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Tradução de Odorico Mendes
Fonte: Clássicos Jackson
Resumo e apresentação da Ilíada de Homero
Argumento do Livro IV
Os
deuses reúnem-se no Olimpo. — Júpiter propõe restahelecer-se
a
paz entre os dois povos. — Indignação de Juno. — Resposta de
Júpiter
que entrega Tróia à sua cólera com a condição dele poder
destruir
a capricho qualquer cidade fosse ou não estimada por Juno. —
A
deusa combina, e, a seu pedido, Júpiter envia Minerva às fileiras
troianas
para o fim de os fazer violar os tratados. — Chega-se ao
Troiano
Pândaro, em figura de Laodoco, filho de Antenor, e lhe
persuade
de atirar uma flecha contra Menelau. O filho de Atreu pro-
tegido
por Minerva apenas foi ligeiramente ferido. — Dor e discursos
de
Agamémnon a vista do sangue de seu irmão. — Menelau o tran-
quiliza
c entrega-se aos cuidados do sábio Macaon. — Entretanto o
exército
dos Troianos move-se, e não respira senão guerra. — Aga-
mémnon
longe de perturbar-se, prepara-se para o combate; percorre
as
fileiras dos Gregos, felicitando os bravos, e exprobrando os cobardes.
—
Aspecto dos dois exércitos. — Descrição da peleja. — Gritos
triunfantes
dos Gregos. — Apolo reanima os Troianos, lembrando-lhes
o
repouso de Aquiles. — Os mortos espalhados no campo atestam a
coragem
dos combatentes.
Canto IV
Em
consulta com Jove recostados,
Néctar
Hebe louçã tempera aos deuses
Na
régia de áureo solho, e de áureas taças
Mutuam
brindes a atentar em Tróia.
Eis,
com mordaz cotejo, a irmã Satúrnio
Remoça: "A Menelau protegem duas,
Juno
Argiva e Minerva Alalcoménea,
Que
de olhá-lo tranquilas se comprazem;
De
Paris guarda assídua, a mãe dos risos
Da
Parca o subtraiu, tem-no em seguro.
Ao
bravo Menelau coube a vitória.
Deliberemos
se é melhor de novo
Encarniçar
a guerra, ou congraçá-los.
A
ser a paz jucunda às partes ambas,
Habite-se
de Príamo a cidade,
O
Atrida reconduza a Grega Helena."
Contíguas,
gemem comprimindo os lábios
Juno
e Minerva, e dano aos Teucros urdem.
Cala
e a seu pai Minerva oculta a raiva;
Mas
Juno estoura: "Atroz Satúrnio,
como!
Corcéis
tenho estafado cm colher tropas
Contra
Príamo e os seus; e frustrar queres
Meu
suor, meu trabalho? Embora o faças;
Nunca
os deuses porém to aprovaremos."
O
anuviador se indigna:
"Endiabrada,
Em
que Príamo c os filhos te pecaram,
Para
afanares sempre arrasar Tróia?
Só
fartarás esse ódio quando, as portas
E
os muros conquistados, cru devores
Príamo
e os Priamidas c o seu povo.
Bem;
não seja entre nós de briga acerba
Este
o motivo. Mas na mente o grava:
Se
extirpar me aprouver cidade que ames,
Não
me embargues a cólera; que à tua,
A
meu pesar, entrego Ilio sagrada;
Que
eu, sob o pólo c o sol, nenhuma honrava
Tanto
como essa, nem terrestres homens
Como
ao bélico Príamo e os Troianos:
Recendiam-mc
sempre as aras pingues,
Nunca
a nós outros libações faltavam."
E
a de olhos majestosa: "Três
cidades
Às
mais prefiro, Esparta, Argos, Micenas
De
amplas ruas: soverte-as, se as odeias,
Que
não to levo a mal: c, se o levasse,
Que
lucrava cm me opor, se és mais potente?
Convém
não malograres meus desígnios,
Nasci
também do perspicaz Saturno,
E
às deidades precedo, irmã e esposa
Do
rei dos imortais: guardemos ambos
Mútuo
respeito para exemplo deles.
