SEPARATISMO

dez 11th, 2009 | Por | Categoria: Crônicas, Política        

Batalha de Guararapes, de Victor Meirelles

Nei Duclós

Costumam fazer enquetes sobre um novo país, formado apenas pelos estados do Sul, com expressivos índices de aprovação. Algumas pesquisas incluem São Paulo e só mesmo o desconhecimento mútuo poderia juntar paulistas e a indiada da fronteira. Parece que a idéia do separatismo ganha força à medida que cresce a decepção com essa coisa que nos cobra tanto imposto e que só serve para alimentar corruptos, defender direitos humanos de bandidos, encher os bolsos dos vagabundos com as esmolas do governo, liberar assassinos confessos, entre outros expedientes, como o índice pluviométrico de crimes.

Eu também vou aderir a idéia do separatismo. Acho bom que São Paulo seja incorporado às margens do rio Uruguai. Ou que a araucária seja o símbolo da região do Ibicuí. Seria maravilhoso que o chapéu de caubói do interior paulista fosse adotado em Itaqui, ou que as esporas fossem usadas no Bexiga. Teríamos um país de Primeiro Mundo, mas não seria o ideal. Sugiro algumas pequenas mudanças na idéia original, sem querer desfazer as bases dessa genial solução para todos os nossos problemas.

Esquecem de incluir Minas e seria de muito bom tom convidar não o Aecinho, mas Milton Nascimento. Seríamos compatriotas do Clube da Esquina, já pensou? Haveria problema em comer carne de búfalo xucro dos sertões mineiros, mas meus olhos faíscam só em pensar numa potência, com Minas sendo o famoso “plus a mais”, invenção suprema da linguística tautológica. Mas assim mesmo o separatismo, que não daria bola para esses botocudos horrendos que habitam as outras regiões, não seria assim de última geração se não comportasse ou convidasse o Rio de Janeiro.

Ah, o Rio do Tom, do Chico, do Cartola, do Vinícius. Bom lugar para uma capital, não é mesmo? Assim teríamos a bossa unida a Carlos Drummond de Andrade, as garotas de Ipanema tomando mate, o Pão de Açúcar sendo símbolo de uma nação que não se restringiria ao Itaimbezinho ou à praia da Joaquina. O Rio traria o charme necessário, mas a emenda não ficaria completa se não fosse incluído o Espírito Santo, que é o mar de Minas e praticamente uma continuação do Rio. E para não perder a pose e incrementar ainda mais o separatismo de Primeiríssimo Mundo, anexaríamos a Bahia, com Salvador e tudo.

Já pensou? Combinar Jayme Caetano Braun e Caetano Veloso? O Recôncavo e a região dos Lagos? Pelotas e Feira de Santana? O mundo se deslumbraria com esse lugar maravilhoso que criaríamos com nosso furor separatista. E para assombrar mais ainda os gringos, teríamos a manha de incluir no projeto o Nordeste inteiro, pois é de lá que vem as olindas, os mamulengos, os arrecifes, a Paraíba , o Luiz Gonzaga e toda aquela riqueza infinitamente fantástica que faria a glória de um novo membro das Nações Unidas.

E já que tem muita gente de olho na mata, anexaríamos a Amazônia, com Amapá, Roraima, Manaus, Ver-o-Peso e tudo o mais. E sendo assim, ainda, de quebra, colocaríamos no novo mapa os dois Mato Grosso, mais Goiás e Tocantins. Pronto. Estaria assim feito o carreto. Uma nação orgulhosa, à parte, que começaria tudo de novo e teria em praça pública seus grandes heróis, como o Andrada da Independência, que não deixou os ingleses comprarem a ilha de Santa Catarina, mais Caxias, Osório, Zumbi, princesa Isabel, Dom Pedro II e todos os cidadadãos que deram seu sangue para nos separar de franceses, holandeses, castelhanos, portugueses.

Proponho que batizem o novo território de Brasil. Soa bem. E quando a gente ouvir o hino que escolhermos para ele, não só levaríamos a mão no peito e cantaríamos a letra inteirinha, do Virandô ao Berço Esplêndido. Mas também choraríamos de emoção, pela honra de pertencer a um legado de tanta luta e tanta grandeza. E quando alguém quisesse vir com idéia de desmembrar o novo território, que chamaríamos de Pátria Amada, não teríamos dúvidas. Pegaríamos em armas.

8 comments
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  2. Arrasou!!

  3. Parabéns,
    estou emocionada
    Luciane

  4. A melhor idéia separatista que eu já ouví. Nós, brasileiros, somos muito bairristas e a cada trovão que se anuncia nos céus de Brasilia temos a impressão de que nosso telhado é único, o mais resistente, enfim, a única amarra capaz de suportar esta tempestade. Felizmente moramos em um “bairro” enorme, tão grande quanto o amor por nossa pátria e quando a tepestade cessa, nos horrorizamos com a idéia de perder qualquer um de nossos “vizinhos”. Somos bairrista sim, mas bairristas de um país inteiro.
    Parabéns pelo artigo!

  5. Luciane e Jorge: muito obrigado pelos comentários! Ainda há pátria, ainda há amor ao Brasil. Sem patriotada, mas com patriotismo. Grande abraço aos dois.

  6. ola!! estou desenvolvendo meu trabalho de conclusão do curso de pós-graduação com o tema separatismo, dando assim continuidade ao meu trabalho de graduação. solicito possibilidade de aquisição de material, publicações, para enriquecimento do meu trabalho.
    Hudson queiroz
    [email protected]

  7. Já respondi por e-mail, obrigado

  8. Muito bom, parabéns!!!

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