OS SUCESSORES DOS ÁRABES – INFLUÊNCIA DOS EUROPEUS SOBRE O ORIENTE

Dr. Gustave Le Bon (Sorbonne)

A Civilização árabe (1884) –Livro Sexto

DECADÊNCIA DA CIVILIZAÇÃO ARABE

 Capítulo I 

OS SUCESSORES DOS ÁRABES

INFLUÊNCIA DOS EUROPEUS SOBRE O ORIENTE

OS SUCESSORES DOS ÁRABES NA ESPANHA

Um dos melhores meios de apreciar o efeito benéfico ou prejudicial que um povo exerceu sobre outro, consiste em examinar o que este foi antes de estar submetido àquela influência, durante e depois dela. O que foram os povos invadidos pelos árabes, antes das invasões e durante o domínio do invasor, já o demonstramos suficientemente; resta-nos agora procurar o que passaram a ser quando os árabes desapareceram da cena. Começaremos pela Espanha.

Depois que os cristãos reconquistaram Granada, último asilo do islamismo na Europa, não pensaram em imitar a tolerância que com eles haviam tido os árabes durante tantos séculos; apesar dos tratados perseguiram-nos cruelmente, embora só depois de decorrido um século resolvessem expulsá-los a todos. Sua superioridade intelectual sobre os espanhóis colocava-os, malgrado as perseguições, à frente de todas as indústrias, motivo pelo qual estes os acusavam com razão de se terem apoderado delas.

O povo reclamava apenas a expulsão, mas o clero pedia algo mais radical, exigindo que eles fossem todos degolados, sem perdoar a mulheres, velhos e crianças. Felipe III adotou um termo médio, limitando-se em 1610 a decretar sua expulsão — embora dando ordens secretas para que a maioria fosse exterminada antes de sair da Espanha, como na realidade sucedeu, sendo destruídas quase três quartas partes dos desterrados.

Concluídas a matança e as expulsões verificou-se uma alegria geral, parecendo que a Espanha ia entrar numa nova era.

Efetivamente nascia uma nova era, pois essa destruição em massa, única na história, teve conseqüências importantíssimas, que apreciaremos volvendo os olhos até alguns anos atrás, e vendo o que a Espanha foi quando se extinguiu o poder dos árabes.

Assim que as rivalidades e lutas intestinas dos muçulmanos começaram a minar seu poder político em Espanha, os cristãos que haviam fugido ao seu domínio refugiando-se nas províncias montanhosas entreviram a possibilidade de reconquistar o antigo império.

As primeiras tentativas não foram felizes, mas seu entusiasmo religioso era demasiado intenso para que ficassem desanimados, e à força de lutarem continuamente durante séculos, tornando a guerra sua única ocupação, acabaram sendo tão hábeis militares quanto os árabes. Favorecidos pelas dissenções destes lograram fundar uma série de pequenos reinos, que cada dia se iam engrandecendo, e quando após oito séculos de luta a monarquia espanhola conseguiu apoderar-se da capital do último reino árabe, Granada, e reuniu a península num só feixe, tornou-se então a primeira potência militar da Europa.

Os dois soberanos que sucederam a Fernando, Carlos V e Felipe II, mostraram-se tão hábeis quanto seu antecessor, e a época que vai desde a conquista de Granada até à morte de Felipe II teve uma grandeza que não continuaria nem devia voltar.

Embora os árabes, nesse período, tivessem sido mais ou menos perseguidos, haviam continuado no país, desempenhando um papel importantíssimo com sua superioridade intelectual. Os únicos sábios, industriais e negociantes do país eram árabes, pois os espanhóis professavam o mais soberano desprezo por toda a profissão que não fosse eclesiástica ou militar.

A península incluía então duas populações diferentes, contribuindo de modo diferente para a sua grandeza: os cristãos, donos do poder militar, e os árabes, senhores de toda a parte material da civilização. Estes dois elementos são indispensáveis, pois se o poder militar basta para fundar um império, é impotente sozinho para o consolidar. A prosperidade de semelhantes instituições não é possível sem determinados materiais de civilização, e só se mantém enquanto estes subsistem.

Fig. 335 — Castelo moderno da Penha (Portugal), estilo hispano-árabe.

Fig. 335 Castelo moderno da Penha (Portugal), estilo hispano-árabe.

 

Foi justamente o que sucedeu à Espanha depois da expulsão dos árabes; a decadência substituiu a grandeza, e com tanta maior rapidez quanto o Estado já não tinha à sua frente aquela série de grandes militares que se haviam escalonado durante um século. Privado do poder militar e da civilização, o país perdeu tudo ao mesmo tempo.