Manda
já Palas excitar a pugna;
Trace
o como Trojúgenas infrinjam,
Não
triunfantes Gregos, a aliança."
Concorda
o pai supremo, e volto a Palas:
"Já,
passa aos dois exércitos, sem mora
Traça
o como Trojúgenas infrinjam,
Não
triunfantes Gregos, aliança."
Propensa
a deusa, incontinenti voa
Lá
do empinado Olimpo. Qual estrela,
Se,
ao nauta e às hostes portentosa, a envia
O
alto Satúrnio, fulgurante brilha;
Tal
desliza na arena e ali se ostende.
Pasmam
da aparição e entre si rosnam
Grevados
Gregos, picadores Teucros:
"Quer
o árbitro da guerra a paz firmar-nos,
Ou
da matança renovar as cenas."
Ei-la,
entre a chusma Teucra simulada
No
Antenórida impávido Laódoco,
Pós
o robusto Pândaro deiforme,
Que
em meio estava das do rio Esepo
Tropas
abroqueladas que o seguiram.
Chega
e de golpe: "Queres-me um
conselho,
ínclito
Licaónio? Expedir ousas
Ligeira
seta a Menelau ? Ganharas
Honra
e o Teucro louvor, e o régio Paris
De
bens te enriquecera, ao ver domado
Por
ti, na triste pira, o márcio Atrida.
Eia,
abaixa-lhe o entono; ao de arco exímio
Lício
Apolo hecatombe de cordeiros
Primogénitos
vota que lhe imoles,
Teu
palácio ao rever na santa Zélia."
Néscio
desta arte o suadiu Minerva,
E
ele o seu arco destojou brunido.
Espreitando
a lascivo agreste capro
Ao
pular de um rochedo, roto o peito,
O
estirava supino: artífice hábil
De
palmos dezesseis lhe engenha os cornos,
E
lhos alisa e de ouro os encastoa.
Apoia
em terra este arco, e o tende e ajusta;
Escudam-se
os intrépidos consócios,
Temendo
o assaltem marciais Aquivos,
Primeiro
que seu rei ferido seja.
Destapando
o carcás, tira empenada
Intacta
frecha, de atras dores fonte,
Que
ao nervo adapta; e a Febo arcipotente
Cem
anhos primogénitos promete,
Para
quando voltar a santa Zélia.
Puxa
o extremo chanfrado e a táurea corda;
A
corda à mama encosta e o ferro ao arco;
O
arco arredonda-se e desarma o estalo;
O
estalo zune, e voa a seta aguda,
De
abrevar-se no sangue impaciente.
Houve
o Céu, Menelau, de ti cuidado:
Palas
depredadora ocorre e a frecha
Desvia-te
empezada, qual de leve
A
mosca enxota a mãe da criancinha
Sopita
em meigo sono; a ponta mesma
Dirige
aonde fechos de ouro atacam
Talim
que ao peitoral duplica a força.
Pelos
dedáleos cinturão e coira,
Ela
perfura a malha tão provada,
Reparo
derradeiro, e a pele esflora:
Cruor
escuro da ferida mana.
Quando
o marfim mulher Meónia ou Caria
Para
caibas equinas purpureia,
Na
casa exposto, o invejam cavaleiros;
Mas
tem só de arreiar ginete régio:
Tal,
Menelau, tingiram-se-te as rijas
Coixas,
pernas, luzidos tornozelos.
Ao
roxear do sangue, o rei dos homens
Horrorizou-se,
e Menelau com ele;
Mas,
fora vendo a seta e o nervo c as barbas,
Alento
cobra o generoso peito.
Com
mágoas dos consócios, Agamémnon
Tem-no
e grave suspira: "Irmão dest’alma,
Sagrei-te
à morte com selar por todos
Pugnasses
tu. Feriram-te e calcaram
Os
Troianos a fé; mas vãs não foram
Hóstias,
nem libações, nem dextras dadas:
Se
do Olimpo o senhor hoje os não pune,
Há-de
os punir; com suas vidas próprias,
De
esposas, filhos, pagarão de sobra.
