Reflexões Morais – La Rochefoucauld

REFLEXÕES MORAIS – LA     ROCHEFOUCAULD

Tradução de Brito Broca e Wilson Lousada. Fonte: Clássicos Jackson.

François, príncipe de Marsillac,
duque de Ia Rochefoucauld, nasceu em Paris, em 1613. Muito jovem se iniciou nos
ambientes mais aristocráticos da época, formando entre os descontentes que
intrigaram contra Richelieu e depois contra Mazarino. Quando Ana da Áustria
assumiu a regência o descontentamento do voluntarioso duque cresceu, levando-o
a formar entre os próceres da revolução da nobreza, denominada Fronda. Estava
então apaixonado por Mme. de Longueville, uma das animadoras do movimento.
Parece não ter lucrado mais do que uni ferimento no combate da Porta de Santo
Antônio, que lhe comprometeu seriamente a vista. Sufocada a insurreição,
retirou-se para o estrangeiro; depois, reconciliando-se com Mazarino, voltou a
Paris, onde, cansado e doente, procurou no convívio de grandes damas, como
Mme. de Sablé e Mme. de Lafayette, uma compensação para as decepções. A
primeira edição das Máximas apareceu em 166*. Com o advento de Luís XIV, La Rochefoucauld continuou no mesmo ostracismo. A
vaidade e a paixão sempre o prejudicaram, como aconteceu a Saint-Simon. Morreu
em 1680, amparado nos braços de Bossuet.

* Nossas
virtudes não são, geralmente, senão vícios disfarçados.

* O que
tomamos por virtudes não passa muitas vezes de um conjunto de várias ações e
interesses que a fortuna ou o nosso engenho sabem arranjar; e nem sempre é por
valor e castidade que os homens são valentes e as mulheres castas.

*   O amor próprio é o maior de todos os aduladores.

* A
cada nova descoberta feita no país do amor próprio, correspondem muitas terras
por descobrir.

*
Muitas vezes a paixão faz de um louco o mais hábil dos homens e torna hábeis os
mais tolos.

*
Há no coração humano uma geração perpétua de paixões, de sorte que a morte de
uma gera quase sempre o nascimento de outra.

* A
clemência dos príncipes não é muitas vezes senão uma política para conquistar o
afecto dos povos.

*
Todos nós temos bastante força para suportar os males dos outros.

* O
mal que fazemos não nos acarreta tanta perseguição e ódio como as nossas boas
qualidades.

*
Se não tivéssemos defeitos não sentiríamos tanto prazer em notar os alheios.

* O ciúme
alimenta-se de dúvidas e transforma-se em fúria ou termina quando se passa da
dúvida à certeza.

* O
interesse fala todas as línguas e desempenha todos os papéis, mesmo o de
desinteressado.

* Os
que se prendem demais às pequenas coisas tornam-se, em geral, inaptos para as
grandes.

*
Nunca somos tão felizes nem tão infelizes quanto nós o julgamos.

* É
difícil definir o amor. O que dele se pode dizer é que, na alma, é paixão de
reinar; nos espíritos, simpatia, e no corpo, apenas o desejo oculto e delicado
de possuir o que se ama depois de muitos mistérios.

* Ainda se
encontram mulheres que nunca foram galantes, mas é difícil encontrar-se alguma
que só o fosse uma vez.

* O
silêncio é o partido mais seguro de quem desconfia de si mesmo.

*
Nada podemos amar senão em relação a nós, e não fazemos senão seguir nosso
gosto e prazer quando preferimos nossos amigos a nós mesmos. No entanto, é só
por essa preferência que a amizade pode ser verdadeira e perfeita.

* É mais
desonroso desconfiar de nossos amigos do que ser enganado por eles.

*
Muitas vezes na vida agradamos mais pelos nossos defeitos do que pelas nossas
boas qualidades..

*
Desenganar um homem convencido de seu mérito é prestar-lhe tão mau
serviço como aquele louco de Atenas que pensava que todos os navios que
chegavam ao porto eram seus.

* Os velhos
gostam de dar bons conselhos para se consolarem de não estar já em estado de
dar maus exemplos.

* Os
grandes nomes rebaixam em vez de elevar os que não sabem honrá-los.

* O sinal
de um mérito extraordinário é ver que aqueles que mais o invejam são obrigados
a louvá-lo.

* O
ingrato é menos culpado de sua ingratidão do que quem lhe fez bem.

*   Há bons casamentos; mas deliciosos, não.

