O ESPÍRITO LIBERAL E O ESPÍRITO CONSERVADOR. A EUROPA DE 1820 A 1848

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Liberais e Conservadores

OLIVEIRA LIMA – HISTÓRIA DA CIVILIZAÇÃO –

IDADE CONTEMPORÂNEA – CAPÍTULO II

O ESPÍRITO LIBERAL E O ESPÍRITO CONSERVADOR. A EUROPA DE 1820 A 1848

A revolução de 1820 e a Vilafrancada

A arma da Santa Aliança foi a intervenção aplicada às nações que davam mostras de querer dotar-se de instituições liberais. Em Nápoles intervieram os austríacos para derrubar a constituição imposta ao rei. No Piemonte um movimento análogo foi abafado, instalando-se em Turim uma guarnição austríaca e sendo dizimados os patriotas lombardos. Foi nessa ocasião que Sílvio Pelico, por haver celebrado a liberdade, foi condenado a 15 anos de "cárcere duro", onde, no isolamento e na tortura da alma, escreveu esse livro patético — Minhas Prisões, que, no dizer de um historiador, preparou uma nova geração de patriotas italianos, essa geração que em 1846 julgaria encontrar no papa Pio IX o centro da independência nacional e um fator decidido da liberdade na Europa, e que, desiludida dessa esperança que eles próprios destruíram por seus excessos, se lançaram com Mazzini e Garibaldi no caminho da revolução sem tréguas.

Na Espanha o chamado grito de Riego em Cádis, isto é, o pronunciamento instigado por este coronel dos 20 000 soldados ali acampados para irem combater as colônias revoltadas da América, restabeleceu em 1820 a constituição de 1812, que o regresso de Fernando VII do cativeiro sacrificara, sendo restaurada a Inquisição e varridas não só todas as novidades francesas, como as próprias Cortes nacionais. Chateaubriand, que era um imaginativo, obteve porém do Congresso de Verona (1822); no intuito de emprestar aos Bour-bons alguns dos louros de Bonaparte, o mandato para a França de repor na Espanha o antigo regime. Para isto foi expedido um exército de 100 000 homens às ordens do duque d’Angoulême, que facilmente ganhou a batalha do Trocadero (1823) e restituiu ao indigno monarca a totalidade dos seus direitos majestáticos.

Intervenção e revolução na Itália e na Espanha

Em Portugal não chegou a haver intervenção porque nela não consentia a Inglaterra, e mesmo o edifício constitucional ruiu por si. A revolução militar e civil de agosto de 1820 fora provocada mais que tudo pelo abandono em que Portugal se sentia comparado com o Brasil e privado dos lucros do seu anterior monopólio comercial; também pela preponderância, equivalente a um verdadeiro proteto-rado, exercida pela Inglaterra sobre o governo civil representado pela junta da regência, e sobre o exército que Beresford comandava, exprobrando-se-lhe o ter deixado enforcar por liberal Gomes Freire de Andrade, militar brilhante das campanhas de Napoleão e espírito generoso.

A revolução portuguesa instaurara um regime ultraliberal e as Cortes constituintes das Necessidades não só elaboraram a lei orgânica de 1822 como forçaram D. João VI a regressar do Brasil, onde por seu gosto ficaria, tanto lhe agradava o meio e tão harmônica com o seu sentimento de vaidade real a grandeza do novo reino, a qual já fora a base da admissão de Portugal no Congresso de Viena. O sentimento público da península Ibérica era porém pouco simpático a transformações radicais, sobretudo atinentes à religião, e o gesto de D. Miguel, levantando em 1823 um regimento em Vila Franca de Xira e dando por finda a supremacia das Cortes, repercutiu favoravelmente em todo o país.

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