Cuido
próximo o dia em que llio sacra
E
o rei beloso e o povo seu pereçam:
Lá
das alturas, da perfídia em ódio,
A
égide horrenda agitará Satúrnio;
Nem
fútil é seu ódio. Mas, se a Parca
Tronca-te
a vida, ó Menelau, que luto!
A
Argos sequiosa voltarei, de infame
Labéu
marcado; que, na pátria os Graíos
Só
tendo a mente, a Príamo e aos Priâmeos
Deixaremos
a palma e Helena Argiva.
Podres
em Tróia jazerão teus ossos,
Sem
concluir-se a empresa; e um desses feros,
Do
claro Menelau sobre o sepulcro
Motejará:
— Sacie o rancor sempre
Deste
modo Agamémnon, que infinitas
Falanges
trouxe embalde às nossas plagas:
Abandonando
a Menelau valente,
Já
vogou sem despojo ao doce ninho. —
Antes
que eu ouça tal, me engula a terra!"
O
herói flavo o assegura: "Nem te
assustes,
Nem
aterres o exército; que a seta
Letal
não foi: meu boldrié salvou-me,
E
o cinturão e a malha, obra de mestre."
E
inda Agamémnon: "Oxalá, dilecto;
Mas
adestrada mão tenteie o golpe,
Com
bálsamos te aplaque as tetras dores."
Nisto,
virando-se ao divino arauto:
"Já
já, Taltíbio, a Macaon procures,
Peritíssimo
filho de Esculápio;
Que
presto acuda a Menelau, que um Lido
Ou
Tróico archeiro de frechá-lo acaba,
Por
glória sua e pesadume nosso."
O
arauto logo, às lorigadas linhas
Lustrando,
o heróico Macaon procura:
No
meio estava de escudadas hostes,
Que
o seguiram de Trica em poldros fértil.
Aproxima-se,
e rápido: "Agamémnon
Chama-te,
Esculapíada; não tardes,
Acode,
acode a Menelau, que um Lício
Ou
Tróico archeiro de frechá-lo acaba,
Por
glória sua e pesadume nosso."
Sobressalta-se
o médico; atravessam
O
exército, e em redor acham do louro
Maioral
vulnerado os chefes Dânaos.
Extrai
da parte Macaon a seta,
E
no extrair as farpas reviraram:
Saca
o bálteo listado, a cinta, a malha
De
primor, e à ferida já patente
Chupa
o sangue, e lhe asperge os linimentos
Que
ensinara a seu pai Quiron amigo.
De
Menelau enquanto se ocupavam,
Rompe
arnesada e em forma a Teucra gente;
Lembra
aos Gregos a lide, as armas vestem.
Dormir,
tremer, não viras Agamémnon,
Ou
recusar peleja, sim o honroso
Conflito
apressurando. O eri-incrustado
Coche
e os cavalos anelantes larga:
Tem-nos
o auriga Eurímedon, rebento
De
Ptolomeu Piraide, a quem prescreve
Atrás
venha de passo, a fim que o tome,
Quando
o girar os membros lhe afadigue.
O
Atrida a pé de fila em fila ordena,
Os
mais zelosos eloquente inflama:
"Nada
afrouxeis, que Júpiter, Aquivos,
Traidores
não defende: os que infringiram
O
pacto e a fé, serão de abutres cevo;
ílio
assolada, filhos seus e esposas
Breve
em nossos baixéis transportaremos."
E
os que titubam repreende amargo:
"Valentões
de balhesta, oh! pejo e opróbrioI
Sois
corçozinhos tímidos, que lassos
De
correr a campina, esmorecidos
Param
sem ânimo? Aguardais que altivas
Popas
abordem na alva praia os Teucros,
Para
saber se a mão vos dá Satúrnio?"
Por
entre a chusma, em tudo pondo cobro,
Chega-se
aos Créssios, que na frente armados
O
militar Idomeneu já tinham,
Em
vigor javali; na retaguarda
Os
incitava Merion. De vê-los
Exulta
o rei dos reis, contente e afável:
"Nos
feitos, Créssio herói, prezo-te acima
Dos
crinitos varões, té quando à mesa
Misturam
na cratera o vinho de honra:
Bebem
regrado os mais; teu copo sempre,
Qual
o meu transbordando, a gosto empinas.
