Oliveira Lima
O DR. ULISSES VIANA
A atividade forense do Dr. Ulisses Viana, há pouco falecido no Rio de Janeiro — atividade que consumiu os últimos vinte anos da sua vida e que o tornou um dos mais conhecidos, procurados e ricos advogados da capital federal —, teve a desvantagem de pôr na penumbra sua anterior atividade política e jornalística. Não que fosse total esse eclipse da sua personalidade pública e literária, pois que Ulisses Viana conservou até a morte o maior interesse pelas questões públicas e pelos assuntos intelectuais: apenas outras e absorventes ocupações o afastaram das que lhe teriam sido mais gratas.
O Parlamento e a Imprensa teriam com efeito sido seus campos prediletos de ação, e as circunstâncias que deles o excluíram depois da República — exceção feita do curto tempo em que esteve com Rodolfo Dantas, Joaquim Nabuco, Sancho de Barros Pimentel, José Veríssimo e outros no Jornal do Brasil, logo que foi este fundado — carregam com a responsabilidade de haver distraído da administração e das letras um dos talentos mais formosos que tenho conhecido, uma organização privilegiada de orador e de escritor.
Quando digo letras, não quero dizer que fosse Ulisses Viana propriamente um literato, na acepção restrita do termo. Não era um poeta, nem um romancista, nem um dramaturgo, nem um historiador.
Era porém essencialmente um letrado, porque era uma inteligência nutrida de letras, ao mesmo tempo que da ciência do direito. Era um crítico social dotado de vasta e sólida instrução, um espírito que por ser culto não aparecia menos sôfrego por aumentar sua cultura, uma mentalidade lúcida, arguta, penetrante e equilibrada, como pouquíssimas no nosso país.
O jornalismo foi assim, com êlc, aquilo que tem infelizmente deixado em boa parte de ser no Brasil, a saber, literário.
A grande leitura de Ulisses Viana, o seu epicurismo espiritual, se deste modo" o posso caracterizar, o seu pendor para as preocupações mais altas do que as rasteiramente políticas, a habilidade notável da sua dialética davam aos seus artigos um cunho indelével de elevação e de primor que não é extremamente comum, mesmo numa terra como a nossa, onde a arte jornalística tem tido um século de valiosos representantes.
Sob sua direção foi o Jornal do Recife, de 1886 a 1891, uma das folhas melhor redigidas do Brasil inteiro. Os editoriais eram muitas vezes obras-primas de clareza e de ironia. De um nunca me esqueci, escrito por ocasião da subida ao poder, em 1888, do Conselheiro João Alfredo. A análise da organização do novo gabinete, feita por Ulisses Viana, era um modelo de aticismo e de prer visão. Nesse tempo achava-me cu estreitamente ligado ao Jornal do Recife, onde eu estreara, e na Europa exercia funções de seu correspondente.
Posso portanto, sem forçar essa verdade, dizer que a minha formação jornalística foi orientada pela ciência do mestre que agora desapareceu, saudoso até o fim da liça em que conhecera seus mais caros triunfos. Ensinou-me êlc pelo exemplo a ser animoso no expressar as opiniões e a procurar dar-lhes uma feição literária, o que equivale a não ser grosseiro mesmo quando cruel nas críticas. Uma e outra coisa tenho buscado fazer — como êlc superiormente o fêz — no meu quarto de século de assídua colaboração na imprensa.
Ulisses Viana foi entretanto ainda — pode mesmo dizer-se sobretudo — notável como jornalista, porque aliava àqueles predicados, com que se dotara, a competência jurídica no expor as questões de política ou de administração: isto sem falar na sua ilustração geral pouco vulgar até entre intelectuais. O bom gosto dado por esta ilustração salvava-o de ser um doutrinário, assim como o saber o livrava de ser um puro retórico, alinhando frases sonoras, ou então um refinado diletante à cata de epítetos raros. Suas qualidades reunidas tornavam-no, pelo contrário, um jornalista completo.
Se não adquiriu celebridade igual à de outros foi porque seu palco foi relativamente acanhado: provinciano, quase até o momento de abandonar a cena, descansando a pena do jornalista. Com efeito, poucos meses eram decorridos da sua participação na imprensa do Rio, onde logo se impôs, quando Ulisses Viana se dedicou exclusivamente à advocacia civil e comercial, aspecto sob o qual foi mais conhecido da nova geração e que logo o consagrou um dos primeiros na sua profissão.
Bruxelas, 1911
Fonte: Oliveira Lima – Obra Seleta – Conselho Federal de Cultura, 1971.
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