- CA P Í T ULO I
- CAPÍTULO II
- CAPÍTULO III
- CAPÍTULO IV
- CAPÍTULO V
- CAPÍTULO VI
- CAPÍTULO VII
- CAPÍTULO VIII
- CAPÍTULO IX
- CAPÍTULO X
- CAPÍTULO XII
- CAPÍTULO XIII
- CAPÍTULO XIV
- CAPÍTULO XV
- Que declara a costa do rio de Igaruçu até Pernambuco.
- CAPITULO XVI
- CAPÍTULO XVII
- CAPÍTULO XVIII
- CAPÍTULO XIX
- CAPÍTULO XX
- Que trata da grandeza do rio de São Francisco e seu nascimento.
- CAPÍTULO XXI
- CAPÍTULO XXII
- Em que se declara a costa do rio de Sergipe até o rio Real.
- CAPÍTULO XXIII
- Que trata do rio Real e seus merecimentos.
- CAPÍTULO XXIV
- CAPÍTULO XXV
- CAPÍTULO XXVI
- CAPÍTULO XXVII
- Em que se declara a costa do rio de Joanne até a Bahia.
- CAPÍTULO XXVIII
- CAPÍTULO XXIX
- CAPÍTULO XXX
- CAPÍTULO XXXI
- CAPÍTULO XXXII
- CAPÍTULO XXXIII
- CAPÍTULO XXXIV
- CAPÍTULO XXXV
- CAPÍTULO XXXVI
- CAPÍTULO XXXVII
- CAPÍTULO XXXVIII
- CAPÍTULO XXXIX
- CAPÍTULO XL
- CAPÍTULO XLI
- CAPÍTULO XLII
- CAPÍTULO XLIII
- CAPÍTULO XLIV
- CAPÍTULO XLV
- CAPÍTULO XLVI
- CAPÍTULO XLVII
- CAPÍTULO XLVIII
- Em que se explicam, os recôncavos do cabo Frio.
- CAPÍTULO XLIX
- C A P Í T U L O L
- CAPÍTULO LI
- CAPITULO LII
- CAPÍTULO LIII
- CAPITULO LIV
- CAPÍTULO LV
- CAPÍTULO LVI
- Salvador Correia a ele.
- CAPÍTULO LVII
- Vicente.
- CAPÍTULO LVIII
- falamos.
- CAPÍTULO LIX
- São Vicente.
- CAPÍTULO LX
- Em que se declara cuja é a capitania de São Vicente.
- CAPÍTULO LXI
- quem a povoou.
- CAPÍTULO LXII
- Vicente.
- CAPÍTULO LXIII
- Que trata de quem são os guaianases e de seus costumes.
- CAPÍTULO LXIV
- Cananéia.
- CAPÍTULO LXV
- Francisco.
- CAPÍTULO LXVI
- costa do rio de São Francisco até a de Jumirim ou Itapucuru.
- CAPÍTULO LXVII
- dos Patos.
- CAPÍTULO LXVIII
- Em que se declara parte dos costumes dos carijós.
- CAPÍTULO LXIX
- Alagoa.
- CAPÍTULO LXX
- de Martim Afonso.
- CAPÍTULO LXXI
- porto de São Pedro.
- CAPÍTULO LXXII
- costa do rio de São Pedro até o cabo de Santa Maria.
- CAPÍTULO LXXIII
- boca do rio da Prata.
- CAPÍTULO LXXIV
- ponta do rio da Prata da banda do sul até além da baía de São Matias.
CAPÍTULO LVI
Em que se conclui com o Rio de Janeiro com a tornada de
Salvador Correia a ele.
Vendo el-rei D.
Sebastião, que haja glória, o pouco de que lhe servira dividir o Estado do
Brasil em duas governanças, assentou de o tornar a ajuntar, como dantes andava,
e o de mandar por capitão e governador ao Rio de Janeiro somente a Salvador
Correia de Sá, e que viessem as apelações à Bahia, como dantes era; onde o dito
Salvador Correia foi e está hoje cm dia, onde tem feito muitos serviços a S.
Majestade, do modo como procede na governança e defensão desta cidade, e no
fazer da guerra ao gentio, de que tem alcançado grandes vitórias, e também
serviu a S. Majestade em pelejar com três naus francesas, que queriam entrar
pela barra do Rio de Janeiro, o que lhe defendeu às bombardadas, e não quis
consentir que comunicassem com a gente da terra, por se dizer trazerem cartas
do senhor D. Antônio. E foi esta cidade em tanto crescimento em seu tempo, que
pela engrandecer ordenou de fazer um engenho de açúcar na sua ilha, que faz
muito açúcar; e favoreceu a Cristóvão de Barros para mandar fazer outro, que
também está moente e corrente, com os quais esta cidade está muito avante, e
com um formoso colégio dos padres da Companhia, cujas obras Salvador Correia
ajudou e favoreceu muito. Neste Rio de Janeiro se podem fazer muitos engenhos
por ter terras e águas para isso, no qual se dão as vacas muito bem, e todo o
gado de Espanha; onde se dá trigo, cevada, vinho, marmelos, romãs, figos e
todas as frutas de espinho; e muito farto de pescado e marisco, e de todos os
mantimentos que se dão na costa do Brasil; onde há muito pau do Brasil, e muito
bom.
CAPÍTULO LVII
Em que se declara a costa do Rio de Janeiro até São
Vicente.
