Libertação pelo
trabalho: reflexões sobre o pensamento marcuseano
Josiane MAGALHÃES 1
Introdução
A discussão sobre relações de trabalho
sob a nova configuração mundial possui uma gama de reflexões
partindo dos mais variados pontos de vista. Este texto tem como ponto de partida
algumas considerações de Herbert Marcuse (1968) que remetem a
uma maneira específica de considerar as questões que se apresentam
tanto pela herança marxista quanto pela tentativa de reavaliar a relação
indivíduo sociedade através do resgate do pensamento freudiano,
naquilo que se refere à categoria trabalho como elemento formador por
um lado e alienante e opressor por outro.
Apesar da especificidade, Marcuse aponta-nos um caminho diferente
para uma interpretação das atuais mudanças no que se refere
ao universo do trabalho e suas perspectivas futuras.
Relações entre indivíduo e sociedade
Para a compreensão do fio condutor construído
por Marcuse, devemos recuperar os argumentos principais que lhe servem de base.
O primeiro está na idéia freudiana de progresso
humano. Segundo Freud (apud Marcuse, 1968), o desenvolvimento humano se dá
ontogenética e filogenéticamente, sendo que a "história
do homem é a história de sua repressão". Além
disso, "a cultura coage tanto na sua existência social como biológica,
não só partes do ser humano, mas também sua própria
estrutura instintiva". (Marcuse, 1968, p. 33)
Sob este argumento, repousa a idéia de
que a cultura humana tem em sua base a repressão dos instintos humanos.
Estes últimos são transformados através da repressão,
possibilitando uma reelaboração dos mesmos. Essa reelaboração
é o que Freud considera como o progresso que possibilita o desenvolvimento
humano.
O homem animal converte-se em ser humano somente através de uma transformação
fundamental da sua natureza, afetando não só os anseios instintivos,
mas também os valores instintivos – isto é, os princípios
que governam a consecução dos anseios. A transformação
no sistema dominante de valores pode ser assim definida, de um modo probatório:
de | para |
satisfação imediata | satisfação adiada |
prazer | restrição do prazer |
júbilo (atividade lúdica) | esforço (trabalho) |
receptividade | produtividade |
ausência de repressão | segurança |
Freud descreveu essa mudança como a transformação do princípio
de prazer em princípio de realidade. (Marcuse, 1968, p.34)
Vale ressaltar que a idéia de prazer transcende o prazer sexual. O Eros
percebido por Marcuse na obra de Freud se refere a toda forma de satisfação
humana.
Sendo assim, a referência à modificação do princípio
de prazer2
estabelece-se em relação à satisfação.
A transformação de uma satisfação imediata para
unia satisfação adiada, porém segura, implicando contudo
em uma restrição do prazer por um lado e a construção
de uma repressão por outro, transformando atividade lúdica em
esforço (trabalho), a receptividade em produtividade, nos apresenta uma
confirmação não só da reelaboração
dos instintos, como também demonstra um quadro de mudanças principais.
Há uma estreita relação entre os itens arrolados e a estrutura
organizacional de uma sociedade fundamentada no trabalho. A restrição
do prazer e a atividade lúdica levam a uma canalização
da energia antes despendida em tais atividades para o trabalho, sendo que posteriormente
direciona-se para a produtividade.
Tanto a idéia do trabalho quanto a da produtividade gerada no seu interior
são suportes da reelaboração dos instintos que adiam a
satisfação imediata, em função da segurança
de uma satisfação menor mas garantida. Além disso. as necessidades
são elaboradas na sociedade em detrimento de uma possível vontade
individual. Isto significa que os indivíduos internalizam necessidades
que parecem ser individuais mas que, na verdade, são socialmente engendradas.
Uma vez que o trabalho é fruto da energia liberada com a restrição
do prazer e das atividades lúdicas, é visto como um esforço
penoso, alienado e sem gratificação, mas necessário para
a sobrevivência.
É através do trabalho que a sociedade se desenvolve e garante
a existência de seus componentes. É ainda através dele que
a sociedade racionalizada exerce sua forma de dominação, reproduzindo
as condições repressivas de maneira ampliada. Daí a proposição
de uma sociedade não repressiva estar fundamentada em Marcuse pela instauração
de um novo referencial para o trabalho.
A sociedade racionalizada é, segundo Marcuse, a vitória do "princípio
de realidade
específico que governou as origens e a evolução dessa civilização”.