Vai
combater, e teu renome iguala."
Idomeneu
responde: "Camarada
Jurei
ser-te leal; não falto. Inspira
Denodo
aos outros, acelera a pugna:
Infractores
do pacto, a morte, o exício
Recairá
sobre infiéis Troianos."
Alegre
o Atrida progredindo, encontra
Os
dois Ajax de ponto em branco, e em torno
Um
negrume de espessa infantaria.
Do
oeste às vezes bruna pícea nuvem
Traz
pelas vagas túrbida procela;
O
pastor, que a divisa do penedo,
Freme
e à gruta recolhe a grei balante:
Assim
um e outro Ajax movia ao prélio
Aguerridas
intrépidas falanges,
De
enfuscados broquéis e horrentes piques.
Gostoso
o Atrida, rápido lhes fala:
"Ajax,
cabos de Argivos lorigados,
Fora
ultraje animar-vos; que vós mesmos
Forte
a bater-se estimulais o povo.
Oh! Jove, Palas, Febo, em todo peito
Soprassem
vosso ardor 1 Presto, às mãos nossas,
Desabaria
a Priameia Tróia."
Prossegue,
e topa o arguto orador Pílio,
Que
os seus alinha, férvido acorçoa
O
grande Pelagon, Alastor, Crómio,
E
Hémon e Bias príncipes das gentes;
Atrás
bastos peões, da guerra esteios,
E
na vanguarda os équites e os carros,
Entremete
os poltrões, que à força pugnem.
A
conter seus corcéis avisa os donos,
Por
que as alas não turbem:
"Confiado
No
manejo e valor, sôfregos Teucros
Ninguém
ataque só, nem retroceda;
Que
mais débeis sereis. Do próprio carro
Quando
alguém desça e a carro hostil afronte,
Enreste
a lança, que é melhor partido.
Assim
nossos avós, com força e manha,
Derrocavam
muralhas e castelos."
Tal
o decano táctico procede;
O
grã rei jubiloso o exalta e gaba:
"Conforme
o coração, robustos fossem
Teus
joelhos, teu corpo ! Inexorável
Te
consome a velhice: oh! se ela em outrem
Já
carregasse, e remoçar pudesses!"
E
Nestor: "Não ser eu como antes
era,
Quando
Ereutalion matei famoso!
O
Céu nunca aos mortais confere tudo.
Moço
então, hoje a idade me acabrunha.
Mas,
tal qual sou, no prélio os
cavaleiros
Ajudarei
de alvitres e conselhos,
Dos
provectos ofício: os que eu mais ágeis
Dardem,
gladeiem, no verdor fiados."
Avante,
passa ao campeão Pelides,
A
quem Cecrópios adestrados cercam;
Sem
lhes dar inda o al’arma, o fino Ulisses
Perto
forma os não lerdos Cefalenses;
Pois,
começando apenas o alvoroto,
Aguardam
que remeta aos inimigos
Outra
falange Aquiva e estreie a pugna.
Olha-os
o rei dos reis acrimonioso:
"Menesteu
cujo pai Jove alentava,
E
tu poço de ardis e estratagemas,
Tardios
trepidais? Com ígnea força
Combater
vos cumpria antessignanos;
Que
sois nos meus convites os primeiros,
Quando
os chefes Aqueus se banqueteiam:
Regalai-vos
de assados saborosos,
E
dulcíssimos copos vos saciam;
E
ora esperais que em menear o bronze
Dez
Graios batalhões vos antecedam?"
Rude
Ulisses contesta: "Que te escapa
Do
encerro desses dentes? Nós remissos 1
Nós
que atroz morte aos picadores Teucros
Já
movemos? Se o tens a peito e o
queres,
De
Telémaco o pai ante as bandeiras
Verás,
Atrida, e vãos discursos bastem."
O
rei sente-lhe o enfado, e a sorrir torna:
"Sublime
solertíssimo Laércio,
Não
te arguo excessivo. Sim, de acordo
Comigo
sempre vai tua alma grande.