* É tão fácil
enganar-nos a nós mesmos sem darmos por isso quão difícil enganar os outros sem
que eles o percebam.

*
Muitas vezes se pratica o bem para se poder praticar o mal impunemente.

* As únicas
cópias boas são as que nos revelam o ridículo dos maus originais.

*
Somos às vezes tão diferentes de nós mesmos como dos outros.

* Poucos
há bastante sábios que prefiram a censura que lhes é útil ao elogio que os
trai.

* O
ciúme é o maior dos males e o que menos piedade causa àqueles que o ocasionam.

* A
graça é para o corpo o que o bom senso é para o espírito.

* O
desejo de parecermos hábeis muitas vezes nos impede de o ser.

* As
qualidades que temos não nos fazem nunca tão ridículos como as que afetamos
ter.

*
A fortuna ó sempre cega para aqueles a quem não concede os seus favores.

* Se
não nos adulássemos a nós mesmos, a adulação alheia não nos prejudicaria.

* A glória
dos grandes homens deve medir-se sempre pelos meios de que eles se serviram
para conquistá-la.

*
O mundo recompensa mais vezes as
aparências do mérito do que o próprio mérito.

* A
esperança, enganosa como é, serve ao menos para nos levar ao fim da vida por um
caminho agradável.

*
Nosso arrependimento não é tanto o remorso pelo mal que fizemos como o receio
pelo que nos possa advir.

*
Não desprezamos os que têm vícios, mas sim os que não têm nenhuma virtude.

*   Só os grandes homens têm grandes defeitos.* Quando
os vícios nos abandonam, sentimo-nos lisonjeados com a crença de que fomos nós
que os abandonamos.

* A
honestidade das mulheres é muitas vezes o amor à reputação c à tranqüilidade.

* Há tolos
que se conhecem e que empregam habilmente a sua própria tolice.

* A
coragem é nos simples soldados uma carreira perigosa a que eles seguiram para
ganhar a vida.

* A
verdadeira coragem consiste em fazer sem testemunhas o que seríamos capazes de
fazer diante dos outros.

* A
hipocrisia é uma homenagem que o vício presta à virtude.

* A
vaidade, a vergonha e sobretudo o temperamento fazem muitas vezes a coragem dos
homens e a virtude das mulheres.

* A
pressa em pagar um favor é uma espécie de ingratidão.

* Os
homens felizes são incorrigíveis: julgam ter sempre razão mesmo quando a
fortuna lhes ampara a má conduta.

*   É grande loucura pretendermos ser o único sensato.

* Não é tão
perigoso fazer mal à maioria, dos homens como fazer-lhes bem demais.

*   Grande habilidade é saber ocultar a própria.

* Há gente
a quem os defeitos assentam bem, e outra que não agrada com boas qualidades.

* A
gravidade é um mistério do corpo inventado para ocultar os defeitos do
espírito.

* O prazer
do amor consiste em amar, e em sermos felizes mais pela paixão que temos
do que pela que damos.

* O que se
chama liberalidade não é as mais das vezes senão a vaidade de dar, que nós
prezamos mais do que aquilo que damos.

*
Não há ninguém que tenha a consciência de todo o mal que faz.

* O mérito
dos homens tem a sua estação própria, como os frutos.

*
Gostamos sempre de quem nos admira, mas nem sempre de quem admiramos.

* Se há
homens cujo ridículo nunca se revelou, é porque não se procurou bem.

* Por que
será que temos tanta memória para reter as menores particularidades do que nos
sucede e tão pouca para nos lembrar de quantas vezes a narramos a uma mesma
pessoa?

*   O ridículo desonra mais do que a desonra.

*
Só confessamos os pequenos defeitos para persuadir os que nos ouvem de que não
os temos grandes.

* Há certas
boas qualidades que são como os sentidos : quem carecer totalmente delas não
as pode perceber nem compreender.

* Quando o
nosso ódio é violento coloca-nos muito abaixo daqueles a quem odiamos.

* O acento
do país em que nascemos fica-nos tanto no espírito e no coração como na
linguagem.

* Só
encontramos bom senso nos que são da nossa opinião.

*   É mais difícil romper quando se deixou de amar.

* Um homem
equilibrado pode apaixonar-se como um louco, mas não como um bobo.

* Há certos
defeitos que bem aproveitados brilham mais do que a virtude.

*
Em geral, não elogiamos de coração senão aqueles que nos admiram.

* O
ciúme nasce sempre com o amor, mas nem sempre morre com ele.

