão a identidade de todo objeto consigo mesmo.
Para Frege o paradoxo é um indicativo de que a identidade não
é simplesmente uma relação entre objetos, ou, quiçá,
meramente a relação de um objeto consigo mesmo, mas sim a
relação entre sinais de um e o mesmo objeto. Vista sob essa
perspectiva, a sentença ‘a=b’ deveria ser entendida com se afirmasse
que ‘a’ e ‘b’ são sinais de um mesmo objeto. A informação
que a sentença contém não diz, por conseguinte, respeito
diretamente aos objetos como tais, mas a eles, os objetos, enquanto concerne
também à linguagem. Por outro lado, ela concerne à
linguagem somente enquanto ela está referida ao mundo dos objetos.
Isto quer dizer que as sentenças de identidade não expressam
simplesmente a informação de que dois termos ou nomes são
usados de tal e tal modo que referem ao mesmo objeto. Elas não são
sentenças sobre o modo como usamos os termos, pois não faz
sentido julgar sobre a verdade ou a falsidade de um uso, mas são
os enunciados expressos por sentenças que são então
verdadeiras, quando os termos que ladeiam o sinal de identidade referem
um e o mesmo objeto.” 13
A conclusão que Frege chega é a de que para determinar o
valor cognitivo de uma sentença é importante tanto o sentido
quanto a referência, ou seja, o pensamento e o valor de verdade.
Cito Frege:
” Se a=b, então realmente a referência de ‘b’ é
a mesma que a de ‘a’, e portanto, também o valor de ‘a=b’ é
o mesmo que de ‘a=a’. Apesar disto, o sentido de ‘b’ pode diferir do de
‘a’ e, portanto, o pensamento expresso por ‘a=a’; neste caso, as duas sentenças
não têm o mesmo valor cognitivo.” 14
3. Conclusão
O trabalho de Frege de determinar o sentido e a referência dos nomes
próprios e das sentenças declarativas foi um passo muito
importante dado na filosofia e na lógica, visto que trabalhou termos
relevante nessas duas áreas. Na filosofia, questões como
a da identidade voltaram a ter a devida consideração e na
lógica, ao construir a referência das sentenças declarativas,
ajudou a dar a idéia de uma semântica possível.
Temos agora que, depois de estudar
Frege, saber discernir aqueles que se preocupam apenas com o pensamento
e aqueles que se preocupam com a referência das sentenças,
ou seja, aqueles que se interessam pela verdade.
4. Bibliografia
a- Frege, Gottlob. Lógica e Filosofia da Linguagem. Tradução
de Paulo Alcoforado. São Paulo, Cultrix, ed.USP, 1978
b- Brito, Adriano N. Nomes próprios: estudo em semântica e
ontologia, 1998, UFRGS
1. É importante
observar que Frege não usava a terminologia “sentença declarativa”,
o que é comum hoje em dia. Por outro lado, ele usava a expressão
“sentença assertiva completa” e isso é o mesmo que “sentença
declarativa”, ou seja, aquelas sentenças que podem ser verdadeiras
ou falsas. Voltar
2. Frege.
Gottlob. Lógica e Filosofia da Linguagem. Paulo Alcoforado é
o responsável por essa informação.p 105 Voltar
3. Frege,
Gottlob. Sobre o sentido e a referência. P.62. Voltar
4.
Idem. P.62 Voltar
5. Idem. P.62
Voltar
6.Idem. P.61
Voltar
7. Idem.
P.63 Voltar
8. Alguns,
como é o caso do professor Adriano Naves de Brito, tentam salvar
Frege da postura que considerei acima que diz que para ele nomes fictícios
não se referem. Mas como me apoiei estritamente no texto de Frege,
resolvi não ir além do que o autor claramente expõe.
Diz Frege “Ulisses profundamente adormecido foi desembarcado em Ítaca”
tem, obviamente um sentido. Mas, assim como é duvidoso que o nome
“Ulisses”, que aí ocorre, tenha uma referência, é também
duvidoso que a sentença inteira tenha uma” (“Sobre o Sentido e a
Referência”, p. 68) Voltar
9. Idem. P.68 Voltar
10. Idem. P.69
Voltar
11
Idem. P.67 Voltar
12.
Frege, Gottlob. Digressões sobre o sentido e a referência.
P.116 Voltar
13. Brito.
A . N. Nomes próprios: estudo em semântica e ontologia. P39-40
Voltar
14. Frege, G.
Sobre o Sentido e a Referência. P.86 Voltar
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