Da ponta da Cara de Cão do
Rio de Janeiro à ponta do rio de Marambaia são nove léguas, onde se faz uma
enseada; e defronte dessa enseada está uma ilha de Arvoredo, que se chama a
Ilha Grande, a qual faz de cada banda duas barras com a terra firme, porque tem
em cada boca um penedo no meio, que lhe faz duas abertas, e navega-se por entre
esta ilha e a terra firme com navios grandes e naus de todo o porte. Ao mar
desta ilha está um ilhéu, que se chama Jorge Grego. Esta Ilha Grande está em
vinte e três graus, a qual tem sete ou oito léguas de comprido, cuja terra é
muito boa, toda cheia de arvoredo, com águas boas para engenhos. Quem vem do
mar em fora parece-lhe esta ilha cabo de terra firme, por estar chegado à
terra.
Esta ilha se deu de
sesmaria a um desembargador que é falecido, e não a povoou, sendo ela tanto
para se fazer muita conta dela; na qual há muito bom porto para surgirem
navios. Defronte desta ilha, na ponta dela da banda de loeste está a Angra dos Reis; e corre-se esta linha
leste-oeste; e quem navegar por entre ela e a terra firme não tem que recear,
porque tudo é limpo e sem baixo nenhum. Da ponta da Ilha Grande ao morro de
Caruçu são nove léguas, o qual morro está em vinte e três graus e um quarto e
tem um ilhéu na ponta, e entre ela e a Ilha Grande, na enseada junto à terra
firme, tem duas ou três ilhetas de arvoredo. Do morro de Curuçu à Ilha das
Couves são quatro léguas, a qual está chegada à terra; da Ilha das Couves ao
porto dos Porcos são duas léguas, o qual porto é muito bom, e tem defronte uma
ilha do mesmo nome. Do Porto dos Porcos à ilha de São Sebastião são cinco léguas,
a qual está em vinte e quatro degraus, e tem cinco ou seis léguas de comprido,
cuja terra é boa para se poder povoar. E para boa navegação há de se navegar
entre esta ilha e a terra firme, mas acostar antes à banda da ilha, por ter
mais fundo.
Ao sudoeste desta ilha está
outra ilha, que se chama dos Alcatrazes, a qual tem três picos de pedra, e um
deles muito mais comprido que os outros. Por dentro desta ilha de São Sebastião
daí a três léguas ao sudoeste dela estão duas ilhetas: uma se diz da Vitória, e
a outra, dos Búzios. Da ilha de São Sebastião ao Monte do Trigo são quatro
léguas; do Monte do Trigo à barra de São Vicente são quatro léguas. E corre-se
esta costa da Ilha Grande até São Vicente lés-nordeste e oés-sudoeste.
CAPÍTULO LVIII
Em que se declara quem é o gentio tamoio de que tanto
falamos.
Ainda que pareça ser já
fora do seu lugar tratar aqui do gentio tamoio, não lhe cabia outro, por a
costa da terra que eles senhorearam passar além do Rio de Janeiro até Angra dos
Reis, pelo eme se não podia dizer deles em outra parte mais acomodada. Estes
tamoios, ao tempo que os portugueses descobriram esta província do Brasil,
senhoreavam a costa clêle desde o rio do cabo de São Tomé até a Angra dos Reis;
do qual limite foram lançados para o sertão, onde agora vivem. Este gentio é
grande de corpo e muito robusto, são valentes homens e mui belicosos, e
contrarios de todo o gentio senão dos tupinambás, de quem se fazem parentes,
cuja fala se parece muito uma com a outra, e têm as mesmas gentilidades, vida e
costumes, e são amigos uns dos outros. São estes tamoios mui inimigos dos
goitacases, de quem já falamos, com quem partem, segundo já fica dito. e cada
dia se matam e comem uns aos outros. Por esta outra parte de São Vicente partem
com os guaianases, com, quem também têm contínua guerra, sem se perdoarem.
Pelejam estes índios com arcos e flechas, no que são muito destros, e grandes
caçadores e pescadores de linha, e grandes mergulhadores, e à flecha matam
também muito peixe, de que se aproveitavam quando não tinham anzóis. As suas
casas são mais fortes que as dos tupinambás e do outro gentio, e têm as suas
aldeias mui fortificadas com grandes cercas de madeira. São havidos estes
tamoios por grandes músicos e bailadores entre todo o gentio, os quais são
grandes componedores de cantigas de improviso, pelo que são mui estimados do
gentio, por onde quer que vão. Trazem os beiços furados e neles umas pontas de
osso compridas com uma cabeça como prego, em que metem esta ponta, e para que
não caia a tal cabeça lhe fica de dentro do beiço por onde a metem. Costumam
mais em suas festas enfeitarem-se com capas e carapuças de penas de cores de
pássaros. Com este gentio tiveram grande entrada os franceses, de quem foram
bem recebidos no Cabo Frio e no Rio de Janeiro, onde os deixaram fortificar e
viver até que o governador Mera de Sá os foi lançar fora; e depois Antônio
Salema, no Cabo Frio. Nestes dois rios costumavam os franceses resgatar cada
ano mil quintais de pau-brasil, aonde carregavam muitas naus, que traziam para
França.
CAPÍTULO LIX
Em que se declara a barra e povoações da capitania de
São Vicente.