A decadência que se seguiu à expulsão e degola dos árabes foi tão rápida e profunda, que aparentemente não há na história outro exemplo de um povo caído em maior prostração em tão poucos anos. As ciências, as artes, a agricultura, a indústria e tudo o que constitui a grandeza de uma nação desapareceram rapidamente. Fecharam-se as grandes fábricas, a terra deixou de ser cultivada e os campos ficaram desertos; incapazes de prosperar sem agricultura e indústria, as cidades despovoaram-se com rapidez surpreendente. Madrid, que contava 400.000 habitantes, ficou logo reduzida à metade; Sevilha, possuidora de 1.600 teares que davam de comer a 130.000 pessoas, em breve estava reduzida a 300, perdendo três quartas partes de seus habitantes segundo informe das Cortes a Felipe IV; de 50 manufaturas de lã, Toledo ficou com 13, e as fábricas de seda que mantinham 40.000 pessoas desapareceram completamente. O mesmo se verificou por toda a parte, e grandes cidades como Burgos, Segóvia e Córdova, pareciam desertas pouco depois. As próprias manufaturas que sobreviveram à saída dos árabes, embora escassas, desapareceram também com rapidez. Todas as indústrias decaíram de tal modo que, quando nos começos do século XVIII se pretendeu estabelecer em Segóvia uma manufatura de lã, foi preciso chamar operários da Holanda.

Esta brusca desaparição da indústria e da agricultura produziu naturalmente uma profunda miséria, e a Espanha mergulhou em poucos anos na mais lamentável decadência.

Tantas calamidades acabaram logo com a energia e vitalidade de todos, de modo que aquele império antes tão vasto, a ponto de se dizer que o sol nunca se punha em seus domínios, não tardaria a cair na mais negra barbárie se o não salvasse uma dominação estrangeira. Prostrado completamente, precisou resignar-se, para subsistir, a ser mandado por franceses, italianos, alemães, etc, os quais o dirigiram tanto em política como em administração, indústria e comércio. Apesar disso o reinado de Felipe V, e a administração completamente estrangeira que êle se viu obrigado a estabelecer bem como seus sucessores, apenas conseguiram dar à Espanha uma vitalidade aparente. Era impossível tornar a erguer o país de sua prostração. A Espanha teve ainda soberanos notáveis como Carlos III, e em alguns momentos reinou certa prosperidade fictícia quando esse monarca chamou do estrangeiro sábios e industriais, mas tudo inútil porque os mortos não ressuscitam. Os árabes tinham desaparecido, a Inquisição eliminara com seleções contínuas todas as inteligências que ultrapassavam a mediania, e embora a Espanha tivesse ainda habitantes, já não possuía homens.

Fig. 356 — Escudo de Felipe II de Espanha, segundo uma fotografia de Laurent.

Fig. 356 — Escudo de Felipe II de Espanha, segundo uma fotografia de Laurent.

 

Todos os escritores da época que visitaram o país concordam em reconhecer que seu nível intelectual era baixíssimo, e nos fins do século XVII a ignorância era tão geral como crassa. Uma terra que no tempo dos árabes ilustrara o mundo, não possuía uma só escola onde se ensinassem as matemáticas e as ciências físicas; um autor espanhol, Campomanes, assegura que até 1776 não havia na península um químico capaz de fabricar os produtos mais simples. Do mesmo modo se não encontraria um indivíduo capaz de construir um barco, ou sequer uma vela.

A terrível Inquisição lograra consumar sua obra. Não havia em Espanha outros livros que os de devoção, nem outras ocupações além das religiosas. Ninguém conhecia as notáveis descobertas de Newton, Harvey, etc.

Século e meio após a descoberta da circulação do sangue, os médicos espanhóis ainda não tinham ouvido falar nisso, e o nível de seus conhecimentos infere-se do curioso fato de que, em 1760, havendo algumas pessoas proposto que se limpassem as ruas de Madrid das imundícies que as obstruíam, o corpo médico protestou com energia, alegando que se seus pais, bons sabedores do que faziam, tinham vivido entre aquela porcaria, não era muito que assim se continuasse, pois recolher as imundícies era intentar uma empresa de conseqüências imprevisíveis.

Os mais louváveis esforços não conseguiram arrancar de seu marasmo esse desditoso país, que ainda hoje não possui indústria nem agricultura. d’> Em tudo o que excede a mediania intelectual, vê-se obrigado a recorrer ao estrangeiro. Estrangeiros são os que dirigem suas fábricas, constróem seus caminhos de ferro e mesmo lhe fornecem os maquinistas para conduzir suas locomotivas. No que respeita às ciências e à indústria, a Espanha recebe tudo do estrangeiro, e apesar da capacidade de seus governos não consegue remediar semelhantes coisas. Pouco importa que eles sejam ou deixem de ser liberais. Não se pode governar sem a opinião pública, e por mais avançado que seja um governo espanhol o público sempre o será menos que êle. A Espanha possui as aparências exteriores da civilização, mas só as aparências e a ignorância é ali tão geral quanto na Idade Média. Se a Inquisição tornasse a surgir, teria de seu lado as massas da nação. O juizo severo, embora justo, que o grande historiador inglês Burckle fêz delas há uns séculos, é ainda exato e o será por muito tempo.