(Marcuse, 1968 p 58) Este principio de realidade é designado como princípio
de desempenho,3
dando destaque "ao fato de que, sob seu domínio, a sociedade é
estratificada de acordo com os desempenhos econômicos concorrentes dos
seus membros […] o princípio de desempenho, que é o de uma sociedade
aquisitiva e antagônica no processo de constante expansão, pressupõe
um longo desenvolvimento durante o qual a dominação foi crescentemente
racionalizada: o controle sobre o trabalho social reproduz agora a sociedade
numa escala ampliada e sob condições repressivas.
Durante urna considerável parte dessa evolução, os interesses
de dominação e os interesses do todo coincidem: a utilização
lucrativa do sistema produtivo satisfaz às necessidades e faculdades
dos indivíduos. Para a esmagadora maioria da população,
a extensão e o modo de satisfação são determinados
pelo seu próprio trabalho; mas é um trabalho para uma engrenagem
que não controla, que funciona como um poder independente a que os indivíduos
têm de submeter-se se querem viver. E torna-se tanto mais estranho quanto
mais especializada se torna a divisão do trabalho.
Os homens não vivem sua própria vida, mas desempenham tão-só
funções preestabelecidas. Enquanto trabalham, não satisfazem
suas próprias necessidades e faculdades, mas trabalham em alienação,
O trabalho tornou-se agora geral, assim como as restrições impostas
à libido: o tempo de trabalho, que ocupa a maior parte do tempo de vida
de um indivíduo, é um tempo penoso, visto que o trabalho alienado
significa ausência de gratificação, negação
do princípio de prazer.
A libido é desviada para desempenhos socialmente úteis, em que
o indivíduo trabalha para si mesmo somente na medida em que trabalha
para o sistema, empenhado em atividades que, na grande maioria dos casos, não
coincidem com suas próprias faculdades e desejos". (Marcuse. 1968,
p. 58). Acrescente-se a este raciocínio o fato de que os indivíduos
podem nem saber quais são de fato os seus desejos e suas próprias
faculdades. Fica claro que Marcuse conecta sua análise à predominância
exercida pelo sistema capitalista. Este é o ponto de partida para suas
reflexões.
Uma segunda idéia freudiana absorvida por Marcuse é a de que
a repressão, além de realizar-se ao longo da história humana,
portanto filogeneticamente, instituindo um princípio de realidade que
sustenta o sistema capitalista, é desenvolvida em cada indivíduo,
reproduzindo nele a história universal, ontogeneticamente.
A
análise de Freud do desenvolvimento do aparelho mental repressivo é levada
a efeito em dois planos:
a)
Ontogenético: a evolução do indivíduo reprimido,
desde mais remota infância até sua existência social consciente.
b) Filogenético: a evolução da civilização
repressiva, desde a horda primordial até o estado civilizado plenamente
constituído. (Marcuse, 1968, p. 39)
Estes pressupostos são essenciais para a compreensão do raciocínio
de Marcuse. Abrem a possibilidade de que se há uma correspondência
entre o individual e o coletivo na construção e reprodução
da repressão que dá suporte à civilização,
há também espaços de liberdade correspondentes.
Marcuse e a Utopia
Segundo o raciocínio freudiano, há em cada indivíduo um
espaço de liberdade.. no qual os mecanismos repressores não influem,
qual seja, a fantasia. Para Freud, de acordo com citação utilizada
por Marcuse,
com a introdução do princípio de realidade, um modo
de atividade do pensamento cindiu-se e manteve-se livre do critério de realidade, continuando subordinado exclusivamente ao princípio de prazer. E o ato de elaboração da fantasia (das Phantasieren – a fantasiação), que começa logo com os brinquedos infantis e, mais tarde, prossegue como divagação e abandona sua dependência dos objetos reais (Marcuse, 1968, p. 132) |
Percebe-se que se há um espaço no individual que permite ao ser
humano ser livre, espaço originado na fantasia e manifestado pela arte,
e, se a história do homem se desenvolve ern dois planos, filogenética
e ontogeneticamente, pode-se concluir que há um espaço no coletivo
que lhe garante certa liberdade. Marcuse reconhece este espaço como a
utopia.