Está o rio e barra de São
Vicente em altura de vinte e quatro graus e meio, o qual rio tem a boca grande
e muito aberta, onde se diz a barra de Estêvão da Costa. E quem vem do mar em
fora para conhecer a barra, verá sobre ela uma ilha com um monte, da feição de
moela de galinha, com três mamilões. Por esta barra entram naus de todo o
porte, as quais ficam dentro do rio mui seguras de todo o tempo, pelo qual entra
a maré cercando a terra de maneira que fica em ilha muito
chegada à terra firme, e faz este braço do rio muitas voltas. Na ponta desta
barra, da banda de leste, está a vila de Nossa Senhora da Conceição; e desta
ponta à outra, que se diz de Estêvão da Costa, se estende a barra de São
Vicente; e entrando por este rio acima está a terra toda povoada de uma banda e
da outra de fazendas mui frescas; e antes que cheguem à vila estão os engenhos
dos Esquertes de Frandes e o de José Adorno; e no rio está uma ilheta, além da
qual, à mão direita, está a vila de São Vicente, que é a cabeça desta
capitania. Pelo sertão desta capitania nove léguas está a vila de São Paulo,
onde geralmente se diz "o campo", na qual vila está um mosteiro dos
padres da companhia, e de redor dela quatro ou cinco léguas estão quatro
aldeias de índios forros cristãos, que os padres doutrinam; e servem-se desta
vila para o mar pelo esteiro do Ramalho. Tem vila mais dois ou três engenhos de
açúcar na ilha e terra firme; mas todos fazem pouco açúcar, por não irem lá
navios que o tragam. E aparta-se esta capitania de São Vicente, de Martim
Afonso de Sousa, com a de Santo Amaro, de seu irmão Pedro Lopes, pelo esteiro
da vila de Santos, donde se começa a capitania da vila de Santo Amaro.
CAPÍTULO LX
Em que se declara cuja é a capitania de São Vicente.
Parece que é necessário,
antes de passar mais adiante, declarar cuja é a capitania de São Vicente, e
quem foi o povoador dela, da qual fêz el-rei D. João III
de Portugal mercê a Martim Afonso de Sousa, cuja fidalguia
e esforço é tão notório a todos, que é escusado bulir, neste lugar, nisso, e os
que dele não sabem muito vejam os livros da índia, e verão os feitos
maravilhosos que nela acabou, sendo capitão-mor do mar e depois governador.
Sendo este fidalgo mancebo, desejoso de cometer grandes empresas, aceitou esta
capitania com cincoenta léguas da costa, como as de que já fizemos menção, a
qual determinou de ir povoar em pessoa, para o que fêz prestes uma frota de
navios, que proveu de mantimentos e munições de guerra como convinha; na qual
embarcou muitos moradores casados que o acompanharam, com os quais se partiu do
porto de Lisboa, donde começou a fazer sua viagem, e com próspero tempo chegou
a esta província do Brasil, e no cabo da sua capitania tomou porto no rio que
se agora chama de São Vicente, onde se fortificou e assentou a primeira vila,
que se diz do mesmo nome do rio, que fêz cabeça da capitania. Ê esta vila foi
povoada de muita e honrada gente que nesta armada foi, a qual assentou numa
ilha, donde lançou os guaianases, que é o gentio que a possuía e senhoreava
aquela costa até contestarem com os tamoios; a qual vila floresceu muito nestes
primeiros anos, por ela ser a primeira em que se fêz açúcar na costa do Brasil,
donde se as outras capitanias proveram de canas-de-açúcar para plantarem, e de
vacas para criarem e ainda agora floresce e tem em si um honrado mosteiro de
padres da companhia, e alguns engenhos de açúcar, como fica dito. Com o gentio
teve Martim Afonso pouco trabalho, por ser pouco belicoso e fácil de contentar,
e como fêz pazes com êle, e acabou de fortificar a vila de São Vicente e a da
Conceição, se embarcou em certos navios que tinha, e foi correndo a costa
descobrindo-a, e os rios dela até chegar ao Rio da Prata, pelo qual navegou
muitos dias com muito trabalho, aonde perdeu alguns dos navios pelos baixos do
mesmo Rio, em que se lhe afogou alguma gente, donde se tornou a recolher para a
capitania, que acabou de fortificar como pôde. E deixando nela quem a
governasse e defendesse, se veio para Portugal chamado de Sua Alteza, que se
houve por servido dele naquelas partes, e o mandou para as da índia. E depois
de a governar se veio para estes reinos que também ajudou a governar com el-rei
D. João, que o fêz do seu Conselho de Estado; e o mesmo fêz reinando el-rei D.
Sebastião, no tempo em que governava a rainha D. Catarina, sua avó e depois o
cardeal D. Henrique, para o que tinha todas as partes convenientes. Nestes
felizes anos de Martim Afonso favoreceu muito esta sua capitania com navios e
gente que a ela mandava, e deu ordem com que mercadores poderosos fossem e
mandassem a ela fazer engenhos de açúcar e grandes fazendas, como tem até hoje
em dia, do que já fizemos menção.
Tem este rio de São Vicente
grande comandante para se fortificar e defender, ao que é necessário acudir com
brevidade, por ser mui importante esta fortificação ao serviço de Sua
Majestade, porque, se se apoderarem dela os inimigos, serão maus de lançar
fora, pelo cómodo que têm na mesma terra, para se fortificarem nela e
defenderem de quem os quiser lançar fora. Por morte de Martim Afonso herdou
esta capitania seu filho primogênito, Pêro Lopes de Sousa, por cujo falecimento
a herdou seu filho Lopo de Sousa.