Eia,
rompe a tardança: eu me retrato;
E
o Céu risque a lembrança desta ofensa."
Finda
a revista no pugnaz Tidides,
Que
entre os corcéis estava e unidos carros,
Mais
a de Capaneu briosa estirpe.
Tal
observa Agamémnon e o censura:
"Tremes,
Diomedes, o êxito receias?
Ah!
teu pai de tremer não se aprazia;
Sempre
entre os seus maior se abalizava:
Nunca
vi, mas o afirmam testemunhas.
A
Micenas contudo hóspede veio,
Quando,
com Polinice igual aos deuses,
De
Tebas sitiava os sacros muros,
E
ambos gente e socorro nos pediram.
Quisemo-lo
servir, porém vedou-nos
Dial
prodígio infausto; e na tornada,
Ao
juncoso arribaram verde Asopo.
De
Etéocles no paço, num convívio
Tideu,
como legado, imensos topa:
Sozinho
entre os Cadmeios, destemido
Muitos
então a duelo desafia,
E
de Palas por graça a todos vence.
De
emboscada, ao regresso, despeitosos
O
acometem cinquenta cavaleiros,
Com
chefes dois, Meon divo Hemonides,
O
inconcusso Antofónio Licofonte.
Ele
os castiga, e por celeste auspício
Poupa
a Meon, que núncio envia a Tebas.
Tal
foi Tideu Etólio, pai de um filho
Melhor
de língua e de valor somenos."
Sofre-o
Diomedes respeitoso e mudo,
E
Esténelo é quem fala: "Atrida, mentes;
Sabe
que de mais fortes blasonamos
Que
nossos pais: com Jove e o Céu propício,
Bem
poucos, derruindo-lhe as muralhas,
Tomámos
Tebas a de sete portas;
Eles,
ímpios e insanos, pereceram.
Nossos
avós conosco não compares."
Sério
o encarou Tidides: ”Cala c atende.
Fogoso
o grande rei não culpo, amigo,
De
grevados Aqueus urgir ao prélio:
Se
destrói ílio santa, a glória é sua,
E
ingente o luto, se nos falha a empresa.
No
ímpeto nosso intrepidez provemos."
Do
carro em armas salta; o bronze aos peitos
Do
furibundo campeão remuge,
Pondo
nos corações gelado medo.
Antes
que rolem na sonora praia,
No
alto encapela Zéfiro as maretas,
Que
na terra a fremir túmidas quebram,
Té
que do promontório em cerco espumam:
Tais,
sob os cabos seus, vão-se adensando
Graias
falanges em fervor contínuo.
Tácito
ia o soldado e atento às ordens;
Creras
a turba toda emudecida:
Na
marcha o vário arnês lampeja e fulge.
Qual
a miúdo inúmeras ovelhas,
Ao
mugi-las do leite o rico dono,
Balam,
gemer ouvindo os cordeirinhos;
Assim
clamava o exército contrário:
Misto
confuso de nações remotas,
Não
tinha o mesmo grito, acento ou língua.
Uns
Gradivo, outros insta a gázea Palas,
Fuga,
Terror, Discórdia sitibunda,
Parenta
e amiga do sanguíneo Marte;
Que,
tímida ao princípio, aos Céus remonta,
No
chão caminha e a fronte enubla e esconde.
Esta,
ao passar, aqui e ali semeia
Raiva
homicida, mestos ais dobrando.
Juntos
os campos, já de escudos e hastas
E de
éreas malhas chocam-se
os guerreiros;
Os
copados broquéis do embate rugem;
Gloreia
o vencedor; soluça arcando
O
moribundo; o sangue alaga a terra.
Qual,
inchados jorrando estrepitosos
Do
monte ao vale, rios dois volteiam
Num
mesmo abismo, e longe o estrondo escuta
Espantado
o pastor: assim, por todos
Lavra
o susto, baralha-se o estampido.
