JOÃO DE DEUS RAMOS

JOÃO DE DEUS RAMOS, mais vulgarmente conhecido só porJoão de Deus, nasceu em São Bartolomeu de Messines, Concelho de Silves,no Algarve, e viveu de 1830 a 1895. Bacharelou-se em Direito na Uni-versidade de Coimbra em 1859, e pouco depois já era bem conhecidopelos seus belos versos, tão espontâneos quão delicadamente sentidos. Não ligava maior importância … Ler mais

Manuel Bernardes – Antologia de escritores

mapa roma itália

Fausto Barreto e Carlos de Laet – Antologia Nacional de Escritores

MANUEL BERNARDES (Lisboa, 1644-1710) escreveu numerosas obras: Sermões e Práticas; Luz e Calor; Nova Floresta; Tratados Vários, incluindo o Pão Partido em Pequeninos; e os Últimos Fins do Homem.

Glossário de Vocábulos

  • (434) formidável a hora = terrível, apavorante a hora. V. nn. 149 e 327.
  • (435) …"porque, temendo-a (a morte), não estais aparelhados: a ênclise é obrigatória com o gerúndio independente.
  • (436) — vós quem padece — ou vós que padeceis, ou, ainda, vós quem padeceis, concordando o verbo com o pron. vós, e não com o pron. quem. Abonam esta última construção exemplos de escritores cabais. ("Sou eu quem perco." (Rui, Queda do lmp., I, introd., p. XIII); as duas primeiras são, todavia, as mais generalizadas.
  • (437) padecemos concorda com o pron. nós, latente, de que é aposto o ampliativo todos os filhos de Adão — construção usual entre os bons manejadores da língua. Outro exemplo do mesmo autor: "Porque quer Deus que os homens aprendais dos homens". (N. Flor., I, 162), em que o suj. é vós, desinencial e os homens o aposto, explicativo do sujeito pronominal.
  • (438) sisudeza ou sisudez o suf. lat. itia altera-se em eza, abrevia-se em ez ou dá iça: justitia > justeza e justiça: cupiditia > cobiça e cupidez; as muitas palavras em eza e ez formam-se quase todas à semelhança.
  • (439) Observe aqui o estudante o anacoluto, ou quebra na construção gramatical da sentença, sem que se lhe perca a compreensão do sentido. E veja outros casos, em Os Lusíadas: II, 40, 47, 104; III, 26; V, 54; X, 130. E examine os casos das nn. 485, 560 e 651.
  • (440) segador, do v. segar (do lat. secare, cortar. A segure, subst. poético, è o machado (lat. *secure); a linha secante em Geometria é da mesma raiz de secare; diversa do homônimo secante, do verbo secar, no lat. siceare.
  • (441) a fazer-se — até jazer-se.
  • (442) vem quem lhe dói a fazenda = aquele a quem dói (custa, interessa, pertence) a fazenda.
  • (443) mundo (do lat. mundu — que significa não só ordem no universo e o próprio universo, mas também ordem e asseio nas vestes e adereços, limpeza enfim. Daí o subst. mundo, o globo terráqueo, e o adjetivo desusado mundo, limpo. Mário Barreto escreve no cap. LXIV do seu Através do Dicionário e da Gramática, p. 348: "A palavra latina mundus é, no sentido literal, lavado, polido, asseado, ordenado; daqui ornado, e deste conceito brota o significado de "criado", onde tudo é ordem e beleza. Daqui a palavra portuguesa tanto no seu valor de adjetivo (no canto X, est. 85, Camões disse mundas almas, i. é., puras, limpas) como no de nome". Do adjet. mundo derivam-se imundo, imundície, emundação ("emundação desagravadora", Rui), emundar (purificar, lavar, limpar), mundificar ("Deixou-se contominar. Mundifique-se". — Camilo, A Brasileira de Prazins, introl.), mondar (preparar o terreno, arrancar-lhe as ervas nocivas); e, em sentido lato, limpar, arrancar: "tinha muitas cãs… e não consentia que lhe mondassem alguma". (Garcia de Rezende, ap. João Ribeiro, Seleta Clâss., 4.a ed., p. 72). é interessante comparar, como faz Clédat (Diction. Étimol.) os dois sentidos do lat. mundum com os dois do gr. kósmon, tão idênticos são numa e noutra língua, pois, nesta, cosmético e cosmografia estão presos à fonte grega, como, naquela, imundo e mundano à latina.
  • (444) seio = golfo; do lat. sinu, curvatura, reentrância.
  • (445) derivação hipotética.
  • (446) alambre, outra forma de âmbar (do ár. anbar com o artigo al).
  • (447) Suíçaros, Suíceros ou Suízaros, do ital. Svizzero; hoje,Suíço.
  • (448) teias finíssimas e candidíssimas — teia (do lat. tela) é o tecido leve, tênue e precioso que se fabrica nessa cidade francesa. Assim como se diz candura e Candinha por haplologia, em vez de candidura e Candidinka, Camilo escreveu candíssimo por candidíssimo. Outros exemplos de intervenção haplológica, ou simplificadora, já no latim, já no vernáculo: estipêndio (stipi + pendium), homicídio (hornini + cidium), semestre (semi + mestre, de mensis); venéfico (veneni -f ficu, de facio), contendor (contendedor), formicida (for-mici + cida), idolatria (idolo + latria), semínimia (semi + mínima), ecletismo (ecletic-ismo), analista (analis-ista), volatizar (volatil-izar), monómio (mono -(-nômio), envaidar (envaidad-ar), destanizar (destanin-izar), idoso (idad-oso), bondoso (bondad-oso); e populares: prestigitador, probalidade, paralepípedo, dez’tões (dez tostões) etc. A haplologia elimina a sílaba igual: tragi(co)-cômico, se (.mi) mínima, formi(ci) cida, ou aproximada: (ido (lo) latria, homi(ni)cídio, conten(de)dor).
  • (449) Neste trecho: almíscar e algália são substâncias odoríferas animais: almeia, âguila e calambuco, árvores producentes de madeira cheirosa; a grã, os lós e as primaveras, tecidos finos; manguitos, os punhos; toríbios, avelórios ou contas. Dar figa = esconjurar.
  • (450) confeccionados ou confeiçoados — preparados cem drogas, manipulados.
  • (451) Neste trecho: justilho. é espartilho, que se faz com barbatanas; escaparate, redoma ou pequeno armário de vidro.
  • (452) venablo, por venâbulo, do lat. venabulu —: espécie de lança curta, azagaia ou chuço.
  • (453) eram por seriam: é comum na língua essa substitição do condicional pelo imperfeito do indicativo.
  • (454) Iracónico (desus.) = pérfido, velhaco, mentiroso, traiçoeiro. Do gr. Thráx, thrakós, Trácio, pelo lat. thracus, com o sufixo.
  • (455) irrepleghel (do v. replêre e prej. tn = que se não pode encher, insaciável; termo desusado.
  • (456) nômina (do pl. neutro lat. nomina, de nomen): oração contra certos males, posta em envoltório de pano, que se pendura ao colo.
  • (457) que lia teologia = que ensinava Teologia. Ler a cadeira nas Universidades era ser-lhe professor; lente é o que lê, o que ensina: …"o professor que, há sete anos, essa cadeira na Escola"… (Rui, Queda do Imp., I, p. 269).