CAPÍTULO LXI
Em que se declara a capitania de Santo Amaro, e
quem a povoou.
Está tão mística a
capitania de São Vicente com a de Santo Amaro, que, se não foram de dois
irmãos, amassaram-se muito mal os moradores delas, as quais iremos dividindo
como pudermos. Indo pelo Rio de São Vicente acima, antes que cheguem à ilha que
nele está, à mão direita dele, está a boca do esteiro e perto da vila de
Santos, por onde entra a maré, cercando esta terra até se juntar com estoutro
esteiro de São Vicente; e entrando por este esteiro de Santos, à mão esquerda
dele está situada a vila do mesmo nome, a qual fica também em ilha cercada de
água toda, que se navega com barcos, e lhe dá jurisdição da capitania de Santo
Amaro; e tornando à ponta de Estevão da Costa, que está na boca da barra de São
Vicente, dela a três léguas ao longo da costa está a vila de Santo Amaro, junto
da qual está o engenho de Francisco de Barros. De Santo Amaro fêz Pêro Lopes de
Sousa cabeça desta capitania. Desta vila de Santo Amaro à barra de Bertioga são
duas léguas, onde está um forte com artilharia e bombardeiros, que se chama de
São Filipe, por esta barra entra a maré cercando esta terra até se juntar com o
esteiro de Santos, por onde fica Santo Amaro também em ilha, e da ponta onde
está esta fortaleza, estão no rio duas ilhetas. Defronte da fortaleza de São
Filipe faz uma ponta muito chegada a estoutra, onde está outra torre com
bombardeiros e artilharia, que se diz de São Tiago, e por entre uma e outra
podem entrar naus grandes por ter fundo para isso, se destas fortalezas lho não
impedirem; e passando destas torres pelo esteiro acima da banda da terra firme
estão os rios seguintes, que estão povoados com engenhos e outras fazendas, os
quais se vêm meter aqui no salgado: rio dos Lagartos, o Piraquê, o de São João,
o de São Miguel, o da Trindade, o das Cobras, o do engenho de Paulo de Proença,
o Rio dos Frades, onde está o engenho de Domingos Leitão, que é já da capitania
de São Vicente, o de Santo Amaro, o do engenho de Antônio do Vale, o de Manoel
de Oliveira, concluindo, é marco entre a capitania de São Vicente e a de Santo
Amaro o esteiro de Santos.
Atrás fica dito como
Pêro Lopes de Sousa não quis tomar as cinquentas léguas de costa de que lhe
el-rei fêz mercê todas juntas, e de que tomou metade, com Itamaracá e a outra em Santo Amaro, de que agora tratamos. Esta capitania foi povoar em pessoa este fidalgo, e fêz para o poder fazer uma frota de navios em que se embarcou com muitos moradores, com os quais partiu do porto de Lisboa e se foi à província do Brasil, por onde levava sua derrota, e foi tomar porto no de São Vicente, donde se negociou e fez as povoações e fortalezas acima ditas, no que passou grandes trabalhos e gastou muitos mil cruzados, a qual agora possui uma sua neta, por não ficar dele herdeiro varão a quem ela com a de Itamaracá houvesse de vir.
CAPÍTULO LXII
Em que se declara parte da fertilidade da terra de São
Vicente.
Nestas capitanias
de São Vicente e Santo Amaro são os ares frios e temperados, como na Espanha,
cuja terra é mui sadia e de frescas e delgadas águas, em as quais se dá o
açúcar muito bem, e se dá trigo e cevada, do que se não usa na terra por os
mantimentos dela serem muito bons e facilíssimos de granjear, de que os
moradores são mui abastados e de muito pescado e marisco, onde se dão tamanhas
ostras que têm a casca maior que um palmo, e algumas muito façanhosas. Do trigo
usam somente para fazerem hóstias e alguns mimos. Tem esta capitania muita caça
de porcos e veados, e outras muitas alimárias e aves, e criam-se aqui tantos
porcos e tamanhos, que os esfolam para fazerem botas e couros de cadeiras, o
que acham os moradoi"es destas capitanias mais proveitosos e melhor que de
couro das vacas, de que nestas capitanias há muita quantidade por se na terra
darem melhor que na Espanha, onde as carnes são muito gordas e gostosas, e
fazem vantagem às das outras capitanias, por a terra ser mais fria.
Dão-se nesta terra todas as
frutas de espinho que tem Espanha, às quais a formiga não faz nojo, nem a outra
coisa, por se não criar na terra como nas outras capitanias; dão-se nestas
capitanias uvas, figos, romãs, maçãs e marmelos, em muita quantidade, e os
moradores da vila de São Paulo têm já muitas vinhas; e há homens nela que
colhem já duas pipas de vinho por ano, e por causa das plantas é muito verde, e
para se não avinagrar lhe dão uma fervura no fogo; e também há já nesta terra
algumas olipiras, que dão fruto, e muitas rosas, e os marmelos são tantos que
os fazem de conserva, e tanta marmelada que a levam a vender por as outras
capitanias. E não há dúvida se não que há nestas capitanias outra fruta melhor
que é a prata, o que se não acaba de descobrir, por não ir à terra quem a saiba
tirar das minas e fundir.
CAPÍTULO LXIII
Que trata de quem são os guaianases e de seus costumes.