O valor de verdade da imaginação relaciona-se não
só coar o passado, mas também com o futuro, as formas de liberdade e felicidade que invoca pretendem emancipar a realidade histórica. Na sua recusa em aceitar como finais as limitações impostas à liberdade e à felicidade pelo princípio de realidade, na sua recusa em esquecer o que pode ser, reside a função crítica da fantasia […] Essa Grande Recusa é o protesto contra a repressão desnecessária, a luta pela forma suprema de liberdade – viver sem angústia. Mas essa idéia só podia ser formulada sem punição na linguagem da arte. No contexto reais realista da teoria política ou mesmo na Filosofia, foi quase universalmente difamada como Utopia. (Marcuse, 1968, p. 138-9) |
Um outro aspecto relevante é o de que a repressão exercida sobre
o indivíduo
não é suficiente, uma vez que necessita constantemente ser reforçada.
"O fato do princípio de realidade ter de ser continuamente restabelecido
no desenvolvimento do homem indica que o seu triunfo sobre o princípio
de prazer jamais é completo e seguro." (Marcuse, 1968, p. 36) Este
argumento sustenta a idéia de espaços nos quais a liberdade e
a felicidade subsistem apesar da repressão sofrida.
A equação de liberdade e felicidade, sujeita ao tabu da
consciência, é sustentada pelo inconsciente. A sua verdade, embora repelida pela consciência. continua assediando a mente; preserva a memória de estágios passados do desenvolvimento individual nos quais a gratificação imediata era obtida. E o passado continua a reclamar o futuro: gera o desejo de que o paraíso seja recriado na base das realizações da civilização. (Marcuse,1968. p. 38) |
A saída possível: automação ou modificação
de princípios
Marcuse aponta para uma possibilidade de modificação da sociedade.
Longe de pensar em um retrocesso do estágio evolutivo do ser humano,
negando os avanços civilizatórios, na direção da
imagem do homem bom e feliz primitivo, o autor aponta outro caminho. Neste,
a modificação se daria nos princípios que orientam os homens,
mantendo os avanços da civilização, mas construindo, a
partir dela, novas relações não repressivas.
O papel do trabalho, fundamental na construção da repressão,
agora assume a libertação. na medida em que se torna prazeroso
e desalienado. Se esta hipótese se torna realidade, então a transformação
social realizar-se-ia também. Marcuse elabora duas hipóteses para
que se alcance a transformação das relações no trabalho.
A primeira seria a própria transformação da relação
do homens com o trabalho, tornando-a prazerosa e gratificante.
O que distingue o prazer da cega satisfação de carências
e necessidades é a recusa do instinto em esgotar-se na satisfação imediata, é a sua capacidade para construir e usar barreiras para a intensificação do ato de plena realização. Embora essa recusa instintiva tenha feito o trabalho de dominação, também pode servir à função oposta: erotizar as relações não libídinais, transformar a tensão e alívio biológicos em livre felicidade. Deixando de ser empregadas corno instrumentos para reter homens em desempenhos alienados, as barreiras contra a gratificação absoluta converter-se-iam em elementos de liberdade humana; protegeriam aquela outra alienação em que se origina a alienação do homem, não de si mesmo, mas da natureza: sua livre auto-realização. Os homens existiriam como indivíduos, realmente, cada um deles moldando sua própria vida; defrontar-se-iam mutuamente com necessidades e modos de satisfação verdadeiramente diferentes – com suas próprias recusas e suas próprias seleções. A ascendência do princípio de prazer engendraria assim antagonismos, dores e frustrações – conflitos individuais na luta pela gratificação. Mas esses conflitos teriam, em si próprios, um valor libidinal: estariam impregnados da racionalidade de gratificação. Essa racionalidade sensual contém suas próprias leis morais." (Marcuse, 1968, p. 197) |
A segunda hipótese seria a automação total do trabalho.
Isto porque a automação total seria a eliminação
do trabalho sacrificante e, conseqüentemente, da opressão sofrida
nesse âmbito da vida humana. "Quanto mais completa for a alienação
do trabalho, tanto maior é o potencial de liberdade; a automação
total seria o ponto ótimo". (Marcuse, 1968, p. 144)
Há, sob este aspecto do pensamento de Marcuse, uma oscilação
entre as duas hipóteses, isto é, por um lado, vislumbra a hipótese
da transformação das relações do trabalho em uma
ótica não opressiva e, por outro lado, não tem tanta certeza
assim sobre esta questão. O trabalho possui um caráter dialético,
pois, por um lado, é alienante e opressor no interior do capitalismo,
mas, ao mesmo tempo, o trabalho forma, permite a verdadeira realização
da essência do homem. Sendo assim, o trabalho pode constituir-se no espaço
para a libertação da opressão.
