VICENTE AUGUSTO DE CARVALHO, nasceu em Santos, a 5 de
abril de 1866, e aí fêz os primeiros estudos, matriculando-se, aos dezesseis
anos, com licença especial, na Faculdade de Direito de São Paulo, onde
se bacharelou em 1886. Espírito adiantado, inclinou-se desde a adoles-
cência para a democracia, e, ainda no 4.° ano jurídico, já fazia parte
do Diretório Republicano de Santos, de onde se partiu para São Paulo,
em 1887, a tomar parte, como deputado, no Congresso Republicano, reu-
nido na Capital da Província.
Proclamada a República, foi eleito, em 1891, deputado ao Congresso
Constituinte do Estado e convidado, no ano seguinte, ao desempenho das
funções de secretário do Interior. Afastou-se, pouco depois, dos encargos
públicos, dedicando-se à advocacia em Santos e fazendo-se fazendeiro
em Franca, até que iniciou a carreira da magistratura em 1908, como
juiz de Direito, atingindo o Supremo Tribunal de Justiça em 1914.
Através dessas atividades profissionais e políticas, foi sempre poeta,
e dos melhores da nossa hstória literária, principalmente por aliar ao
pensamento ora suave e delicado, ora filosófico e meditativo, a boa e
fina forma, plena sempre de nobre e vibrátil expressão poética.
Como jornalista colaborou em vários periódicos, na revista A Cigarra,
de São Paulo e fundou em Santos, em 1889, o Diário da Manhã e, em
1905, O Jornal.
Poeta lírico dos mais apreciados, enamorado das rosas, cativo da
beleza, cantor do mar e das florestas, Vicente de Carvalho entremeou,
por vezes, com as suavidades do pensamento panteísta e do encanto
amoroso, os laiv,os de uma ironia levemente amarga, mas francamente
humana. Faleceu em 1924.
Deixou as seguintes obras: Ardeâtias, versos, Santos, 1885; Relicário,
versos, Santos, 1888; Rosa, Rosa de Amor…, poema, Rio, 1902; Poemas
e Canções, São Paulo, 1908, e várias outras edições; Verso e Prosa, São
Paulo, 1909; Páginas Soltas, prosa, São Paulo, 1911; Versos da Mocidade,
Porto, 1912; A Voz do Sino, versos, São Paulo, 1916; Luisinha, São Pau-
lo, 1924, além de vários inéditos.
Esperança
Só a leve esperança em toda a vida
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.
O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.
Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa, que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos, (675)
Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.
(Poemas e Canções, 8.a ed., 1928, p. 3)
Das "Cantigas Praianas"
Vida, que és o dia de hoje,
O bem que de ti se alcança
Ou passa porque nos foge,
Ou passa porque nos cansa.
Ainda mesmo quando ocorre
Na vida dos mais felizes,
O prazer floresce e morre,
A mágoa deita raízes.
Tem alicerces de areia
O que constróis cada dia,
Vida, que corres tão cheia
Para a morte tão vazia.
Haverá queixa mais justa
Que a do feliz que se queixa?
Ai, o bem que menos custa
Custa a saudade que deixa.
(Ibidem, pp. 94-95).
A um Poeta Moço
Desanimado, entregaste, sem norte,
Sem relutância à vida; e aceitas dessa
Torrente que te arrasta, a só promessa
De ir lentamente desaguar na morte.
Que pode haver, em suma, que te impeça (676)
De seguir o teu rumo contra a sorte?
Sonha! e a sonhar, e assim armado e forte,
Vida e mágoas, incólume, atravessa.
E cada flor que um galho acaso dependura
À beira dos caminhos
Entreabra o seio ao sol, às brisas, à doçura
De todos carinhos.
Passe em redor de mim um frêmito de gozo
E um calor de desejo,
E soe o farfalhar das árvores, moroso
Como o rumor de um beijo.
Palpite a natureza inteira, bela e amante,
Voluptuosa e festiva.
E tudo vibre e esplenda, e tudo fulja e cante
E tudo sonhe e viva.
A sepultura é noite onde rasteja o verme….
O’ luz, que eu tanto adoro,
Amortalha-me tu! E possa eu desfazer-me
No ar claro e sonoro!
(Ibidem, pp. 223-225).
(675) arreada = enfeitada, adornada, guarnecida.
(676) — impeça — forma analógica com peça, do v. pedir. Originaria-
mente nada tem pedir (do lat. *petire por petere) com impedir, expedir e
despedir (de in, ex e deexpedire — da raiz de pes, pedis. A forma normal
seria impido, despido, como empregavam os antigos e alguns modernos. Camões,
Vieira, Castilho e outros escritores assim o fizeram; mas a forma analógica
suplantou a regular. Note-se que impedir, empecer e empeçar têm todos a raiz
Seleção e Notas de Fausto Barreto e Carlos de Laet. Fonte: Antologia nacional, Livraria Francisco Alves.
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