"A Espanha — diz êle, — continua dormindo, tranqüila, indiferente, impassível, sem receber qualquer impressão do resto do mundo, e não causando nele qualquer impressão. Ali está na ponta extrema do continente, massa enorme e inerte, como o último representante das idéias e sentimentos da Idade Média. E o mais triste sintoma é que se mostra satisfeita com sua condição. É o país mais atrasado da Europa, e não obstante julga-se o mais adiantado; orgulha-se de tudo o •que devia envergonhá-lo: da antiguidade de suas opiniões, da sua ortodoxia, da robustez da sua fé, da sua credulidade pueril e incomensurável, da repugnância por toda a melhoria em suas crenças e costumes, do seu ódio aos heréticos, da constante vigilância com que tem burlado os esforços destes últimos para se instalarem legalmente em seu território. Tudo isto junto produz esse triste resultado a que se dá o nome de Espanha".

(1) Segundo um trabalho publicado em Madrid em 1882 por dom Lucas Malada no Boletín de la Sociedad Geográfica de Madrid, a Espanha, cuja riqueza agrícola sob os árabes era tão grande, tem hoje 45% de seu território quase completamente improdutivo, sendo apenas 10% muito fértil. Entre as causas mais importantes deste estado miserável inclui-se a derrubada quase total das árvores dos montes por seus habitantes.

Limitando-se a consultar apenas os números das estatísticas, qualquer um diria que a Espanha vem desfrutando de alguns anos para cá uma prosperidade notável. As exportações, que no decênio 1860-1870 não excederam a média de 237 milhões, ultrapassaram os 500 no período de 1870 a 1880; mas quando submetemos estes algarismos a análise, logo descobrimos que as causas deste aumento são completamente acidentais. De fato, provém de quo tendo a filoxera destruído mais de um terço das vinhas francesas, os nossos comerciantes vieram à Espanha fornecer-se do vinho de que necessitavam. De 1870 a 1882 o número de hectolitros de vinho remetidos para a França passou de 300 000 para 6 milhões, tendo por conseqüência aumentado vinte vezes apenas em dez anos. Em 1881 o valor dos vinhos comprados pela França à Espanha alcançou 260 milhões.

II

OS SUCESSORES DOS ÁRABES NO EGITO E NO ORIENTE

Os sucessores dos árabes no Egito e em grande parte do Oriente foram os turcos, como já é -sabido.

Considerados de um ponto de vista político, estes tiveram •sem dúvida alguma uma época de grandeza, pois os sultões que sucederam aos imperadores e substituíram em Santa Sofia a cruz grega pela meia lua, fizeram tremer durante longos anos os mais temíveis soberanos da Europa, alargando consideravelmente a influência do islamismo. Seu poderio, contudo, sempre foi exclusivamente militar. De fato mostraram-se aptos para fundar um grande império, e impotentes para criar uma civilização, empregando seu maior esforço em aproveitar a que tinham na mão — motivo pelo qual tudo tomaram dos árabes, ciências, artes, indústria e comércio. Mas assim como estes brilharam nos ditos conhecimentos, os turcos nunca souberam realizar progresso algum, e como os povos que não progridem, fatalmente recuam, em breve chegaram à decadência.

O fim da história da civilização dos árabes no Oriente data do dia em que os turcos se apoderaram desse império pela força das armas, e assim, embora aqueles continuassem vivendo na história por sua influência religiosa, o nível da civilização que tinham alcançado perdeu-se pela influência das raças que os substituíram.

O Egito é o país onde a decadência foi mais profunda, começando na época em que as vitórias de Selim o converteram numa província turca. As artes, as ciências e a indústria desapareceram gradualmente. Administrado por governadores que duravam pouco, e que apenas cuidavam de enriquecer a toda a pressa, o Egito, como todas as regiões dependentes do império otomano, não fêz mais que vegetar; perdeu seu antigo esplendor, não construiu nenhum monumento novo e deixou de conservar os antigos dos quais só restou o que o tempo não quis destruir.

Fig. 357 — Antigo escudo em couro de um rei de Granada.

Fig. 357 Antigo escudo em couro de um rei de Granada.

 

Ninguém ignora hoje o que são as províncias submetidas à Turquia, sendo portanto inútil falar muito a esse respeito. Podemos resumir as mais imparciais apreciações dizendo que um país privado de toda a administração não poderia estar pior governado. As estradas não merecem cuidado algum, as minas, os montes e as riquezas agrícolas estão completamente abandonadas, e mesmo às portas das grandes cidades, como por exemplo Esmirna, o bandoleirismo é geral, sem contar os piratas do mar de Mármara e do Bósforo.

Não devemos, contudo, tirar do que ficou dito a conclusão de que a massa da população turca seja inferior à da Europa, sob nenhum aspecto, pois a Turquia apresenta um surpreendente contraste que não compreendo tenha sido silenciado em outras obras. O fato é que as classes baixas têm qualidades de primeira ordem, ao passo que as classes superiores são moralmente muito inferiores a elas. É o contrário do que se observa no Ocidente. O lavrador e o operário turco são sóbrios, trabalhadores infatigáveis, muito afeiçoados à vida doméstica, não se cansam de nada e sofrem com a maior resignação todas as exações de uma administração depravada. O soldado turco morre em seu posto, sem jamais recuar, não obstante nunca receber seu soldo; vive de pão e água e tem por uniforme alguns farrapos. Um oficial que esteve em muito contacto com eles, garantiu-me não ser possível encontrar na Europa um exército capaz de subsistir mais de um dia em semelhantes condições. Os turcos são os soldados pior comandados da Europa, mas talvez sejam os melhores.

