Dr. Aluísio Telles de Meirelles.
Fonte: Manual do Executivo.
Novo Brasil editora brasileira.
A AERONÁUTICA
A PRIMAZIA de fazer elevar aos céus um balão pertence a um brasileiro, a um padre nascido na cidade de Santos em São Paulo, no ano de 1685.
Em abril de 1709, o padre Bartolomeu de Gusmão executou na cidade de Lisboa a notável façanha de obrigar um invólucro de papel cheio de ar quente a elevar-se aos ares, percorrendo um espaço relativamente grande, compreendido entre a tôrre da casa da índia, de onde foi lançado, até o Terreiro do Paço.
Criança ainda, Bartolomeu de Gusmão deu mostras de suas amplas possibilidades intelectuais. Assim se expressa Diogo Barbosa Machado sôbre a sua precocidade: “Logo nos primeiros anos deu mostras do grande talento que lhe concedeu liberal a natureza, assim na admirável prontidão com que compreendeu as dificuldades da filosofia e matemática, como na prodigiosa memória com que conservava as notícias mais recônditas da “História Sagrada e profana”.
O primeiro aprendizado fá-lo o jovem Bartolomeu Lourenço sob a direção dos padres jesuítas de Santos. Embarcando depois para a Bahia, completa seus estudos no Seminário de Belém, fundado por Alexandre de Gusmão em honra de quem, Bartolomeu adotou o nome do Gusmão.
Já aos vinte anos revelava-se nêle, espontânea e irreprimível, a prodigiosa fôrça do gênio, inventando Bartolomeu de Gusmão uma bomba, executando depois uma instilação por meio da qual consegue levar água ao seminário, numa altura de 460 metros.
Depois de algumas viagens a Lisboa, Bartolomeu de Gusmão resolve fixar residência nessa cidade. Em abril de 1709, estudando certas propriedades do ar aquecido, teve uma idéia, traçando logo uma petição a el-rei D. João V, pela qual solicita os favores reais para um nôvo invento de sua autoria.
Propõe-se nada menos que a construir uma máquina que se desprenderá do solo e mover-se-á como pluma através do espaço. Aprovada pelo rei, construiu seu balão e fê-lo subir.
O aparelho constava de uma barquinha de vime prêsa a um balão de ar aquecido. Entretanto, seu sucesso durou pouco. Algum tempo é passado e o padre Gusmão vê-se colhido, de súbito, pelas malhas do Santo Ofício e recolhido ao cárcere, acusado de pactuar com o demônio.
Abandonado por todos, consegue, entretanto, comunicar-se com alguns poucos amigos que lhe restam, sendo pouco depois libertado por influência dos jesuítas.
Abandonando o cárcere, atravessa a fronteira da Espanha, em busca de ares menos opressivos. Mas, seu organismo está combalido, em virtude do longo período de carceragem. Aproxima-se o fim.
Faleceu na noite de 18 de novembro de 1742, o primeiro homem que conseguiu realizar o maravilhoso sonho de fazer elevar-se nos ares um aparelho construído por suas próprias mãos.
* * *
Outro pioneiro da conquista do ar foi Augusto Severo, nascido a 11 de janeiro de 1864 no Rio Grande do Norte, Foi professor, militou no comércio, no jornalismo e na política.
Da sua atuação no setor da aeronáutica, o trecho que reproduzimos a seguir, extraído de um relatório da comissão técnica do Aero-Clube Brasileiro em 1928, diz bastante.
Augusto Severo foi o único de todos os elaboradores de aeronáutica que considerou a navegação aérea como radicalmente diversa da navegação sobre o mar, uma vez que possui o privilégio inestimável de utilizar-se da terceira dimensão do espaço, para escolher um plano conveniente à linha de marcha mais propícia, isenta das resistências e perigos criados pela agitação do baixo fundo do oceano aéreo.
