HERMES FONTES

HERMES FONTES, nasceu na vila de Buquim, em Sergipe, a 28 de
agosto de 1888. Veio muito jovem para o Rio de Janeiro, sob o amparo
do senador Martinho Garces, e nesta Capital estudou humanidades, con-
seguiu por concurso o primeiro emprego, no Correio, e alcançou, em
1911, o diploma de bacharel pela Faculdade de Ciências Jurídicas e So-
ciais. Menino ainda, já lhe saíam da pena os primeiros versos, e a sua
atividade poética tornou-se conhecida com o aparecimento, em 1908, de
seu livro de fulgores e pompas Apoteoses, recebido com francos encómios
pela crítica e havido por vigorosa afirmação artística. O jovem pensador
deu-se ao afã da imprensa, escrevendo em jornais e revistas e colaborando,
com ardor patriótico, no Diário de Notícias, empenhado na campanha
presidencial, e ao qual Rui Barbosa dava o brilho de sua direção política.

De 1913 em diante sucedem-se as obras do poeta, oferecendo cada
volume certa feição em parte distintiva dos demais, se bem que os unifique
a potente impressão da mesma alma vibrátil e dorida.

Ao discorrer dos anos, enquanto se lhe firmava o nome em nossa
literatura, sentia o poeta pungir-lhe na alma o sofrimento moral e o dese-
quilíbrio mórbido que o levou à morte em 26 de dezembro de 1930.

Suas obras, além de Apoteoses: Gênese (1913), Ciclo de Perfeição
(1914), Mundo em Chamas (1914), sob a impressão da primeira guerra
mundial; Miragem do Deserto (1916), Epopéia da Vida (1917), Micro-
cosmo
(1919), Lâmpada Velada (1922), Despertar e, por fim, dentro
da agonia da vida incontentada, a Fonte da Mata, o derradeiro anseio
da lira forte nas fracas mãos do sofredor.

Suave Amargor

Sofrer é o menos, minha suave Amiga;
todos têm sua cruz oü seu cajado
— cruz de dor, ou cajado de dever…

Este é sereno; aquele se afadiga:
um, só pelo desejo contrariado,
outro, por esperar, sem nunca obter.

Tudo muda, dirás… Mas, certamente,
não muda a luz: — vem sempre do Nascente
para o mesmo calvário de Sol-Pôr!

Sofrer é o menos. . . A dificuldade
é sofrer sem protesto e sem rancor;
é morrer sem tristeza e sem saudade:

Morrer, de olhos em Deus, devagarinho,
ciciando uma palavra de carinho
aos que vivem sem fé e sem amor…

(A Fonte da Mata, nas Poesias
Escolhidas,
pp. 350-351).

Perfeição

Tanto esforço perdido em ser perfeito!
Em ser superno, tanto esforço vão!
Sonho efêmero; acordo e, junto ao leito,
a mesma inércia, a mesma escuridão. \

Vejo, através das sombras, um defeito
em cada cousa, e as cousas todas são,
para os meus olhos rútilos de eleito,
prodígios de impureza e imperfeição!

Fico-me, noite a dentro, insone e mudo,
pensando em ti, que dormes, esquecida
do teu amargurado sonhador…

Ah! Mas, se, ao menos, imperfeito é tudo.
salve-se, às iríil imperfeições da vida,
a humilde perfeição do meu amor!

(Ciclo de Perfeição)

A Formiga

E dizer-se que não tens nervos, ó nervosa,
ó vibrátil, sutil, minúscula formiga!
Dizer que não tens alma! E haverá quem o diga,
se o teu exemplo toda gente o imita e glosa?!

Tão pequenina és tu, e, astuta e laboriosa,
arrastas uma folha — e a arrastada te abriga…
E o requinte que pões em roer o grão da espiga?
E a perícia em bordar as pétalas da rosa?

Passas, eu me pergunto onde o melhor motivo:
se — Atlas — erguer nas mãos e nos ombros a Esfera,
se — formiga — arrastar um ramo nutritivo;
Ou — sonhador que a própria angústia retempera —
dia e noite viver, qual dia e noite vivo.
ao peso imaterial de uma triste quimera…

(Microcosmo)


Seleção e Notas de Fausto Barreto e Carlos de Laet. Fonte: Antologia nacional, Livraria Francisco Alves.

 

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