O que acabo de dizer, todavia, aplica-se apenas aos turcos propriamente ditos, e não certamente a todas as populações das províncias asiáticas que a Turquia administra, onde a miúdo se encontra, sobretudo nas cidades, uma mescla de raças diferentes, resíduo abastardado das invasões que ao longo de tantos séculos atravessaram essas terras, e a cuja gente o regímen turco outra coisa não fêz que envilecer cada vez mais.

Fig. 358 — Aldrava do portai da catedral de Tarragona; estilo hispano-arabe.

Fig. 358 — Aldrava do portai da catedral de Tarragona; estilo hispano-arabe.

 

Apesar dessa mistura inferior subsistem ainda algumas qualidades, embora o nível da moralidade e da valentia tenham caído extremamente.

Nesse Oriente degenerado, apenas uma potestade é geralmente respeitada, cujo nome ouvi repetir em toda a parte, desde as costas do Marrocos até aos desertos da Arábia, e desde as praias do Bosforo até aos areais da Etiópia. Em Constantinopla sob a cúpula de Santa Sofia, em Jerusalém desde o cume da colina onde se ergue o templo de Salomão e mesmo sob as abóbadas sombrias do Santo Sepulcro, no Egito desde as Pirâmides até às ruinas solitárias de Tebas, a das cem portas, por toda a parte, enfim, não há recanto onde esse nome não persiga o viajante, rogando, suplicando, incessantemente morrendo e renascendo, até se desvanecer num murmúrio irônico, soando umas vezes como oração e outras como ameaça, ou ainda pronunciando-se como uma esperança. É uma espécie de talismã onipotente que substitui os mais extensos discursos, e com o qual se pode ser soberano senhor no Oriente. Basta pronunciar seu nome em determinado tom para que todas as frontes se desanuviem, para que os cortesãos se prosternem e as mulheres prodigalizem, seus sorrisos prometedores; por meio dessa palavra mágica obtem-se tudo quanto o todo-poderoso Príncipe dos crentes não poderia outorgar, com a qual há pouco um general europeu obteve, limitando-se a pronunciá-la, uma vitória que o tornou dono daquele império dos faraós, e cuja conquista requereu em outra oportunidade todo o gênio de Napoleão. Essa divindade soberana, cujo poder supera o do temível Alan, a Turquia domina, chama-se Bakchich. CD e cujo nome é atualmente venerado em todas as regiões onde

(1) Propina (N.t.).

Os últimos sucessores dos árabes no Egito. — Esta região não se encontra agora sob o poderio turco, pois caiu de um modo muito efetivo nas mãos comerciais da poderosa Inglaterra. As pessoas que estão ao corrente da grande miséria que invadiu a índia quando ela ficou submetida ao mesmo domínio, facilmente poderão prever a sorte que espera esse’ desditoso país. Já demonstrei num capítulo anterior a imensa necessidade em que os especuladores europeus mergulharam os lavradores egípcios desde alguns anos atrás (D, mas essa miséria era uma espécie de idade de ouro comparada com o que os espera. O felá ver-se-á submetido como o hindu a uma dessas engrenagens metódicas, formidáveis e lentas, que expremem e trituram sem ruído, até que nada mais reste-para pulverizar.

Quanto aos antigos monumentos árabes que ainda existem no Cairo, parecem destinados a ter o destino dos da índia, desaparecendo rapidamente para serem substituídos por quartéis e outros edifícios análogos; a derrubada começou com uma rapidez que indica estar logo terminada sob os novos senhores. Basta 1er os interessantes artigos e memórias do-sr. Rhone, adido da missão arqueológica do Cairo, para ter idéia dos incríveis atos de vandalismo que atualmente se cometem, derrubando-se diariamente maravilhas inimitáveis, sob o pretexto de abrir ruas e construir quartéis. (2)

(1) Difícil seria expor com exatidão o que os funcionários europeus do-fisco, e especialmente os judeus, arrancaram em poucos anos ao felá. Os dados que em 1878 publicou o sr. Van-den-Berg, dizem-nos que sobre uma soma de 1 397 175 000 francos, total de cinco empréstimos, os agentes do fisco cobraram, a título de propinas, comissões, etc, a respeitável soma de 522 milhões, e que de toda essa imensa quantidade de dinheiro apenas haviam entrado no Tesouro egípcio 875 milhões. Há muito que o governo egípcio, apenas com os juros que lhe cobraram, pagou a totalidade da dívida.