*
Todos sabem muito bem que não devem falar de suas mulheres, mas ninguém sabe
que devia ainda menos falar de si.

* Há poucas
mulheres honestas que não se cansem do seu ofício.

* A maior
parte das mulheres honestas são tesouros ocultos que estão seguros só porque
ninguém os procura.

*
Muito se engana quem crê amar sua amante por amor a ela.

* Os
espíritos medíocres condenam geralmente tudo que vai além de sua compreensão.

* O
maior defeito da penetração não é ir até ao fim, mas ultrapassá-lo.

* Um tolo
não tem bastante inteligência para ser bom.

*   O que menos se encontra na galantaria é o amor.

*
Envergonhar-nos-íamos das nossas mais belas ac-ções se o mundo visse
todos os motivos que as inspiram.

* A maior
prova de amizade não é mostrar os nossos defeitos a um amigo, mas fazer-Ihe ver
os seus.

* Não temos
defeitos mais perdoáveis que os meios de que nos servimos para ocultá-los.

* Não
agradamos por muito tempo quando só temos uma espécie de espírito.

* Em
amor, quem primeiro se cura é sempre o melhor curado.

*
Facilmente esquecemos os crimes que somos os únicos a conhecer.

* Podemos
parecer grandes num cargo abaixo do nosso mérito, ‘ mas muitas vezes parecemos
pequenos num cargo maior do que nós.

* Julgamos
às vezes ter constância nas desgraças quando não temos senão abatimento, e as
sofremos sem ousar encará-las, como aqueles poltrões que se deixam matar com
medo de defender-se.

*   Poucos sabem ser velhos.

*
Facilmente perdoamos os defeitos dos nossos amigos quando eles não nos afetam.

* Na
amizade, como no amor, somos muitas vezes mais felizes pelas coisas que
ignoramos do que pelas que conhecemos.

* Tentamos
vangloriar-nos dos defeitos que não queremos corrigir.

*    Mais se opõe a fraqueza à virtude que o vício.

*
Não há tolos mais incômodos do que os que têm espírito.

* Não há
homem que se julgue em qualquer das suas qualidades inferior às que ele mais
estima.

*
Por maior que seja a disposição dos homens para mal julgar, ainda prestam mais
homenagem ao falso mérito que injustiça ao verdadeiro.

*
Lucraríamos mais se nos mostrássemos tal como somos do que tentando parecer o
que não somos.

* Há
vários remédios para curar o amor, mas nenhum é infalível.

* A
velhice é um tirano que proíbe, sob pena de morte, todos os prazeres da
juventude.

* O mesmo
orgulho que nos faz censurar os defeitos de que nos julgamos isentos leva-nos a
desprezar as boas qualidades que não temos.

*
De todas as paixões violentas a que menos mal assenta nas mulheres é o amor.

*   Há más qualidades que fazem grandes talentos.

*
Nunca se deseja ardentemente o que apenas se deseja pela razão.

* Nas
primeiras paixões as mulheres amam o amante, nas outras o amor.

* A
inveja desaparece pela verdadeira amizade e o galanteio pelo verdadeiro amor.

*
Quando temos ainda o coração agitado pelos restos de uma. paixão, estamos mais
perto de adquirir uma nova do que quando estamos completamente curados.

*
As querelas não durariam muito tempo se o erro só estivesse de um lado.

* De nada
serve ser jovem sem ser bonita, nem ser bonita sem ser jovem.

*
Há pessoas tão cheias de si mesmas que, quando estão apaixonadas, se preocupam
mais com a própria paixão do que com as pessoas que amam.

* Antes de
cobiçar alguma coisa é bom indagar se quem a possui-é feliz.

* Há gente
tão consciente da sua fraqueza que faz da fraqueza força.

*
Prometemos segundo as nossas esperanças e cumprimos segundo os nossos receios.

*
Receamos sempre aparecer diante da pessoa que amamos depois de ter estado a
galantear outra.

*   Há pessoas tão levianas e
frívolas que se acham a igual distância dos verdadeiros defeitos como das qualidades
firmes.

*
Em geral, somos mais maledicentes por vaidade que por malícia.

* A
timidez é um defeito pelo qual é perigoso repreender as pessoas que queremos
corrigir.

*
Por mais raro que seja o verdadeiro amor, não o é tanto como a verdadeira
amizade.

* É mister
que a inocência não encontre tanta proteção como o crime.

*
Há muitos bens e males que ultrapassam a nossa sensibilidade.

* É
de certo modo participar das boas ações, louvá-las de coração.

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