D. DUARTE – rei da dinastia de Avis

D. DUARTE (1391-1438), segundo rei da dinastia de Avis, filho de D. João I. Seu reinado, pouco feliz, durou apenas os cinco últimos anos de sua idade. Inclinou-se às letras, e surge na Literatura lusitana como escritor judicioso, em cuja produção se mostram relevantes os pensamentos filosóficos e os ensinamentos morais. Suas obras principais, que mais do que o seu governo lhe fixaram o nome, são o Leal Conselheiro e o Livro da Ensinança de bem Cavalgar Toda a Sela, que se imprimiram pela primeira vez em 1842, pelo manuscrito da Biblioteca de Paris, e foram postos em um só volume. Mendes dos Remédios opina que a linguagem de D. Duarte "sofre, por vezes, confronto lisonjeiro com a do nosso primeiro cronista, F. Lopes".

Escritores portugueses medievais do ciclo bretão

Yafouba, o mágico da trilso, com uma das meninas que foram jogadas em cima de pontas de espadas.

CAPÍTULO 5

(Princípio do século XVI ao século XIII) FASE MEDIEVAL

ESCRITORES PORTUGUESES

D. AFONSO II — terceiro rei da dinastia afonsina (Coimbra, 1185-1223), casado com a filha de Afonso IX de Castela, a princesa D. Urraca, de quem teve cinco filhos. Assumiu o trono em 1211 e reinou doze anos, tendo sido por êle convocadas as primeiras cortes portuguesas, que se reuniram em Coimbra em 1211.

Transcreve-se em seguida parte do seu testamento, elaborado em 1214.

CICLO BRETÃO — Pertencentes ao ciclo bretão, por meio de cujas movimentadas novelas assaz se ampliou a produção da Escola Provençal, transcrevem-se abaixo dois breves episódios. São trechos de uma antiga versão portuguesa do romance do Santo Graal, contida no Códice n.° 2594 da Biblioteca de Viena d’Áustria, trasladados pela erudita e ponderada pena do ilustre filólogo Padre Augusto Magne.

FRANCISCO DE MORAIS e as novelas de cavalaria

FRANCISCO DE MORAIS, natural de Bragança, nasceu em um dos últimos anos do século XV, ou no começo do XVI, segundo pensava Odorico Mendes, e morreu em 1572. Serviu em Paris como secretário do embaixador D. Francisco de Noronha, e aí viveu na brilhante corte de Francisco I. De volta a Portugal, em 1543, publicou a novela Palmeirim de Inglaterra, obra que, conquanto muito diversa do gosto atual, sumamente aprazia ao de então, e por isso mereceu a honra de muitas imitações.

O Gigante Almourol e o Cavaleiro das Donzelas

Vendo o gigante Almourol que por nenhuma via o cavaleiro das Donzelas queria batalhar com Florendos, mandou trazer de dentro da torre um cavalo baio, crescido e formoso, tal qual convinha ao peso de sua pessoa. Este mandou ao cavaleiro das Donzelas, pedindo-lhe que cavalgasse nele e quisesse que ambos fizessem alguma coisa diante da senhora Miraguarda, para lhe pagar o desgosto que houvera de se não acabar a outra contenda. E, se houvesse por bem que o vencedor ganhasse algum preço, folgaria muito, porque a batalha fosse com mais gosto.

O POTE DE AZEITE – Poema de Gil Vicente

Gil Vicente, Auto de Mofina Mendes, representado ante elrei dom João III, nas matinas do Natal, na era do Senhor, 1534. Obras de Gil Vicente, dirigida pelo prof. Mendes dos Remédios, I, 13-14, Coimbra, 1907.

Gil Vicente, o primeiro folclorista de Portugal e o maior documentário vivo da etnografia portuguesa, retirou, naturalmente da tradição oral, o tema da Mofina o seu pote de azeite, 144 anos antes que La Fontaine (1678) divulgasse La laitière et le pot au lait. Sua universalidade, literária e popular, constituiu assunto de uma aula de Max Muller no Instituto Real, em 3 de Junho de 1870, Sur la migration ães fables, tradução francesa de Georges Perrot, Essais sur la Mythologie Comparée, Paris, 1874, 417-467. Da índia, com o Panchatantra, aparece o brâmane Svabhâvakripana partindo o pote de arroz na, suposição de castigar o filho hipotético, depois de enriquecer e casar-se magnificamente. Passa ao Hitopadexa, onde o brâmane Devaxar-man espatifa a escudela de farinha e mais os vasos do oleiro em cuja casa descansava, sonhando disciplinar suas quatro esposas, fabula VII, Sandhi, na versão portuguesa de mons. Sebastião Rodolfo Dalgado (Lisboa, 1897, 233). A mesma estória figura na tradução do "Panchatantra" que Barzúyeh fez do sânscrito para o pehlvi, denominando sua seleção de contos Kalila e Dimna, no século V. No século VIII Abdal-lah-ibn-Almokaffa verteu o Kalila e Dimna para o árabe. Continua um religioso a quebrar seu pote, desta vez cheio de óleo, querendo punir um problemático filhinho. Em 1250, o Kalila e Dimna, também chamado Fabulas de Bidpai. veio do árabe para o hebreu, por um judeu Joel. Desta tradução hebraica, nasceu o livro de outro judeu, João de Capua, de 1263 a 1278, Directo-rium humanae vitae alias Parabolae Antiquorum Sapientum, tornando familiar e querido aos leitores ilustres no correr do século XIII. É um eremita que rebenta a vasilha de mel, planr jando fortunas e desejando educar, à força do bastão, um filho recalcitrante: percutiam eum isto bacio et erecto báculo aã percutiendum per-cussit vas mellis et ipsum et defluxit mel super caput ejus. Não interessa, à espécie portuguesa e brasileira, a extensa bibliografia alemã, latina, francesa, italiana, toda irradiante dos volumes citados. Os castelhanos tiveram um Calila é Dymna em meiados do século XIII, feita ou mandada fazer por dom Afonso, o Sabio, em 1251. Outra versão castelhana é o Exemplaria contra los enganos y peligros dei mundo, Burgos, 1493, I vulgarizando o título para Cadyna Dyna, Dina, y Cadina, repetido nos versos do Cancioneiro de Baena. É dessa época o Livro do Conde Luca-nor, de dom João Manuel, coleção de 51 "enxem plos", a maioria tradução ou adaptação do Directorium humanae vitae e que figurava na livraria del-rei dom Duarte. No Conde Lucanor (VII) já o religioso é substituído por Dona Tru-hana, que vai vender um pote de mel e parte a bilha, vendo-se imaginariamente rica, poderosa, cercada de filhos e noras amáveis.

Ao lado dessa corrente cultural borbulhava a estória contada de geração a geração, na força impetuosa da oralidade, trazida por mil modos, traficantes, contrabandistas, cruzados, manuscritos desaparecidos, sermonários, etc. (CASCUDO

Fonte: Os melhores contos Populares de Portugal. Org. de Câmara Cascudo. Dois Mundos Editora.