Já fica dito como os
tamoios são fronteiros de outro gentio, que se chamam os guaianases, os quais
têm sua demarcação ao longo da costa por Angra dos Reis, e daí até o rio de
Cananéia, onde ficam vizinhando com outra casta de gentios, que se chama os
carijós. Estes guaianases têm continuamente guerra com os tamoios, de uma
banda, e com os carijós da outra, e matam-se uns aos outros cruelmente;
não são os guaianases maliciosos, nem rcfalsados, antes simples e bem
acondicionados, e facílimos de crer em qualquer coisa. É gente de pouco
trabalho, muito molar, não usam entre si lavoura, vivem de caça que matam e
peixe que tomam nos rios, e das frutas silvestres que o mato dá; são grandes
flecheiros e inimigos de carne humana. Não matam aos que cativam, mas
aceitam-nos por seus escravos; se encontram com gente branca, não fazem nenhum
dano, antes boa companhia, e quem acerta de ter um escravo guaianás não espera
dele nenhum serviço, porque é gente folgazã de natureza e não sabe trabalhar.
Não costuma este gentio fazer guerra a seus contrários, fora dos seus limites,
nem os vão buscar nas suas vivendas, porque não sabem pelejar entre o mato,
senão no campo aonde vivem, e se defendem com seus arcos e flechas dos tamoios,
quando lhe vêm fazer guerra, com quem pelejam no campo mui valentemente e às
flcchadas, as quais sabem empregar tão bem como os seus contrários. Não vive
este gentio em aldeias com casas arrumadas, como os tamoios seus vizinhos, mas
em covas pelo campo, debaixo do chão, onde têm fogo de noite e de dia e fazem
suas camas de rama e peles de alimárias que matam. A linguagem deste gentio é
diferente da de seus vizinhos, mas entendem-se com os carijós; são na côr e
proporção do corpo como os tamoios, e têm muitas gentilidades, como o mais
gentio da costa.
CAPÍTULO LXIV
Em que se declara a costa do rio de Santo Amaro até a
Cananéia.
Atrás fica dito
como se divide a capitania de São Vicente da de Santo Amaro pelo esteiro de
Santos, e como a vila de Santo Amaro é cabeça desta capitania, da qual o rio da
Cananéia são vinte e cinco léguas ou trinta, antes da qual se acaba a capitania
de Santo Amaro, e corre-se esta costa de Santo Amaro até a Cananéia nordete-sudoeste,
e toma da quarta do leste-oeste, a qual terra é toda boa para se poder
aproveitar, e tem muitos riachos, que se vêm meter no mar, entre os quais é um
que está onze léguas, antes que cheguem a Cananéia, a qual faz na boca uma
enseada, que tem uma ilha junto ao río, que se diz a ilha Branca. Este rio da
Cananéia está vinte e cinco graus e meio, no qual rio entram navios da costa, e
se navega por êle acima algumas léguas, e é muito capaz para se poder povoar, e
para se fazer muita conta dele, por ser mui abastado de pescado e marisco, e
por ter muita caça, cuja terra é muito fértil, na qual se dão muitos
mantimentos dos naturais, e se dará tudo o que lhe plantam, toda a criação de
gado que lhe lançarem, por ter grande cómodo para isso. Tem o rio da Cananéia
na boca uma abra grande, no meio da qual, bem defronte do rio, tem uma ilha, e
nesta abra está grande porto e abrigada para os navios, onde podem estar
seguras naus de todo o porte, porque tem fundo para isso.
CAPÍTULO LXV
Em que se declara a costa da Cananéia até o rio de São
Francisco.
Do rio da Cananéia até o
cabo do Padrão são cinco léguas, junto do qual está uma ilheta chegada à terra
e chama-se êste cabo do Padrão, por aqui se assentar um pelos primeiros
descobridores desta costa. Do cabo do Padrão ao rio de Santo Antônio são oito
léguas, o qual está em vinte graus esforçados e dois terços.
Neste rio entram barcos da costa à
vontade. Do rio de Santo Antônio ao Alagado são cinco léguas, e entre um e
outra está uma ilheta chegada à terra.
Do rio Alagado ao de
São Francisco são cinco léguas, o qual está em vinte seis graus e dois terços e
tem na boca três ilhéus. Neste rio entram navios da costa, onde estão seguros
de todo o tempo; chama-se este rio de São Francisco, porque afirmam os
povoadores da capitania de São Vicente que se informaram do gentio donde vinha
este rio que entra no mar desta costa, e que lhe afirmaram ser um braço do
Pará, a que os portugueses chamam de São Francisco, que é o que já dissemos, o
que não parece possível, segundo o lugar onde se vai meter no mar tão distante
deste. Por este rio entra a maré muito, por onde se navega barcos com barcos,
no qual se metem muitas ribeiras. Este rio tem grandes pescarias e muito
marisco, e a terra ao longo tem muita caça, e grande cómodo para se poder
povoar, por ser muito fértil, e dará tudo o que lhe plantarem. A terra deste
rio é alta e fragosa e povoada de gentio carijó.
Corrc-se esta costa
da Cananéia até o rio de São Francisco nordeste-sudoeste, e todas estas ilhas
que estão por ela, as que estão à boca do rio de São Francisco têm bom porte e
surgidouro para os navios ancorarem.
CAPÍTULO LXVI
Em que se declara a
costa do rio de São Francisco até a de Jumirim ou Itapucuru.