(2) No entretanto as demolições fazem-se com muita habilidade, nunca figurando os nomes dos novos senhores nas ordens de demolição; mesmo para contentar aparentemente os afeiçoados à arqueologia, um regulamento publicado no Moniteur Egyptien, de 12 de janeiro de 1883, declara que "serão conservados os monumentos históricos, religiosos e artísticos", embora com este engenhoso corretivo: "e mesmo reconstruídos seus frontispícios segundo o alinhamento geral". Por desgraça, como essa maneira de reconstruir frontispícios de monumentos às vezes maiores que a catedral de Paris, era uma operação um tanto complicada, e como a frase "monumentos históricos" podia dar lugar a interpretações especiais, aquele regulamento não produziu outro resultado que o de acelerar as demolições. Infelizmente para os construtores de ruas à européia e de quartéis, pretendeu-se andar com excessiva pressa, e a ordem simultânea de derrubar cinco dos mais belos monumentos do Cairo produziu tais explosões de indignação entre os artistas que os próprios jornais ingleses reclamaram, o que deu causa à suspensão da ordem. Isso, porém, não foi conseguido sem dificuldade, como se •pode julgar pela resposta do ministro das Obras Públicas, Ali-Paxá-Mu-barek a um grupo de reclamantes: "Que necessidade há de conservar tantos monumentos? Não basta conservar uma amostra deles?" Engenhoso argumento que nos levará a utilizar como panos de embrulho as telas de Rafael e Rubens, sob o pretexto de que basta um quadro de cada um. "Além disso — acrescentou o ministro com eloqüência, aludindo à magnífica porta de Zowaileh, diante da qual eram dantes executados os criminosos, — não mais nos interessa conservar semelhantes recordações, e devemos destruí-las como os franceses destruiram a Bastilha".

Os artistas que desejem contemplar os restos desses tesouros de arquitetura, acumulados no Cairo por mil anos de civilização árabe, não devem perder tempo, pois eles não tardarão a desaparecer de todo. Em troca desses vestígios de outras idades, justamente desprezados pelos comerciantes, o povo egípcio gczará de todos os benefícios da civilização, possuindo bons quartéis, bonitas capelas protestantes, um número respeitável de vendedores de Bíblias e aguardente, além de variadas coleções de pastores protestantes.

III

OS SUCESSORES DOS ÁRABES NA ÍNDIA

Os primeiros a herdar a civilização árabe foram os mongóis, os quais se não souberam fazê-la progredir, pelo menos souberam utilizá-la, de modo que sob seu domínio aquela imensa península permaneceu rica e próspera.

Os ingleses substituíram os mongóis e civilizaram o país, dotando-o de estradas de ferro e de rodagem, destinadas a facilitar sua exploração, se bem que o resultado desse novo esplendor consistiu em mergulhar a região numa tão extremada miséria como nunca se viu igual em nenhuma outra do mundo.

Mais práticos que os espanhóis com respeito aos árabes, os novos senhores da índia nunca pensaram em expulsar os hindus, considerando mais útil dessangrá-los metodicamente. Se julgarmos apenas pelo ponto de vista comercial o sistema que permite a alguns milhares de mercadores fazerem trabalhar em benefício próprio centenas de milhões de homens, reduzindo-os a um estado mil vezes pior que a escravidão, não há dúvida que êle merece a nossa admiração; mas se o julgássemos pelo critério da humanidade, provavelmente opinaríamos de outro modo.

 

Fig. 359 - Praga real em Ispahan, segundo urn desenho de Coste.

Fig. 359 – Praga real em Ispahan, segundo urn desenho de Coste.

 

Aplicado com rigor à India, o engenhoso sistema colonizador da Inglaterra enriqueceu imensamente a metrópole, embora arruinando completamente os infelizes explorados. Depois de fazer notar que no tempo dos reis indígenas os agricultores, que na índia compõem a casta mais numerosa, pagavam apenas um sexto dos produtos do solo, ao passo que agora pagam aos ingleses metade das colheitas, Gran-didier expõe o rendoso sistema da expropriação por falta de pagamento das contribuições, e acrescenta: "Há muito que éste sistema afundou os lavradores em tal indigencia, que eles não podem ser mais pobres".

O estado da índia sob o domínio inglês foi recentemente estudado com detença por Hyndman, o qual depois de expor que de um lado a Inglaterra esmaga os indígenas com impostos tão pesados que os matam de fome, e por outro arruinou todas as manufaturas locais com o intuito de favorecer as importações da metrópole, acrescenta: "Caminhamos para uma catástrofe sem precedentes na história do mundo". Tal predição, embora pareça pessimista não o é absolutamente, se considerarmos que só na província de Madrasta existem, segundo a estatística oficial, 16 milhões de indigentes. Os desventurados hindus não apenas se vêem obrigados a manter um exército que custa mais de 400 milhões anuais e uma administração que não alcança menos de 50, como também a remeter anualmente para a Inglaterra o equivalente a outros 500. d)

(1) A soma que a Inglaterra tirou deste país em vinte anos ascende a dez bilhões, sem contar o dinheiro gasto em manter os conquistadores, cada um dos quais recebe, para residir na índia, honorários de ministro ou de-soberan j. A permanência dos funcionários é limitada a cinco anos, considerando-se suficiente para reunir uma brilhante fortuna. Quanto à situação-do país, podemos avaliá-la pela seguinte passagem do autor inglês há pouco citado, Hyndman. "Era espantoso — diz êle, — ver as províncias do noroeste obrigadas a exportar seus cereais, ao mesmo tempo que 300.000 pessoas morriam de fome em poucos meses;" e acrescenta que em 1877, só. na residência de Madrasta, 935.000 pereceram de fome, segundo dados oficiais.

