UM RETRATO DO IMPERADOR (Dom Pedro I)

UM RETRATO DO IMPERADOR
Paulo Setúbal

Dos “Ensaios Históricos”

Tema do mais vivo interesse, que ainda
não tentou a análise da psiquiatria brasileira, mas tema altamente fascinante,
e, ao mesmo tempo, valiosíssima contribuição histórica, seria o estudo, através
de determinantes genealógicos, da individualidade complexa e sedutora desse
irregular D. Pedro I, fundador do império do Brasil. Um psiquiatra de talento,
modernizado, sabendo escrever com agilidade e cor, faria, sem dúvida, dessa
tese, ainda virgem, uma encantadora página de literatura e ciência. Trabalho
penoso, trabalho de esforço e paciência, é certo. Mas que precioso trabalho,
precioso e belo, não seria o de se fixar, através das heranças mentais e dos
atavismos acumulados, a estrutura psicológica desse monarca ardente. Descarnar,
através das taras, dos estigmas, dos legados mórbidos dos avós, os componentes
da alma bravia, da alma desordenada, desse iletrado e desse iluminado, desse
vulgar e desse genial, desse aristocrata e desse plebeu, desse absolutista e
desse liberal, desse piedoso e desse erótico, que foi, ao mesmo tempo, em
contrastes chocantes, aquele galhardo imperador do Brasil.

ORIGENS DOS INDÍGENAS DO BRASIL

ORIGENS DOS INDÍGENAS DO BRASIL
Paulo Setúbal

Dos “Ensaios Históricos”

 

ONFROY DE
THORON

Não há, no pórtico da nossa História, pergunta mais natural do que
esta: de onde vêm esses bugres que os mareantes toparam no Brasil alvorecente?
De que estranhas terras, e como, e de que jeito, e quando, surgiram por aqui
esses gentios emplumados, de batoque no beiço, que atroavam os matos brutos com
o ribombo dos trocanos e o estrépito das inúbias bárbaras? Uma curiosidade
ferretoante, desde a primeira página, chuça o nosso fundo racional. A gente
anseia logo por desvendar a origem daqueles dois selvagens, "pardos,
maneira de avermelhados, de bons olhos e bons narizes" que Cabral recolheu
a bordo, que agasalhou mimosamente, que fez dormir na capitânea sobre coxins da
Pérsia, entre muitas fofezas, num aturdimento. Mas a curiosidade aguça-se
apenas: não há resposta cabal. Teses, muitas. Autores, muitos. Mas tudo cipoal
desnorteante.

PAULISTAS DO SÉCULO XVII – Paulo Setúbal

Yafouba, o mágico da trilso, com uma das meninas que foram jogadas em cima de pontas de espadas.

PAULISTAS DO SÉCULO XVII
Paulo Setúbal

Dos “Ensaios Históricos”

A
"História Geral das Bandeiras Paulistas", do preclaro Dr: Afonso-
Taunay, representa um dos esforços maiores, e dos mais ilustres, para a
reconstrução do período épico do bandeirismo, esse fenómeno altíssimo na
formação da nacionalidade. A obra, porém, tão erudita e tão intensa, não é,
infelizmente, obra de popularização. O feitio dela, aquele recheio de nomes e
datas, as transcrições, aqueles muitos alvarás e atas-de-câmara, tudo aquilo,
enfim, que torna o trabalho fortemente fidedigno, é exatamente o que afugenta o
leitor comum, o leitor do século prático, o leitor que lê no bonde, esse homem
rápido, utilitário, que não tem folgas sobejas para correr olhos pacientes
sobre a papelada maçante das coisas velhas. O próprio autor confessa no pórtico
do seu doutíssimo trabalho: "Não é uma obra de síntese a que o leitor tem
sob os olhos. Nem poderia ou deveria sê-lo, pois a história sistemática e
pormenorizada das bandeiras paulistas jamais se fez até hoje".

NAPOLEÃO E MARIA LUÍSA

Depois de fundado o seu Império, no pináculo da glória, uma só ideia
martelava o cérebro de Bonaparte: deixar um herdeiro ao trono. Fixar num filho,
no sangue do seu sangue, aquela opulenta casa reinante que ele criara com a sua
espada. Josefina, porém, era estéril. Daí, dessa razão política, nasceu a idéia
do divórcio. Verdade que já tempos antes, ao voltar da Itália, depois das
facilidades românticas de Josefina com o pequenino Hipolite Charles, o galante
oficial dos hussardos, Napoleão pensou carrancudamente em separar-se da mulher.
Mas a ideia não passou de ímpeto de momento, sem consequência. Napoleão
perdoou… E começaram, ambos, o corso e a
"créole", a viver uma vida conjugal remansada, sem arrepios. No
entanto, ao voltar do Egito, de novo encontrou Bonaparte rumores venenosos em
torno das saias da Beauharnais. Verdadeiros? Mentirosos? Ninguém o diz com
exatidão. Mas a partir desse instante, diz Miot de Melíto,
"on commença a parler clairement du divorce et àmarier Bonaparte à
diverses princesses". O próprio Luciano Bonaparte, nas suas
"Memórias" conta as "demarches" que fez nessa época, em
Espanha, para casar o irmão com a
infanta Isabel. Mas tudo isso
não passou de palavras.

AS JANELAS ESTÃO ABERTAS, MARQUÊS – Paulo Setúbal

José
Bonifácio fora destituído do cargo mais ilustre do País: tutor do príncipe e
das princesas imperiais.

A Regência nomeou, para substituí-lo, o Marquês de Itanhaém. Quem é
esse personagem? Quem é, na Corte de então, esse homem que o governo escolheu
para posto tão eminente?