Essência do mundo e essência da proposição

Essência do mundo e essência
da proposição.

por
Gilberto Tadeu Garcia Junior


Trabalho feito originalmente para a cadeira de Filosofia dA Lógica – FFLCH
– USP, professor Luiz Henrique Lopes dos Santos.


 

     O que é o mundo?

     O mundo é a totalidade dos fatos e não
das coisas. O mundo são os fatos no espaço-lógico. Ou seja,
as coisas, ou objetos, podem se combinar e formar os fatos. A tal combinação
de coisas (objetos), Wittgenstein dá o nome de estado de coisas, que
nada mais é do que uma ligação entre coisas. O fato é,
então, a existência de estados de coisas. Contudo, se uma coisa
tem a possibilidade de se combinar com outras, isto é, se ela pode aparecer
no estado de coisas, então, essa possibilidade é interna a própria
coisa. Segue-se disto que, ao conhecer um objeto (conhecer significa conhecer
suas propriedades internas), conhecemos, automaticamente, todas as possibilidades
que ele tem de aparecer no estado de coisas. Wittgenstein, define a forma do
objeto como a possibilidade de seu aparecimento em estados de coisas (aforismo
2.0141). Os objetos por sua vez, constituem a substância do mundo, e só
podem determinar sua forma não suas propriedades materiais. Cabe às
proposições determinarem estas.

     Figuração

    A existência ou inexistência de estados
de coisas, é representada no espaço-lógico pela figuração.
Porém, como o mundo são os fatos no espaço-lógico,
e os fatos são objetos combinados (estados de coisas), temos que a figuração
é um modelo da realidade, pois ela representa no espaço-lógico,
justamente a existência ou inexistência de estados de coisas. Isso
ficará claro mais adiante.

    A figuração funciona, por analogia, como
um espelho, onde aos objetos correspondem aos elementos da figuração,
isto é, temos de um lado os objetos e, de outro seu reflexo no espelho,
que são os elementos da figuração. Ou seja, ao estabelecermos
uma figuração, a ligação entre os seus elementos
devem estar representadas da mesma maneira, que a ligação entre
os objetos, ou seja, deve haver uma correspondência; a este fato (vinculação
de seus elementos), Wittgenstein dá o nome de estrutura da figuração,
e à possibilidade desta vinculação, forma da afiguração.
Como um estado de coisas é um fato, e a figuração é
uma “representação” de estados de coisas no espaço-lógico,
então, uma figuração é um fato.     

    Do mesmo modo, que a forma de um objeto é a
sua possibilidade de aparecer no estado de coisas, a forma de uma afiguração,
é a possibilidade que as coisas estejam concatenadas umas as outras da
mesma maneira que os elementos da figuração. Portanto, como na
analogia do espelho temos uma correspondência entre objeto e elemento
da figuração, temos agora uma nova correspondência, a saber:
estado de coisas e forma da afiguração, ou seja, que o estado
de coisas, ou como estas se concatenam uma com as outras, esteja representado
da mesma forma na figuração. É deste modo que a figuração
chega até a realidade. Com isto, torná-se claro, porque foi dito
acima que a figuração é um modelo da realidade.

    Ao se estabelecer coordenadas entre as coisas e os seus
representantes no espaço-lógico, isto é, e os elementos
da figuração, temos uma relação afiguradora. Portanto,
fato afigurado e fato figuração mantém algo em comum é
a forma afiguradora. Em outras palavras, possibilidade de estar em um estado
de coisas (na realidade), e a possibilidade de tal vinculação
(na figuração), devem ser idênticas para que um fato seja
figuração. Como conseqüência, a afiguração
da realidade através de uma figuração se dá pelo
fato desta representar uma possibilidade de existência ou inexistência
de estados de coisas.
Outra coisa a ser dita a respeito das figurações, é que
elas representam situações possíveis no espaço-lógico.
E o que ela representa é o seu sentido. Segue-se disto que, quando seu
sentido concorda com a realidade, ela é verdadeira, caso contrário
é falsa.

    Pensamentos e Proposições 

    Os pensamentos são figurações
lógicas dos fatos. A totalidade dos pensamentos verdadeiros são
uma figuração do mundo. Ou seja, se tomarmos a totalidade das
figurações positivas, isto é verdadeiras, teremos a totalidade
dos fatos que é o mundo. Portanto, a totalidade dos pensamentos verdadeiros
são uma figuração do mundo.