IV

MISSÃO DOS EUROPEUS NO ORIENTE CAUSAS DO SEU INSUCESSO

Já examinamos a influência que o Oriente teve na antiguidade sobre o Ocidente, por intermédio dos árabes, e não seria inútil investigar agora a que tiveram depois os europeus sobre os ocidentais.

Como o estudo demonstra que ela sempre foi nula, seria desnecessário estender-nos sobre esse tema se não conviesse procurar as causas da tenacidade invencível com que os orientais repeliram sempre a civilização e as crenças que lhes chegavam do Ocidente, ao passo que aceitaram do modo mais fácil, na antiguidade, as que lhes levaram os árabes.

Entre os motivos gerais da incapacidade dos europeus, deve-se aduzir o seguinte: que a civilização européia é produto de um longo passado, que fomos galgando de um modo progressivo, através de uma série de períodos sucessivos. Portanto, querer forçar outro povo a saltar bruscamente os degraus sucessivos dessa série, teria tanto de quimérico como obrigar uma criança a atingir a idade madura sem ter passado pela juventude.

Contudo, este motivo não bastaria só por si para explicar a minguada influência da nossa civilização nos orientais, pois entre os elementos de que essa civilização se compõe há algiins bastante simples de adaptar às necessidades daquela gente — o que não impede que também os repilam. Nosso malogro, portanto, tem além desse outros motivos.

Esta situação piora todos os dias, pois a fertilidade do solo diminui rapidamente pelo abuso de culturas excitantes tornadas necessárias pela enormidade das contribuições.

As cifras que Hyndman produziu, e que a Nineteenth century publicou sob o título de Bancarrota da índia, não foram negadas, e a única resposta que se pôde dar em justificação do tributo de 500 milhões! que a Inglaterra extrai da índia, foi a da Fartnightby Review, de que "esse dinheiro não representa para a índia outra coisa que o pagamento de um governo pacífico e regular". A palavra pacífico, aplicada a um regimen que faz morrer de fome em um ano mais homens do que custaram as guerras mais mortíferas, deve sem dúvida parecer um tanto exagerada aos hindus.

Entre eles acham-se as complicações que forma a nossa civilização, e as numerosas fictícias que ela criou, as quais determinaram no europeu moderno uma agitação febril, obrigando-o a um trabalho excessivo para as satisfazer. Semelhante agitação e excesso de trabalho são tanto mais antipáticos aos orientais, quanto eles prescindem de quase todas as nossas necessidades. Com efeito, as necessidades materiais de qualquer oriental, seja êle chinês, árabe, hindu, etc, são pouquíssimas; com um retalho de pano por vestido, água e algumas tâmaras por comida, um árabe fica contente; o mesmo sucede com o chinês e o hindu, cujo alimento se reduz a um pouco de arroz e de chá, satisfazendo-se com moradias que não vão muito além disso. A sobriedade dos chineses e sua carência de necessidades, unidas ao seu talento industrial, acabou produzindo o surpreendente fat» de que, sempre que entram em competência com os trabalhadores de nações tidas por superiores, ficam donos do serviço. É o motivo pelo qual a América e a Austrália se vêem hoje forçadas a expulsá-los.

Esta diferença entre as necessidades dos orientais e as dos europeus, e a não menor existente entre seus respectivos modos de pensar e sentir, abriram entre os dois grupos um verdadeiro abismo. Os asiáticos não nos invejam absolutamente a nossa civilização, e os que menos a invejam são os que visitaram a Europa, sendo o conceito.que dela formam bastante diferente do que estamos inclinados a supor. Segundo eles, a introdução da nossa maneira de viver seria no Oriente a mais lamentável calamidade, e os que leram alguma coisa citam como prova o exemplo da índia, sem contar que todos concordam em que os orientais são mais felizes, mais honrados e mais morais que os europeus, enquanto não entram em contacto com estes.

Mas se a nítida incompatibilidade existente entre o gênero de vida, os sentimentos e idéias dos orientais e os dos europeus, basta para explicar a indiferença dos povos do Oriente pelos benefícios da nossa civilização, não é suficiente para explicar do mesmo modo a repulsa que nos dedicam e o desprezo com que olham nossas instituições, crenças e moral.

Seria inútil esconder a causa, que está no comportamento ao mesmo tempo astuto e cruel dos povos civilizados, relativamente aos que o não são, ou o são menos.

Fig. 360 — Fachada principal da mesquita do sultão Achmet, em Constantinopla.

Fig. 360 — Fachada principal da mesquita do sultão Achmet, em Constantinopla.