Eça de Queirós, biografia e obras

JOSÉ MARIA EÇA DE QUEIRÓS (Póvoa de Varzim, 1846-1900) é um dos altos representantes da moderna prosa portuguesa.

Colaborou com Ramalho Ortigão nos primeiros números das Farpas; e com o mesmo seu amigo escreveu de parceria um desses romances chamados sensacionais, isto é, destinados a explorar a doentia propensão do povo para aventuras extraordinárias e inverossímeis: o Mistério da Estrada de Sintra. Volvendo-se depois ao realismo e tomando por modelo Gustavo Flaubert, Eça de Queirós produziu: — O Crime do Padre Amaro (que falsamente foi malsinado como plágio de La Faute de VAbbé Mouret, de Zola); o Primo Basilio, onde o naturalismo não recuou diante da torpeza; O Mandarim; A Relíquia; Os Maias; A ilustre Casa de Ramires; A Correspondência de Fradique Mendes; e A Cidade e as Serras obra esta que se publicou póstuma. E ainda: — Contos; Prosas Bárbaras; Cartas de Inglaterra e Ecos de Paris.

JOSÉ MARIA LATINO COELHO

Marechal deodoro da fonseca

JOSÉ MARIA LATINO COELHO (Lisboa, 1825-1891), general do exército português e, com melhor direito, das letras lusitanas, fêz severoi estudos na Escola Politécnica de Lisboa e foi membro da Academia das Ciências dessa Capital. Na Escola onde estudou, ganhou por concurso imi.i cadeira de lente.

Apaixonado cultor de línguas vivas e mortas, possuía o mais copioso cabedal de idéias e, ao mesmo tempo, admirável faculdade de expressá-las com propriedade. Têm seus escritos sabor clássico, que aliás não peca por incôngruo purismo.

(252) discernir (do lat. discernere) — separar, distinguir, discriminar; avaliar, notar, medir.

Só a palavra, nas artes a que é matéria prima, fala ao mesmo tempo à fantasia e à razão, ao sentimento e às paixões. Só ela, Pigmalião prodigioso, esculpe estátuas que vão saindo vivas e animadas da pedra ou do madeiro, onde as delineia e arredonda o seu buril. Só a palavra, mais inventiva do que Zêuxis, sabe desenhar e colorir figuras e países, com que se ilude e engana a vista intelectual. Só a palavra, mais audaz que os Ictinos e os Calícrates, traça, dispõe, exorna e arremessa aos ares monumentos mais nobres e ideais que o Partenão de Atenas. Só a palavra, mais comovedora e persuasiva do que o pletro dos Orfeus, encadeia à sua lira mágica estas feras humanas ou desumanas, que se chamam homens, arrebatados e enfurecidos nas mais truculentas alucinações.