Do rio de São
Francisco ao dos Dragos são cinco léguas, pelo qual entram caravelões, e tem na
boca três ilhéus. Do rio dos Dragos à baía das Seis Ilhas são cinco léguas; e
dessa baía ao rio Itapucuru são quatro léguas, o qual está em vinte e oito
graus escassos; e corre-se a costa do Itapucuru até o rio de São Francisco
norte-sul. Este rio acima dito, a que outros chamam Jumirim, tem a boca grande
e ao mar dele três ilhetas, pela qual entram caravelões; e corre-se por êle
acima leste-oeste, pelo qual entra a maré muito, onde há boas pescarias e muito
marisco. A terra deste rio é alta e fragosa, e tem mais arvoredos que a terra
atrás, especialmente águas vertentes ao mar. A terra do sertão é de campinas,
como a da Espanha, e uma e outra é muito fértil e abastada de caça e muito
acomodada para se poder povoar, porque se navega muito espaço por ela acima.
Êste rio está povoado de
carijós, contrários dos guaianases, de que falamos. Já esses carijós estão de
paz com os portugueses, que vivem na capitania de São Vicente e Santo Amaro, os
quais vêm por mar resgatar com eles neste rio, onde se contratam, sem entre uns
e outros haver desavença alguma.
CAPÍTULO LXVII
Em que se declara a terra que há de Itapucuru até o rio
dos Patos.
Do rio de Itapucuru
até o rio dos Patos são quatro léguas, o qual está em vinte e oito graus. Este
rio é muito grande, cuja boca se serra com a ilha de Santa Catarina, por onde
entram os navios da costa, e a maré muito espaço, por onde se navega. Metem-se
neste rio muitas ribeiras que vêm do sertão; o qual é muito acomodado para se
poder povoar, por a terra ser muito fértil para tudo que lhe plantarem, a qual
tem muita caça de veados, de porcos e de muitas aves, e o rio é mui provido de
marisco, e tem grandes pescarias até onde possuem a terra os carijós, daqui por
diante é a vivenda dos tapuais, e está por marco uns e outros este rio dos
Patos.
À boca deste rio está
situada a ilha de Santa Catarina, que vai fazendo abrigo à terra até junto de
Itapucuru, que fica à maneira de enseada. Tem esta ilha de comprido oito
léguas, e corre-se norte-sul, a qual da banda do mar nenhum surgidouro tem,
salvo um ilhéu, que está na ponta do sul, e outro que tem na ponta do norte; a
qual ilha é coberta de grande arvoredo, e tem muitas ribeiras de água dentro e
tem grande comodidade para se poder povoar, por ser a terra grossa muito boa e
ter grandes portos, em que se podem estar seguras de todo o tempo muitas naus.
Mostra esta ilha uma baía grande, que vai por detrás, entre ela e a terra
firme, onde há grande surgidouro e abrigada para naus de todo porte; nesta
enseada que se faz da ilha para terra firme estão muitas ilhetas; está esta
boca e ponta da ilha da banda do norte em vinte e oito graus de altura.
CAPÍTULO LXVIII
Em que se declara parte dos costumes dos carijós.
Atrás fica dito como os
carijós são contrários dos guaianases, e como se matam uns aos outros; agora
cabe aqui dizer deles o que se pode alcançar e saber de sua vida e costumes.
Este gentio possui esta costa deste rio da Cananéia, onde parte, com os
guaianases, na qual se fazem uns aos outros mui contínua e cruel gurerra,
pelejando com arcos e flechas, que os carijós sabem tão bem manejar como seus
vizinhos e contrários. Este gentio é doméstico, pouco belicoso, de boa razão;
segundo seu costume, não come carne humana, nem mata homens brancos que com
êles vão resgatar, sustentam-se de caça e peixe que matam, e de suas lavouras
que fazem, onde plantam mandioia e legumes como os tamoios e tupiniquins. Vivem
estes índios em casas bem cobertas e tapadas com cascas de árvores, por amor do
frio que há naquelas partes. Esta gente é de bom corpo, cuja linguagem é
diferente da de seus vizinhos, fazem suas brigas com contrários em campo
descoberto, especialmente com os guaianases, com quem têm suas entradas de
guerra: e como os desbaratados se acoíhem ao mato se têm por seguros, porque
nem uns nem outros sabem pelejar por entre êle. Costuma este gentio no inverno
lançar sobre si umas peles da caça que matam, uma por diante, outra por detrás;
têm mais muitas gentilidades, manhas e costumes, como os tupinambás, em cujo
título se contam mui particularmente.
CAPÍTULO LXIX
Em que se declara a costa do rio dos Patos até o da
Alagoa.
