NA MORAL

dez 10th, 2009 | Por | Categoria: Crônicas        

Nei Duclós

No início de um confronto, a força é de quem tem a moral, que é a soma de normas ditadas pelos costumes, a educação e a tradição. E de quem diz agir conforme a ética, o modo considerado correto de se comportar. Isso é uma vantagem, pois ajuda a formar alianças e a fazer mobilizações bem sucedidas, isolando o oponente que, em tese, não possui o mesmo cacife de princípios universalmente aceitos. Mas tudo se dilui quando, por falta de diálogo, cada lado da luta decide que está com a razão. A briga então se generaliza e a força passa a ser de quem tem mais poder de fogo e define a melhor estratégia.

A escolha de “outros meios” de fazer política, como escreveu Clausewitz no seu livro clássico, “Da Guerra”, acaba jogando no ralo os motivos que impulsionaram o engajamento. No momento em que o soldado entra no território conflagrado, acaba sua liberdade. Há tempos que o mundo entrou nessa zona nebulosa de carnificina, apesar dos acordos de paz. Sem falar nos exemplos óbvios, do Afeganistão à Guiné-Conacri, temos a difusão extrema dos conflitos no seu grau mais intenso ao nosso redor.

O espaço da conversa diminuiu e o que se vê é o tiroteio e o poder crescente das facções, enquanto a cidadania desarmada foge das balas perdidas. Já saiu da reta o conjunto de explicações para tanto crime. Perdeu a força falar em problema social. O que temos é perversidade pura e simples, em todos os nichos, marginais ou oficiais. Os corpos dos adversários políticos fuzilados amontoam-se junto com as vítimas de assassinatos comuns. A violência em todo o tecido social destruiu a sólida argumentação a favor da moral e da ética. Populares aplaudem execuções na calçada enquanto criminosos notórios sorriem em frente às câmeras. A corrupção corrói o sistema, alimentando a brutalidade geral.

No desequilíbrio internacional, reflexo ou consequência desse front interno, a verdade, que deveria fazer o papel de algoz, acaba como vítima. Não fazer concessão aos opositores, que enfeixariam todos os males da falta de razão, contamina o espectro legal das nações. A base das posições, que pode ser chamada de ideologia ou civilização, se esgarça junto com o tiroteio. Hoje, a moral não tem mais a mesma serventia, a não ser para insuflar discursos vazios que perderam a batalha para o chumbo, a lâmina, o míssil, a pólvora.

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