Sertão bruto – Visconde de Taunay
Ali começa o sertão chamado bruto[1]).
Pousos sucedem a pousos, e nenhum teto habitado ou em ruínas, nenhuma tapera dá abrigo ao caminhante contra a frialdade das noites, contra o temporal que ameaça ou a chuva que está caindo. Por tôda a parte, a calma da campina não arroteada; por tôda a parte a vegetação virgem, como quando ai surgiu pela vez primeira.
A estrada que atravessa essas regiões incultas, desenrola-se à maneira de alvejante faixa, aberta que é na areia, elemento dominante na composição de todo aquêle solo, fertilizado aliás por um sem-número de límpidos e borbulhantes regatos, cujos contingentes são outros tantos tributários do rio Paraná e do seu con- tra-vertente, o Paraguai.
Essa areia sôlta e um tanto grossa tem côr uniforme, que reverbera com intensidade aos raios do sol, quando nela batem de chapa.
Em alguns tempos é tão fôfa e movediça, que os animais das tropas viajeiras arquejam de cansaço, ao vencerem aquêle terreno incerto, que lhe foge de sob os cascos e onde se enterram até meia canela.
Freqüentes são também os desvios, que da estrada partem de um e outro lado e proporcionam na mata adjacente trilha mais firme, por ser menos pisada.
Se parece sempre igual o aspecto do caminho, em compensação mui variadas se mostram as paisagens em tôrno.
Ora, é a perspectiva dos cerrados[2]), não dêsses cerrados de árvores raquíticas, enfezadas e retorcidas, de S. Paulo e Minas- Gerais, mas de garbosos e elevados madeiros que, se bem que não tomem, de todo, o corpo de que são capazes à beira das águas correntes ou regados pela linfa dos córregos, contudo assombram com folhuda rama o terreno que lhes fica em derredor e mostram na casca lisa a fôrça da seiva que os alimenta; ora, são campos a perder de vista, cobertos de macega alta e alourada ou de viriden- te a mimosa grama, tôda salpicada de silvestres flores; ora sucessões de luxuriantes capões, tão regulares e simétricos na sua disposição que surpreendem e enfeitiçam os olhos: ora, enfim, charnecas meio apauladas, meio sêcas, onde nasce o altivo buriti, e o gravatá entrança o seu tapume espinhoso.
Nesses campos, tão diversos pelo matiz das côres, o capim crescido e ressecado pelo ardor do sol ransforma-se em vicejante tapê- te de relva, quando lavra o incêndio que algum tropeiro, por acaso ou por mero desenfado, ateia com uma fagulha do seu isqueiro.
V. de Taunay.
Fonte: Seleta em Prosa e Verso dos melhores autores brasileiros e portugueses por Alfredo Clemente Pinto. (1883) 53ª edição. Livraria Selbach.
[1] Sertão bruto, isto é, sem moradores.
[2] Matagais de arbustos e de pequenas árvores, muito chegadas umas às outras.
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