A consciência política4
e o princípio de desempenho
As relações de trabalho desveladas em sua condição
de elementos constituintes de uma organização da produção
material que propiciam a alienação do trabalhador em relação
ao produto de seu trabalho, bem como dos conhecimentos técnicos necessários
inerentes à produção, aliadas a uma consciência política
que permita a compreensão do processo, formariam a base para a nova ordem
social. Isto se daria através da manutenção do papel do
trabalho como organizador da produção material, mas não
mais orientando-se pelo princípio de desempenho e sim pelo princípio
de prazer, de certa maneira modificado pelas conquista humanas.
O trabalhador deixaria de ser alienado tanto do produto quanto dos conhecimentos
técnicos exigidos para a sua produção. Esta condição
seria elementar na percepção da atividade desenvolvida no processo
de trabalho como gratificante e, portanto, correspondente à uma opção
individual do trabalhador pela sua atividade.
Isso possibilitaria também uma maior participação nas
decisões dentro do processo produtivo. A consciência política
seria a base para a pecepção do indivíduo não só
do processo tal qual estabelecido sob o domínio do princípio de
desempenho, mas também para a tomada de consciência de sua individualidade5,
de suas reais necessidades e da satisfação delas. Na medida em
que se percebe a história humana entrelaçada ao princípio
de desempenho, principalmente na elaboração das relações
de trabaalho, a segunda hipótese. de Marcuse é algo mais próximo
de ser realizado: a automação total 6.
Esta conteria, no processo de sua instauração, a libertação
de tempo e energia aos seres humanos, para assim retornarem à busca da
felicidade.
Conclusão
As recentes discussões sobre a automação total, que seria
a realização da segunda hipótese de Marcuse, levam-nos
a questionamentos um tanto pessimistas. Em primeiro lugar, porque ao invés
de liberar os homens para a busca da felicidade, temos a conformação
de um novo processo, também constituído pelo princípio
de desempenho, que gera relações de exclusão entre os que
são necessários e estão adaptados às novas exigências
do mercado e os que não são necessários à produção
e não conseguiram adaptar-se às novas exigências. Os bolsões
de miséria formam-se a partir daqueles que sã excluídos
do processo de produção, uma vez que, cada vez mais, é
necessário um número menor de pessoas para a manutenção
da produção material e que tem acesso ao consumo dessa produção.
Dessa forma, temos um grupo alienado não so do ponto de vista da produção
mas também da participação da sociedade. Os indivíduos
não teriam mais o que trocar na sociedade, já que sua força
de trabalho não é mais necessária. Este seria um processo
de alienação inclusive de sua existência.
Se o princípio de desempenho revigora-se com a automação
total, retornamos à primeira hipótese de Marcuse. Para tal intento
vale ressaltar algumas observações de Claus Offe. (1995) De acordo
com o autor, a categoria trabalho perdeu o papel de referencial sociologicamente
fundamental. Isto porque não seria mais o referencial condicionante da
vida humana, seja pela propria diminuição do tempo de trabalho,
seja pela perda da potencialidade de recompensar e punir os indivíduos
em termos materiais, ou pelo fim da contemplação dos esforços
em função de uma estratégia setorial progressista. O que
talvez Offe (1995) tenha deixado de levar em conta é exatamente a situação
excludente a que os indivíduos são expostos em função
da automação. Esta situação é esclarecedora
no sentido de nos permitir um olhar mais fino para o problema da perda da centralidade
da categoria trabalho.
O que mudou foi a maneira pela qual os indivíduos competem, segundo
o princípio de desempenho. A questão posta não é
mais por uma melhor colocação social, o que levaria à preocupação
com uma estratégia setorial progressista. É uma questão
eminentemente de sobrevivência. A diminuição do tempo de
trabalho faz os indivíduos perceberem que há menos espaço
para sua única mercadoria, sua força de trabalho. A categoria
trabalho não deixa de ser condicionante da vida humana, altera-se em
função das exigências do princípio de desempenho.
Este, agora, delimitando um maior espaço à agregação
de conhecimentos, e assim abrindo campo para a satisfação individual,
passa a ditar quem estará inserido no processo social, uma vez adequado
aos novos moldes. A potencialidade de recompensa ou punição no
espaço do trabalho altera-se também, pois passa pela recompensa
de estar ou não inserido no processo ou de ser punido, o que significa
a exclusão social.
Sob outro ponto de vista, poder-se-ia perguntar: o modo de produção
capitalista teria chegado ao seu limite, atingindo uma situação
onde sua lógica de acumulação precisaria ser redimensionada?