   A proposição é uma expressão
sensível e perceptível do pensamento, ou seja, o pensamento se
exprime, na proposição, sensível e perceptivelmente. Por
sua vez, fazemos usos dos sinais sensíveis e perceptíveis da proposição
como projeção da situação possível. Wittgenstein
chama o sinal que expressa o pensamento de sinal proposicional e, a sua relação
projetiva com o mundo é a proposição.

    No aforismo 3.14, nos é dito que o sinal proposicional
consiste em que seus elementos, nele estão, uns para os outros, de uma
determinada maneira. Como vimos acima, esta relação dos objetos
de estarem de uma determinada maneira, é exatamente a possibilidade dos
objetos em estarem em estados de coisas. E ao entrarem em estados de coisas
ele se consituem um fato. Segue-se disso que o sinal proposicional é
um fato. Contudo, os elementos do sinal proposicional são nomes, os quais
Wittgenstein chama de sinais simples. Assim, a configuração dos
nomes (sinais simples) no sinal proposicional corresponde a configuração
dos objetos na situação. Ou seja, do mesmo modo que vimos que,
os elementos de uma figuração substiuem os objetos da realidade
na figuração, os nomes são os substitutos dos objetos no
sinal proposicional. Mas, como os objetos são os constituintes mais simples
da realidade, e os nomes são, por assim dizer, representantes destes,
segue-se que não se pode decompor os nomes em coisas mais simples.
Do conceito de figuração, podemos concluir que: o espaço
lógico e o geométrico coincidem no fato de ambos serem a possibilidade
de uma existência. Continuando no conceito de figuração,
que, como vimos, é um “espelho” da realidade, da mesma forma
o é a proposição, na verdade, a proposição
é uma figuração da realidade, ou seja, todos os constituintes
do mundo (objetos, estados de coisas, possibilidade de estar no estado de coisas)
tem um representante, tanto na figuração como na proposição,
isto é, do mesmo modo que estabelecemos a figuração como
um modelo da realidade, podemos, da mesma maneira, estabelecer a proposição
com um modelo da realidade tal como a pensamos.

    A proposição, como dissemos, é,
então, uma figuração da realidade. Sendo assim, a proposição
mostra como as coisas estão, se for verdadeira, e dessa forma, a realidade,
por meio dela, deve ficar restrita a um sim ou não. Como, a proposição
nos comunica uma situação, ela deve estar essencialmente vinculada
a situação, já que a descreve a realidade pelas das propriedades
internas que está possui. Desta maneira, podemos comparar a realidade
com a proposição.

    Como as figurações representam as possibilidades
de estados de coisas, e a totalidade destes estados de coisas (fatos) são
a realidade, e como as proposições, do mesmo que as figurações,
também, representam tais possibilidades – como fica claro ao fazermos
uma analogia com o conceito de figuração -, podemos concluir que
as proposições representam a realidade e podem representar, toda
a realidade.

    Conclusão

     No aforismo 5.4711, Wittgenstein diz: “Especificar
a essência da proposição significa especificar a essência
de toda descrição e, portanto, a essência do mundo”.

    Ora, Wittgenstein mostrou que para descrevermos o mundo,
precisamos da noção de figuração, a qual já
mostramos que estabelece um vínculo com o mundo. Porém esse vínculo
é tal, que ele representa a essência do mundo (a sua forma, a sua
bipolaridade), ou seja, as figurações não descrevem o mundo
através de um acesso direto a este, mas sim, através da delimitação
do espaço-lógico a partir da possibilidade de seus elementos estarem
em estados de coisas. 

    Do mesmo modo que ao especificarmos a essência
da figuração acabamos por especificar a essência do mundo,
podemos agora, analogamente, fazer o mesmo com a proposição.

    Se os sinais proposicionais são os sinais que
expressam pensamentos e a proposição é o sinal proposicional
em sua relação projetiva com o mundo. Podemos concluir, do fato
de que os sinais proposicionais são compostos da mesma forma que a realidade,
isto é, de constituintes simples que possuem possibilidades. Na realidade
estes constituintes são os objetos, no sinal proposicional são
os nomes. A proposição, da mesma forma que a figuração,
se torna uma projeção da situação possível.

    E nessa medida, como há um estabelecimento entre
os elementos da proposição e os elementos da realidade, os quais
fizemos um espelhamento fiel um do outro, seja através da figuração,
ou da projeção (que entendo como sendo, uma figuração
da proposição), se torna claro, que ao especificarmos a essência
da proposição, que é sua forma, especificaremos a essência
do mundo (sua forma). Mas isso só é possível porque a proposição
é uma projeção de situações possíveis.

    Bibliografia:
    •Wittgenstein, L. – Tractatus Logico-Philosophicus,
Edusp, 3º edição – 2001

 

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