Com os povos que o não são, como por exemplo os selvagens, a conduta dos europeus teve como resultado destruir essa gente com toda a rapidez, e tanto na América como na Oceania, o destino do selvagem que vivia junto ao homem civilizado, sempre foi idêntico ao do coelho que está ao alcance da espingarda de um caçador. Em breve não haverá mais selvagens em parte alguma; os últimos peles vermelhas desaparecem, graças à subtileza que consiste em tomar-lhes seus territórios de caça, fechá-los e cercá-los onde nada têm para comer, e matá-los em seguida como tordos quando a fome os tira de lá. Na Oceania os selvagens começam também a desaparecer e a extinguir-se, havendo tribos inteiras, como os tasmanianos, tão aniquiladas que hoje não resta delas um único indivíduo. (1)

Se o procedimento dos europeus diante dos selvagens não peca por suave, sua conduta para com os orientais civilizados, como os chineses e hindus, não é muito melhor, pois mesmo prescindindo de todas as nossas guerras, alheias à menor eqüidade, o nosso procedimento quotidiano com eles bastaria para convertê-los em irreconciliáveis inimigos. Todos os que estivemos no Oriente sabemos que os europeus acreditam ser-lhes permitido fazer o que tiverem na vontade, (2) e quando o oriental não se acha diretamente explorado, como o hindu, por impostos que lhe arrebatam o último pedaço de pão, o é por gatunagens comerciais, levadas a cabo com uma falta de pudor que demonstra quão superficial é o nosso verniz de homens civilizados. O europeu desfaz-se de todas as suas qualidades, rebaixando-se por sua imoralidade muito mais que os povos aos quais explora, e se em suas relações com os orientais os mercadores europeus fossem julgados pelas leis de seus próprios países, bem poucos se livrariam do presídio.

(1) Veja o leitor o que sobre isto digo em minha última obra, L’Homme et les sociétés (t. II, pág. 91), falando da conduta habitual dos brancos na África e na Oceania. De passagem recordarei a engenhosa astúcia empregada pelos capitães de navios ingleses para se proverem de trabalhadores nas ilhas malásias, consistente apenas em apanhar por meio de algum estratagema, e prodigalizando demonstrações amigáveis, o maior número possível de indígenas, cortar-lhes imediatamente a cabeça, e trocar, com os chefes das tribos rivais dos degolados, cada cabeça por certo número de trabalhadores. Estes são contratados por breve tempo, mas é claro que nunca mais serão postos em liberdade. Fatos análogos levaram o naturalista Quatrefages às seguintes conclusões: "No que concerne ao respeito pela vida humana ■— diz êle, — a raça branca européia nada fica devendo às bárbaras. Voltem os brancos a vista para sua própria história, e lembrem-se de algumas das guerras e jornadas que estão escritas com sangue em seus próprios anais, e sobretudo não esqueçam sua conduta perante as raças inferiores; o despovoamento que marcou cada uma das passagens pelo mundo, as matanças realizadas a sangue frio e muitas vezes como distrações, as caças a homens, organizadas no estilo da caça às feras, povoações inteiras exterminadas para darem lugar a colonos europeus, e depois disso não poderão deixar de reconhecer que se o respeito à vida humana é uma lei moral e universal, nenhuma raça a violou mais e de modo mais espantoso que a deles próprios".

(2) Convido as pessoas que dizem conhecer a opinião dos orientais mais ilustrados acerca dos europeus, a lerem um notável artigo, publicado em 1878 na Revue Scientifique por Masana Maeda, comissário geral do Japão na última exposição universal de Paris. Embora a sua posição oficial e a nacionalidade do órgão em que escrevia o obrigassem a velar suas opiniões, o autor falou com a máxima clareza, e depois de expor a desastrosa influência dos ingleses sobre os chineses, "com o único objetivo de lhes arrancarem dinheiro", prova que no Japão os estrangeiros, tanto nas cidades como nos campos, nada respeitam do que encontram, devastando sem escrúpulo a propriedade alheia e desprezando por igual as Leis e os costumes.

 

Desse modo, não é sem razão que os orientais alimentam uma precária idéia dos níveis da nossa honradez e moral. A narrativa das relações da Europa civilizada com a China é uma das mais tristes páginas da história da nossa civilização, e talvez um dia os nossos descendentes a tenham de pagar terrivelmente. Que pensará o futuro daquela sangrenta guerra chamada do ópio, na qual a China se viu forçada, a tiros de canhão, a aceitar o veneno que os ingleses tinham introduzido nesses Estados, e que o governo chinês, apavorado com os perigos resultantes do seu uso, intentava proibir? É verdade que hoje esse comércio rende aos ingleses 150 milhões anuais, mas, segundo os cálculos mais moderados, entre os quais destaca o do doutor Christlieb, o ópio mata anualmente 600.000 chineses. A sangrenta guerra do ópio, e o comércio obrigatório que a seguiu, ficam na memória dos chineses como um exemplo destinado a mostrar a seus filhos os dotes morais dos europeus, aos quais persistem em chamar bárbaros. Fazem-no injustamente?

