O BONECO MARINHEIRO
LULU tinha onze bonecas e todas as noites, antes de deitar-se, punha-as sentadas e enfileiradas sobre a mesa do quarto de brinquedos.
Havia duas bonecas vestidas de fada, dois bebês, uma boneca que caminhava, uma boneca francesa, com pestanas de verdade, duas bonecas de pau holandesas, duas bonequinhas japonesas e um bonequinho vestido de marinheiro.
Este último era um boneco para menino, e, naturalmente, não lhe era muito agradável passar todo o dia fazendo companhia a fadas, bonecas e bebês.
Sua vontade seria viver entre soldados, ursinhos ou cavalos de papelão.
Sua opinião era que as demais bonecas, suas companheiras, tornavam-se cada dia mais bobas.
— Quem me dera — pensava, pertencer a um menino. Não gosto de viver na companhia de bobas como vocês.
Como vocês devem compreender, as bonecas o julgavam muito mal educado e não faziam cerimônia em dizer-lhe.
— Tu deverias considerar-te muito feliz, por viveres num quarto de brinquedo como este, pertencendo a uma boa menina que não nos maltrata e nem nos estropia — disse-lhe a linda boneca que andava.
— Eu preciso de aventuras — respondia o marinheirinho. — Gostaria de possuir um barquinho que fosse de minha propriedade e ir dentro dele para o alto mar. Oh! Como eu seria valente! Lutaria com os piratas, mataria tubarões, naufragaria em uma ilha e depois construiria eu próprio um bote! Vocês não sabem o quanto eu sou valente!
— Não! não! Ainda não percebemos isso. Sabemos, entretanto, quem foi que, há bem poucas noites, pôs-se a correr ao avistar a pobrezinha de uma aranha que chegou até esta mesa.
O bonequinho vestido de marinheiro corou e não disse mais nada.
No entanto, naquela mesma noite decidiu fugir para ir para o mar.
Conhecia a existência de um riacho que corria no fundo do jardim e havia, também, avistado ali um pequeno bote de papelão.
— Abandonarei essas bonecas sem graça — pensou. — Embarcarei esta mesma noite, a fim de tornar-me um intrépido marinheiro.
Assim, pois, aquela noite, logo após Lulu haver deixado suas bonecas enfileiradas sobre a mesa, colocando o marinheiro no centro, este pôs-se de pé e despediu-se de suas companheiras.
— Vou-me embora — lhes disse. — Sois uma coleção de crianças, e um marinheiro como eu necessita de aventuras. Adeus!
Desceu pelo pano da mesa e dirigiu-se à janela.
Trepou sobre uma cadeira e desse modo chegou ao peitoril da mesma.
Esta estava aberta, de modo que, o marinheiro poude sair.
Saltou sobre a relva do jardim e pôs-se a correr. Naquele momento surgia a lua, mas o jardim, porém, achava-se cheio de sombras.
As casas apresentavam um aspecto muito diverso do que tinham à luz do dia.
— Pip! pip! — ouviu de repente uma voz forte, vinda de cima de onde o marinheirinho se encontrava, e este deu um salto, cheio de medo.
Logo depois, uma coisa maior voou à curta distância de sua cabeça, e o marinheiro assustou-se tanto que caiu ao chão.
— Oh! é um boneco! Nada mais do que um boneco — exclamou uma coruja de grandes proporções. — Eu havia pensado que fosse um ratão.
— Então essa coisa tão espantosa era uma coruja? perguntou a si próprio o boneco, bastante envergonhado. Começou a andar por um caminho e de súbito lançou um grito.
— Oh! Uma serpente que vem se arrastando!
— Não sejas tolo! — respondeu a coruja voando baixinho. — não é senão uma grande minhoca, que acaba de sair de seu esconderijo, para dar um passeio noturno. Deixa de ser covarde!
— Não sou nenhum covarde — respondeu o marinheiro endireitando-se. Sou mais valente do que ninguém. Não tenho medo de nada.
Enquanto êle pronunciava estas palavras, apareceu numa volta da estrada o senhor Espinho, isto é, o ouriço que andava à procura de algumas baratas para sua ceia.
Na sua pressa tropeçou no marinheiro, e este pôs-se a gritar de dor.
— Oh! acabo de pisar sobre um agulheiro! Sinto todo o corpo espetado! O que será isto?
— Deixa estar que não fazes pouco barulho! — exclamou o ouriço. Sinto muito haver esbarrado em ti, mas em verdade, tu é que devias saber por onde caminhas.