Do rio dos Patos ao
rio de D. Rodrigo são oito léguas; e corre-se a costa norte-sul, até onde a
terra é algum tanto alta, o qual porto está em vinte e oito graus e um
quarto. Esse porto stá no cabo da ilha de Santa Catarina, o qual está numa
baía que a terra faz para dentro, onde há grande abrigada e surgidouro para os
navios estarem seguros de todos os ventos, tirado o nordeste, que cursa no
verão e venta igual, com o qual se não encrespa o mar. Do porto de D. Rodrigo
ao porto e rio da Lagoa, são treze léguas, o qual nome tomou por o porto
ser uma calheta grande e redonda e fechada na boca, que parece a lagoa, onde
também entram navios da costa e estão mui seguros. Do rio dos Patos até aqui é
esta terra à vista do mar sem mato, mas está vestida de erva verde, como a
Espanha, onde se dão muito bem todos os frutos que lhe plantam; na qual se dará
maravilhosamente a criação das vacas e todo o mais gado que lhe lançarem, por
ser a terra fria e ter muitas águas para o gado beber. Essa terra é possuída
dos tapuias, ainda que vivem algum tanto afastados do mar, por ser a terra
desabrigada dos ventos; mas o porto de D. Rodrigo é suficiente para se poder
povoar, pela fertilidade da terra e pela comodidade que tem ao longo do mar de
pescarias e muito marisco e por a terra ter muita caça. E o Porto da Alagoa,
com que concluímos este capítulo, tem ilhéu junto da boca da barra.
CAPÍTULO LXX
Em que se declara a costa do porto da Alagoa até o rio
de Martim Afonso.
Do porto da Alagoa
ao porto e rio de Martim Afonso são vinte e duas léguas, as quais se correm
pela costa nordeste-sudoeste e toma da quarta de nortc-sul. Êste rio está em
trinta graus e um quarto; e chama-se de Martim Afonso por êle o descobrir,
quando andou correndo esta costa de São Vicente até o rio da Prata. Êste rio
tem muito bom porto de fora para navios grandes e dentro para os da costa, cuja
terra é baixa e da qualidade da de trás. Tem este rio duas léguas ao mar uma
ilha aonde há bom porto e abrigada para surgirem navios de todo o porto; entra
a maré por este rio muito, aonde há muito marisco, cuja terra é de campinas que
estão sempre cheias de erva verde com algumas reboleiras de mato, onde se dará
tudo o que lhe plantarem, e se criará lodo o gado que lhe lançarem; por ser
terra fria e ter muitas águas de alagoa, e ribeiras para o gado poder beber,
pelo que êste rio se pode povoar, onde os moradores que nele viverem estarão mui
descansados, o qual é povoado de tapuias como a mais terra atrás. Entre o porto
da Alagoa e de Martim Afonso está o porto que se diz de Santa Maria e o que se
diz da Terra Alta, e num e noutro podem surgir os caravelões da costa.
CAPÍTULO LXXI
Em que se declara a costa do rio de Martim Afonso até o
porto de São Pedro.
Do rio de Martim Afonso à
baía dos arrecifes são dez léguas e da baía ao rio do porto de São Pedro são
quinze léguas, o qual rio está em altura de trinta e um graus e meio, cuja
costa se corre nordeste-sudoeste; da banda do sudoeste deste porto de São Pedro
se faz uma ponta de areia, que boja ao mar légua e meia. Neste porto há um bom
surgidouro e abrigada para os navios entrarem seguros sobre amarra, no qual se
vem meter no salgado um rio de água doce.
Esta terra é muito baixa e
não se vê de mar em fora senão de muito perto, e toda é de campos cobertos de
erva verde, muito boa para mantença de criação de gado vacum e de toda a sorte,
por onde há muitas lagoas e ribeiras de água para o gado beber. E tem esta
terra algumas reboleiras de mato à vista umas das outras onde há muita caça de
veados que andam em bandos, e moitas outras alimárias e aves, e ao longo da
costa há grandes pescarias e sítios acomodados para povoações com seus portos,
onde entram caravelões, em a qual se darão todos os frutos que lhe plantarem,
assim naturais como de Espanha; e dos mantimentos de terra se aproveita o
gentio tapuia, em suas roças e lavouras, que fazem afastadas do mar três ou
quatro léguas, por estarem lá mais abrigados dos ventos do mar, que cursam no
inverno, onde ao longo dele não tem nenhum abrigo, o porque lhe fica a lenha
muito longe.
CAPÍTULO LXXII
Em que se conta como corre a
costa do rio de São Pedro até o cabo de Santa Maria.
Do porto de São Pedro ao cabo de Santa Maria são quarenta e duas léguas,
as quais se correm pela costa nordeste-sudoeste, o qual está em trinta e quatro
graus; e tem, da banda do sueste, cluas léguas ao mar, três ilhéus altos, que
se dizem, "os Castilhos", entre os quais e a terra firme há boa
abrigada e surgidouro para naus de todo o porte.
Toda esta terra é baixa, sem arvoredo; mas cheia de erva verde em todo o
ano, há partes que têm algumas reboleiras de mato; a erva destes campos é muito
boa para criação de gado de tôda sorte, onde se dará muito bem por ser a terra
muito temperada no inverno, e no verão lavada de bons ares frescos e sadios,
pela qual há muitas águas frescas para os gados beberem, assim de lagoas como
de ribeira, onde se darão todos os frutos de Espanha muito bem, como em São Vicente, e pelo Rio da. Prata acima das povoações de castelhanos, onde se dá tanto trigo,
que aconteceu o ano de 83 vir ao Rio de Janeiro uma das naus em que passou D.
Alonso, vice-rei da província de Chile, que desembarcou em Buenos Aires, a qual carregou neste porto de trigo, que se vendeu no Rio de Jeneiro a três reales
a fânega, o qual se dará muito bem do Rio de Janeiro por diante, donde se pode
prover toda a costa do Brasil.