Se cada vez mais um número menor de pessoas podem ter acesso aos bens
produzidos e o numero de excluídos está crescendo, para onde o
sistema se expandiria, a fim de manter os padrões de acumulação.
haja visto que necessita de bolsões inexplorados de mercados consumidores
em potencial?
Se a resposta é duvidosa, então poderíamos imaginar um
ponto de inflexão onde se daria o início de uma nova ordem social,
redimensionando os valores inerentes ao sistema capitalista. Na medida em que
o mercado de trabalho apresenta índices crescentes de desemprego, aumentando
o número de excluídos sociais, a questão da sobrevivência
se coloca na medida em que o retorno ao mercado de trabalho se apresenta como
um horizonte cada vez mais longínquo. Assim. a saída estaria na
reorganização dos trabalhadores excluídos do processo produtivo
sob um novo princípio: a sobrevivência. Esta questão crucial
é de certa forma a pedra de toque das experiências autogestionárias
no Brasil atualmente7.
A hipótese de Marcuse possibilita-nos recolocar no trabalho o aspecto
da satisfação, bem como redimensionar a necessidade da substituição
do princípio de desempenho pelo princípio de prazer (ou de sobrevivência?).
Este último contribuindo para a transformação social e
a transformação individual concomitantemente. Segundo o exposto
acima, não basta simplesmente haver uma recuperação do
trabalho em termos de gratificação, mas estabelecer, a partir
dessas novas relações, uma transformação ampla que
passa pela reorientação dos princípios norteadores da razão
do próprio trabalho.
Referências Bibliográficas
OFFE, C. Trabalho, a categoria sociológica chave? In: ______ . Capitalismo
desorganizado. São Paulo: Brasiliense, 1995.
MARCUSE, Herbert. Eros e Civilização. Rio de Janeiro,
Zahar Editor, 1968.
1 Socióloga,
docente da Universidade do Estado de Mato Grosso – Unemat, mestre em Educação
e doutoranda em Educação pela Unesp. Artigo publicado originalmente
in A Empresa sem patrão, Marília: Unesp: 1997.
2 Princípio
de prazer é entendido como diretrizes voltadas para a a satisfação
das necessidades humanas ,mediata. para a conquista do prazer de maneira irracional
de maneira irrestrita, independente da previsão ou consideração
acerca de seus atos. Caracteriza-se principalmente pela ausência de repressão
dos instintos humanos.
3 .Princípio
de desempenho é compreendido como sendo um tipo específico de
principio de realidade. Na medida em que o homem constrói a civilização,
a constrói com a ajuda da repressão dos instintos que lhe penam
a associação aos outros indivíduos para obter a satisfação
de suas necessidades asseguradas. Esse processo é caracterizado como
a construção do princípio de realidade. Na construção
da sociedade capitalista essa repressão introduz-se a idéia de
mais-repressão. No momento em que a produtividade é classificada
de acordo com os desempenhos econômicos concorrentes de seus membros,
estratificando-se a sociedade em torno desses valores, temos, para além
da satisfação das necessidades dos indivíduos, a produtividade
colocada como centro orbital das relações que se estabelecem na
sociedade racionalizada.
4. A consciência
política poderia ser definida como o desvelamento das relações
de poder, dominação e influência a que os seres humanos
estão sujeitos em um sistema social, o que tornaria possível inserí-lo
como sujeito ativo nesse processo.
5. Esta individualidade
que foi utilizada sobre o princípio de desempenho para atomizar os indivíduos,
enclausurando-os em sua existência privada, agora é retomada como
elemento a ser reconhecido como inerente à existência humana e
que, sob este ponto de vista, reconheceria a especificidade de cada membro da
sociedade em relação a universalidade da sociedade.
6. Esta hipótese
é obsewrvável nos dias atuais como um processo irrerversivel em
alguns setores prdutivos. Além disso, é mais viável no
sentido de que, para reorientar um incontável número de trabalhadores
a fim de que pudessem superar os moldes do princípio de desempenho, seria
necessário que passassem por um processo de reeeducação,
o que não parece tarefa considerada necessária nem por governos,
nem por sindicatos ou partidos políticos, os quais teriam a organização
e o dinheiro necessários para tal empreitada.
7. Sobre esse
assunto há alguns dos relatos dos casos de empresas ligadas à
ANTEAC, como a Skilcoplast em São Paulo e a Markeli em Franca/SP.
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