TOMÁS ANTÔNIO RIBEIRO FERREIRA (Parada da’ Gonta, na
Beira Alta, 1831-1901) foi uma inteligência de escol; poeta mimoso e
impecável metrificador, orador fluentíssimo, diplomata, político, jorna-
lista de rápida concepção, historiador consciencioso e eloqüente.
Na poesia lírica manteve em devida altura a tradição romântica de
Castilho, e suas poesias correram mundo, ganhando portentosa popula-
ridade. Quem não recitou, ou não ouviu recitar a Judia?
Dois poemas-romances Delfina do Mal e D. Jaime, mormente este
último, demonstram a pujança dos inspirados vôos de Tomás Ribeiro.
Do Tejo ao Mandovi e Entre Palmeiras são volumes em prosa,
escritos após uma viagem à Índia, em 1870. Dessa mesma excursão
proveio o poemeto Indiana.
Escreveu mais: dois volumes da História da Legislação Liberal e
D. Miguel e a Realeza.
Quando no Brasil se deu a Revolução de 1889, e a Portugal se
acolheu D. Pedro II com sua família, Tomás Ribeiro escreveu, em verso,
ao monarca deposto, lamentando as durezas do exílio a que o condena-
vam. Isto impopularizou o poeta com certo grupo de republicanos exal-
tados e explica o desagrado com que por eles foi recebido o autor do
D. Jaime, quando veio ao Brasil.
"Tomás Ribeiro (opina Mendes dos Remédios) encanta pela melo-
péia dos seus versos, pela candura e simplicidade do estilo. Conhecia
todos os segredos do ritmo e da eurritmia e sabia traduzir a suprema
perfeição da idéia em uma linguagem melodiosa e pura". (Hist. da Lit.,
2.a ed., 1908, p. 543).
A Portugal
Meu Portugal, meu berço de inocente,
Lisa estrada que andei débil infante,
Variado jardim do adolescente,
Meu laranjal em flor sempre odorante, (695)
Minha tarde de amor, meu dia ardente,
Minha noite de estrelas rutilante,
Meu vergado pomar de rico outono,
Sê meu berço final no último sono!
Costumei-me a saber os teus segredos
Desde que soube amar; e amei-os tanto!
Sonhava as noites de teus dias ledos
Afogado de enlevo em riso e em pranto.
Quis dar-te hinos de amor, débeis os dedos
Não sabiam soltar da lira o canto,
Mas amar-te o esplendor de imenso brilho…
Eu tinha um coração e era teu filho!
Jardim da Europa à beira-mar plantado
De loiros e de acácias olorosas;
De fontes e de arroios serpeado,
Rasgado por torrentes alterosas,
Onde num cerro erguido e requeimado
Se casam em festões jasmins e rosas:
Balsa virente de eternal magia,
Onde as aves gorjeiam noite e dia;
Quem desdenha de ti, mente sem brio,
Ou nunca viu teus prados e teus montes,
Ou nunca, ao pôr do sol de ameno estio,
Viu franjas de oiro e rosa aos horizontes.
Ondas de azul e prata em cada rio,
As perlas (696) e os rubis dé tuas fontes,
Nem de teus anjos, térreo paraíso,
Sentiu o magnetismo num sorriso.
Pátria! filha do sol das primaveras,
Rica dona de messes e pomares,
Recorda ao mundo ingrato as primas eras
Em que tu lhe ensinaste a erguer altares.
Mostra-lhe os esqueletos das galeras,
Que foram descobrir mundos e mares;
E se um povo não vir teu manto pobre,
Ri-te do fátuo que se julga nobre.
Três testemunhas tens, que ao mundo inteiro,
Grandes, hão de levar a tua glória:
Camões, o sol, e o oceano: que o primeiro
Ergueu-te em alto canto a nobre história.
Com prantos e com sangue audaz guerreiro,
O seu livro escreveu de alta memória!
Lede os cantos divinos do poeta
Entoados em harpa de profeta!
O mar na eterna luta porfiosa,
Cansado de correr, largos desvios,
Vem afogar a sede angustiosa
No saboroso néctar de teus rios.
E quando noutra idade mais ditosa,
Tu mandaste alongar teus senhorios,
Conhecendo o roçar de tuas sondas,
Cavou as penhas e aplanou as ondas.
Bramir ouviste o gênio das tormentas
Algoz de tanto nauta aventureiro,
Vestido de neblinas pardacentas,
Assoprando golfadas de aguaceiro;
Mas quando viu nas quilhas tão atentas
Içado teu pendão tão altaneiro,
Acendendo o santelmo resplendente
Iluminou-te as portas do Oriente.
Fiel, sempre fiel à tua glória,
Conduziu-te o Evangelho a longes terras;
Acompanhou-te os cantos da vitória,
Saudou-te os brios nas longínquas guerras!
Rasguem, embora, ó pátria, a tua história;
Enquanto o mar bramir quebrando as serras,
Ou brincar nas areias em bonança,
Há de falar de ti, pátria, descansa!
Qual no deserto o lasso viandante (697)
Vai no oásis sentar-se ao fim do dia,
Achando, extenuado e arquejante,
Verdor, fontes, aromas e harmonia,
E naquela atmosfera inebriante
Se alimenta, se farta, e se extasia, (698)
Tu és do sol oásis reservado,
Jardim da Europa à beira-mar plantado.
(D. Jaime, poema, proêmio)
Mocidade !
Que idade florida e bela
A dos vinte anos! Não é?
Ornada, embora singela,
De crenças, d’esp’rança e fé;
Em que dorme a austera e fria
Luz da prosaica razão;
Em que ostenta sobr’ania
Infinita o coração!
Em que o mancebo tem sonhos
De fabulosa extensão,
Altivos, nobres, risonhos.. .
Que bem-fadada ilusão!
Dos vinte anos a magia
Quem pôde roubar-ma assim?
Que é dos olhos com que eu via
Em cada cerro um jardim?
Em cada gruta encantada,
Linda moira enamorada
Com tesoiros para mim?
Em cada fonte uma fada,
Em cada casa um festim?
Em cada peito um abrigo,
Um céu em todo o viver,
Um irmão em cada amigo,
Um anjo em cada mulher,
Alta sina em cada estrela,
E em tudo nobreza e fé?
Que idade florida e bela
A dos vinte anos! Não é?
(Ibid., Canto II)
- (695) Odor (do lat. odore-) altera em olor (lat. olore-) com a mesma
raiz de olere (d > /). Daí odoroso, oâorífico, odorante, odorífero, inodoro e olente, oloroso, olorante, olorente, olorífero, redolente etc. - (696) perla —
forma antiga de pérola (etimologia duvidosa). De perla, o v. perlar; de pérola, perolizar. - (697) lasso í= cansado, fatigado, esgotado; do lat. lassu, v. lassare.
O fr. têm las, o esp. laso e o ital. lasso. De Camões, no poema: "a lassa
frota, os lassos animais, a lassa humanidade". Do lat. lassitudine provêm las- situde e lassidão. - (698) A métrica e a ênfase levaram o poeta a repetir
a partículo se.
Seleção e Notas de Fausto Barreto e Carlos de Laet. Fonte: Antologia nacional, Livraria Francisco Alves.
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