Depois tornou a empertigar-se e continuou a andar, decidido a portar-se com a maior valentia, quaisquer que fossem as aventuras que pudessem lhe acontecer.
Achava-se já, quase às margens do rio, quando qualquer coisa atirou-se contra êle.
O marinheiro imaginou que ia ser mordido e tornou a fugir, tomado pelo pânico.
Ouviu o ruído de uns pés que o perseguiam e correu ainda mais.
Apesar disso, o desconhecido que corria atrás dele não desistiu de o acompanhar e em breve ouviu uma voz compassada, que dizia:
— Detenha-se um momento, senhor. Pode dizer-me que horas são?
Não era senão um camundongo. Oh! como ficou envergonhado o marinheirinho pela sua covardia!
Deteve-se no mesmo instante e quis fingir, então, que nem siquer havia intentado a fuga.
— Não tenho relógio — respondeu. — Porém se o senhor prestar atenção, ouvirá as badaladas da igreja e assim saberá as horas.
— Muito obrigado — respondeu o camon-dongo. — Vejo que o senhor não é muito valente! Meu Deus, como o senhor fugia de mim!
O marinheirinho não respondeu. Dirigiu–se em linha reta para o rio e procurou o barco de papelão.
Estava atracado à margem e pronto para navegar. O boneco sentiu-se então muito valente. Lançou o barco ao rio e subiu a bordo do mesmo.
Proferiu então uma exclamação e disse:
— Sou um marinheiro e vou para o mar!
Uma enorme rã pôs a cabeça fora da água e aproximou-se do barco de papelão.
— Leva-me contigo — gritou. — Eu serei teu tripulante.
Levantou a cabeça para subir pelo costado do barco de papelão e o marinheiro passou por um susto mortal.
— Que horrível monstro! — exclamou. — Vai-te! Vai-te embora!
— Não, quero acompanhar-te, — disse a rã, dispondo-se a subir a bordo.
— Vai devorar-me! — gritou assustado o marinheirinho.
A rã conseguiu trepar no barquinho e como pesava muito, o leve barco de papelão começou a encher-se de água.
— Estou indo à pique ! Vou afogar-me! — exclamou o marinheiro. Socorro!
E assim aconteceu. Meio minuto depois o barquinho submergiu-se até o fundo.
A rã saiu nadando, muito zangada, enquanto que o marinheirinho alcançara terra do melhor modo que lhe fora possível.
Estava molhado dos pés à cabeça, tinha muito frio e achava-se tomado de susto.
Lembrou-se do agradável e cômodo quarto dos brinquedos, pensou em suas antigas amigas, as bonecas, sentadas em fileira sobre a mesa e tagarelando durante toda a noite. Oh! quanto desejava o coitado achar-se novamente ao lado de suas boas amiguinhas.
— Voltarei para casa — disse o marinheirinho com lágrimas nos olhos. — Não possuo nenhuma valentia e sou muito mais bobo do que os bebês. Odeio as aventuras.
Atravessou correndo o jardim e trepou novamente pela janela. Conseguiu a muito custo subir em cima da mesa e logo chegou ao lugar onde as bonecas estavam sentadas em fileira! Como ficaram elas surpreendidas quando o viram!
— Oh! pobrezinho! Estás molhado — exclamou a boneca que andava. — Deixa-me enxugar-te com uma ponta do pano da mesa.
— Alegramo-nos tanto por haveres voltado! — acrescentaram as bonecas vestidas de fada. — Não te foi possível, acaso, encontrares o caminho do mar?
— Não — respondeu o marinheirinho. — Esse caminho está cheio de horríveis dragões voadores, serpentes e monstros cobertos de eriçados espinhos. Além do mais, a fria corrente do rio está cheia de seres que trepam às embarcações e as fazem naufragar. As aventuras são desagradáveis a mais não poder. Não quero saber de mais nada disso, e alegro-me extremamente ao ver-me de novo em casa e em vossa companhia.
— Pobre marinheirinho! — exclamaram as bonecas.
— Não tenhas cuidado, nós de hoje em diante havemos de tratar-te com muito carinho.
E desde então, continuaram a dormir todos juntinhos e o marinheirinho nunca mais teve desejos de embarcar por mar à procura de aventuras.
Como ficou admirada, Lulu, na manhã seguinte, ao ver que êle estava tão molhado.
Não pode imaginar sequer o que lhe havia ocorrido e o marinheirinho achava-se muito envergonhado para lhe poder contar.
FIM
Tradução e adaptação de Leoncio de Sá Ferreira
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