O AVÔ – lenda da Mitologia Estoniana

A Origem do Homem lenda da Mitologia estoniana (Estônia)na

 

O AVÔ

O AVÔ vivia lá em cima, no céu, entre as estrelas e atrás da lua. O Avô era sábio,  forte e bom, mas era velho, e às vezes sentia-se cansado.

O Avô criou os Kalevs para ajudá-lo. Havia muitos Kalevs, e eram seres gigantescos. Viviam juntos, como irmãos e irmãs, e ajudavam o Avô no que se fazia necessário.

O Avô disse aos Kalevs: "Resolvi criar o mundo".

Os Kalevs responderam: "O que decidistes, em vossa sabedoria, não pode ser mau".

Então, o Avô trabalhou, enquanto os Kalevs dormiam Quando eles acordaram, viram o mundo que o Avô criara, mas o Avô estava cansado, e repousava.

Os Kalevs esperaram. Respeitavam muitíssimo o Avô, e não queriam incomodá-lo.

O Avô acordou, e disse aos Kalevs: "Este mundo que eu criei é massa informe e rústica. Vossa tarefa é modelá-lo e adorná-lo. Vou guarnecê-lo com vários animais e depois criarei o homem, para governar tudo. Criarei o homem fraco, para que êle não se gabe de sua força. Entretanto, soprarei meu hálito sobre a fronte de cada homem, a fim de que êle possa dominar o mal. Depois disso, permanecerei no céu. Não interferirei na vida da terra.

Vós, Kalevs, deveis ser amistosos para com aqueles que eu criei, e ajudá-los a não se resignarem com o mal que existe na terra. Não destruirei o mal, pois êle será a medida e o estímulo para o bem.

Vós, Vanemuine — e o Avô chamava o mais velho e mais sensato dos Kalevs — vós deveis tomar vossa harpa e descer do céu. Na terra, ensinareis a arte do canto ao povo terreno".

Assim, o mais velho dos Kalevs desceu do Paraíso e começou a tocar sua harpa na Montanha Toom, onde crescem os carvalhos sagrados. Todas as coisas vivas que têm alma vieram aprender a cantar e cantaram hinos de louvor ao mundo que o Avô fizera. Cantaram o mistério e a grandeza do céu, e a bondade do Avô. Cantaram a beleza do Rio do Paraíso, e a força dos poderosos ventos do céu. Quando todos aprenderam as canções, o mais velho dos Kalevs voou de volta ao Paraíso, com sua harpa. Jamais voltou à terra, mas deixou suas canções no coração da humanidade.

Agora, quando caminhamos nos bosques e ouvimos o farfalhar das ramas, eis que êle é o apagado eco da harpa do mais velho dos Kalevs. O sussurrar do rio e o suspiro do vento são a onda sonora saída das cordas de seu instrumento. E a força daquele cantor celeste é ainda ouvida no quebrar das vagas do oceano.

Todas aquelas canções do céu estão no coração dos que vivem na terra, pois o mais velho dos Kalevs colocou suas cantigas ali, quando o Avô mandou-o com sua harpa, há tanto, tanto tempo.

Não apenas os seres humanos, mas todos os pássaros e animais recordam aquela grande música, e, quem sabe? —’ talvez mesmo os peixes do mar recordem silenciosamente aquela música estranha que chegou até eles, quando o Avô mandou o mais velho dos Kalevs descer à terra, com sua harpa.

Fonte: Maravilhas do conto mitológico. Adaptação de Nair Lacerda. Cultrix, 1960.

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