Por isso, quando os missionários ingleses pretendem convertê-los, os chineses respondem-lhes, segundo o testemunho do autor que acabo de citar: "Como assim! envenenais-nos para nos destruir, e depois vindes ensinar-nos a virtude?" O chinês não tem razão raciocinando desse modo, pois deveria compreender que o inglês possui hereditariamente máximas de uma moral especial, rigidíssima, que tem de cumprir e que cumpre, pagando a alguns missionários destinados a colocar os siáticos em disposição de gozar da vida eterna, a que rapidamente os leva o ópio que êle lhes vende.

Fig. 361 — A mesma mesquita ãa gravura anterior vista do lado do Bósforo.

Fig. 361 — A mesma mesquita ãa gravura anterior vista do lado do Bósforo.

 

Os sentimentos dos orientais para com os europeus têm chamado a atenção de todos os viajantes um pouco observadores, e citarei entre outros um distinto diplomata, ex-ministro-plenipotenciário, o sr. Rochechouart, que depois de registrar numa obra recente, que o que mais impressiona o viajante ao chegar à índia, é "o desprezo dos indígenas por seus senhores", acrescenta suceder o mesmo na China. "Os criados dos brancos — diz êle, — envergonham-se diante de seus compatriotas de se verem obrigados a estar em contacto com a gente que servem".

Nossa conduta justifica bastante a vivíssima repulsa que têm por nós os orientais, e por meu lado não vacilo em dizer, colocando-me no seu ponto de vista, que embora nos comportássemos com eles como modelos de virtude, eles teriam o maior interesse em repelir-nos e erguer uma muralha semelhante à que outrora construiu um soberano grandemente sábio nas fronteiras do Celeste Império. Pouco lhes importa uma civilização adaptada a idéias, sentimentos e necessidades que não são as suas, e têm razão em proceder assim. Com efeito, que interesse teriam eles em renunciar às suas instituições patriarcais, à sua vida feliz e isenta de necessidades, adotando o nosso modo febril de viver, as nossas lutas implacáveis, as nossas profundas desigualdades sociais, o miserável trabalho da fábrica e as diferentes necessidades que as civilizações brilhantes engendram? Uma potência oriental houve no mundo, o Japão, que teve um dia a fatal idéia de adotar a nossa civilização, e já em outro livro tive oportunidade de contar os lamentáveis resultados dessa experiência, que mergulhou num estado de extrema desorganização um país outrora ditoso, e no qual, segundo a frase de um dos europeus encarregados de instalar essa civilização fictícia, "a situação dos habitantes era mil vezes preferível à do trabalhador necessitado, arquejante e oprimido que ganha penosamente a sua subsistência nas oficinas."

Quando os árabes conquistaram o Oriente, não levavam consigo essa torrente de males. Os povos invadidos eram orientais como eles, e seus sentimentos, necessidades e estado social tinham analogia com os dos invasores. Assim é que embora a índia, a Pérsia e o Alto Egito fossem conquistados pelos árabes, ou pelos mongóis, e até mesmo pelos turcos, seus habitantes não precisavam sofrer as modificações radicais que traz consigo uma civilização como a moderna. Com • os europeus, ao contrário, a existência de todas essas populações tinha de mudar de alto a baixo; e como eles são demasiado fracos para entrar em competência com os outros, não lhes resta, assim como ao hindu, outro futuro que a miséria «e as revoluções furiosas que o desespero engendra.

A eficácia destruidora que hoje exercem os povos do Ocidente contra os do Oriente, fica suficientemente explicada com o que já dissemos; e para justificar a insaciável avidez •dos europeus basta invocar um único direito, o direito que verdadeiramente prevalece em toda a história: o do mais forte. Em todas as crenças das antigas idades, a que se tem nesse direito soberano é a única a permanecer de pé. As nações modernas têm preocupações mais sérias que a de civilizar outros povos; estudam de preferência como poderão viver, pois considerada a concorrência crescente das raças, os direitos que um povo possui estão estritamente em relação com o número de combatentes e canhões de que êle dispõe. Ninguém pode esperar hoje em dia conservar o que não fôr suficientemente forte para defender. É forçoso ser caça, ou caçador, vencedor ou vencido: tal é a lei dos tempos modernos. Quando se trata de relações entre os povos, as palavras justiça e eqüidade perdem todo o significado, e por conseguinte todo o valor, ficando reduzidas a fórmulas vãs, análogas aos vulgares protestos com que fechamos uma carta, e que todos empregamos sem fazer o menor caso deles.

Os poetas falam-nos de uma idade feliz, chamada a idade de ouro, na qual a fraternidade universal reinou entre os homens. Se não é mais que duvidoso que tal idade tenha existido, pode-se ao menos afirmar que ela morreu para sempre. O vae victis de Breno, ameaçando os romanos nas ruínas de Roma, jamais ressoou tão duramente aos ouvidos do homem como em nossa idade presente. A humanidade entrou numa idade de ferro, na qual todo o fraco deverá perecer fatalmente.

Tradução de Augusto Souza. Fonte: Paraná Cultural ltda

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