Em 1892, antes, pois, de Zepelin, Augusto Severo, privilegiou em França o sistema aéreo e, à custa do govêrno brasileiro, na presidência do Mal. Floriano Peixoto, fez construir em Paris, nos estaleiros da Casa Lan-chambre, o mais original de todos os dirigíveis, caracterizado por uma vigia armada, metálica, resultante do desenvolvimento da barquinha, que penetrava até meia altura, pelo interior do aerostato, em toda a sua extensão, de uma a outra extremidade, oferecendo ponto de apoio direto e sólido, tanto ao volume aerostático como às hélices motoras, colocadas ousadamente, pela primeira vez, na extremidade do próprio eixo de figura de sólido.
Augusto Severo denominou esse primeiro aerostato “Bartolomeu de Gusmão”, em honra ao precursor da aeronáutica.
O “Pax”, que só conseguiu construir à sua custa, dez anos mais tarde, em 1902, em Paris, e que teve um fim tão trágico, explodindo acidentalmente a 400 metros de altura, quando já em evoluções, foi apenas o desenvolvimento aperfeiçoado do sistema privilegiado em 1892, cujos característicos originais se acham descritos e estampados nos livros de aeronáutica, como episódio da história da navegação aérea.
Augusto Severo foi criador sistemático da aeronáutica, o espírito mais lúcido talvez, que se tenha dedicado à ciência maravilhosa, abordou o problema da navegação aérea de uma maneira verdadeiramente aeronáutica, isto é, de acôrdo com os predicados essenciais e característicos dos fluidos elásticos. O “Pax” foi considerado perfeito.
Augusto Severo, entretanto, jamais chegou a conhecer em vida o bafejo da glória. É considerado, entretanto, um mártir da aeronáutica.
Na tarde de 12 de maio de 1902, sob os olhos de uma numerosa assistência, o “Pax” empreende uma ascensão que a todos se afigura majestosa e firme.
Súbito, porém, um lampejo, ràpidamente seguido de uma chama intensa. E está tudo acabado. Nessa tarde, Augusto Severo desapareceu do mundo dos vivos, para incorporar-se definitivamente ao patrimônio moral da humanidade.
* * *
A conquista do espaço foi sempre um velho ideal humano, simbolizado na lenda de Ícaro. Cientificamente, porém, o problema só começou a ser estudado em fins do século XV por Leonardo da Vinci, que deixou planos de máquinas de voar.
A primeira ascensão em aerostato, realizou-se em Lisboa, no ano de 1709, pelo padre brasileiro Bartolomeu Lourenço de Gusmão, na sua famosa “Passarola”. Bartolomeu de Gusmão foi o verdadeiro precursor da aeronáutica.
Muitos anos depois, em 1783, dois irmãos franceses, José e Estevão Montgolfier, entraram a fazer experiências em tôrno do “mais leve do que o ar”. Estes foram, depois do padre Bartolomeu, os primeiros navegadoves do ar.
Além dêsses, há ainda outra figura de brasileiro que pagou com a vida o seu esforço em prol da conquista dos céus: Augusto Severo.
A conquista do ar, pelo homem, era então um fato consumado. Entretanto, em todos os balões, o homem era joguete dos ventos, pois faltava ainda resolver o problema da direção do ar, isto é, da dirigibilidade dos ae-rostatos.
Muitos anos se passaram até que fosse encontrada a solução para tal problema. Finalmente, foi encontrada por outro grande brasileiro, Alberto Santos Dumont, o criador da navegação aérea, considerado o pai da aviação.
Alberto Santos Dumont nasceu na cidade brasileira de Santa Luzia do Rio das Velhas, Estado de Minas Gerais, a 20 de junho de 1873. Aos quinze anos de idade, ao observar o espetáculo de um balão que planava sobre uma feira realizada na capital de São Paulo, conduzindo um homem a bordo, sua imaginação começou a trabalhar sôbre o assunto.
Em 1891 viaja a Paris e logo à chegada entra em contacto com fabricantes de aerostatos e manifesta o desejo de fazer uma ascensão. Aos 18 anos começa os estudos de ciências naturais e mecânica na capital parisiense. Nessa ocasião, realiza sua primeira ascensão em um balão, o que lhe despertou o desejo de conquistar o domínio do ar, dirigindo a seu bel-prazer as máquinas voadoras, que, naquele tempo, voavam ao sabor do vento, sem que o homem pudesse mudar a sua direção.