Antíloco
encetou num da vanguarda,
No
Teucro Talisíada Ecepolo,
A
quem fura o morrião de basta coma,
E
brônzea cúspide o frontal penetra:
Enoita-se-lhe
a vista, e como torre
Baqueou. Por despi-lo, o Calcodôncio
Digno
rei dos Abantes, pretendendo
Isentar-se
dos tiros, debruçado
Agarrando-lhe
os pés, desvia a tarja:
Magnânimo
Agenor com énea ponta
Lhe
vulnera o vazio e os órgãos laxa;
A
alma o corpo deserta, e em acre pugna
Sobre
ele Argeus e Troas rosto a rosto,
Quais
lobos carniceiros, se abalroam.
Lanceia
o Telamónio a Simoésio,
Filho
de Antemion, solteiro e imberbe:
No
Ida, os gados a ver baixando às margens
Do
Símois com seus pais, a mãe o teve;
Donde
vinha-lhe o nome. Aos que o geraram
Em
frutos não pagou ternura
tanta,
Pelo
bronze de Ajax em flor cortado:
A
dextra mama atinge e lhe atravessa
O
ombro a lançada, que o rebolca e estende.
Ao
pé de húmido lago o choupo liso,
Que
a rama e o cimo exalta, o carpinteiro
Talha
a ferro aceirado, por que em rodas
Curve-o
de belo coche, e à beira o tronco
Jaz
do rio a secar; destarte o jovem,
A
quem despoja o herói, murchece e tomba.
A
Ajax, na chusma, o Priameio Antifo
De
arnês betado aponta: a Leuco, assecla
De
Ulisses, na virilha o dardo alcança;
E
Leuco, indo arrastando a Simoésio,
Larga-o
das mãos e dele a par descamba.
Raivoso
pelo amigo, em brilho aéneo,
Se
envia Ulisses às primeiras filas;
Tem-se,
os lumes rodeia, a lança brande.
Afastaram-se
os Teucros; mas o tiro
Não
se esgarrou, que a Democoonte fere,
De
Príamo bastardo, o qual de Abido
Frisões
ardegos trouxe: a letal choupa
As
fontes passa; a vista se lhe entreva,
Soam-lhe
com fragor na terra as armas.
A
vanguarda, Heitor mesmo é rechaçado.
Recolhendo
os cadáveres e em grita,
Com
mor ímpeto os Gregos acometem.
De
Pérgamo olha Febo e iroso brama:
"Constância,
forte gente, ânimo, Teucros.
Não
têm corpos de pedra ou ferro os Dânaos,
Que
brônzeo gume expilam; nem de Tétis
Crinipulcra
os protege agora o filho,
Que
mesto em seus baixéis recoze a bílis."
De
alto assim troa o deus; mas a Tritónia,
De
Jove augusta prole, de ala em ala,
Onde
os vê tíbios, acalora os Dânaos.
Diores
de Amarinceu do fado é preia:
Um
calhau de enche-mão, que joga o de Enos
Dos
Traces condutor Piso Imbrasides,
No
tornozelo dextro o aleija; o canto
Os
tendões ambos e ossos lhe esmigalha:
A
alma exalando, a bracejar aos Gregos,
De
costas cai; no embigo a lança Piso
Mete-lhe;
os intestinos se derramam,
Eterna
escuridão lhe cobre os olhos.
Toas
Etólio ao matador se atira.
Pela
mama ao pulmão lhe enterra o bronze;
Aproxima-se
dele, e a válida hasta
Lhe
extrai dos peitos, puxa logo a espada,
Que
lhe traspassa o ventre e a vida rouba.
Desarmá-lo
não pôde, que em redondo
Hastatos
sócios de topete hirsuto,
Beloso
embora, a Toas repeliram.
Assim,
dois capitães ali ficaram,
Um
Trácio, um dos Epeus eriarnesados,
E
outros bravos com eles pereceram.
Quem,
de golpes ileso ao longe e ao perto,
Guiando-o
Palas, pelo campo andasse,
A
nenhum dos guerreiros acusara.
Muitos
naquele dia Aqueus e Frígios,
Em
pó submersos, prosternados foram.
[Canto I ]
[ Canto II] [Canto III]
[Canto IV]
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