Esta
costa desde o rio dos Patos até a boca do rio da Prata é povoada de tapuias,
gente doméstica e bem acondicionada, que não come carne humana nem faz mal à
gente branca que os comunica, como são os moradores da capitania de São
Vicente, que vão em caravelões resgatar por esta costa com este gentio alguns
escravos, cera da terra, porcos, galinhas e outras coisas, com quem não têm
nunca desavença; e porque a terra é muito rasa e descoberta aos
ventos, e não tem matos nem abrigadas, não vivem estes tapuias ao longo do mar
e têm suas povoações afastadas para o sertão, ao abrigo da terra, e vêm pescar
e mariscar pela costa.
Não tratamos aqui da vida e costumes deste gentio, porque se declara ao
diante do título dos tapuias, que vivem no sertão da Bahia, e ainda que
vivam tão afastados destes, são todos uns e têm quase uma vida e costumes.
CAPÍTULO LXXIII
Em que se declara a costa do cabo de Santa Maria até a
boca do rio da Prata.
Do cabo de Santa
Maria à ilha dos Lobos são quinze léguas, cuja costa se corre nor-nordeste,
su-sudoeste a qual está em trinta e quatro graus e dois terços, cuja terra
firme faz defronte da ilha, à maneira de rjonta. Entre esta ponta e a ilha há
boa abrigada e porto para navio. Desta ponta se vai recolhendo a terra para
dentro até outra ponta, que esta outra ilha, que se diz das Flores, que está
légua e meia afastada desta ponta, que se chama do Arrecife, pelo haver daí
para dentro até o Monte de Santo Ovídio, está na boca de um rio que se vem
meter aqui no salgado.
Desta ponta da ilha
dos Lobos, que está na boca do rio da Prata, à outra banda do rio, que se diz a
ponta de Santo Antônio, são trinta e quatro léguas. Está o meio da boca do rio
da Prata em trinta e cinco graus e dois terços; e ao mar quarenta léguas, bem
em direito desta boca do rio está um ilhéu, cercado de baixos em redor dele,
obra de duas léguas, onde se chama os Baixos de Castelhano, porque aqui se
perdeu uma nau sua, o qual ilhéu está na mesma altura de trinta e cinco graus e
dois terços.
A terra junto da boca deste
rio é da qualidade da outra terra do cabo de Santa Maria, onde se dará também
grandemente o gado vacum e tudo o mais que lhe lançarem.
Deste rio da Prata, nem de
sua grandeza não temos que dizer neste lugar, porque é tão nomeado que se não
pode tratar dele sem grandes informações, do muito que se pode dizer dos seus
recôncavos, ilha, rios que nele se metem, fertílidades da terra e povoações que
por êle acima têm feito os castelhanos que escaparam da armada que nele se
perdeu há muitos anos, os quais se casaram com as índias da terra, de
que nesceram grande multidão de mestiços, que agora têm povoado muitos lugares,
o qual rio da Prata é povoado muitas léguas por êle acima dos tapuias atrás
declarados.
CAPÍTULO LXXIV
Em que se declara a terra e costa da
ponta do rio da Prata da banda do sul até além da baía de São Matias.
A ponta do rio da
Prata que se diz de Santo Antônio, que está da banda do sul, demora em trinta e
seis graus e meio, de-fronte da qual são baixos uma légua ao mar. Da ponta de
Santo Antônio ao Cabo Branco são vinte e duas léguas e fica-lhe em meio uma
enseada, que se diz de Santa Apolônia, a qual é cheia de baixos, e toda a
costa de ponta a ponta, uma e duas léguas ao mar, são tudo baixos. Este Cabo
Branco está em trinta e sete graus e dois terços, e corre-se a costa
nor-nordeste-su-sudoeste. Do Cabo Branco ao Cabo das Correntes são vinte e
cinco léguas, e fica entre um cabo e o outro a Angra das Areias, ao mar da qual
sete ou oito léguas são tudo baixos. Este Cabo está em trinta e nove graus,
cuja costa se corre nor-nordeste-su-sudoeste. Do Cabo das Correntes ao Cabo
Aparcelado são oitenta e seis léguas, e corre-se a costa de ponta a ponta
lés-nordeste e oés-sudoeste, o qual sete ou oito léguas são tudo baixos. Este
Cabo está em trinta é cheia de baixos, e apartes os tem cinco e seis léguas ao
mar; é toda de areia e a terra muito baixa, por onde se metem alguns
esteiros no salgado, onde se podem recolher caravelões da costa, que são navios
de uma só coberta que andam em seis e sete palmos de água, deste Cabo
Apaixelado se torna a recolher a terra para dentro leste-oeste, até a ponta da
baía de São Matias, que está na mesma altura de quarenta e um graus, que serão
vinte e sete léguas, e da ponta Aparcelada a quatro léguas em uma enseada que
faz a terra, está uma ilheta, e na ponta desta enseada, da banda de loeste,
está outra ilha, uma légua do mar.
Da ponta da baía de
São Matias até a ponta de terra do Marco, são trinta e oito léguas, cuja costa
se corre norte-sul, a qual é toda aparcelada, e antes de chegar a esta ponta do
Marco está outra ilha. A terra aqui é baixa e pouco proveitosa. Nesta
ponta de Marco se acaba a demarcação da coroa de Portugal nesta costa do
Brasil, que está em quarenta e quatro graus pouco mais ou menos, segundo a
opinião do Dr. Pedro Nunes, cosmógrafo del-rei D. Sebastião, que está em
glória, que nesta arte foi em seu tempo o maior homem de Espanha.
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