Antes de conseguir os primeiros exitos, sofreu alguns acidentes, não se desanimando, entretanto, certo de que, mais cedo ou mais tarde, acabaria resolvendo o problema da dirigibilidade aérea, utilizando motores e propulsores e aperfeiçoando seus métodos à medida que a prática lhe revelava as imperfeições.
Seu primeiro balão — o Brasil — subiu ao ar, em 1898, no Jardim de Aclimação em Paris, seguindo-se o segundo — a Música — que participou de um concurso.
Construiu Santos Dumont outra série de aeronaves batizadas com seu nome, até que no dia 11 de junho de 1901, entrou em uma competição aérea, em que havia um prêmio de cem mil francos para o balão que desse a volta em torno da Tôrre Eiffel no espaço de trinta minutos.
Perdeu esse prêmio, que ganhou, tempos depois, com outras provas, tendo destinado os cem mil francos aos operários e aos pobres.
Seu nome tornara-se famoso em toda a Europa desde o dia em que sobrevoara a famosa Exposição de Paris, em 1900, com seu balão em forma de charuto e que trazia desfraldada a bandeira brasileira.
Em 1903, Santos Dumont regressou ao Brasil, sendo recebido com grandes manifestações populares. Pouco tempo depois, retoma à Europa, dedicando-se desde então à solução do problema do “mais pesado do que o ar”.
Exercita-se primeiro em planadores aquáticos, depois, em planadores aéreos. Suas experiências se multiplicam aguçando-lhe cada vez mais o gênio inventivo, até que dispõe os cilindros dos motores à gasolina em forma de vê, processo até hoje usado em muitos motores de automóveis.
A 7 de setembro de 1906, empreende o primeiro vôo com o seu “14-Bis”, movido a hélice, conseguindo sus-tentar-se no ar por alguns segundos. Renova as experiências e consegue voar oito metros na segunda tentativa.
Na terceira tentativa consegue voar cinqüenta metros, ganhando a taça Archdeacon, em 23 de outubro. No dia 12 de novembro conquista o prêmio Aero-Club da França, voando mais de duzentos metros em vinte segundos.
Tôdas essas experiências foram registradas e controladas cuidadosamente por técnicos do Aero-Club e tiveram repercussão mundial.
Logo após a sua estrondosa vitória, nem bem os princípios estabelecidos por Santos Dumont tinham sido estabelecidos, eis que os irmãos Wright surgem reivindicando para si a glória e o título de precursores da aviação.
Um dos irmãos Wright viaja para Paris e desencadeia um grande movimento publicitário, tentando provar que êle e o irmão haviam feito a primeira experiência nesse sentido, em 1903.
Ao mesmo tempo, o embaixador americano, pedia o reconhecimento internacional em favor dos Estados Unidos, da patente de invenção e exclusividade para a fabricação de aviões.
Afirmavam os irmãos Wright que haviam realizado suas experiências em segrêdo, fato nunca observado por qualquer pessoa e cuja ausência de testemunhos era igual à absoluta falta de registro por parte da imprensa.
Tudo se passou precisamente ao contrário do que se passou com Santos Dumont, que, ao ter certeza da validade do problema por ele resolvido, voar com aparelhos mais pesados do que o ar, convidou os membros do Aero-Club de França para testemunhar e controlar as suas experiências.
Em novembro de 1906, a revista “Ilustração Francesa” publicou o relato em detalhes e as fotografias do vôo histórico e do trem de aterrissagem, cuja forma triangular foi criação exclusiva do inventor brasileiro.
Retornando ao Brasil em 1928, Santos Dumont recebeu grandiosa consagração. Em 1931 foi eleito membro da Academia de Letras, na vaga de Graça Aranha.
Depois da Primeira Guerra Mundial, Santos Dumont retirou-se para a ilha do Guarujá, onde se pos a trabalhar num nôvo aparelho, destinado a facilitar a marcha humana. Santos Dumont faleceu em 23 de julho de 1932.
Em honra ao grande brasileiro, mandou o govêrno francês erigir-lhe um monumento em Paris, que perpetua na figura simbólica de ícaro, o grande feito da conquista do ar.
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